o cotidiano e suas contradições, descrito e compartilhado - Blog inaugurado em 18 de fevereiro de 2 009 - ANO VIII
quarta-feira, 28 de agosto de 2013
MAIS UMA LEILA?
Recebi de uma amiga um texto de Aída G., intitulado “A nova Leila Diniz”, onde, indignada critica o patrulhamento sobre a atriz Beth Faria que, aos 72 anos, cometeu a “heresia” de exercer o direito inalienável de vestir-se como acha conveniente: foi à praia, no Rio de Janeiro, de biquíni. No dia seguinte assustou-se com a reação das pessoas à sua “ousadia” e “falta de pudor estético” como se, o juízo do que é belo ou feio, fosse uma camisa de força que nos é imposta ao nascermos.
Confesso que, com quase 60 anos, sinto certa dificuldade em me vestir. Assim como eu, muitas mulheres também a têm, enquanto outras não estão nem aí, vestem o que acham lhes cair bem, sem que a idade seja um critério determinante. É preciso ter atitude e coragem para passar por cima de certos tabus. Eu, na medida do possível e do que acho que me agrada, ainda uso biquíni, vestido acima do joelho e outras roupas e acessórios que, no século passado, ainda tão próximo, era considerado escandaloso e inadequado. Aliás, já escrevi algumas vezes neste Blog sobre liberdade, direitos individuais e a diversidade do ser humano.
Pois bem, em plena ditadura militar, a atriz Leila Diniz também mostrou sua barriga. O fato foi considerado provocativo, porque estava no sétimo mês de gravidez. Hoje as grávidas mostram suas volumosas e lindas barrigas não só nas praias, como nas ruas, shoppings center´s e academias. Leila foi uma mulher que viveu muito pouco. Morreu aos 27 anos, mas deixou um legado de liberdade para mulheres e homens, porque quebrou tabus, falava o que pensava e vivia a vida com alegria, sempre buscando o prazer e a felicidade. Naqueles tempos obscuros, este comportamento subvertia os costumes e ia de encontro à ordem vigente, imposta pelo regime. Hoje é considerada um ícone do feminino, assumido com a força inerente a esta condição.
Com o avanço da ciência as pessoas vivem mais e melhor. Hoje uma mulher de 30 anos, 20 ou 30 anos atrás, era considerada velha e esta condição privava-a até da certeza de gerar filhos sadios. Senhores médicos, sei que óvulos envelhecem, mas conheço muitas mulheres jovens que têm filhos portadores de Síndromes, assim como conheço muitas mulheres de 40 que pariram crianças saudáveis. Sei que as estatísticas me contradizem, mas a questão é considerar “ridículo” e “fora de propósito” uma mulher querer engravidar aos 40 anos, ainda que não tenha filhos. A saída "politicamente correta" é a adoção. Nada contra gesto tão compassivo quanto necessário, com tantas crianças sem famílias, mas gestar uma pessoa, em minha opinião, nos diferencia, para melhor, do outro gênero.
Estas mesmas mulheres, quando têm acesso aos avanços da Cosmiatria e da Cirurgia Plástica, podem dar-se o luxo de parecerem fisicamente muito mais jovens, principalmente, se associarem a estes avanços, estilos de vida saudáveis, posturas modernas e criticas diante das mudanças de costumes, serem alegres e terem coragem de assumirem-se como são. Os excessos mostram-se inúteis se o objetivo é parar o relógio biológico, lhes impedindo de viver cada fase das suas vidas com a intensidade que cada uma merece. Se Beth Faria tivesse vergonha do seu abdômen septuagenário estaria pensando como uma mulher de 20, cujos valores e padrões estéticos são compatíveis com a idade que têm, assim como uma mulher de 20 não pode nem deve pensar como uma mulher de 70.
O problema é que as pessoas olham o presente com os olhos do passado sem livrar-se dos ranços e preconceitos que faziam parte dele. Beth Faria não quebrou nenhum tabu aos 70 anos, permitindo-se usar biquíni, mas exerceu, corajosamente, o direito de ser livre. Nos países civilizados, onde o que se é, fala mais alto que as formas que se têm, mulheres de todas as idades fazem topless nas praias, vestem-se como têm vontade e por isto, certamente, se sentem mais livres que nós brasileiras, que vivemos com a “burca” da perfeição e da juventude oprimindo nossas cabeças.
Como juízes, muitos de nós condenamos as mulheres que entenderam que o comportamento de Leila Diniz, em e sua inocente coragem, queria mostrar que a liberdade não é uma utopia.
ALICE ROSSINI
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8 comentários:
Este tema está atualíssimo. O que e quem é velho ou novo? Vejo tantos jovens com posturas convencionais, velhas e arcaicas. Vejo tantos velhos antenados com as mudanças da vida. O que fizeram com Beth Faria foi um exercício de censura que existia no tempo de Leila Diniz, portanto, velho e cruel. Velho é o preconceito, falar da vida dos outros, não assumir suas vontades.
Vivemos sob a tirania da minoria, afinal, existem mais mulheres maduras que jovens. Há um patrulhamento na forma de vestir, nos lugares que frequentamos, assim como duvidam das nossas habilidades no trabalho. Eu imagino a sensação de Beth Faria aos comentarios pejorativos sobre seu corpo. Isto é atrazo cultural, sem falar da arrogância de querer determinar a vida das pessoas.Leila Diniz simboliza a liberdade que queremos para nós.
Acho que há patrulhamento, sim, mas das mulheres maduras contra as mulheres maduras. Por serem convencionais, porque nem todas podem nem tem coragem usar um biquini ou, simplesmente por inveja.
Mas, cabem as Beth Farias como coube à Leila diniz, a quebra de tabus, porque nem todas as mulheres são corajosas e valentes. Muito oportuno o texto. Obrigada.
Primeiro, não tenha problemas em se vestir,tudo lhe cai bem, garanto (risos).
Segundo, acho que Beth Faria tem direito de usar biquini, mas deve ficar melhor de maiô...
A relação que a Aida e voce fizeram do fato com o comportamento de Leila Diniz, foi uma feliz idéia.
Sou mulher, embora tenha achado seu texto bem escrito, não concordo com seu conteúdo. Pessoalmente não me sinto bem, vestir um biquini e sentir-me comparada à mulhres malhadas, frequentadoras de academias. Sei que há discriminação, pode ser até paranóia, mas esta comparação me deprime. Gostaria de fazer parte do grupo das que "não estão nem aí", mas infelizmente sou timida e convencional na relação idade\vestuário.
Respeito a posição da pessoa autora do comentario acima. Mas quero chamar atenção para os preconceitos que estão dentro de nós e achamos, ser dos outros. Preconceitos existem, mas mulheres jovens ou maduras devem ter discernimento para analizar sua capacidade para enfrentar as inevitáveis comparações e usar o que lhes cai bem. Cada vez mais, tanto ser considerado adulto ou idoso, está sendo empurrado para limites cada vez mais longe dos de anos atrás. Jamais devemos abrir mão da liberdade de, pelo menos, vestir o que nos agrada.
Está ótima a crônica. Conheço muita gente cheia de dúvidas sobre o que é conveniente vesitr depois de certa idade, com medo do julgamento dos outros. Acho que todo mundo deveria ser livre para vestir o que quiser.
Eu não vi as fotos de Beth Faria, mas isto pouco importa. O real sentido deste texto é assegurar que todas as pessoas sejam livres, inclusive, para vestirem-se como quiserem, independente de julgamentos alheios. É um absurdo que qualquer pessoa, por não atender aos padrões de beleza e aos limites de idade impostos pela midia e aceito por um bando de idiotas, não tenha as rédeas da sua vida!!Estou indignada!
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