quarta-feira, 28 de agosto de 2013

MAIS UMA LEILA?



Recebi de uma amiga um texto de Aída G., intitulado “A nova Leila Diniz”, onde, indignada critica o patrulhamento sobre a atriz Beth Faria que, aos 72 anos, cometeu a “heresia” de exercer o direito inalienável de vestir-se como acha conveniente: foi à praia, no Rio de Janeiro, de biquíni. No dia seguinte assustou-se com a reação das pessoas à sua “ousadia” e “falta de pudor estético” como se, o juízo do que é belo ou feio, fosse uma camisa de força que nos é imposta ao nascermos.

Confesso que, com quase 60 anos, sinto certa dificuldade em me vestir. Assim como eu, muitas mulheres também a têm, enquanto outras não estão nem aí, vestem o que acham lhes cair bem, sem que a idade seja um critério determinante. É preciso ter atitude e coragem para passar por cima de certos tabus. Eu, na medida do possível e do que acho que me agrada, ainda uso biquíni, vestido acima do joelho e outras roupas e acessórios que, no século passado, ainda tão próximo, era considerado escandaloso e inadequado. Aliás, já escrevi algumas vezes neste Blog sobre liberdade, direitos individuais e a diversidade do ser humano.

Pois bem, em plena ditadura militar, a atriz Leila Diniz também mostrou sua barriga. O fato foi considerado provocativo, porque estava no sétimo mês de gravidez. Hoje as grávidas mostram suas volumosas e lindas barrigas não só nas praias, como nas ruas, shoppings center´s e academias. Leila foi uma mulher que viveu muito pouco. Morreu aos 27 anos, mas deixou um legado de liberdade para mulheres e homens, porque quebrou tabus, falava o que pensava e vivia a vida com alegria, sempre buscando o prazer e a felicidade. Naqueles tempos obscuros, este comportamento subvertia os costumes e ia de encontro à ordem vigente, imposta pelo regime. Hoje é considerada um ícone do feminino, assumido com a força inerente a esta condição.

Com o avanço da ciência as pessoas vivem mais e melhor. Hoje uma mulher de 30 anos, 20 ou 30 anos atrás, era considerada velha e esta condição privava-a até da certeza de gerar filhos sadios. Senhores médicos, sei que óvulos envelhecem, mas conheço muitas mulheres jovens que têm filhos portadores de Síndromes, assim como conheço muitas mulheres de 40 que pariram crianças saudáveis. Sei que as estatísticas me contradizem, mas a questão é considerar “ridículo” e “fora de propósito” uma mulher querer engravidar aos 40 anos, ainda que não tenha filhos. A saída "politicamente correta" é a adoção. Nada contra gesto tão compassivo quanto necessário, com tantas crianças sem famílias, mas gestar uma pessoa, em minha opinião, nos diferencia, para melhor, do outro gênero.

Estas mesmas mulheres, quando têm acesso aos avanços da Cosmiatria e da Cirurgia Plástica, podem dar-se o luxo de parecerem fisicamente muito mais jovens, principalmente, se associarem a estes avanços, estilos de vida saudáveis, posturas modernas e criticas diante das mudanças de costumes, serem alegres e terem coragem de assumirem-se como são. Os excessos mostram-se inúteis se o objetivo é parar o relógio biológico, lhes impedindo de viver cada fase das suas vidas com a intensidade que cada uma merece. Se Beth Faria tivesse vergonha do seu abdômen septuagenário estaria pensando como uma mulher de 20, cujos valores e padrões estéticos são compatíveis com a idade que têm, assim como uma mulher de 20 não pode nem deve pensar como uma mulher de 70.

O problema é que as pessoas olham o presente com os olhos do passado sem livrar-se dos ranços e preconceitos que faziam parte dele. Beth Faria não quebrou nenhum tabu aos 70 anos, permitindo-se usar biquíni, mas exerceu, corajosamente, o direito de ser livre. Nos países civilizados, onde o que se é, fala mais alto que as formas que se têm, mulheres de todas as idades fazem topless nas praias, vestem-se como têm vontade e por isto, certamente, se sentem mais livres que nós brasileiras, que vivemos com a “burca” da perfeição e da juventude oprimindo nossas cabeças.

Como juízes, muitos de nós condenamos as mulheres que entenderam que o comportamento de Leila Diniz, em e sua inocente coragem, queria mostrar que a liberdade não é uma utopia.

ALICE ROSSINI

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terça-feira, 20 de agosto de 2013

POR QUE, NÃO?


Vi pela televisão uma reportagem, que falava de um artista que mudou a fachada das casas da rua onde mora, em Buenos Ayres. Começou revestindo a sua com mosaicos, cujo caminho estético evidencia sua privilegiada intuição. A princípio os vizinhos estranharam a atitude, e nela, a ousada combinação das cores e a liberdade dos traços que brotaram, livremente, da cabeça do seu morador. A fuga dos padrões gerou respostas positivas, ao tempo em que causou estranheza, provocando emoções controversas.

Seria esta a função da arte, inquietar, a ponto de ser negada ou aceita? Também. Não raro, entre a primeira e a segunda postura acontece a polêmica, a discussão, a reflexão, estas, sim, mais úteis, construtivas e libertárias que a unanimidade, comodamente instalada na polaridade de posições, onde pode aninhar-se a liberdade de quem a contempla. Há que deliciar-se da generosa e santa vaidade do artista que expõe o que, dentro de si, não se contém e transborda.

Pergunto-me em circunstâncias diversas, o que seria do mundo sem a arte, vazio destas pessoas que dedicam suas vidas a perguntarem “por que não?”. Certamente monótono, insípido, incolor, já que movimento e cor são inerentes a tudo que vive. Embora existam pessoas desatentas ou desinteressadas, estas características subjazem ao simples fato de existir, fazendo-se notar em tantos níveis quanto às diversas formas de enxergar.

A loucura contida neste eterno perguntar-se está presente em todo ser humano. Entretanto, as diferenças, os contextos onde histórias pessoais foram vivenciadas, potencializam ou neutralizam esta característica, levando algumas pessoas a fazerem o que acham que deve ser feito, outras sentirem-se obrigadas a fazer o que os outros acham o que devem fazer, e algumas, que nem acham nem fazem.

As primeiras, livres, fazem das suas vidas um eterno modificar-se. Modificando-as, modificam o mundo para melhor ou para pior. Emprestam-se aos sacrifícios da ansiedade de viver, sabendo o quanto cada momento é tão fundamental quanto fugaz. A impermanência, imanente ao Todo, tudo modifica a cada milionésimo de segundo, se considerada a medida convencional do tempo.

As segundas engessam a si e acham que têm direito de imobilizar o outro. O preço a pagar, pode ser alto, para os que tiverem a ousadia de arrebentar as correntes que as aprisionam.

As últimas nada fazem. E nada fazendo, tornam suas vidas uma rotina de obviedades, incomodadas com a ousadia das que não temem o “por que não?”.

Não precisa ser artista, visionário ou insano para modificar o cotidiano, reinventando-o e entregando-o à sua própria dinâmica. No “sim” ou no “não” permitimos ou sufocamos, não necessariamente nesta ordem, o “consagrado” pelas convenções. Sua simples pronúncia modifica o que pensamos, falamos e fazemos e, até como escolhemos onde e como vivemos.

As cores com que pintamos nossas casas ou as que cobrimos nossos corpos podem refletir tanto a calmaria do comodismo, como espelhar o caos, embrião de uma comunhão com o conceito humano de equilíbrio com o Universo, e tudo que dele faz parte: dos mistérios do Infinito à importância que damos a cada Molécula que compõe os seres. A busca vã do equilíbrio é, também, a negação da expansão da vida, que sobrevive da interferência do seu contraditório, o desequilíbrio.

Diante de tantas catástrofes naturais, sabendo que nosso planeta é representado como um pequeno ponto, se comparado a outros que gravitam no sistema solar vive à mercê de uma possível, embora improvável instabilidade, que poderia provocar um choque contra o sol e nos destruir, calcinados, leva à reflexão sobre nossas insignificantes preocupações. Penso, então, na possibilidade do caos estar fora e dentro de nós. A realidade sinaliza que sim.

A sabedoria da vida é fazer deste caos interno um caminho. Onde a luta entre equilíbrio e desequilíbrio, a constante desconstrução do que hoje é certo, amanhã, mais um equívoco, o natural estado de busca, a aceitação de que a inquietação tem poder de abalar inúteis paradigmas, onde acomodamos o conforto do estável.

Exercitemos a liberdade e o despojamento de perguntar-nos “por que não?”, sempre que a vontade acontecer.

Alice Rossini

domingo, 11 de agosto de 2013

COMO SINTO MEU MARIDO


Meu marido é quase uma pessoa indescritível. Tenho certeza que se pudesse ser o AR, seria o céu, pois a atmosfera está sempre acima de nós, não importando se nublada, azul ou preparando-se para o breu da noite. Raramente gostaria de ser o Sol. Somente no verão! Pois brilha mais tempo, apaga-se apenas na metade do planeta e dorme, somente, em um dos horizontes. Ser ESTRELA, bem que poderia ser seu sonho, mas, embora reluzente, sua luminosidade sempre faz parte do passado que, incontáveis vezes, nem vimos brilhar. Para ele isto é impensável! Talvez, gostasse de ser a LUA, em todas as suas fases. Como algumas vezes são vespertinas e sempre dão show de beleza, todos a admiram e serve de inspiração para poetas, causando suspiros nos apaixonados. Ser PLANETA, nunca! São pequenos demais em relação ao Sol e, somente são vistos com a ajuda de telescópios.

Se fosse a ÁGUA, meu marido poderia ser um rio caudaloso e inquieto, para adiante encontrar um precipício, onde se transformaria numa linda cachoeira, branca de tão volumosa, muito fria, e antes de tocar no solo, se tornaria uma nuvem que umedeceria a pedra sempre a sua espera. Como o destino do rio é o MAR, Marco chegaria até a imensidão dos OCEANOS, onde sentiria um imenso prazer. Oceanos! Cheios de peixes, golfinhos, corais e outras criaturas com estranha beleza. A esta diversidade aliaria sua necessidade de alimentar, de brincar e de ser belo e inatacável.

Se fosse TERRA, claro que Marco seria a FLORESTA AMAZÔNICA! Intocada e livre de predadores, suas árvores seriam lindas, frondosas e carregadas de frutos. Cada dia se transformaria em um dos animais, dos silvestres e brincalhões até em jacarés e leopardos, sempre prontos para atacar, caso alguém invadisse seu território, sem a sua permissão. Poderia ser uma Horta, a maioooor do mundo, onde todo o alimento, de toda a humanidade sairia das suas entranhas.

Mas, meu marido, acho, escolheria ser o FOGO. Sairia pelo mundo arrasando tudo. Quem quiser que se defenda, porque além de cálido e belo, todos o respeitam. Basta um toque entre duas peças inflamáveis, olhe ele reaparecendo capaz de tudo! Somente a ÁGUA e poucos “moradores” da Tabela Periódica são capazes de neutralizá-lo. Mesmo assim, deixa a brasa ou o rescaldo de um incêndio, em forno brando que, qualquer corrente de AR o reascende com consequências imprevisíveis.

As cores do fogo, quando em combustão, variam como seus gostos e vontades. Quando necessário, faz de conta que virou cinza, sem antes esquecer-se de deixar um rastro luminoso, mas lembrando a todos que ainda existe como uma “ameaça”, que poderá fazer com que volte, a qualquer momento, com a "brutalidade" da sua força.

Mas, Aristóteles defendia que o nosso planeta vibrava em mais um elemento. Este, sutil e hipotético, o ÉTER. Chamado de QUINTA ESSÊNCIA, como meu marido, possui a capacidade de ficar oculto e, algumas vezes, quieto e calado. Nestes momentos pode ser mais perigoso! Pois, neste estado, contrario a sua matéria carregada de mistérios e seu semblante aparentando quietude, em sua mente estão sendo travadas varias batalhas, onde a ÁGUA apaga o FOGO e a TERRA define seu pragmatismo. Embora o AR seja seu destino, é o ÉTER que permite à sua luminosidade a qualidade de se propagar, aquecer o coração de quem com ele convive e de incendiar o meu.

Alice Rossini

EDITORIAL


Mais uma comemoração pelo “Dia dos Pais”. Na mídia, a apologia sobre a necessidade de participação paterna na vida dos filhos. Existem pais que só inseminam sua ou uma mulher qualquer e, logo, esquecem as possíveis consequências do que fizeram. Está também cada dia mais comum, o propalado instinto materno ser jogado em latas de lixo.

Quando esta relação entre pais e crias se esgarça, há um fértil campo para reflexão. Afinal, a finalidade biológica do ser humano é perpetuar-se como acontece, e é cada vez mais passível de proteção, em outras espécies.

Não de pode generalizar que todas as mulheres possuam o instinto materno. Apesar de toda a carga hormonal e cultural puderem determiná-la, esta verdade não é absoluta. Imaginem os homens, cuja idéia de ser pai e consequente obrigação de cuidar e proteger só se concretizam nove meses depois, com a cria nos seus braços, tornam estes sentimentos e suas consequências cada vez mais controversos.

Homens são diferentes de mulheres em quase tudo. Inclusive e, principalmente, no exercício da paternidade. Hoje em dia, até filhos perderam a referência do que seja amar a quem lhe deu a vida. Até porque, tanto podem ser frutos de uma ardente vontade, impregnada de sentimentos elevados, como frutos de um contato casual, onde nenhum sentimento altruísta e responsável permeie a relação. Considerando que todo sentimento deve ter uma estrada que leva e outra que traz, há que se refletir porque os questionamentos do primordial exercício de ser Pai, Mãe e Filho estão sendo exercidos de forma criminosa, deformada e irresponsável.

Entretanto, a família ainda é uma célula aceita e necessária em todas as culturas e credos, respeitadas os respectivos modelos. E, a maioria da humanidade ainda a respeita e deseja resguardá-la. Apeguemo-nos, então, a este traço cultural, preenchendo-o de sentidos, para que a continuação da vida nos traga o conforto do carinho, do amparo e da perpetuação dos genes que nos eternizam.

domingo, 4 de agosto de 2013

DIALOGANDO COM A DIVERSIDADE

Hoje a atitude mais necessária entre as pessoas e passível de mobilização pela mídia é a TOLERÂNCIA. Num mundo de seis bilhões de pessoas que nem as digitais dos dedos são iguais entre si, ser tolerante deveria ser um atributo natural do ser humano. Mas não é. A cada dia os exemplos do seu contraditório estão sendo a regra.

Somos intolerantes até com o “normal”, se ele não atende às nossas expectativas. Somos intolerantes com a estética, ainda que ela fira padrões marcados pela subjetividade ou quando foge aos padrões já aceitos. No mundo das ideias, ainda que as divergências sejam enriquecedoras e responsáveis pela evolução do conhecimento, há quem as exerçam sem o espírito norteador do enriquecimento de pontos de vista onde se ancoram culturas.
Imaginemos se Sócrates, Cristo, Buda, Freud, Nietszche, Bethoven, Einstein Mozart, Niemayer, Van Gogh, Salvador Dali, Leonardo Da Vinci dentre tantos "estranhos notáveis", atendessem aos parâmetros da sociedade onde viveram? A Filosofia, a Música, a Pintura e outras áreas das artes e da ciência não prestariam tanto prazer, benefícios e avanços à humanidade. Portanto, a História ratifica a importância da diferença. Ainda que políticas de inclusão sejam adotadas por governos, organismos internacionais ou por pessoas, na prática, o que vemos é o preconceito cada dia mais exacerbado, a ponto de excluir, até por meio da supressão da vida, as diferenças que nos incomodam. Isto não é regra, porque a correlação de forças contrárias impedem que esta prática se institucionalize.

Este texto não tem espírito catequético, até porque, muitas vezes me incluo no rol de intolerantes em alguns aspectos. Mas, a exclusão que mais me incomoda é aquela que, o incômodo atinge somente a individualidade de quem é ou convive com o diferente. Acredito ser uma questão meramente pessoal.

Não vou falar de opções sexuais, de ter ou não ter filhos, da preferência por atividades ou estilos de vida alternativos, dentre outras escolhas, até porque, ainda que possam ser debatidas, considero desnecessário mencioná-las, por uma questão de princípios.

A intolerância a que quero me referir e é mais nociva, é aquela que, por ignorância, boa parte da humanidade não tem conciência das diversas formas que muitas pessoas podem ser úteis. O quanto elas podem chegar perto do que é considerado “normal”, tanto quanto, podem ajudar a humanidade a refletir sobre as convergências possíveis, sobre uma ética que permita uma convivência mais pacifista.

Este tema me instigou logo que li num jornal, uma chamada, junto aos jogadores Messi e Neymar, divulgando que os números desenhados nos uniformes do time foram da autoria de uma menina com Síndrome de Down. Qual pai, principalmente os aficionados pelo futebol, não gostaria que um filho seu tivesse este privilégio que, para qualquer criança seria tão marcante? Será que uma menina ou menino que não portasse a Síndrome citada, desenharia números tão originais que, assistindo ao jogo, chamaram minha atenção, a ponto de creditar ao time o "luxo" de contratar um "designer" que diferenciasse seu uniforme?

A partir deste fato, lembrei-me da luta de pais contra escolas ditas avançadas e eficientes. Nem sabem seus pedagogos o porquê de não querer impor o desafio de incluir uma criança “diferente”, que demandaria do educador aprofundar seus conhecimentos na condução de um processo, aparentemente difícil, mas, certamente, motivador e gratificante. Uma criança, portadora de qualquer tipo de diferença, física ou comportamental, poderia fazer a diferença para si, desejando, característica humana, acompanhar seus pares e, as demais crianças teriam o privilégio de, na prática do cotidiano, compreender, aceitar e ajudar alguém diferente do que está condicionada a “achar” normal.

A extinção deste tipo de preconceito, dentre os milhares já arraigados, começa nos lares. Pobres, medianos ou luxuosos. A dificuldade está no abismo dos valores das pessoas que neles habitam. Nem sempre correspondem à classificação dos tetos e paredes que as abrigam.

Com o avanço da Medicina, já é possível detectar a maioria das Síndromes e outras complicações que podem acometer uma criança, ainda no ventre materno. Muitas delas podem ser tratadas durante a gestação, outras são irreversíveis. Mas, as reações a elas são as mais diversas, tornando-as difíceis de elencar. É obvio que uma mãe que se submete a um exame com caráter investigativo, o faz com expectativa de que o filho que terá em seus braços seja saudável e sua vida transcorra com o mínimo de dificuldades que um ser humano enfrenta ao longo do seu existir. Mas, quando se concebe um filho deve-se estar imbuído de um espírito de aceitação incondicional, ainda que, seja obrigado a ter uma vida mais modesta, quando não planejado. O Estado deveria ser aparelhado para dar-lhe o suporte necessário.

Há que se ter a consciência da responsabilidade da transmissão das respectivas cargas genéticas. Portanto, um filho se concebe, não se escolhe em vitrines, até porque não descemos a este ponto, ainda. O cerne do amor está na aceitação. Em olhar o filho em perspectiva e imaginar sua exposição a milhares de aberrações de caráter, que aumentam e nos surpreendem a cada dia.

Quem sabe, se for o caso, seja mais gratificante acompanhar e dividir as pequenas e significativas vitórias de uma criança portadora de alguma síndrome que permita a evolução física, emocional e social, que debater-se com os problemas de filhos com sérios e irreversíveis problemas de caráter, que nenhuma pedagogia e tratamento psicológico ou psiquiátrico seja capaz de reverter?

Alice Rossini