domingo, 28 de fevereiro de 2010

BOQUINHAS SUJAS

Não há reclamação mais insistente no discurso populista de alguns governos da América Latina do que o “grito” constante pedindo respeito.

Não passa uma só semana sem que Lula, Chávez ou até Morales, Cristina ou o revolucionário nicaraguense não digam alguma grosseria desrespeitosa, exigindo respeito de algum governo, entidades ou grupos oposicionistas, instituições ou pessoas. Como se respeito pudesse ser outorgado por decreto ou até mesmo por medida provisória.

Infelizmente, para eles, existe uma verdade Universal, o respeito é uma rua de duas mãos; para exigi-lo há que merecê-lo. Não há nada que dependa mais de uma boa educação, que o respeito as pessoas, idéias, costumes, símbolos, normas, etc.

Existem pessoas capazes de dar suas vidas por um pouco de respeito, e outras que por uma falta de respeito são capazes de matar.

O respeito encabeça a lista dos valores mais profundos que conformam a ética das pessoas e monitoram boa parte do nosso comportamento e decisões.

Também existe acima de todas as coisas, o respeito a nós mesmos, que se consegue, unicamente, com autoconhecimento e com a revisão constante dos nossos atos. Quem não respeita a si mesmo, é vítima fácil de excessos, de vícios e de uma vida desordenada e sem sentido.

Isto é imperativamente importante na política, pois quem não tem respeito por sí mesmo, se expõe a situações de imoralidade e de desprezo público; é por isso que os grandes líderes históricos eram pessoas exemplares e de uma irretocável solvência moral. Requer-se, portanto, a quem impõe valores a um povo, ser ele o primeiro a dar o exemplo de arrojo, sacrificio, austeridade, lealdade e equilibrio.

O respeito mistura-se com os nossos sentimentos, com o amor e a amizade. Ele está evidente no ambiente de trabalho, social ou em familia. Sem respeito há abuso e imposição, geram-se injustiças e não poucas vezes criam-se situações que terminam de forma violenta. Foi somente no seculo XVIII que se falou pela primeira vez do respeito às pessoas. Talvez o principal de todos os respeitos, baseado na dignidade que todas as pessoas têm como sujeitos morais.

Foi Kant quem afirmou que o trato aos outros deve basear-se no reconhecimento da pessoa como um fim. Falta respeito quando as pessoas sao usadas como meios para atingir propósitos.

O respeito não é algo automático, ele se constrói com a transparência de quem lidera e com o consentimento do tempo. Sómente possuindo ações e obras como base de sustentação, o respeito é definitiva e irremediavelmente conquistado. Todas as pessoas necessitam dar e receber respeito. Sentir-nos valiosos para o grupo humano a que pertencemos, é tão vital como respirar ou comer. Uma das principais causas da exclusão social é a falta de respeito entre seres humanos.

Do latim "respicere", significa voltar a olhar, observar com cuidado, e efetivamente, quando há respeito não se é indiferente, se confunde com outro ou se descarta fácilmente. Ao contrario, se outorga uma atenção especial, às vezes guardando certa distância ou sendo delicado em seu trato, e se é uma pessoa de alta estima, disposto a obedecê-lo por vontade e não por mandato.

Agora, o respeito às Instituições do Estado, ao Presidente da República, aos governos que manipulam esses Estados, são relações reguladas por leis e protocolos, sujeitos à reciprocidade.

Quando governos e governantes violam os direitos, discriminam, insultam, abusam do poder; quando utilizam as pessoas e cometem injustiças, funcionários e instituições perdem seu valor moral. Não há nada mais corrosivo para as instituções públicas, no que tange a falta de respeito que, a corrupção e a impunidade. Quando os cidadãos perdem o respeito a um mandatário, só fica o medo, o temor ao castigo para fazer valer a sua autoridade.

Quem não respeita não pode ser respeitado.

FERNANDO TROVADOR

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

PAIS E FILHOS


Esta é a relação que comanda o mundo. Ela determina tudo que acontece de bom e de ruim com a humanidade. Daí os milhares de caminhos pelos quais podemos abordar este assunto. Principalmente quando a pretensão de analisá-la origina-se na vontade de uma mulher, mãe, portanto, emocionalmente comprometida e sem contar com a fundamentação da ciência que daria preciosa contribuição para o assunto. Fragmentos da sua história e muita emoção poderão ou não, ajudá-la a dissertar sobre o tema.

Quando resolvemos povoar o mundo mal sabemos o tamanho do compromisso que estamos assumindo com a vida. Co-participar na construção de uma pessoa não só pressupõe uma responsabilidade pela qualidade da humanidade e com o Planeta como obriga-nos a rever prioridades, reavaliar valores e a fortalecer princípios.

Reconhecer nossa condição de falíveis, quando jovens, é demonstrar um nível raro de maturidade. Ainda nos arvoramos críticos rigorosos do mundo e personificamos este rigor nos nossos pais. A personagem "filho" ainda não se despregou do “jovem rebelde e questionador”. É um papel que teimamos em não libertar-nos porque cômodo.

A maternidade como uma experiência intransferível exigiu da ciência muito esforço nas inúmeras tentativas para desvendar do desenvolvimento humano. Muitos manuais onde o certo e o errado fundamentam-se em teorias científicas, na hora de colocá-las em prática contam com um fator que torna tudo relativo: a diversidade humana.

Assumimos o risco de gestar um “ilustríssimo desconhecido” e nos envolvemos com o maior e mais incondicional sentimento amoroso que um ser humano pode sentir pelo outro.
Engravidou? Nove meses depois estará frente a frente com a pessoa mais importante da sua vida. Não vou falar desta primeira fase porque minha intenção não se fixa aí, embora não desconheça a importância das circunstâncias e de determinados cuidados com a criança, futuro adulto.
Pessoalmente, acho que a vida é longa para que se lance um olhar compreensivo e menos apaixonado sobre quaisquer fatos das nossas existências, em todas as fases. Tudo depende do dono da história.

Um fato sobre o qual já refleti é que a maioria das nossas ações, “aquelas decisões” que você tem que tomar entre um almoço e uma saída apressada para o trabalho, são movidas por instinto, baseadas na emoção, em circunstâncias pessoais e momentâneas. O que pode ser desastroso.
Assim o tempo vai passando e aquela pessoinha continua ali, crescendo, amadurecendo num ritmo próprio e vai “lendo” suas ações, das intempestivas às refletidas, do jeito que suas cabecinhas simples ou complicadas, vão lhe permitido.

Mal entram na adolescência e já começam as dúvidas em relação à profissão. Saber aos 18 anos, o que gostará de estar fazendo aos 40... Crueldade! Entre omitir-se em nome da liberalidade e opinar, esclarecer sobre mercados de trabalho, reconhecer aptidões e limites, reconheço, é difícil. Quem quer assumir o ônus de, mais tarde, ter participado de uma decisão equivocada?
Não pensem os filhos, como um dia pensei que intervir, opinar ou omitir-se é fácil. É procedimento de risco, mas faz parte dos “ossos do ofício” de quem se propôs a ser pai. Hoje, eu imagino as angústias que os meus experimentaram até que eu desse, baseada nas frágeis convicções dos meus 17anos, meu veredicto final.

Mas filhos crescem, escolhem profissões, parceiros e caminhos, independente das nossas vontades. Tanto acertam quanto erram, é um direito deles. Agora, só podemos apoiá-los.

Quanto a eles, enquanto não libertarem-se das “feridas” que um dia os machucaram, usarão do mecanismo da atribuição para isentar-se da responsabilidade de ser quem são. Temos que ter paciência e entendê-los. Como nós, superarão esta fase.

Não estou sentenciando que o relacionamento entre pais e filhos seja pontuado de julgamentos, de culpados e de inocentes. Ao contrário, acho que cada um deve ser responsável pela sua cabeça, pela visão e sentimentos que possuem dos fatos que a vida lhe impôs. Enxergar com justiça e generosidade a atuação dos coadjuvantes da sua história, pais, irmãos, avós, amigos. Ou seja, chega a hora em que você cura suas feridas, descobre que algumas transformaram-se em cicatrizes que ao lhe machucarem, também lhe amadureceram e lhe adensaram como ser humano, preparando-lhe para dar continuidade ao ciclo da existência.

E este processo começa por isentar-se do papel de juiz dos pecadilhos, pecados e “pecadões” que lhes vitimaram, pois em breve, estarão com os holofotes implacáveis da vida, iluminando tudo de “certo” e “errado” que você, na sua condição humana, tem o direito de agregar à sua história.

ALICE ROSSINI

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

EDITORIAL

18 de fevereiro de 2010. O Verso & Reverso comemora um ano de vida. Nasceu sob o signo da saudade, este sentimento insólito, cuja peculiaridade é misturar dentro de nós sensações várias.


Algumas doem, outras nos trazem agradáveis lembranças, mas estão sempre presentes, com todas as suas contradições. Quando é inspirada em alguém cujo esquecimento teria o significado de pequenas “mortes” no contexto da tragédia maior que sua ausência provoca, nos resta como única alternativa tentar transformar cada lembrança em algo que, pelo menos nos aqueça como uma brisa cálida numa longa noite de inverno.

Kilma sabia devolver com um sorriso cada tristeza que a vida lhe impôs. Sabia como poucos, a fórmula desta alquimia. Este é o seu maior legado.

Embora a tristeza seja uma das faces da moeda onde está impressa a felicidade como outra fase necessária à condição do existir, pouco importa se nossos sorrisos sejam acompanhados de uma intensa saudade, pois tudo faz parte da vida inclusive, da vida que Kilma não teve a chance de viver.

A escolha da data para fazer nascer algo de mim, claro, foi uma “coincidência” provocada. Gosto da sensação de cada linha que escrevo ou recebo dos colaboradores, cada poema que nasceu da inspiração de tantos poetas, conhecidos e reconhecidos, cada comentário de amigos e leitores tenham gosto e intenção de homenageá-la.

Vamos comemorar o aniversário do Verso & Reverso relembrando quem o inspirou, fazendo o que ela fez de forma sempre tão cristalina enquanto sua existência enriquecia a humanidade: sorrindo.

Homenagem para quem, a despeito da dureza e da crueldade da vida, via nela motivos para desejá-la do jeito que se lhe apresentava, não importava quão desconcertantes fossem as misturas de alegrias, tristezas, perdas e ganhos.

Hoje, a música SMILE, cuja genialidade da letra associada à beleza da melodia, consegue a expressão que melhor define meus sentimentos, dos explícitos, até os tão intensos que se escondem em partes de mim e de todos que tiveram o privilégio da sua convivência.

Para quem não a conheceu que esta música tenha o poder de mostrar, vagamente, como ela era e será sempre lembrada: com um "Sorriso"

clik na música abaixo

Música Smile - Charlie Chaplin

sábado, 13 de fevereiro de 2010

AME-A OU MATE-A

Infelizmente tenho que voltar a falar da violência contra a mulher. Estamos morrendo como moscas! Os motivos vão da desconfiança de traição aos desequilíbrios emocionais. Cada vez mais fúteis.

A esta altura os motivos pouco importam já que as conseqüências conseguem ser mais graves e mais infames enquanto as reações estão cada vez mais banais.

Excetuando o caso em que a mulher antes de levar oito tiros, coincidentemente deu oito queixas na Delegacia que se omitiu em todas as ocasiões e, nos casos das mulheres estupradas e mortas por um maníaco, a verdade é que entregamo-nos de bandeja à sanha assassina dos nossos agressores.

De várias maneiras nos deixamos violentar, nos submetemos a maus tratos, dos psicológicos aos físicos. E, muitas de nós, achamos “normais”. Se um estranho nos agredisse iríamos a uma Delegacia, mas vergonhosamente nos omitimos e negamos a nossa condição de seres passíveis de respeito quando o agressor dorme nas nossas camas.

Vivemos numa sociedade violenta onde a impunidade em relação aos poderosos, violentos e corruptos impera. Mas, nossa fragilidade física não deverá servir de argumento para que nos excluam da proteção da lei. O pior é que esta exclusão é sorrateira, silenciosa e carregada de preconceitos porque, perante a Constituição somos todos iguais. Sem falar que ainda fomos “premiadas” com uma lei específica seguida de um aparato burocrático que a operacionaliza.

Repetir o jargão de que para cada sádico há um masoquista, que para cada autoritário há um submisso é ser obvia. Mas, muitas vezes é exatamente no obvio, no simples, no detalhe, nas coisas invisíveis e aparentemente insignificantes que perdemos as pontas, através das quais poderíamos começar e desenrolar nossos novelos.

Tenho contato com muitas mulheres. De todas as idades. Casadas, namoradas, noivas, apaixonadas, desencantadas, em vias de se encantarem, aliviadas por terem tido coragem de acabarem relações, arrependidas por não terem sido mais persistentes, abandonadas, deprimidas. As queixas são as mesmas, a “falta de atenção.”

Existe um tipo “falta de atenção” que já foi tema de um texto de Jabor onde ele acusa alguns homens de não gostarem de mulher. Só dos seus corpos e do prazer que eles podem lhes oferecer.

Quando ele falou que existem homens que não gostam de mulheres ele se referia à aversão, à falta de respeito e de compreensão com o universo feminino. Cada ser tem direitos aos seus mundos, aos seus interesses e a carregarem seus condicionamentos. Temos características peculiares. Nosso exacerbado sentimento materno ajuda a manter estável a população mundial. Nossas mudanças de humor provocadas pelo hormônio cujo correspondente masculino lhes torna agressivos. Nossa vaidade que nos faz perder longas horas diante do espelho.

Das nossas inseguranças, dos nossos medos muitas vezes infundados, da nossa “inconveniente” intuição que prevê traições, maus negócios, amigos infiéis. Com nossas futilidades às nossas ambições profissionais. Enfim todas aquelas coisas tolas e sérias que nos fazem transitar facilmente do sorriso às crises histéricas o que nos tornam seres imprevisíveis.

Homens são seres previsíveis. Pessoalmente acho esta característica pouco atraente, mas reconheço bastante cômoda.

Pronto, somos o inverso de vocês. Descobrimos a pólvora!

Se não gostamos do que vemos, partimos partidas, sofridas, magoadas, mas temos a coragem de fazê-lo. Entretanto, algumas preferem ficar e entregarem-se a todo tipo de violência, que vai da falta de liberdade que começa por não ter liberdade de, pelo menos, não fazer o que não querem, até serem atingidas por oito tiros que poderiam ser evitados se tudo que disséssemos ou quiséssemos fosse levado a serio por homens que gostassem de mulheres.

Porque nós também muitas vezes não gostamos nem entendemos o mundo masculino. Não entendemos seu pragmatismo, suas insatisfações, suas escalas de prioridades e valores, sua aversão a conversas mais profundas. Mas, quando muito insatisfeitas, “caímos fora”, cansadas, depois de “carregarmos a relação” nas costas, como se fossemos as únicas interessadas pelo seu equilíbrio.

Mas, por favor, não precisam nos matar se não correspondemos às suas expectativas. Há mais mulheres que homens no mundo! Nossa minoria se circunscreve ao conceito sociológico de minorias. E se as que encontrarem para dividirem as vidas, muitas vezes mesquinhas não a aceitarem, não as matem, não deixem nossos filhos órfãos e, principalmente, não permitam que o legado da nossa geração, no que se refere a relacionamentos, seja baseado no sinistro slogan: ame-a ou mate-a.


ALICE ROSSINI

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

SACANAGEM COM SHERLOCK HOLMES

Em toda a minha vida só havia saído do cinema, antes do filme terminar, uma única vez.
Mesmo quando os filmes não me agradam, no começo, até o meio, ou perto do fim, vou agüentando, sempre na expectativa de que todo aquele dinheiro gasto com celulóide melhore.
Como se pode notar, sou um sujeito tolerante...
Prefiro não dizer qual foi o filme do qual pela primeira vez me evadi, mas adianto que era nacional e baseado na obra de um escritor baiano que anda envolvido em polêmica atual sobre a Baía de Todos os Santos e uma das suas ilhas...
Não haveria mesmo polícia, cabo ou sargento que me segurasse naquela sala de projeção para assistir a filme tão ruim- nada tenho, porém, nem a favor nem contra a obra literária na qual o filme se baseou, logo adianto.
No sábado passado me retirei pela segunda vez, e confesso que saí indignado do complexo de cinemas aonde fui assistir ao badalado Sherlock Holmes.
Na verdade tinha ido ao cinema para ver o que haviam feito com os formidáveis US$ 500 milhões gastos na produção da ficção Avatar, em 3D, mas a última sessão do dia já estava esgotada e não pude ver.
Ao invés de ir tomar um chope, comprar alguma bugiganga no shopping -ou mesmo voltar para casa- fui ver o novo filme sobre o lendário detetive criado pelo genial escritor escocês, e não inglês, como muitos pensam, Arthur Conan Doyle.
É como se diz: se arrependimento matasse eu agora estaria sepultado num buraco coberto por pipocas. Desculpem-me a tosca expressão, mas tenho que dizer: fizeram com Doyle, Sherlock, com o Dr. Watson, e com Londres, uma puta e vil sacanagem.
Só quem não leu todas as aventuras da dupla Holmes e Watson – como fizeram milhões de pessoas em todo o mundo ao longo de gerações- pode assistir ao filme sem indignar-se e sem abandonar a platéia.
Da mesma forma, há de pensar assim quem assistiu a dezenas de filmes sobre o detetive, principalmente aqueles em que o ator Basil Rathbone encarnou Sherlock, com a capa, o estranho chapéu quadriculado, e sempre portando o cachimbo curvo, caracterizações tão marcantes que fazem muitos acreditarem que a personagem foi real e habitou o venerável apartamento de Baker Street 221-B, em Londres.
O diretor deste Sherlock tão dessemelhante, Guy Ritchie, cometeu a heresia de repaginar o detetive e também o seu fiel escudeiro, o Dr. Watson, transformando o ascético, organizado, sagaz e sarcástico solteirão inglês numa figura dark e suja, com barba por fazer, e até capaz de levar tabefes de um Watson que perde o seu encanto – a ingenuidade e o temor reverencial diante do gênio dedutivo brilhante do companheiro...
A sacanagem com a cidade de Londres vitoriana também é imperdoável. A capital britânica, já altamente urbana, civilizada e organizada no final do século XIX, é retratada como uma imunda e caótica cidade medieval, onde o elegante endereço de Baker Street aparece situado em meio à imundície de uma feira ao ar livre. Arre!
Perdida a essência da dupla criada por Sir Arthur Conan Doyle, o diretor Ritchie, cujo ponto alto do currículo é o fato de ter sido casado com a cantora Madonna, desconstrói o que outros diretores ingleses, como Roy William Neil, aperfeiçoaram com sensibilidade em cima da criação imorredoura do escocês.
Além de descaracterizar completamente os personagens, Ritchie dirige um filme de narrativa cinematográfica muito ruim, chato, monocórdio e arrastado, servindo-se, mais de uma vez, do vôo e do grasnar de uma gralha, para acordar e assustar a platéia, com a indispensável ajuda do som dolby estéreo.
Como castigo, esse diretor deveria ser preso numa masmorra londrina e depois levado ao cadafalso, onde o médico Watson compareceria para atestar a morte como diretor cinematográfico, enquanto Holmes estaria alheio ao destino de Ritchie, mantendo-se recluso e drogado no apartamento de Baker Street, para aflição da sua senhoria, o que era hábito seu quando estava sem trabalho e sucumbia em mais uma das suas constantes depressões...
A minha parte nesse enredo eu fiz em solidariedade a Holmes, Watson e Doyle. Na metade do filme me levantei, sai tateando no escuro, e resmunguei:
- Esse filho da puta!

SÉRGIO GOMES - jornalista

domingo, 7 de fevereiro de 2010

O COLAR DE PÉROLAS

Frequentemente me ocorrem, de forma inesperada, pensamentos em que minha mente e meu coração, involuntariamente, fazem retrospectivas pelos caminhos da minha Vida. Não como penitência ou arrependimento de tê-los seguido, mas sim, para raspar o fundo do tacho do meu aprendizado e lambuzar-me com as últimas migalhas de sabedoria que, eventualmente, ainda estejam por lá.

Olho para um colar de pérolas na vitrine de uma joalheria de luxo e não posso deixar de vê-lo parecido com a minha vida. Pergunto o preço de alguns à desocupada e aparentemente, desmotivada vendedora. ao mesmo tempo que absorvo dela informações unicamente pertinentes a estas jóias tão apreciadas. Apercebo-me que os colares de pérolas mais procurados, não os mais valiosos ou raros, são os que têm pérolas de tamanhos e colorações diferentes que trafegam do quase branco ao quase negro.

A ostra quando invadida por um grão de areia, se protege cobrindo o mesmo com repetidas capas de carbonatos de toda a espécie, que se tornam, com o tempo, pérolas lindas e únicas. As pérolas negras são as mais difíceis de conseguir porque é fruto de um desequilíbrio químico, por parte da “senhora” ostra que a concebe e, do meio ambiente em que vive. Ou seja, as mais bonitas raras e caras são geradas em decorrência de problemas de natureza desconhecida.

Problemas, desafios, obstáculos, dificuldades, erros, palavras chave, oportunidades de VIDA!

Desconfio então, que a minha vida seja um lindo colar de pérolas de varias cores, cuja raridade ou tom, tem preços que vão do caro ao extraordinariamente caro. Para mim, pelo menos!

Olhando para o colar na vitrine, não posso deixar de encontrar analogias e paradoxos pessoais e nem tanto. Se bem que é fácil vê-las do meu ponto de vista, que aqui coloco à vossa apreciação e despreendido julgamento.

Mas, o que uma jóia tem a ver com minha Vida?

Recentemente celebrei os meus 54 anos de idade! Não é nenhuma data significativa e nem sequer marca um ponto determinante no meu caminho por este mundo. Mas, ao ver aquele colar caríssimo, imediatamente recordo o meu passado e, enquanto um sorriso sarcástico aflora, conscientizo-me de que gostaria de tê-lo para mim. Seria engraçado eu, um homem passando a meia idade, caminhando na rua de colar de pérolas. Calma, não o queria para usá-lo dessa forma, mas sim para olhar para ele e me lembrar constantemente como retrata o meu caminho nestes 54 anos. A melhor forma de fazê-lo seria dá-lo a minha esposa. Assim o veria frequentemente exposto no pescoço mais lindo do mundo e bem à minha frente!

O colar tem o seu fecho no centro e, de cada lado correm duas fileiras de pérolas brancas, de meio tamanho, lindas, de um brilho natural e atraente. Cada uma delas, me lembra os momentos felizes, alegres e reconfortantes que passei nestes últimos 54 anos. As diabruras bem sucedidas que consegui fazer sem ser descoberto durante a minha infância. As minhas vitórias atléticas no começo da juventude, os beijos roubados das namoradinhas, a sensação única de estar nu pela primeira vez com uma delas, sem saber exatamente por que e como ambos chegamos ali. Os êxitos escolares. A tensão emocional e inesquecível do dia do casamento, sabendo que em breve iria abrir uma carta fechada sem saber o que nela havia. Os nascimentos e crescimento dos filhos, a descoberta diária de quem era realmente a mulher que havia se casado comigo. A profissão, as vitórias, as alegrias, as viajens, os novos povos de lugares longínquos que conheci, enfim, os momentos mais felizes! Muitas lembranças cheias de felicidade que ofuscam as lições que viajam junto com elas!

Quando estas pérolas brancas terminam, começam as mais escuras, e num dégradé crescente, chegam ao meio do cordão num cinza forte. Normalmente, ao se usar esta peça, estas últimas pérolas ficam muito próximas onde bate insistente, nosso coração.

Essas pérolas mais escuras personificam os desafios, os problemas não resolvidos, os êxitos não consumados, e quanto maior foi o erro cometido, mais escura é a pérola. O seu maior valor se deve ao fato, suponho, de que eu não me recordo de nenhuma lição importante que me ficou dos bons momentos, a não ser a doce sensação de estar feliz enquanto duraram. Nos outros, que me deixavam o gosto amargo da infelicidade, me ficaram lições de vida que serviram de arsenal para mais vitórias e mais conquistas, para me tornar um ser humano melhor e pôr em perspectiva valores e sonhos. A cada batalha perdida eu aprendia mais e, na próxima era mais difícil ser vencido. Até que eu passei a ganhar as batalhas com as quais me deparava cada vez mais frequentemente.

Até hoje sigo perdendo, mas não vejo nisso um problema. Vejo sim, um rosário de oportunidades únicas para aprender, avaliar e aplicar esse aprendizado para o meu benefício e daqueles que estão de uma forma ou outra, relacionados comigo.


FERNANDO TROVADOR

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

A ¨PRAGA BRANCA¨


Estou aqui sentada diante da tela do laptop sem que nenhum assunto me motive a escrever. Garanto-lhes que é uma sensação nada agradável. Incomoda e impõe certa urgência. Quando me propus a ter um blog não imaginava que poderia ter lapsos de criatividade.

Será que tudo que acontece no mundo não me impulsiona os dedos?! Terremotos, as chuvas alagando cidades e matando pessoas, casos de corrupção - está certo, não gosto de falar de política – mas isto não é política é Ética. O Carnaval se aproximando, as calotas polares derretendo-se, já constatada por um cientista da NASA. A China com rusgas com os Estados Unidos – também não é só política, eles, os chineses não podem impedir Obama de receber o Dalai Lama, que vai falar sobre liberdades e este assunto me interessa particularmente. Vejam quantos assuntos palpitantes! E eu aqui sem saber o que escrever.

Poderia falar de mim. Mas falar o que? Nada que vocês já não saibam, ou quase nada. O que penso em relação às mulheres e seus relacionamentos com os homens, não esgotei nem 1% das questões, imaginem o que ainda existe nos 99% restantes! Não dá, acabei de escrever um texto onde abordo a tragédia da violência. Falar dos preconceitos? Que os tenho, mas luto ferrenhamente contra eles, principalmente os que se referem à opção sexual, à raça e à religião? Tenho sinalizado esta intenção em algumas outras postagens.

Falar que acordo triste e só reconheço motivos para me sentir feliz, quando nada me preocupa, a partir das 11 horas da manhã? Que acho minha cama o melhor lugar do planeta - eu e a torcida do Flamengo? Que choro de saudade dos meus filhos, do que casou e, antecipadamente, pelo que está se formando e já participou que não pretende morar comigo? Quer ter sua casa, ser independente? Nem posso questionar a legitimidade do desejo!

Vejam que problemas mais sem graça e previsíveis. Diante do que vemos nas televisões, do que lemos nos jornais, do que testemunhamos nas ruas, os problemas imensos dos nossos amigos, as perdas irreparáveis que experimentei! Tenho até vergonha de tê-los listados.

Não, não tem nada que me motive a escrever uma linha sequer. Que crise, Santo Deus!

E quanto aos assuntos supracitados muitos já escreveram sobre eles e com mais competência. Não quero ser repetitiva nem óbvia. Tenho minhas vaidades, ora!

Eu gostaria de saber quando os grandes escritores são acometidos por esta “praga branca”, o que eles fazem o que sentem? Provavelmente nada. Sabem que é passageira e já tem um trabalho que já os qualificaram.

Certa vez ouvi Saramago dizer, numa entrevista, que independente de ter ou não vontade e inspiração para escrever, senta-se diante do seu computador e espera. É o que estou fazendo! Certamente Saramago senta-se cheio de esperanças e certezas que logo sairá da sua mente privilegiada alguma coisa que a humanidade jamais vai esquecer e quem sabe, lhe valerá um Nobel de Literatura, prêmio, que segundo ele, não o impressiona nem muda sua vida nem sua rotina.

Mas eu, o que faço? Ansiosa, sento diante do meu laptop e não tenho o pudor de ficar quieta, escutando minha mente ou minhas emoções, pois a ansiedade me impulsiona a falar que nada tenho a dizer.

Com certeza é isto que difere os escritores dos diletantes. Os artistas das pessoas comuns, Dos que escrevem com a divina pretensão de mudar o mundo para melhor, dos talentos incontidos que brotam através de seus dedos e fixam-se eternamente nas mentes dos privilegiados que os lêm. São diferentes dos que usam a habilidade de escrever como muleta, como se fossem os ouvidos de um terapêuta ou de um amigo muito paciente.

A uma conclusão, pelo menos, eu cheguei e quero dividir com vocês. Ainda tem muita estrada para que meus “escritos” fujam do meu BLOG, resvalem por caminhos mais perigosos, mais desafiadores, cruzem as fronteiras das minhas amizades e façam a diferença no mundo.

Por favor, não me chamem de pretensiosa, pois todo “blogueiro”- detesto este termo - tem pretensões a escritor.

p.s. Acabei de ler o texto para minha mãe e ela adorou...(risos)

ALICE ROSSINI