segunda-feira, 20 de junho de 2011

A PROVA VIVA

Se alguma vez na vida, já pensou em ferir alguém, eu tenho algumas dicas. Pegue um machado, uma faca ou qualquer coisa suficientemente cortante e decepe-lhe a cabeça ou mutile um membro. Misture dezenas de venenos diferentes nem que isso lhe custe ir atrás de cobras peçonhentas e aranhas nojentas e ponha na bebida preferida dela. Ou, se o ódio for maior ainda, pode experimentar tortura. Há alguns métodos brilhantes, se você quiser saber. Está livre para fazer da forma que quiser, só peço que nunca, mas nunca em sua vida, atinja-lhe seus sonhos.

Pode me prender a uma forca e me suspender no ar ou me lançar em um rio de jacarés, mas não se atreva a encostar um dedo naquele tesouro guardado no peito. Aquele que insiste em se materializar, mas que nem sempre está na hora. Mesmo que ele seja humanamente impossível, deixe-o viver. Que mal há nisso? Que mal há em deixar germinar a esperança de algo melhor, de algo que nascemos para viver?

Nunca, mas nunca mesmo, ouse acertar esse ponto fraco, por mais imenso que seja a raiva, o rancor e tudo aquilo que te impõe-me como um alvo. Por mais que existam armadilhas e caminhos travessos, aposte neste pingo de incerteza, nessa louca improbabilidade. Não deixe que o dinheiro e a sede por consumo lhe façam cego da única certeza de que somos humanos: nós sonhamos!

Somos capazes de imaginar algo que está além da realidade e longe de qualquer preocupação, onde tudo faz sentido e nada mais importa. E melhor que isso, somos capazes de reunir forças para lutar por isso, não importa o quão difícil seja. Lembre-se sempre que somos todos humanos, mas existem dois tipos deles: aqueles dentistas que querem fazer teatro e aqueles atores fazem teatro.


Rafael Neves -estudante

terça-feira, 14 de junho de 2011

FELICIDADE, UMA QUIMERA?

A Psicanálise reconhece como parte do comportamento humano e define como Mecanismo de Defesa atitudes que nos “afastam” dos problemas que incomodam e que, muitas vezes, sem tentar resolvê-los e refletir sobre eles, achamos mais fácil “fugir pela tangente” como se diz na linguagem popular. Ouso defini-los, sabendo que estou sendo reducionista e omissa quanto à complexidade da doutrina freudiana.

A repressão, a racionalização, a sublimação, a projeção, o isolamento, a negação, entre outros, são mecanismos identificados por Freud e, por mais contestado que o cientista seja hoje, pessoalmente, identifico vários deles ao meu redor. Inclusive em mim mesma, embora tenha a mania de desmascará-los, o que faz com que me sinta vulnerável e desnuda.

Por favor, não me achem pretensiosa por estar escrevendo sobre um assunto que foge, completamente, à minha formação. O “problema” é que eu me interesso pelas artimanhas humanas e, além de pensar sobre elas, presto muita atenção em quem as utiliza. Atire a primeira pedra quem, de vez em quando, não dá um drible num fantasma que não quer ou não consegue exorcizá-lo por medo ou até, por nem ter consciência que exista.

Ao refletir sobre o assunto imagino e me corrijam psiquiatras e psicólogos, que os mecanismos existem para nos garantir uma coisa que nos sentimos obrigados a ser o tempo inteiro: felizes. Mas a felicidade é um conceito além de difícil definição, é pessoal e a sensação nunca é permanente. Claro que as coisas não são tão simples assim e não tenho intenção de explicá-las. Apenas uso-as como lastro para meu texto.

Mesmo assim, fazemos qualquer coisa para alcançar esta “tal felicidade” porque hoje é símbolo de sucesso e vivemos uma cultura que a ninguém é permitido demonstrar qualquer tipo de fraqueza e nos é insuportável a sensação que podemos perder o controle das nossas vidas, inclusive, imaginem, dos sentimentos, nossos e dos outros.

Vamos fazer uma suposição louca - Saramago já o fez com relação à Morte - na qual, a vida seria uma sucessão de momentos felizes, claro, resultado de outra sucessão de escolhas acertadas. O que aconteceria, pensando rápida e superficialmente? Ser feliz não constituiria nenhum motivo para ser celebrado, porque a rotina, aquela palavrinha temida pela grande maioria, faria da felicidade uma regra imutável. Seria terrivelmente sufocante viver sob regras imutáveis! Quanto às escolhas acertadas, qual o parâmetro que usaríamos para valorá-las como certas, já que não saberíamos o que seria considerado errado? Os conceitos de certo e errado carregariam que conteúdos? Outro detalhe importante é que nossas escolhas dependem das escolhas de outrem.

Sentirmo-nos eternamente felizes nos colocaria na superfície da existência, portanto não nos convocaria para a reflexão. Que chance teríamos de experimentar todos os sentimentos humanos que nos enriquecem, ensinam-nos a comparar gostos, sensações, saborear e digerir as diversas faces da tristeza, de como é bom o sentimento de saciedade de fome, de abraços, de beijos, de sexo, de amor? Nossos pensamentos e reflexões seriam pobres, pois viveríamos à tona, sem descermos às profundezas do nosso inferno, onde buscamos força para compreender, ser tolerante, ser forte e aceitar que existem os fracos e os intransigentes. Que existem as diferenças.

Como buscaríamos as razões de tudo, senão nos subterrâneos das nossas reflexões que uma vida de prazeres e felicidade nos roubariam?

Quando perdêssemos alguém a quem amamos, como suportaríamos o sofrimento inerente à perda? Porque, por mais felizes que fôssemos não estaríamos livres da inexorabilidade do distanciamento das pessoas em busca de seus projetos pessoais, da própria felicidade e pela morte, da qual, jamais fugiremos. Paradoxalmente, se conseguíssemos fugir dela, nossa pretensa felicidade foge pela mesma porta.

Por todas estas impossibilidades, usamos nosso Ego - eu novamente enfrentando terreno minado - lançando mão de mecanismos que nos dão o suporte para conviver com a vida como ela é.

Pois é este lado da vida que, unido aos momentos de plenitude, compreensão e realizações, emprestam riqueza, densidade e diversidade sem as quais seria insuportável existir.

ALICE ROSSINI

segunda-feira, 6 de junho de 2011

O AMOR É INVISÍVEL

Esta frase pode parecer obvia. O amor como todos os sentimentos são invisiveis. É o mais inefável, etereo, inexplicável, incompreendido e multifacetado de todas as emoções experimentadas pelo homem.

Manifesta-se ou esconde-se como, desculpem-me a grosseira analogia, uma barata que ultrapassa e esconde-se em lugares nunca imaginados. Só elas sabem como entram ou como saem por uma fresta pretensamente hermética. Como uma barata, o amor mete medo. Ou os enfrentamos e aceitamos sua perigosa e instigante presença, podemos esmgagá-los ou, simplesmente, ignorá-los, afinal, já que existem, possuem a mais cruel das prerrogativas inerentes ao existir: sofrer por ser ignorado .

Não raro ficamos sem saber o que fazer com ele e, como as baratas, escapam diante de nossos olhos e, sem sabermos como, tornam-se invisiveis!

Pode o amor estar nos mais inusitados lugares. Camuflado de um odio presumido, de uma magoa mal resolvida ou adormecido nas profundezas da alma. Pode residir numa conversa que ficou presa na garganta, num silêncio que fecha portas ou num barulho que abre feridas. Sobreviver de um desencontro que não o revela ou de um encontro que o desmascara: Não! Isto não é amor!

Mas, também, pode estar nos pequenos gestos de cuidado: dar ao outro a melhor fatia da carne, o café quentinho, pegar agua no meio da noite, puxar o cobertor por perceber o outro gelado pelo frio e todos os pequenos detalhes que juntos, chamamos de bem estar, felicidade , qualidade de vida, paz.

Amor é sensação de completude, de tempo parado, de vontade de discordar para ensinar, de merecer a verdade, feia ou bonita, confortável ou desestruturante. O amor presume a urgência e abdica da pressa que obriga e dispensa a presença do outro. O amor sente prazer na saudade e transborda paciência na presença constante. Por ser dialético, seu circulo fecha-se no odio. Na indiferença, jamais!

Há uma necessidade humana em tornar tudo que é abstrato em substantivo. Com o amor, sentimento do qual precisamos para nos sentir felizes, esta necessidade exacerba-se. Então, declarar, abraçar, beijar, dar presentes, enviar mensagens apaixonadas e outras manifestações objetivas, claro que também necessarias e instintivas, principalmente na fase do apaixonamento,solitarias se relativizam e, com o tempo perdem a densidade.

Se fizermos um exercicio e só nos permitirmos manifestações românticas, deixando de lado os pequenos cuidados citados acima, o amor esvazia-se, perde sentido. De tão objetivo, perde o encantamento da sua subjetividade.

E a objetividade da “certeza”, sensação impossivel no amor, lhe confere o “status” de atração, entusiasmo e outras sensações que situam-se no patamar da paixão que poderá, ou não, transcender e transformar-se em amor associado à ingredientes como amizade, cumplicidade, confiança , atração sexual e outras manifestações objetivas.

Portanto o amor, como as baratas, perdoem-me novamente, também detesto-as, é invisível. Só o vemos quando estamos muito atentos, receptivos e capazes de perceber que existe alguma coisa estranha e assutadora como as baratas ou mágica e surpreendente como o amor, bem perto de nós.

ALICE ROSSINI