sábado, 18 de fevereiro de 2012

EDITORIAL, ANO IV

Sempre reflito sobre as dicotomias, sobre os opostos, mas nesta data, 18 de fevereiro, eu me aproximo mais destes temas: o bem e o mal, o ganho e a perda, a claridade e a escuridão. Assim me reencontro com a linha da vida que se curva diante da possibilidade do nascimento e da certeza da morte. Sei que os dois momentos guardam-se, simultaneamente, um no ventre do outro e formam este enigma que chamamos existência.

Tanto o Verso&Reverso quanto Kilma, sua Musa inspiradora, o primeiro por existir virtualmente e a segunda por ter deixado de existir fisicamente, completam, respectivamente, quatro e oito anos. Enquanto o primeiro possa morrer por falta de palavras, a segunda continua viva por excesso de lembranças. Porque a quem vive, cabe o ônus da luta pela sobrevivência e quem morre cabe o bônus de cristalizar-se nos seus melhores momentos, principalmente quando eles foram a tônica do seu existir.

O Verso&Reverso contém nas suas páginas virtuais tristezas, alegrias, angustias, registros de solidão, de vida e morte, assim como Kilma continua a viver em nós, tal qual um mosaico de contradições que compunha sua personalidade alegre, generosa, determinada, ingênua, mas mesclada de inseguranças, incertezas, medos e ansiedades. Tudo isto ungido por muita vontade de viver. Viver apesar de tudo, viver de qualquer jeito, a qualquer custo e de qualquer forma. Mal sabia que logo atingiria o humano desejo da eternidade, na vida de todos que a amavam de diversas formas, de todos os jeitos, em todas as horas, através de sorrisos eternizados em centenas de fotos, nas transparências fragmentadas das taças que suas mãos inquietas derrubavam, fazendo escorrer a liquidez vermelha do vinho que combinava com sua boca e suas unhas sempre impecáveis. Infelizmente, sua sempre esperada presença foi interrompida por uma ausência inesperada e devastadora.

Como para sua editora, a existência deste Blog alimenta-se e confunde-se com o vazio provocado pela inexistência de Kilma, suas pretensões, embora humildes, guardam a grandiosidade de homenagear os sentimentos, sensações e opiniões aqui expostas, reiterando a preservação de valores como a liberdade de expressão, o repudio a qualquer tipo de preconceito e o respeito à diversidade dos seus leitores.

Assim como Kilma sempre viverá nas mais alegres e confortáveis lembranças que nossa saudade jamais esquecerá, que a este Blog nunca faltem palavras transformadoras e uma criatividade construtiva na vida de todos que o leem. Este ano, mais que nunca consciente de que jamais conseguirei esgotar quem foi Kilma e o que sempre representará na vida de cada pessoa que a conheceu, este Blog homenageia ela, seus colaboradores e seus leitores com a magia de um poema de Carlos Drummond de Andrade:

AUSÊNCIA
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços, que rio e danço e invento exclamações alegres, porque a ausência assimilada, ninguém a rouba mais de mim.