quarta-feira, 28 de agosto de 2013

MAIS UMA LEILA?



Recebi de uma amiga um texto de Aída G., intitulado “A nova Leila Diniz”, onde, indignada critica o patrulhamento sobre a atriz Beth Faria que, aos 72 anos, cometeu a “heresia” de exercer o direito inalienável de vestir-se como acha conveniente: foi à praia, no Rio de Janeiro, de biquíni. No dia seguinte assustou-se com a reação das pessoas à sua “ousadia” e “falta de pudor estético” como se, o juízo do que é belo ou feio, fosse uma camisa de força que nos é imposta ao nascermos.

Confesso que, com quase 60 anos, sinto certa dificuldade em me vestir. Assim como eu, muitas mulheres também a têm, enquanto outras não estão nem aí, vestem o que acham lhes cair bem, sem que a idade seja um critério determinante. É preciso ter atitude e coragem para passar por cima de certos tabus. Eu, na medida do possível e do que acho que me agrada, ainda uso biquíni, vestido acima do joelho e outras roupas e acessórios que, no século passado, ainda tão próximo, era considerado escandaloso e inadequado. Aliás, já escrevi algumas vezes neste Blog sobre liberdade, direitos individuais e a diversidade do ser humano.

Pois bem, em plena ditadura militar, a atriz Leila Diniz também mostrou sua barriga. O fato foi considerado provocativo, porque estava no sétimo mês de gravidez. Hoje as grávidas mostram suas volumosas e lindas barrigas não só nas praias, como nas ruas, shoppings center´s e academias. Leila foi uma mulher que viveu muito pouco. Morreu aos 27 anos, mas deixou um legado de liberdade para mulheres e homens, porque quebrou tabus, falava o que pensava e vivia a vida com alegria, sempre buscando o prazer e a felicidade. Naqueles tempos obscuros, este comportamento subvertia os costumes e ia de encontro à ordem vigente, imposta pelo regime. Hoje é considerada um ícone do feminino, assumido com a força inerente a esta condição.

Com o avanço da ciência as pessoas vivem mais e melhor. Hoje uma mulher de 30 anos, 20 ou 30 anos atrás, era considerada velha e esta condição privava-a até da certeza de gerar filhos sadios. Senhores médicos, sei que óvulos envelhecem, mas conheço muitas mulheres jovens que têm filhos portadores de Síndromes, assim como conheço muitas mulheres de 40 que pariram crianças saudáveis. Sei que as estatísticas me contradizem, mas a questão é considerar “ridículo” e “fora de propósito” uma mulher querer engravidar aos 40 anos, ainda que não tenha filhos. A saída "politicamente correta" é a adoção. Nada contra gesto tão compassivo quanto necessário, com tantas crianças sem famílias, mas gestar uma pessoa, em minha opinião, nos diferencia, para melhor, do outro gênero.

Estas mesmas mulheres, quando têm acesso aos avanços da Cosmiatria e da Cirurgia Plástica, podem dar-se o luxo de parecerem fisicamente muito mais jovens, principalmente, se associarem a estes avanços, estilos de vida saudáveis, posturas modernas e criticas diante das mudanças de costumes, serem alegres e terem coragem de assumirem-se como são. Os excessos mostram-se inúteis se o objetivo é parar o relógio biológico, lhes impedindo de viver cada fase das suas vidas com a intensidade que cada uma merece. Se Beth Faria tivesse vergonha do seu abdômen septuagenário estaria pensando como uma mulher de 20, cujos valores e padrões estéticos são compatíveis com a idade que têm, assim como uma mulher de 20 não pode nem deve pensar como uma mulher de 70.

O problema é que as pessoas olham o presente com os olhos do passado sem livrar-se dos ranços e preconceitos que faziam parte dele. Beth Faria não quebrou nenhum tabu aos 70 anos, permitindo-se usar biquíni, mas exerceu, corajosamente, o direito de ser livre. Nos países civilizados, onde o que se é, fala mais alto que as formas que se têm, mulheres de todas as idades fazem topless nas praias, vestem-se como têm vontade e por isto, certamente, se sentem mais livres que nós brasileiras, que vivemos com a “burca” da perfeição e da juventude oprimindo nossas cabeças.

Como juízes, muitos de nós condenamos as mulheres que entenderam que o comportamento de Leila Diniz, em e sua inocente coragem, queria mostrar que a liberdade não é uma utopia.

ALICE ROSSINI

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terça-feira, 20 de agosto de 2013

POR QUE, NÃO?


Vi pela televisão uma reportagem, que falava de um artista que mudou a fachada das casas da rua onde mora, em Buenos Ayres. Começou revestindo a sua com mosaicos, cujo caminho estético evidencia sua privilegiada intuição. A princípio os vizinhos estranharam a atitude, e nela, a ousada combinação das cores e a liberdade dos traços que brotaram, livremente, da cabeça do seu morador. A fuga dos padrões gerou respostas positivas, ao tempo em que causou estranheza, provocando emoções controversas.

Seria esta a função da arte, inquietar, a ponto de ser negada ou aceita? Também. Não raro, entre a primeira e a segunda postura acontece a polêmica, a discussão, a reflexão, estas, sim, mais úteis, construtivas e libertárias que a unanimidade, comodamente instalada na polaridade de posições, onde pode aninhar-se a liberdade de quem a contempla. Há que deliciar-se da generosa e santa vaidade do artista que expõe o que, dentro de si, não se contém e transborda.

Pergunto-me em circunstâncias diversas, o que seria do mundo sem a arte, vazio destas pessoas que dedicam suas vidas a perguntarem “por que não?”. Certamente monótono, insípido, incolor, já que movimento e cor são inerentes a tudo que vive. Embora existam pessoas desatentas ou desinteressadas, estas características subjazem ao simples fato de existir, fazendo-se notar em tantos níveis quanto às diversas formas de enxergar.

A loucura contida neste eterno perguntar-se está presente em todo ser humano. Entretanto, as diferenças, os contextos onde histórias pessoais foram vivenciadas, potencializam ou neutralizam esta característica, levando algumas pessoas a fazerem o que acham que deve ser feito, outras sentirem-se obrigadas a fazer o que os outros acham o que devem fazer, e algumas, que nem acham nem fazem.

As primeiras, livres, fazem das suas vidas um eterno modificar-se. Modificando-as, modificam o mundo para melhor ou para pior. Emprestam-se aos sacrifícios da ansiedade de viver, sabendo o quanto cada momento é tão fundamental quanto fugaz. A impermanência, imanente ao Todo, tudo modifica a cada milionésimo de segundo, se considerada a medida convencional do tempo.

As segundas engessam a si e acham que têm direito de imobilizar o outro. O preço a pagar, pode ser alto, para os que tiverem a ousadia de arrebentar as correntes que as aprisionam.

As últimas nada fazem. E nada fazendo, tornam suas vidas uma rotina de obviedades, incomodadas com a ousadia das que não temem o “por que não?”.

Não precisa ser artista, visionário ou insano para modificar o cotidiano, reinventando-o e entregando-o à sua própria dinâmica. No “sim” ou no “não” permitimos ou sufocamos, não necessariamente nesta ordem, o “consagrado” pelas convenções. Sua simples pronúncia modifica o que pensamos, falamos e fazemos e, até como escolhemos onde e como vivemos.

As cores com que pintamos nossas casas ou as que cobrimos nossos corpos podem refletir tanto a calmaria do comodismo, como espelhar o caos, embrião de uma comunhão com o conceito humano de equilíbrio com o Universo, e tudo que dele faz parte: dos mistérios do Infinito à importância que damos a cada Molécula que compõe os seres. A busca vã do equilíbrio é, também, a negação da expansão da vida, que sobrevive da interferência do seu contraditório, o desequilíbrio.

Diante de tantas catástrofes naturais, sabendo que nosso planeta é representado como um pequeno ponto, se comparado a outros que gravitam no sistema solar vive à mercê de uma possível, embora improvável instabilidade, que poderia provocar um choque contra o sol e nos destruir, calcinados, leva à reflexão sobre nossas insignificantes preocupações. Penso, então, na possibilidade do caos estar fora e dentro de nós. A realidade sinaliza que sim.

A sabedoria da vida é fazer deste caos interno um caminho. Onde a luta entre equilíbrio e desequilíbrio, a constante desconstrução do que hoje é certo, amanhã, mais um equívoco, o natural estado de busca, a aceitação de que a inquietação tem poder de abalar inúteis paradigmas, onde acomodamos o conforto do estável.

Exercitemos a liberdade e o despojamento de perguntar-nos “por que não?”, sempre que a vontade acontecer.

Alice Rossini

domingo, 11 de agosto de 2013

COMO SINTO MEU MARIDO


Meu marido é quase uma pessoa indescritível. Tenho certeza que se pudesse ser o AR, seria o céu, pois a atmosfera está sempre acima de nós, não importando se nublada, azul ou preparando-se para o breu da noite. Raramente gostaria de ser o Sol. Somente no verão! Pois brilha mais tempo, apaga-se apenas na metade do planeta e dorme, somente, em um dos horizontes. Ser ESTRELA, bem que poderia ser seu sonho, mas, embora reluzente, sua luminosidade sempre faz parte do passado que, incontáveis vezes, nem vimos brilhar. Para ele isto é impensável! Talvez, gostasse de ser a LUA, em todas as suas fases. Como algumas vezes são vespertinas e sempre dão show de beleza, todos a admiram e serve de inspiração para poetas, causando suspiros nos apaixonados. Ser PLANETA, nunca! São pequenos demais em relação ao Sol e, somente são vistos com a ajuda de telescópios.

Se fosse a ÁGUA, meu marido poderia ser um rio caudaloso e inquieto, para adiante encontrar um precipício, onde se transformaria numa linda cachoeira, branca de tão volumosa, muito fria, e antes de tocar no solo, se tornaria uma nuvem que umedeceria a pedra sempre a sua espera. Como o destino do rio é o MAR, Marco chegaria até a imensidão dos OCEANOS, onde sentiria um imenso prazer. Oceanos! Cheios de peixes, golfinhos, corais e outras criaturas com estranha beleza. A esta diversidade aliaria sua necessidade de alimentar, de brincar e de ser belo e inatacável.

Se fosse TERRA, claro que Marco seria a FLORESTA AMAZÔNICA! Intocada e livre de predadores, suas árvores seriam lindas, frondosas e carregadas de frutos. Cada dia se transformaria em um dos animais, dos silvestres e brincalhões até em jacarés e leopardos, sempre prontos para atacar, caso alguém invadisse seu território, sem a sua permissão. Poderia ser uma Horta, a maioooor do mundo, onde todo o alimento, de toda a humanidade sairia das suas entranhas.

Mas, meu marido, acho, escolheria ser o FOGO. Sairia pelo mundo arrasando tudo. Quem quiser que se defenda, porque além de cálido e belo, todos o respeitam. Basta um toque entre duas peças inflamáveis, olhe ele reaparecendo capaz de tudo! Somente a ÁGUA e poucos “moradores” da Tabela Periódica são capazes de neutralizá-lo. Mesmo assim, deixa a brasa ou o rescaldo de um incêndio, em forno brando que, qualquer corrente de AR o reascende com consequências imprevisíveis.

As cores do fogo, quando em combustão, variam como seus gostos e vontades. Quando necessário, faz de conta que virou cinza, sem antes esquecer-se de deixar um rastro luminoso, mas lembrando a todos que ainda existe como uma “ameaça”, que poderá fazer com que volte, a qualquer momento, com a "brutalidade" da sua força.

Mas, Aristóteles defendia que o nosso planeta vibrava em mais um elemento. Este, sutil e hipotético, o ÉTER. Chamado de QUINTA ESSÊNCIA, como meu marido, possui a capacidade de ficar oculto e, algumas vezes, quieto e calado. Nestes momentos pode ser mais perigoso! Pois, neste estado, contrario a sua matéria carregada de mistérios e seu semblante aparentando quietude, em sua mente estão sendo travadas varias batalhas, onde a ÁGUA apaga o FOGO e a TERRA define seu pragmatismo. Embora o AR seja seu destino, é o ÉTER que permite à sua luminosidade a qualidade de se propagar, aquecer o coração de quem com ele convive e de incendiar o meu.

Alice Rossini

EDITORIAL


Mais uma comemoração pelo “Dia dos Pais”. Na mídia, a apologia sobre a necessidade de participação paterna na vida dos filhos. Existem pais que só inseminam sua ou uma mulher qualquer e, logo, esquecem as possíveis consequências do que fizeram. Está também cada dia mais comum, o propalado instinto materno ser jogado em latas de lixo.

Quando esta relação entre pais e crias se esgarça, há um fértil campo para reflexão. Afinal, a finalidade biológica do ser humano é perpetuar-se como acontece, e é cada vez mais passível de proteção, em outras espécies.

Não de pode generalizar que todas as mulheres possuam o instinto materno. Apesar de toda a carga hormonal e cultural puderem determiná-la, esta verdade não é absoluta. Imaginem os homens, cuja idéia de ser pai e consequente obrigação de cuidar e proteger só se concretizam nove meses depois, com a cria nos seus braços, tornam estes sentimentos e suas consequências cada vez mais controversos.

Homens são diferentes de mulheres em quase tudo. Inclusive e, principalmente, no exercício da paternidade. Hoje em dia, até filhos perderam a referência do que seja amar a quem lhe deu a vida. Até porque, tanto podem ser frutos de uma ardente vontade, impregnada de sentimentos elevados, como frutos de um contato casual, onde nenhum sentimento altruísta e responsável permeie a relação. Considerando que todo sentimento deve ter uma estrada que leva e outra que traz, há que se refletir porque os questionamentos do primordial exercício de ser Pai, Mãe e Filho estão sendo exercidos de forma criminosa, deformada e irresponsável.

Entretanto, a família ainda é uma célula aceita e necessária em todas as culturas e credos, respeitadas os respectivos modelos. E, a maioria da humanidade ainda a respeita e deseja resguardá-la. Apeguemo-nos, então, a este traço cultural, preenchendo-o de sentidos, para que a continuação da vida nos traga o conforto do carinho, do amparo e da perpetuação dos genes que nos eternizam.

domingo, 4 de agosto de 2013

DIALOGANDO COM A DIVERSIDADE

Hoje a atitude mais necessária entre as pessoas e passível de mobilização pela mídia é a TOLERÂNCIA. Num mundo de seis bilhões de pessoas que nem as digitais dos dedos são iguais entre si, ser tolerante deveria ser um atributo natural do ser humano. Mas não é. A cada dia os exemplos do seu contraditório estão sendo a regra.

Somos intolerantes até com o “normal”, se ele não atende às nossas expectativas. Somos intolerantes com a estética, ainda que ela fira padrões marcados pela subjetividade ou quando foge aos padrões já aceitos. No mundo das ideias, ainda que as divergências sejam enriquecedoras e responsáveis pela evolução do conhecimento, há quem as exerçam sem o espírito norteador do enriquecimento de pontos de vista onde se ancoram culturas.
Imaginemos se Sócrates, Cristo, Buda, Freud, Nietszche, Bethoven, Einstein Mozart, Niemayer, Van Gogh, Salvador Dali, Leonardo Da Vinci dentre tantos "estranhos notáveis", atendessem aos parâmetros da sociedade onde viveram? A Filosofia, a Música, a Pintura e outras áreas das artes e da ciência não prestariam tanto prazer, benefícios e avanços à humanidade. Portanto, a História ratifica a importância da diferença. Ainda que políticas de inclusão sejam adotadas por governos, organismos internacionais ou por pessoas, na prática, o que vemos é o preconceito cada dia mais exacerbado, a ponto de excluir, até por meio da supressão da vida, as diferenças que nos incomodam. Isto não é regra, porque a correlação de forças contrárias impedem que esta prática se institucionalize.

Este texto não tem espírito catequético, até porque, muitas vezes me incluo no rol de intolerantes em alguns aspectos. Mas, a exclusão que mais me incomoda é aquela que, o incômodo atinge somente a individualidade de quem é ou convive com o diferente. Acredito ser uma questão meramente pessoal.

Não vou falar de opções sexuais, de ter ou não ter filhos, da preferência por atividades ou estilos de vida alternativos, dentre outras escolhas, até porque, ainda que possam ser debatidas, considero desnecessário mencioná-las, por uma questão de princípios.

A intolerância a que quero me referir e é mais nociva, é aquela que, por ignorância, boa parte da humanidade não tem conciência das diversas formas que muitas pessoas podem ser úteis. O quanto elas podem chegar perto do que é considerado “normal”, tanto quanto, podem ajudar a humanidade a refletir sobre as convergências possíveis, sobre uma ética que permita uma convivência mais pacifista.

Este tema me instigou logo que li num jornal, uma chamada, junto aos jogadores Messi e Neymar, divulgando que os números desenhados nos uniformes do time foram da autoria de uma menina com Síndrome de Down. Qual pai, principalmente os aficionados pelo futebol, não gostaria que um filho seu tivesse este privilégio que, para qualquer criança seria tão marcante? Será que uma menina ou menino que não portasse a Síndrome citada, desenharia números tão originais que, assistindo ao jogo, chamaram minha atenção, a ponto de creditar ao time o "luxo" de contratar um "designer" que diferenciasse seu uniforme?

A partir deste fato, lembrei-me da luta de pais contra escolas ditas avançadas e eficientes. Nem sabem seus pedagogos o porquê de não querer impor o desafio de incluir uma criança “diferente”, que demandaria do educador aprofundar seus conhecimentos na condução de um processo, aparentemente difícil, mas, certamente, motivador e gratificante. Uma criança, portadora de qualquer tipo de diferença, física ou comportamental, poderia fazer a diferença para si, desejando, característica humana, acompanhar seus pares e, as demais crianças teriam o privilégio de, na prática do cotidiano, compreender, aceitar e ajudar alguém diferente do que está condicionada a “achar” normal.

A extinção deste tipo de preconceito, dentre os milhares já arraigados, começa nos lares. Pobres, medianos ou luxuosos. A dificuldade está no abismo dos valores das pessoas que neles habitam. Nem sempre correspondem à classificação dos tetos e paredes que as abrigam.

Com o avanço da Medicina, já é possível detectar a maioria das Síndromes e outras complicações que podem acometer uma criança, ainda no ventre materno. Muitas delas podem ser tratadas durante a gestação, outras são irreversíveis. Mas, as reações a elas são as mais diversas, tornando-as difíceis de elencar. É obvio que uma mãe que se submete a um exame com caráter investigativo, o faz com expectativa de que o filho que terá em seus braços seja saudável e sua vida transcorra com o mínimo de dificuldades que um ser humano enfrenta ao longo do seu existir. Mas, quando se concebe um filho deve-se estar imbuído de um espírito de aceitação incondicional, ainda que, seja obrigado a ter uma vida mais modesta, quando não planejado. O Estado deveria ser aparelhado para dar-lhe o suporte necessário.

Há que se ter a consciência da responsabilidade da transmissão das respectivas cargas genéticas. Portanto, um filho se concebe, não se escolhe em vitrines, até porque não descemos a este ponto, ainda. O cerne do amor está na aceitação. Em olhar o filho em perspectiva e imaginar sua exposição a milhares de aberrações de caráter, que aumentam e nos surpreendem a cada dia.

Quem sabe, se for o caso, seja mais gratificante acompanhar e dividir as pequenas e significativas vitórias de uma criança portadora de alguma síndrome que permita a evolução física, emocional e social, que debater-se com os problemas de filhos com sérios e irreversíveis problemas de caráter, que nenhuma pedagogia e tratamento psicológico ou psiquiátrico seja capaz de reverter?

Alice Rossini


sábado, 6 de julho de 2013

COMO TE ESPERO

Espero-te com a ansiedade de uma criança, que inquieta, deseja “aquele” presente de Natal, que só pode receber quando alguém achou que merecia;

Espero-te com paciência dos monges que entoam mantras, em templos afastados, tal como meu coração recolhe-se e prepara-se para a “Cerimônia do Encontro”;

Espero-te com a urgência de quem compra um caminhão de presentes, somente para se deliciar com os sorrisos dos agraciados;

Espero-te como uma mãe, cujo filho está cativo de uma vontade e descobre que ela logo se transformará em realidade;

Espero-te com a alma prenhe de esperanças que o mundo melhore para receber-te;

Espero-te, caso isto não aconteça, que tu tenhas o entendimento e a tolerância necessária para aceitares as imperfeições;

Espero-te com todas as minhas expectativas e desejos subjugados às singularidades que trarás contigo, independente de vontades preconcebidas;

Espero-te sem a expectativa que sejas um Dom Quixote, nem tenhas a sabedoria de Salomão, mas que a Liberdade e a Justiça sejam sempre perseguidas por ti;

Espero-te como quem espreita um duende que vive em esconderijos encantados, e resolve transformar sua existência como mais um milagre da vida;

Espero-te como um caminho a percorrer, onde suas margens guardem surpresas já conhecidas e certezas nunca imaginadas;

Espero-te como um rio que passa caudaloso, renovando-se a cada segundo e fertilizando-me antes mesmo, que uma gota toque minh`alma;

Espero-te como quem vê pela primeira vez o oceano e não entende o mistério do horizonte que continua;

Espero-te como quem olha para o céu e sabe que o brilho das estrelas que enxerga já reluziu há milhares de anos;

Espero-te de joelhos, porque és tão especial e embora ainda não te conheças, só saber que estás sendo gestado, faz-me sentir por ti, um amor nunca imaginado;

Espero-te com a bondade dos anjos e com a “insustentável leveza” das avós.

ALICE ROSSINI

quarta-feira, 3 de julho de 2013

EDITORIAL


Este Blog considerando justas as reivindicações da classe médica brasileira, representada pelas suas entidades de classe, resolve apoiar o movimento. Justificado pela soma das denuncias feitas pela mídia impressa e eletrônica, tanto quanto pelos relatos de quem está na linha de frente do problema – médicos, demais profissionais de saúde e pacientes.

As condições precárias e desumanas dos hospitais e postos de saúde brasileiros à falta de acesso do povo aos avanços mais modestos da Ciência, indigna, principalmente, quem pode perceber a distância cruel de tratamento, como se, cada um de nós, fôssemos mais desiguais do que já nos sentimos.

Através da publicação da CARTA ABERTA AOS MÉDICOS E À POPULAÇÃO, distribuída, hoje, durante a passeata que manifestou tanto a indignação da categoria quanto a solidariedade ao povo deste país, este BLOG reitera seu apoio .


EM DEFESA DA SAUDE PÚBLICA

“As decisões anunciadas pelo Governo que afetam a saúde pública brasileira demonstram a incompreensão das autoridades aos apelos da população nas ruas. A proposta da presidente Dilma de trazer milhares de médicos estrangeiros para trabalhar no Brasil é uma simplificação inaceitável, beirando o cinismo. Trata-se de uma medida populista que não contribuirá para resolver os problemas do sistema de saúde brasileiro.

Não podemos aceitar uma medicina de segunda categoria para o povo. Importação de médicos não é solução, pelo contrário, é mais um problema, porque não há definição sobre os critérios de avaliação da qualificação desses profissionais, nem se sabe que tipo de remuneração ou vínculo trabalhista seria utilizado. Vale dizer que para trabalhar no serviço publico, a Lei determina concurso público e não arremedos de contratos que aí estão.

Há médicos brasileiros suficientes para atender a população – cerca de 17 mil médicos são formados anualmente - , muitos estão desempregados, vivendo de bicos ou com contratos precários. Um concurso público nacional, com atrativos e salários decentes resolveria plenamente o problema. Por isso as entidades médicas nacionais (ABM, CFM E FENAM), locais (ABM, CREMEB, SINDIMED, e as Sociedades de Especialidades) lutam para que o Governo ofereça condições de trabalhos e salários atrativos.

Se o Governo, nas três esferas – União, Estados e Municípios -, proporcionam aos médicos brasileiros a condição ideal de fazer carreira de estado, com planos de cargos e salários e progressão, a exemplo da carreira do Judiciário, certamente não faltarão médicos brasileiros a ocuparem os postos em todas as localidades do País.

As propostas do Governo, até agora, não respondem as grandes questões da saúde pública como o financiamento insuficiente e a falta de carreira para profissionais do SUS. Sobre os hospitais sucateados, salários aviltantes e condições indignas de trabalho, a presidente nada disse. Neste momento em que a sociedade clama e espera por mudanças profundas, o Governo precisa avançar mais no fortalecimento do SUS.

Por tudo isso, as entidades médicas estão na luta de resistência ao lado dos profissionais e dos cidadãos, contra o abandono que afeta a saúde publica. Não se trata de ação corporativista, mas corporativa, no sentido de unir a força das entidades em prol do bem comum da vida dos brasileiros. Sob nenhum aspecto, o paciente pode ser mais penalizado do que já é pelo abandono do Governo. Dentre as ações que propomos estão:

1)Apoiar a aprovação urgente da PEC 454 em tramitação na Câmara dos Deputados, que prevê uma carreira de Estado para o médico (semelhante ao que ocorre no Judiciário), único caminho para estimular a interiorização da assistência com a ida da fixação de médicos em áreas de difícil provimento;

2)Incentivar a coleta de 1,5 milhão de assinaturas para tornar viável a apresentação do Projeto de Lei de Iniciativa Popular Saúde + 10, que prevê mínimo de 10% da receita bruta da União em investimentos de saúde;

3)Defender a derrubada do Decreto Presidencial 7562 de 15 de dezembro de 2011, que modificou a Comissão Nacional de Residência Médica, tornado-a não representativa e refém dos interesses do Governo, o que sucateou a formação de médicos especialistas no País;

4)Atuar contra a importação de médicos estrangeiros sem revalidação de seus diplomas com critérios claros e rigorosos, conforme a prática mundial e o previsto na legislação vigente. Defendemos o uso do Programa Revalida, do Governo Federal em seus moldes atuais, visando inclusive garantir a soberania nacional;

5)Vistoriar as principais unidades de saúde do País, encaminhando denúncias ao Ministério Público e outros órgãos de fiscalização, revelando a precariedade da infraestrutura de atendimento que afeta pacientes e profissionais.

Finalmente, as entidades declaram o Ministro de Saúde, Alexandre Padilha, como persona non grata para a sociedade por adotar medidas eleitoreiras que colocam em risco a vida e a saúde dos brasileiros.¨

ABM – CREMEB - SINDIMED


quarta-feira, 12 de junho de 2013

EDITORIAL


Aquela Instituição Hospitalar, onde os equipamentos e o saber científico refletem a exigência de prolongar a vida do homem, prazos e limites relativizavam-se, curvando-se às duas faces da vida - existir e morrer. Sentimentos vários a preenchem. O medo, a esperança, a ansiedade e, principalmente, a SAUDADE.

O leito que deu o conforto na ausência da saúde foi o mesmo que, no último suspiro acolheu à hora derradeira o homem que foi pai, avô, irmão, filho, marido, tio, padrinho, compadre, cunhado, genro e amigo, através de quem só vinham sorrisos, trocadilhos e brincadeiras, que transcendiam seus lindos olhos verdes carregados de bondade e desprendimento, que aumentavam a gratidão e a ternura de quem, com ele, teve o privilégio da convivência.

A lacuna que deixará na história de todos, sugere que este momento seja de recolhimento e reflexão. Cada um o prateará à sua forma, conforme as marcas por ele impressas.

Certamente, quando estas recentes e dolorosas recordações tornarem-se miragens na poeira do tempo, seu legado de otimismo e amor à vida e às pessoas vai impor sorrisos e gratidão. Porque foi sorrindo e agradecendo à família e aos amigos, que a vida lhe proporcionou que JACKSON VAZ DE ARAUJO enfrentou 10 anos de sofrimentos, sem que um lamento saísse de sua boca. O silêncio foi a forma mais generosa que encontrou para convencer-se que era chegada a hora de mudar-se para outro plano que, certamente, o acolherá melhor que nossos esforços, amorosamente, tentaram conseguir.

Com esta dignidade e resignação, nos deixará a pergunta: Será que somos simples andarilhos que percorrem um caminho, cheio de imprevistos, cujo único destino é a morte? Para alguns pode até ser, mas o caminho que JACKSON escolheu para si, nos responde, pois, mais que matéria com vocação para dispersar-se, podendo, enquanto caminharmos, semear bondade, dignidade e por isto, nos tornar inesquecíveis

segunda-feira, 10 de junho de 2013

EDITORIAL


As famílias como a vida renovam-se. Este trabalho de renovação imagine, é feito por pequenos “operários” chamados “bebês”. Não existe discriminação na tarefa, “bebês fêmeos” e “bebês machos” o fazem com a mesma excelência.

A família, em questão, foi agregando pessoas que, como um rio que corre em busca do mar, a renovação está fluindo com a serenidade que só a Natureza respeitada e acarinhada consegue.

Em nove de junho de 2013 chegou MARINA, um lindo bebê que encheu de felicidade todas as pessoas que a esperavam, já transformou, para melhor, a vida de todos e encheu de sentidos a existência de seus pais. Começaram a enfrentar a grandiosa, necessária e, cada vez mais importante tarefa de “construir” um ser humano nas suas múltiplas e subjetivas facetas, que somadas à das outras pessoas de boa vontade, transformem o planeta num lugar melhor para viver.

Seja bem vinda MARINA. Prepare-se para um mundo em transformação.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

QUANDO?


Desde que nascemos somos obrigados a fazer escolhas. Ainda que sejam determinadas por necessidades fisiológicas como a fome, as dores e o sono dentre outras. O fato, é que atravessamos nossas existências escolhendo.

Tudo seria muito natural como estudar, escolher a profissão, o companheiro, ter ou não ter filhos, se não houvesse um momento em que, algumas escolhas fundamentais, fossem objeto de questionamentos a ponto de sentirmos enorme dificuldade de voltar atrás, desistir, ter a chance de uma nova tentativa. Estas escolhas sofrem interferências de todas as ordens: de algo ou alguém que nos imobiliza ou nos impulsiona, do momento em que somos questionadores ou resignados, guerreiros ou alienados, do nosso alheiamento ou "envolvimento" com circunstâncias que antecipamos e acomodamos nos espaços reservados para nossas angústias. Preocupações que, muitas vezes, tem o enorme poder, tanto de mudar nossos destinos quanto de nos ensinar como são inuteis.

Muitos vão pensar, “ora, sempre há tempo para recomeçar”. Para muitos há mesmo mas, esta não é a questão. Independente de singularidades pessoais, muitos de nós experimentamos um enorme cansaço ou impotência em deflagrar qualquer movimento, que revolucione ou transforme nossas vidas. Traga-a para o caminho do qual nunca deveria ter saído. Mude nossa história pessoal e as de quem dela depende. Que supere o cansaço, o peso de sentir que qualquer esforço seria inútil, até porque, a crença é de não haver força suficiente. O movimento ser tardio e inócuo.

É a queda na desesperança. A desmotivação. A sensação de ter chegado no fim da linha sem nunca ter subido no bonde. Podemos nos enredar nestas armadilhas, sem que tenhamos consciência de nelas termos caído. Caso não tenhamos o dom da superação,ou não possuamos a consciência da força que, nem sabemos, sempre mora em nós, jamais iluminaremos os caminhos que elucidem as tramas que nos levariam para onde fomos ou estagnamos.

Não vejo nesta postura nenhuma patologia, se quem nela se instala não "gostar" de sofrer. Nos aturdimos, e engatar os elos das nossas emoções com os da nossa capacidade de agir é um processo doloroso.

Percebo, ainda, a disceminação de indicadores equivocados de sucesso, uma subserviência a modelos de comportamentos que demonstrem poder e coragem, tornando nosso fardo e culpas mais pesados

Entretanto, este “sentir”, este “perceber-se” com tanta transparência, demonstra um imenso destemor qundo perguntamos: “onde está a ponta da corda que amarra meu pescoço?”

Quem sabe que respostas teremos?
Se as tiverermos, as suportaremos?
Se as suportarmos, ainda, resta a dúvida se poderemos desatar o nó que nos sufocava e poderemos viver sob outros parâmetros, novos padrões de comportamento.

A pergunta permanece; qual escolha ou escolhas, acrescento, decidiu nossos destinos?
Quais momentos das nossas vidas, tornaram tudo tão importante quanto irreversível?

O livre arbítrio, não tão livre como o concebemos, é contaminado por situações, fatos, pessoas, paixões, rancores, falta ou excesso de vontade, sabedoria ou ignorância que moldam as decisões que determinaram para onde, hoje, nos encontramos, com tudo que nos envolve, nos agonia ou nos alegra. Ou será que durante toda a existência humana, cada escolha leva à outra escolha, até que encaremos a morte, a única escolha que não temos poder de fazer?

Dentre tantas angústias, perguntas e dúvidas que nos perseguem, depois de saber-se finito, viver na encruzilhada do lá ou cá, do certo ou errado, da coragem ou da prudência, da ousadia ou da renúncia e, no emaranhado de tantas decisões que tomamos a cada instante, saber onde nossa vida se definiu é uma das perguntas que nos atormenta por ocupar lugar de destaque na nossa condição de homo sapiens sapiens.

Alice Rossini

quarta-feira, 6 de março de 2013

A POÇA D´ÁGUA



O dia amanheceu chuvoso. Nenhuma surpresa. Já estava previsto e, desde a noite anterior, os cobertores me pareceram mais aconchegantes. Acho que só saiu de casa quem não podia evitar, e foram muitos. Eu, entre eles. O médico estava marcado há um mês e não perderia a consulta nem que “chovesse canivete”.

Na volta para casa, ruas alagadas, resultantes da combinação de muita chuva e um serviço de drenagem deficiente. Trânsito caótico. Sem coragem de enfrentar a água que jorrava dos bueiros, obriguei-me a parar quase na saída de um posto de gasolina, junto a uma Loja de Conveniências.
Nenhum livro ou revista para passar o tempo, que tédio! Até o CD de Marisa Monte não tornava a situação menos desconfortável. Agoniada, abri a janela e fiquei olhando os outros carros parados na avenida, satisfeita pelo bom senso de ter procurado abrigo num lugar seguro.

Casualmente, olho para baixo e vejo uma enorme poça de água aninhada no buraco que a chuva, provavelmente, escorrida do telhado, erodiu ao longo do tempo. O cenário em que estava envolvida não acenava com a previsão de libertar-me. Aquela poça não sei por que, prendia minha atenção, mas alforriava meus pensamentos, desacorrentando-lhes e emprestando-lhes asas.

Senti por aquela água cativa, um estranho sentimento de piedade embora parecesse protegida pela depressão do terreno. Imobilizada e aprisionada, a espera de pernilongos, moscas, ratos, insetos peçonhentos, papéis imprestáveis e outros lixos de rua fossem, provavelmente, com ela, viver a impostura daquela situação, aparentemente cômoda. À medida que o tempo ia passando ela tornava-se mais turva e fétida. Quem a via, a evitava. Estava só e o lixo, com a ajuda da chuva, continuava alimentando-a. E o terreno que sofrera a pressão de tantas chuvas, o peso de cada pessoa, de cada carro que passava como seria antes de ceder à força das águas? Provavelmente plano. Mas, certamente, frágil e permeável. Seria tão resistente quanto tudo que o pressionou? Que luta! A verdade é que sucumbiu, deixando-se invadir.

Entretanto, sua única salvação seria drená-la, livrando-a de tanto peso, ser dispersa por uma força demolidora, deixando-a ao relento, sem a falsa acolhida daquela depressão. Em compensação, livrar-se-ia de todo, de ser sufocada pelas coisas ruins que a acompanhavam, até que, a próxima chuva reunisse suas moléculas em forma de outra poça, no vai e vem dos fatos da vida, evidentemente grandes e pequenos, mas de sutil significância.

Deixando-se esmagar por algo mais forte e sólido, voltaria a ser chuva, fenômeno natural, proveniente da evaporação ou do efeito estufa, como queiram.

ALICE ROSSINI

domingo, 17 de fevereiro de 2013

EDITORIAL

Comemorar cinco anos de uma existência que registrou o cotidiano, sem restrições, de todos que quisessem fazê-lo, é um motivo de uma alegria que assume vários sentidos, principalmente, porque também comemora o aniversário de uma pessoa que representa uma vitória da Criação da raça humana, KILMA.

Além de priorizar a discussão de ideias, a transparência, negar com veemência, qualquer tipo de censura a opiniões, este blog manteve-se, também, avesso a qualquer tipo de preconceito, procurando ser crítico, justo e humilde, o que combina com a personalidade de quem a fatalidade impede de, hoje, vivenciar mais um ano de vida.

Sempre que um texto escorregava da imaginação da sua editora, vinha-lhe à mente e ao coração a dona do SORRISO, que parecia achar que cada dia era um milagre que a vida lhe concedia. Fenômeno que tem o poder de incitar a justa indignação e arrefecer emoções negativas e a agressividade inútil. A saudade quando não dói, humaniza, esmerila a alma, alarga sentimentos, pacifica tudo que é por ela tocado.

O Verso&Reverso tem a honra de ter como companheiro de jornada Rafael Neves, de contar, incondicionalmente, com a ajuda das Lúcias, mãe e irmã, o apoio técnico de Marco, o incentivo de leitores, amigos e anônimos e você, KILMA, que reforça o compromisso com a continuidade deste instrumento de comunicação. Portanto, pede-lhe este blog que nunca deixe de povoar as lembranças da sua editora com seu jeito estabanado, uma das marcas que as identificava. Por aqui, apesar de tudo, os inesquecíveis momentos, todos, ternos e felizes, continuarão sendo lembrados. O lado de cá não está fácil, mas tenho certeza que você teria um olhar novo e leve para as mazelas do mundo, simplesmente porque você era uma pessoa incomum e achava que a vida era “sempre desejada, por mais que esteja errada...”.

Enquanto ela, com seus mistérios, contradições e surpresas não promover um reencontro, em outras dimensões, este blog é um tributo à sua memória.


sábado, 16 de fevereiro de 2013

A DOR EM NOSSAS VIDAS



O texto abaixo, foi publicado à pedido de um amigo muito querido




Você já parou para pensar na razão da existência da dor, do sofrimento, em nossas vidas?

Talvez num daqueles momentos de extrema angústia, em que o coração parece apertar forte, você tenha pensado em Deus, na vida, e gritado intimamente: Por quê?!

Os benfeitores espirituais vêm nos esclarecer que a dor é uma lei de equilíbrio e educação.

Léon Denis, reconhecido escritor francês, em sua obra O problema do ser, do destino e da dor, esclarece que o gênio não é somente o resultado de trabalhos seculares; é também a apoteose, a coroação de sofrimento.

De Homero a Dante, a Camões, a Tasso, a Milton, todos os grandes homens, como eles, têm sofrido.

A dor lhes fez vibrar a alma, lhes inspirou a nobreza dos sentimentos, a intensidade da emoção que souberam traduzir com os acentos do gênio, e que os imortalizou.

É na dor que mais sobressaem os cânticos da alma.

Quando ela atinge as profundezas do ser, faz de lá saírem os gritos sinceros, os poderosos apelos que comovem e arrastam as multidões.

Dá-se o mesmo com todos os heróis, com todas as pessoas de grande caráter, com os corações generosos, com os espíritos mais eminentes. Sua elevação se mede pela soma dos sofrimentos que passaram.

Ante a dor e a morte, a alma do herói e do mártir se revela em sua beleza comovedora, em sua grandeza trágica que toca, às vezes, o sublime, e o inunda de uma luz inapagável.

A história do mundo não é outra coisa mais que a sagração do Espírito pela dor. Sem ela, não pode haver virtude completa, nem glória imperecível.

Se, nas horas da provação, soubéssemos observar o trabalho interno, a ação misteriosa da dor em nós, em nosso eu, em nossa consciência, compreenderíamos melhor sua obra sublime de educação e aperfeiçoamento.

A dor é um dos meios de que Deus se utiliza para nos chamar a si e, ao mesmo tempo, nos tornar mais rapidamente acessíveis à felicidade espiritual, única duradoura.

É, pois, realmente pelo amor que nos tem que Deus nos envia o sofrimento.

Fere-nos, corrige-nos como a mãe corrige o filho para educá-lo e melhorá-lo. Trabalha incessantemente para nos tornar dóceis, para purificar e embelezar nossas almas, porque elas não podem ser completamente felizes, senão na medida correspondente às suas perfeições.

A todos aqueles que perguntam: Para que serve a dor? a Sabedoria Divina responde: para polir a pedra, esculpir o mármore, fundir o vidro, martelar o ferro.

* * *

A dor física é, em geral, um aviso da natureza, que procura nos preservar dos excessos. Sem ela, abusaríamos de nossos órgãos até ao ponto de os destruirmos antes do tempo.

Quando um mal perigoso se vai insinuando em nós, que aconteceria se não lhe sentíssemos logo os efeitos desagradáveis? Ele nos invadiria cada vez mais, terminando por secar em nós as fontes de vida.

É assim que, em nosso mundo, para o nosso crescimento, a dor ainda se faz necessária.



Redação do Momento Espírita, com base no
cap. XXVI, do livro O problema do ser,
do destino e da dor, de Léon Denis, ed. Feb.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

EDITORIAL – HOMENAGEM A BERTA TOBLER


PARA MIM, COMO PARA TODOS AQUI PRESENTES, É MUITO DIFICIL FALAR DE MAMI SEM TER UM TEXTO COMO GUIA.

MAMI COMO TODOS, COM JUSTAS RAZÕES A CHAMAVAM FOI UMA MULHER QUE VIVEU SUA VIDA PARA CRIAR OS FILHOS, ACARINHAR OS NETOS E BISNETOS E VIVENCIAR A IMENSA SAUDADE DO SEU COMPANHEIRO QUE A TRAGÉDIA FEZ COM QUE SE SEPARASSEM TÃO CEDO.

SEU JEITO SUAVE E DOCE NUNCA IMPEDIU QUE VÍSSEMOS NELA UMA GUERREIRA.

FOI A GUERREIRA QUE USOU O SILENCIO, A DISCRIÇÃO, A ELEGANCIA DE COMPORTAMENTOS E GESTOS COMO ARMAS PODEROSAS.

ESTA MULHER ADMIRÁVEL DA QUAL HOJE NOS DESPEDIMOS, TINHA A QUALIDADE DE SILENCIAR COM A ELOQUENCIA DOS SÁBIOS.

SE TIVESSE A PRETENSÃO DE DEIXAR MAIS UMA LIÇÃO DE COMO VIVER A VIDA COM SERENIDADE E INDEPENDENCIA, SILENCIAR NAS HORAS DIFICEIS SERIA, DE TODAS ELAS, A MAIS IMPORTANTE.

ENFIM, NOS DESPEDIMOS, NESTE MOMENTO, DE UMA MULHER, QUE DEIXOU A ELEGANCIA COMO SUA MARCA NA VIDA