domingo, 25 de julho de 2010

ANTES DA PALMADA


Lei não combina com emoção. Embora as leis reflitam sentimentos, costumes e valores dos homens elas devem ser elaboradas distantes de fatos que provoquem comoção pública e assim, isentem-se de juízos que comprometam sua justeza e aplicabilidade.

Parece-me que o “caso” da procuradora Vera Lúcia Gomes que espancou e torturou a filha que pretendia adotar, escandalizou o país provocando revolta e a denuncia dos vizinhos à Justiça, vejam só, de uma representante da lei. O fato exacerbou na sociedade e nas autoridades o instinto de proteção ao menor.

Como não sou advogada, pedagoga ou psicóloga minha opinião é leiga e de simples mulher, mãe de dois filhos já adultos mas, com algum discernimento.

Grosso modo o Governo publicou uma lei que proíbe pais e responsáveis de darem palmadas em seus filhos. Palmadas passaram a ser sinônimo de violência. A depender da intensidade e do contexto, podem ser. Mas podem, ainda, dependendo das variáveis citadas, serem gestos educativos e sinônimos de atenção e da importância que a criança ocupa na vida de quem lhe deu a vida.

O perfil da família brasileira varia entre aquela que dorme ao relento, cujos membros mal alimentados e sem capacidade de alimentar são vítimas do descaso da indiferença e nela "subvivem" até a família inserida nas classes C, B e A que, embora livres do sereno e do analfabetismo, não estão livres de maus tratos e da ignorância.

Só que os conceitos de violência variam da mesma forma que se diferenciam a sensibilidade e o grau de instrução de seus membros.
Não é a educação formal que confere a qualquer individuo capacidade de ser pai e criar seus filhos de maneira a não submetê-los às inúmeras formas de constrangimentos e humilhações. Conheço muitas pessoas que, mesmo sem escolaridade formal possuem sensibilidade inata para educar.

Portanto, arbitrar sobre questões tão subjetivas e diversificadas é, no mínimo, perigoso como perigosa é qualquer tipo de generalização.

Que toda criança deva ser poupada de violência isto é sabido e já existe um Estatuto que lhes assegura este direito. Mas, no momento em que se pretende conceituar o tratamento violento, que no meu entendimento vai de um olhar carregado de ódio e ressentimento até uma omissão, que a faça sentir-se desprotegida, o Governo superpõe um papel ao que, constitucionalmente já é obrigado, de assegurar direitos igualmente fundamentais: moradia, uma família estruturada que as proteja, educação até, pelo menos, o ensino medio, saude, a proteção da violência urbana, do assedio de traficantes e da sexualidade precoce e insegura, dentre outros.

Sou fruto de uma geração, cujos pais sofreram castigos severos e formas de educar impregnadas de preconceitos. Infelizmente a "leitura" que foi feita dos instrumentos oferecidos pelas ciências humanas foi, além de individual, não raro, mal interpretada. Onde já havia uma crise de autoridade foi justaposta a aplicação confusa da teoria oferecida pela Ciência, desde sempre ocupada com o equilíibrio e bem estar do ser humano.

Os resultados desta lacuna foram adultos perdidos educando crianças mais perdidas ainda, onde conceitos de "certo" e "errado" confundem-se num mundo já mergulhado numa crise de valores.

Hoje a permissividade e a falta de limites colocam diante de nós um modelo de sociedade onde o mais forte, o mais rico, o mais bonito, o mais contaminado por valores, ainda que questionáveis, leva sempre vantagem diante do diferente, que é a regra. Pois, queiramos ou não, cada ser humano é único e deve ser respeitado e aceito dentro dos parâmetros de sua singularidade.

Concluindo, achava mais eficaz que o Governo, antes de entrar no mérito da forma das familias educarem seus filhos, elabore leis cujo "espírito" seja o de proteger a familia, independente do modelo em que esteja organizada, mas ancorada em valores onde a educação seja o caminho mais seguro para um futuro digno.

Aliás, leis existem, basta cumprí-las e que a todos seja dado o direito de usufruir da sua proteção.

ALICE ROSSINI

terça-feira, 20 de julho de 2010

EDITORIAL


O Verso&Reverso atingiu a marca de 10.000 acessos antes de completar dois anos de existência. Para quem começou e continua com a modesta pretensão de registrar emoções é um número bastante representativo.

Através da releitura de textos de seu editor e de seus colaboradores Bernardo Assis Filho, Lucia Araujo, Lucia Izabel, Maria de Lourdes Timbó, Fernando Trovador, Marco Rossini, Rafael Neves, Ricardo Barreto, Rozie Bahiana e Sérgio Gomes que, tão humilde e brilhantemente registraram suas emoções, reflexões e sentimentos, além da gratidão que invade sua editora é relevante a constatação de que seres humanos interessam-se por outros seres humanos, num mundo onde tudo nos leva a crer o contrário.

Não poderia ter existido este Blog sem a ajuda inestimável das Lucias da minha vida, a Araujo e a Izabel, na revisão de textos.

Comemora ainda o Verso&Reverso nunca ter recorrido à injustiça nem nunca ter incentivado o preconceito para embasar opiniões. Ao contrário, perseguiu uma postura libertária, humanista e livre, avessa a qualquer pretexto que amordace a liberdade de expressão sempre que ela surja limpa, ousada e solta, no espírito humano.

terça-feira, 13 de julho de 2010

VIVER É SENTIR


Falam do nascimento como um acontecimento traumático. E é. Não é à toa que o primeiro suspiro de um ser humano é acompanhado por um choro. Choro que nos acompanha em todas as fases das nossas vidas. Desde a primeira infância, nos afastamentos, ainda que temporários, dos nossos pais, à adolescência quando nos sentimos infelizes e incompreendidos ou quando encontramos o amor onde dor e felicidade são faces da mesma moeda, quando somando-nos tornamo-nos pais ou multipicamos-nos em netos, quando a velhice nos coloca diante da possibilidade concreta da finitude, até quando nossos filhos voam para viverem suas vidas e nos assaltam sentimentos contraditórios. À compreensão impactante do nosso alheamento ao que, certamente, experimentaram nossos pais quando a roda da vida girou também para eles, não raro lamentando suas perdas.

São sensações que só se tem consciência da dimensão quando são vivenciadas. E cada um as vivencia como quer e pode.

Quando falo em choro, me refiro ao ato de chorar como uma metáfora. Prantos são manifestações emocionais e não são só as negativas que as originam. Lágrimas, embora levemente salgadas, podem ter gosto de felicidade, de alívio, de ternura, mas também podem ser amargas como a saudade, o medo e a solidão existencial.
O ato de chorar é uma das mais contundentes manifestações de sentimentos em ebulição. Tanto apazigua quem o externa quanto inquieta a quem o contempla. Quantos sentimentos ruins não seriam enxaguados por prantos contidos e quantos bons sentimentos não seriam iluminados pela transparência cristalina das lágrimas?

É incível como os homens teorizam sobre todas as fases da vida, delas expulsando sentimentos e sensações que tanto as exorcizam quanto as engrandecem, ancorados na óbvia constatação de que acontecem, queiramos ou não. Assim, passam por todas elas enclausurados em crenças graníticas que os impedem de traçar suas próprias trajetórias, que as distanciam de paradigmas e condicionamentos já fossilizados pelo tempo, em que todo fechamento de ciclo, ou é bom ou é ruim. Maniqueísmo que engessa manifestações individuais surgidas da diversidade humana, que deveria nos aproximar em vez de nos estigmatizar.

Todas estas fases tem suas doses de dor e prazer. Mas podem ser dolorosas, principalmente, por não contarmos com a compaixão dos que já as ultrapassaram e, por saberem que sobreviveremos, banalizam nossas emoções. Ou por aqueles que já as ultrapassaram e não as vivenciaram. Por não mergulharem nos lagos misteriosos das emoções perderam a essência da vida que é sentí-la.

Entendo que este comportamento é determinado pela humanidade de cada um de nós. Determinados alheamentos são confortáveis trincheiras onde escondemos nossos sentimentos e quem de verdade somos. Quem as usa e sente-se bem, que as torne cada vez mais acolhedoras.

Quando virmos lágrimas escorrendo por faces conhecidas ou de outro alguém e ignorarmos o porquê de estarem sendo vertidas, não nos apressemos em debitá-las ao sofrimento. Corremos o risco de sentenciar pessoas à solidão por estar experimentando um momento de felicidade que poderia ser compartilhado ou de estar gritando, através do pranto “me ajude”, "não me deixe só”, “preciso de um respeitoso silêncio ou de uma confortável privacidade”.

Fiquemos, pois, atentos aos semblantes dos que nos rodeiam. Somos todos humanos, vulneráveis, às vezes fortes às vezes fracos e a roda da vida não sofre do mal da iniquidade.

ALICE ROSSINI

segunda-feira, 5 de julho de 2010

INFINITO



Pegue uma folha de papel em branco, desenhe um oito na horizontal (ou então desenhe na vertical e depois vire o papel, caso você não consiga desenhar na horizontal) e pronto: você resumiu tudo o que existe no mundo e até o que não existe. O que você acabou de fazer foi simplesmente representar o infinito em apenas um pouco de tinta de caneta ou lápis. Ou seja, todas as trilhões de coisas, informações, mentes e tudo mais que exista ou que nem sonhamos que exista.

Sabe aquelas respostas que você se cansa de descobrir, mas nada encontra? Bem, saiba que sua resposta está ai, você só não sabe onde. Ela está em algum lugar do vasto infinito, disso você tem certeza, só não dá pra o local exato. Dentro desse infinito está tudo o que não sabemos, assim como tudo o que já descobrimos. Então pra que procuramos ainda mais respostas? Não é só escrever este símbolo e pronto, ta tudo resolvido? Na próxima vez em que tiver de responder a uma pergunta, vou simplesmente escrever e um oito deitado e deixar o bilhete: “A resposta está ai, tenho certeza. Ache-a por favor”.

O poder desse símbolo é tão grande que você é capaz de fazer muitas outras loucuras com ele. Não é mais preciso inventar um jeito de clonar seres humanos, basta escrever duas vezes o símbolo do infinito e todo o universo, bem como seus habitantes, serão clonados. O fim do mundo pode chegar bem antes de 2012, é só escrever o símbolo e apagá-lo ou rasgar o papel para que todo o mundo seja destruído.
Todos os acústicos, bolas de basquete, cacetetes, dados, esquadros, fóruns, galinhas, helicópteros, imãs, jaquetas, kg, lustres, maneiras, ninhos, óticas, paquidermes, quarks, rinocerontes, sábados, tangerinas, uvas, vasilhames, wet’n wilds, xeque-mates, yards e zarolhos estão compactados neste símbolo. Até mesmo aquelas coisas que nem cabem no alfabeto estão ai, até mesmo as coisas que você pensa que não estão e as que você pensa que pensa que não estão. Bom, ta bom que isso tudo pode dar um pouco de dor de cabeça, então,melhor encerrar por aqui.

RAFAEL NEVES - estudante - 15 anos