quarta-feira, 30 de setembro de 2009

A DUPLA MORAL INTERNACIONAL E NACIONAL

No que refere ao recente caso de Honduras, se esgrima a existência de um golpe de Estado na “remoção” do presidente Zelaya. Entretanto, as acusações que pesam sobre ele por violar a Constituição do seu país, são ou não um golpe contra as leis de qualquer república?

A dupla moral é uma imoralidade em si mesma, é uma transgressão contra a imparcialidade e a sensatez, porque gera exclusão e injustiça. Dois pesos e duas medidas.

As autoridades que assumiram o poder em Honduras, se lhe reprova sem o haver dado oportunidade de defesa, destituíram o presidente Zelaya por estar incurso, entre outros, nos delitos de traição à pátria, abuso de autoridade, usurpação de funções e outros delitos contra a forma de governo.

Exatamente como em muitos casos sobejamente conhecidos, divulgados e comprovados. Ao mesmo tempo, os governos da região, sem haver dado oportunidade à Honduras para defender-se e expor as razões que conduziram à destituição de Zelaya, sentenciaram que naquele país ocorreu um golpe de estado e, sem demora, repetindo as falhas de processo do próprio governo interino, que não havia dado uma chance de defesa a Zelaya, em um juízo sumaríssimo, impuseram a esse país a máxima pena que a OEA pode aplicar a um estado membro. Nem se deram ao trabalho de refletir e considerar que castigavam a um povo por defender a sua democracia e o Império do Direito.

A decisão da Assembleia Extraordinária dessa organização reza: "Suspender o Estado de Honduras do exercício do seu direito de participação na Organização dos Estados Americanos, em conformidade com o artigo 21 da Carta Democrática Interamericana. A suspensão terá efeito imediatamente". Ou seja, olho por olho, dente por dente! Julgou-se de imediato o afastamento do suspeito, mas não as razões que o levaram a esta decisão. Estamos cansados de ver esse filme por aqui!

O espetáculo que deram os presidentes da região nas reuniões do SICA, do Grupo do Río e na Assembleia Extraordinária da OEA, foi realmente patético. Escutar aqueles discursos pobres de conteúdo e vazios de substância, que não faziam senão repetir como um disco riscado os impropérios e falsidades dos coroneis e demais presidentes populistas que proliferam em nossa tão amada America Latina, inspiravam vergonha .

Igual sensação nos produziu o triste papel da presidenta da Argentina e o pecaminoso ex-sacerdote presidente do Paraguai, somando suas vozes ao coro de apologistas de Zelaya na reunião da Assembleia Extraordinária no dia 4 de Julho. Igualmente patética tem sido a aparição dos presidentes do Equador, Argentina, Paraguai, o Presidente da Assembleia Geral da ONU e o Secretario Geral da OEA junto com o presidente Zelaya na conferência de imprensa que ofereceram no aeroporto de San Salvador logo que o avião que transportava este último, não pode aterrissar em Tegucigalpa. Ou seja, todo o mundo com medo que esta atitude do legislativo/judiciário hondurenho se repita em algum outro país diante de casos semelhantes.

Esforços conjuntos para consolidar a dieta jurídica generalizada na America Latina, livre de punições ou sansões.

Os governos da região rasgam as vestimentas defendendo a um Presidente que, violando a Constituição e o Estado de Direito submissamente se presta a hipotecar a soberania nacional do seu país, submetendo-se a uma relação de dependência colonial com os populistas emergentes de uma moral duvidosa, mancomunados com os irmãos Castro e, sabem-se lá, mais quem. Ou seja, todos com talento para ditadores, de fato ou em potencial.

VIVA A DEMOCRACIA POR CONVENIENCIA E A IMPUNIDADE UNIVERSAL EM NOME DELA!

Os acontecimentos ocorridos recentemente em Honduras serviram para mostrar á comunidade internacional, o nível a que chegou a insolente ingerência do regime venezuelano e outros, na política interna de Honduras. Segundo o “Diário Exterior” de Espanha, o governo deste país tem em seu poder um relatório no qual se declara que os órgãos de segurança de Honduras, detectaram a presença de mercenários armados procedentes da Venezuela e da Nicarágua, com a missão de apoiar a consulta popular "não vinculante" convocada por Zelaya, e mobilizar seus partidários nas ruas para criarem distúrbios.

Obviamente, esses agentes pagos, são os mesmos que mobilizam os agitadores que clamam pelo regresso do presidente destituído. Por outro lado, segundo o diário ABC de Espanha, a equipe de juristas espanhóis que assessorou Hugo Chavez, Evo Morales e Rafael Correa em suas reformas "bolivarianas" na elaboração das Constituições de seus países, foram novamente contratados pelo “teniente coronel presidente”, para aconselhar o presidente Zelaya sobre as modificações da Constituição Nacional, com o objetivo de implantar a re-eleição e estabelecer as bases para instituir a mesma, de forma indefinida. Se isto não bastasse como prova da ingerência do governante venezuelano, os discursos insultantes e agressivos do inquilino de Miraflores contra as autoridades hondurenhas e suas ameaças de intervenção militar em Honduras para devolver pela força, o poder ao presidente Zelaya.

Mas a dupla moralidade a que me refiro não se limita à situação em Honduras. A OEA ativou a Carta Democrática Interamericana para condenar esse país, mas faz vista grossa no caso dos presidentes que já cometeram os mesmos, e até piores delitos que se imputam a Zelaya.

Quando qualquer compendio sobre democracia estabelece, expressamente, que um dos elementos essenciais da democracia, é o exercício do poder conforme o Estado de Direito, está dizendo que a legitimidade de um governante não reside exclusivamente na sua eleição, mas sim que, uma vez no cargo, esse funcionário deve desempenhar-se dentro do mais absoluto respeito à Constituição e às leis.

É como uma empregada doméstica que é apanhada usando as roupas da patroa enquanto dorme uma sesta na cama da mesma. Não POOOOOODE! “Eu não sei de nada e esse problema não é meu”. Tradução: Uma vez que votem em nós, podemos fazer e deixar fazer o que quisermos, pois estamos imunes a qualquer sanção, investigação, punição e etc. Em tempo, latino americanos, isso e válido para todo o território deste vasto continente!

A condenação universal, por uma razão ou outra, pelos velhos complexos e as velhas culpas, por medo dos fantasmas ou pelo que seja, silenciou o que é preciso anotar porque, com tudo o que é condenável de um golpe de Estado, convém salientar que o presidente Zelaya desatou a crise ao pretender dar outro desses perversos golpes. Concretizam-se através de recursos indevidos, violadores das Constituições e dos Estados de Direito. Tipo as articulações macabras para re-instaurar a CPMF!

É triste constatar, como governos que se dizem democratas, cedem diante da chantagem dos ditadores populistas, latino americanos do século XXI e por cima de tudo, contra os interesses daqueles que lhes deram o emprego através do voto, e a quem juraram proteger.

FERNANDO TROVADOR

terça-feira, 29 de setembro de 2009

EDITORIAL

Este BLOG nasceu em 18 de fevereiro de 2009, portanto, ainda, um bebê de sete meses.

Tem se comportado com a mesma despretensão, com a mesma ingenuidade, com o mesmo espírito de descoberta e de curiosidade de uma criança nesta idade sem, no entanto, abrir mão dos princípios que o norteiam, tão sérios quanto inegociáveis: a liberdade de expressão, infelizmente cada vez mais violada.

Nascido sob o signo de Aquário contou com o apoio generoso de parentes e amigos que sempre o enxergam com a benevolência e o carinho devotado às crianças. Participam com textos, comentários, ensinamentos valiosos, leituras silenciosas e discretas e importante divulgação.

Assim, conseguiu o VERSO&REVERSO transcender os limites da virtualidade criando vínculos e fidelizando leitores.

Pois bem, apesar da pouca idade e do amadorismo despretensioso dos seus textos, comemora um número, para mim surpreendente, de 5000 visitas! Indicador tão subjetivo quanto carregado de significados, pois, além de sinalizar curiosidade e interesse, compromete quem o escreve com o que escreve.

Feliz, percebo que, o que seria apenas o verso dos meus reversos, mais que isto, tornou-se um prazer irreversível.

domingo, 27 de setembro de 2009

ARCO ÍRIS

Era uma vez uma menina que brincava, cantava, sorria. Ela era muito, muito feliz. Fazia daquele mundo o palco das suas fantasias.

Um belo dia viu-se crescida e percebeu que algo estava diferente em suas brincadeiras. Seus olhos já se direcionavam para outros horizontes. Percebeu que o seu mundo já não tinha o mesmo tamanho e que os seus brinquedos e brincadeiras tinham se transformado em “coisas” de adulto.

Esta menina casou-se, teve filhos e continuou vivendo enxergando o mundo diferente. Lembrou-se que, na infância, cada vez que tropeçava e caia ou quando se machucava, chorava e as suas lágrimas tinham cores. Um dia chorava o anil até esvaziar os olhos, depois o laranja, outra vez vermelho, o verde, chorava até transparente! Chorava todas as cores cada vez que sentia necessidade. Agora, ela percebeu que estava chorando sempre a mesma cor – o cinza.

“Porque as minhas lágrimas não têm mais cor?” questionava. E assim a menina ficou por vários e vários anos. Até que um dia ela resolveu parar e tentar responder os seus porquês!! Encostou a sua cabeça no travesseiro e entrou num sono cinzento. Sonhou muito, mas muito mesmo. Neste sonho, viu terremotos, bruxas, monstros, florestas escuras, tempestades avassaladoras, imensos abismos, enfim, um verdadeiro mergulho nas trevas.

Quando o sonho acabou, ela despertou viu que o seu travesseiro e a sua colcha estavam todos tingidos de cores. Piscou o olho mais uma vez e viu que todo o seu quarto estava colorido. Abriu a janela e viu que tudo lá fora também estava colorido.

A menina começou a chorar e percebeu que agora já não chorava mais cinza, também não chorava mais em uma única cor. As suas lágrimas agora estavam coloridas!

(Este pequeno texto foi contextualizado e baseado num trecho de um livro de Rita Apoena.)

LUCIA IZABEL





quinta-feira, 24 de setembro de 2009

ABORTAR PARA VIVER

Passamos uma parte das nossas vidas nos convencendo que existem fatos que só acontecem com os outros. Principalmente, os trágicos. A outra, tentando negar nossa intuição, que muitas vezes nos sinaliza o futuro.

Quatro viagens internacionais num curto espaço de tempo foram motivos suficientes para justificar meu pouco entusiasmo por esta última.

Ainda na sala de espera do aeroporto de Salvador, descobri que o médium José Medrado seria nosso companheiro de vôo e, claro, devidamente acompanhado por Dr. Bezerra, seu guia espiritual.

Lembrando que não tenho asas para voar e todo o Atlântico pela frente, minhas convicções de que depois da morte só sobrevivem as lembranças de quem parte e o legado da saudade para quem fica, mostraram-se não tão fortes assim.

A possível presença da Entidade me “emprestou” certa sensação de segurança e um conforto emocional que minora a sensação de desamparo e impotência que experimento sempre que entro num avião. A sensação é tão forte que anula o medo natural sentido por mim e por grande parte das pessoas.

Sinto-me totalmente entregue ao que alguns chamam de destino, mas que, no caso, é o somatório de uma serie de fatores que determinam o sucesso ou o fracasso de voar sem ser pássaro.

Pois bem. Obedecendo ao horário previsto, o avião começa os procedimentos de “descolagem”, segundo o Português falado em Portugal.

“Aceleração um”, segundos depois “Aceleração dois” quando, uma forte e inesperada trepidação suspende a respiração dos quase trezentos passageiros do pássaro de ferro. Os poucos cinco ou seis segundos seguintes que o piloto precisava para decidir entre a “Aceleração três”, esta irreversível, ou abortar a decolagem foram decididos a nosso favor. Se continuasse, a aeronave não teria velocidade suficiente para sair do chão. Numa manobra de habilidade e experiência, o aparelho para abruptamente a poucos metros do final da pista.

Poucos segundos foram suficientes para que nossas vidas fossem salvas e para que o pânico de perdê-las se instalasse no avião, sentimento facilmente captado em situações desta natureza. Foi tudo tão rápido que, pessoalmente, fiquei estranhamente calma.

Um instintivo alerta pela descarga de adrenalina e, mais tarde, a “quase” certeza de uma morte indolor. Psicologicamente, pelo alheamento do que estava por vir e, fisicamente porque, carregado de combustível, o avião explodiria logo que acabasse a pista.

Passado o susto, tento analisar as necessidades humanas numa situação na qual sua sobrevivência ou a de quem ama fuja ao seu controle. A primeira é a de ter suas perguntas respondidas; o que aconteceu, por que aconteceu e o que ocorrerá daqui pra frente. Esta ultima, certamente, uma penosa “via cruci” de dúvidas e surpresas desagradáveis.

A situação de impotência diante de fatos que abalam nossa segurança potencializa nossa necessidade de compreender para justificar o acontecimento. Pelo menos é assim que sinto. Hoje, entendo a persistência de parentes de vitimas de mortes trágicas em nunca desistirem de respostas às suas dolorosas e, muitas vezes, irrespondíveis perguntas.

Outra conclusão é a “certeza” de que fatalidade é um conceito além de amplo, relativo. Partindo do pressuposto de que para todas as coisas que envolvam pessoas e, claro, sua sobrevivência com segurança, existam protocolos que, se seguidos, evitariam a maioria dos acidentes, tendo a concluir que a maioria deles não é observada com a seriedade proporcional à importância da vida como valor a ser preservado.

Para isto seria necessário que a vida humana fosse verdadeiramente valorizada, pois no caso do nosso avião, ficou muito claro, que houve negligência por parte da companhia, pois, a simples não observância dos pneus da aeronave seria a causa de mais uma tragédia que mudaria e destruiria vidas de forma irreversível.

Uma pergunta me inquieta e uma “certeza” me oferece a verdadeira dimensão de cada vida em relação a tudo que vive no Universo.

A pergunta é; muda, a vida, seu curso normal desviando-se para um atalho ou, o que chamo de atalho é o verdadeiro caminho?

A “certeza”, se ainda as tenho, daí ter aspeado a palavra em todo o texto, é de que tudo continuaria acontecendo independente de mim, embora de outra forma e com outros sentimentos mas, pelo mesmo caminho e desviando-se por outros atalhos. Disto, tenho certeza. Sem aspas.

ALICE ROSSINI

domingo, 6 de setembro de 2009

VAMOS SER FELIZES?

Desta vez, me desarmo de conceitos pré-estabelecidos, me limpo de costumes e hábitos próprios e mergulho fundo nas inquietudes e nos conceitos tão bem expressos em alguns dos textos que Alice nos proporciona. De repente, esses trabalhos soam como sussurros incontidos de um suave desespero, ou até desabafos inquietos de impotência por uns não serem capazes de influenciar outros, no processo de todos sermos felizes. Deito-me a deriva destes pensamentos insólitos e deixo que a maré da minha razão me leve, empurrado pelo vento das minhas experiências.

Confesso que me perturbo quando me dou conta que me deixo levar pela estranha força que me faz sentir mais macho quando sou desafiado a tentar reparar o que de mim não depende, mas deixo este aspécto como um ítem a mais na lista das minhas características de personalidade.

Por que será que é tão difícil ser feliz? Por que uns não podem influenciar outros na ardua batalha da busca da felicidade? Que tem de tão extraordinário o mundo de hoje, com suas conturbadas peripécias de todo o tipo, que faz com que a as pessoas confundam felicidade com ser socialmente visível ou estar “bem”? Pessoalmente eu me sinto muito feliz a maior parte do tempo, o resto dele eu sou apenas feliz. Que é que eu faço de especial? É esta uma atitude consciente minha? São estratégias planificadas e aplicadas ao pé da letra? Será que inconscientemente eu me nego a viver com medo para não complicar o que, a priori, me poderia parecer confuso?

Afinal, ser feliz só requer um pouco de questionamento preciso e um mergulho introspectivo bem fundo na nossa alma para sabermos como vemos a nós mesmos e ao mundo a nossa volta.

A maior parte das nossas crenças é falsa, outras foram iniciadas por condicionamentos externos e muitas são ou foram perpetuadas pela sociedade e pela mídia. Só podemos nos reinventar depois de descascarmos as camadas externas e superficiais de nossas crenças e examinarmos com precisão, imparcialidade e integridade o miolo das nossas convicções. Posso até acreditar que a relalidade é a mesma para todos e que todos funcionamos no mesmo nível. Mas, acho que não é assim! A vida é única para cada um de nós. Nossos mundinhos pessoais são um composto de como vemos as nossas vidas e nós mesmos.


Tenho uma colega de trabalho que tem a metade da minha idade. Um dia destes a vi desmanchando-se em gargalhadas porque um colega, homem, disse-lhe que parecia uma caricatura de si mesma. Honestamente, a moça é esteticamente “desencontrada”. Ela tem uma aparência gozada e totalmente despida de simetria... Porra, me dói, mas ela é feia mesmo! No entanto, é a uma das pessoas mais doces e mais faceis de lidar que conheço. É absolutamente brilhante e querida por todos os que a conhecem ou que investem um tempinho conversando com ela. É, sem dúvida, bastante feliz. Conscientizou-se das limitações estéticas e até faz piadas com isto. O mais importante, é que ela nunca se define por sua aparência e os que a conhecem rapidamente esquecem-se desta particularidade. Para ela isto simplesmente não é problema e ela não se vê como uma pessoa sem atrativos.

Por outro lado, todos nós sabemos que existem pessoas, que em determinado dia, não saem de casa porque durante a noite lhes nasceu uma "bolhinha" no canto do lábio ou despertaram sentindo-se mais pesadas, mais gordas ou mais inchadas. Tenho a certeza, que o termo “dia de cabelo ruim” se originou de alguém que teve seu dia arruinado porque não conseguiu arrumar o penteado como queria. “Nestes” dias, é dificil conversar com esta pessoa sem escutar dela queixas sobre absolutamente tudo o que a rodeia. Estes são os dias preferidos para se falar mal do mundo de uma forma acentuadamente negativa, evocando assuntos tais como crimes, pobreza, violência, economia, a ganância, as doenças e as guerras.

É muito fácil acreditar que o mundo é um lugar hostil não porque o seja, mas sim porque esta é a nossa percepção e, para alguns, é até uma convicção. Obviamente que nós somos influenciados por estas mensagens e muito se deve à frequência com que as escutamos. Filmes, novelas, noticiários, jornais, até música, a nossa obcessão e o nosso enfoque, parecem ser sempre, predominantemente, negativos.

Todos os dias bilhões e mais bilhões de eventos ocorrem. Alguns são péssimos, horrorosos e a maioria são, provavelmente, comuns mas, muitos são espetacularmente fabulosos. Somente por um momento consideramos a semana passada ou até o mes passado ou o ano passado. Quantas vezes fomos roubados, assaltados, caimos em desgraça com os bancos ou tivemos nossos cartões de crédito negados, e mais, quantas vezes estivemos doentes? Quantas de nossas funções corporais já não estão tão bem hoje se compararmos com o tempo em que trabalhavam perfeitamente? Quantas refeições perdemos comparadas com as vezes que nós comemos mais do que deviamos no mesmo período? Voce riu mais esta semana do que chorou? Em resumo, a pergunta é esta; de que é que nós reclamamos e o que é que nós agradecemos? Se alguém lhe faz um comentario infeliz e fora de lugar que fere os seus sentimentos, voce se ressente? Fica ruminando o acontecimento? Estende o “bate boca” mesmo que de forma diplomática por algum tempo? Comenta o acontecimento com terceiros gerando assim uma sessão de fofocas cruzadas sobre a pessoa que fez o comentário? Espera o momento adequado e mais tarde revida com outro comentário sarcástico?


E que tal se alguém lhe faz um elogio ou lhe diz algo que alimente seu ego? Também fica ruminando, nutrindo-se mentalmente? Compartilha com terceiros? Espera por uma oportunidade para retribuir? Voce fica obcecado com as grandes coisas que lhe acontecem diariamente?Em outras palavras, investimos o nosso tempo e energia em fantasias positivas ou negativas?A resposta a esta pergunta nos dará uma visão cristalina da nossa percepção.

Não tenho dúvida nenhuma que as grandes barreiras contra a felicidade são o medo e a insegurança. Nós somos animais obsessivos na prevenção e preparação de acontecimentos negativos. É impossível pensar em ser ou começar a ser feliz se as nossas mentes estão sempre concentradas no mal. O medo é um mal debilitante. Ele rouba tudo de nós, principalmente nossa alegria e nossa energia. Por traz da fachada de muitos de nós, há uma insegurança implacável que nos bloqueia em cada passo que damos. Claro que não estamos falando de medo propriamente dito. Estamos sim, nos referindo a nossa habitual resposta negativa a quase todas as situações que enfrentamos diariamente

Observem as crianças. Elas são criativas, aventureiras, alegres e estão sempre contentes. Elas expressam as suas necessidades e esperam que as mesmas sejam atendidas. Se sentem iguais entre si e esperam que o mundo as apoiem em tudo. Crianças não carregam rancores, nem se sentem inúteis ou mal amadas se as coisas não ocorrem do jeito que querem. Quando caem, se levantam em seguida e continuam o seu caminho. O mundo é apenas um enorme parque de diversões cuja função é entretê-las e apoiá-las.

Os pais, obviamente, devem proteger seus filhos e alertá-los sobre os verdadeiros perigos. As crianças necessitam estar preparadas, educadas e equipadas para lidar com todos eles. Porém, será que elas realmente necessitam de toda esta hipnótica e estressante carga de avisos a cada minuto do dia? Será a vida um corriqueiro passeio sobre campo minado até que, finalmente, pisamos em uma das minas? Frequentemente, a grande maioria das pessoas carrega consigo demasiada inseguraça e medo.

Façamos um teste. Lendo este texto que me ocorreu escrever sem fundamento técnico mas fruto do enorme prazer que tenho de pensar em tudo, verifiquem o seguinte: Aí sentados, sentem a bunda meio contraída? Os ombros mais altos que o normal? Os olhos estão tensos? A testa apresenta sinais de enrrugamento? Voce está sentindo seu corpo contraído mais do que o normal? Pode parar…! Voce está apenas lendo um texto escrito por um cara "metido" a escritor que relata suas ideias e suas emoções e expõe, abertamente, suas próprias teorias. Por que é que voce está preparando-se para resistir a um ataque? Espreguice-se, respire e relaxe...


Até hoje eu escuto a minha mãezinha me dando constantes alertas de perigo cada vez que tenho que viajar para longe de onde ambos moramos. Ser a sentinela dos perigos que rodeiam seus filhos se tornou sua missão. É praticamente impossivel para ela ter uma conversa comigo ou com minha irmã sem nos dar algum “bom conselho”. Por alguma razão ela parece acreditar que o amor e a proteção aos seus filhos são diretamente proporcionais ao número de avisos e recomendações sobre os perigos do mundo que ela, constantemente, descarrega sobre nós. Ou, até mesmo, pela quantidade de preocupação que ela sente a nosso favor.

Quase todos os dias recebemos informações sobre como o mundo vai acabar e quando. O pior de tudo, e que me parece que apesar de o fazermos inconscientemente, nós, automática e frequentemente passamos estes sinais e alertas adiante, a título de conversas informais e inócuas. Muitas pessoas racionalizam isto como sendo parte do seu nivel de informação, preparação cultural ou até educação. Outras, como mamãe, também pensam que as suas mensagens de alerta são baseadas no amor e carinho que sentem pelos seus filhos.

A nossa infância é cheia de florestas povoadas por predadores e animais peçonhentos. Infelizmente, antes mesmo de avaliarmos a validade desta afirmação, descobrimos que absorvemos tanto este conceito que nos tornamos adultos completamente lavados cerebralmente esperando dolo e hostilidade vindos de todas as esquinas.


"Mãe! Chega de avisos e conselhos repetidos. Eles são como venenos que estão matando-me e impedindo-me de ser feliz!" Nós estamos criando e mantendo um ambiente terrivelmente hostil, uma crença ferrenha e hermeticamente fechada de que o mundo é basicamente mau, as pessoas são naturalmente más e que o melhor que podemos esperar, com um pouco de sorte, é nos mantermos respirando enquanto pudermos. O pensamento nobre justo e essencial sobre perseguir a felicidade nos parece frívolo, fora de alcance, até mesmo impossível. É apavorante se pensarmos que nós colhemos o que plantamos!Meu Deus! Este texto esta se tornando realmente sério! Mas isto é normal porque afinal sou uma pessoa crescida, responsável e acima de tudo, cautelosa!

Muita educação e muita “grana” são os únicos caminhos para sobrevivermos hoje em dia. Todos nós olhamos para baixo para ver os pobres que tem que varrer ruas, ser camelôs, empacotar as compras no supermercado, os “flanelinhas”, o frentista e outros tantos. Pobres das famílias que tem que repartir banheiros, quintais e até mesmo moradias com terceiros. Pobres daqueles que tem que dirigir carros com mais de cinco anos de uso, isto sem falar nos que dependem de transportes públicos. Que horror aquelas famílias que não conseguiram fazer seus filhos se graduarem em nenhuma Universidade!

Bom, pensando bem, não é tão grave como não ter grana nem crédito para fazer um "lifting" ou uma "lipo", isto, sem mencionanar ter de morrer com os seios ao nível do umbigo. Isto sim é terrível! Raramente nos lembramos que as pessoas simples que mencionei acima, são os mesmos que vão de ônibus a caminho de suas casas tamborilando um sambinha com os dedos, sobre qualquer superficie sonora. E os que não, muito provavelmente, estarão pensando de como será bom beijar os filhos e a companheira(o) ao chegar em casa!


Pois é! Ultimamente é realmente difícil ser feliz! Vejam só a quantidade de coisas que necessitamos fazer, ter e ser para sermos felizes! Obviamente ninguém será feliz se não puder se medir igualmente com o vizinho ou com um amigo ou amigos, ou mesmo com a média do ambiente que frequenta ou ao qual pertence! Esta é a teoria! Não é fácil sair nas colunas sociais ou estar social e politicamente correto! Esqueçam tudo isso! Eu corto meu pescoço ou qualquer outro apêndice do meu corpo em como um dia todos nos seremos felizes, quando...

Sob o ponto de vista psicológico, nós todos nos agarramos, desesperadamente, ao comodismo, ao conforto e aos hábitos. As “areas confortaveis” são diariamente pesquisadas e testadas e sempre nos sentimos seguros dentro delas. Esses patamares de acomodação não carregam consigo desafios, nem nos preocupamos com eles. Quando um hábito se torna confortável o adotamos imediatamente.


Em muitos casos as nossas "areas de conforto" não são seguras, não são saudáveis nem nos dão prazer. Na verdade, a curto prazo, elas se tornam uma fonte de problemas e contradições. É como aquele chinelinho ou aquele tênis velhinho que relutamos em jogar fora, estes, tambem tem o seu dia de ir para o lixo.

É fácil manter uma relação que não leva a nada ou ficar muito tempo no mesmo emprego sem futuro e por nenhuma razão, a não ser o fato de que se está confortável e livre de “coisas novas que podem ser o berço de novos problemas”. Para melhorar a nossa vida necessitamos mudá-la. Assim, simples!

Precisamos fazer coisas novas, de novas formas, por novos caminhos com pessoas novas e em meios diferentes. Quanto mais alto quisermos chegar, menos confortáveis nos sentiremos. A felicidade assim como o sucesso, são empreendimentos de alto risco. Admito que, fatalmente, nos sentiremos vulneráveis ao fazê-lo. O desejo de ficar onde estamos habituados será insuportável. A mudança de rumo requer que sejamos valentes e audazes porque o erro é odiado. O erro é humilhante.

Somos constantemente intimidados e sentimos um pavor absoluto da palavra “não”. Acho que é boa ideia ficar na frente do espelho repetindo essa palavra um milhão de vezes até que nos sintamos numa "area confortável" que inclua frequentemente esta palavra. Voce nunca se sentirá melhor, fará o melhor ou terá o melhor se continuar a ter medo da palavra “não”.

A justificativa mais comum para voce não ter a maioria das coisas que mais deseja, é porque não pediu. Se decidir não pedir é porque havia decidido inconscientemente não tê-las. Esses “nãos” voce deu a si próprio – não vieram de nenhum outro lugar. Devemos parar de respondermos “não” a nós mesmos e perguntar o que ainda não fizemos. O “sim” ou o “não” devem vir de quem vai tomar a decisão, não dos nossos medos.Voce conhece a solução da “moeda ao ar”? Às vezes é necessário atirar uma moeda ao ar onde a cara é sim e a coroa é não. Fazemos nossa perguntinha e atiramos a moeda e com base no resultado da queda decidimos. Voce verá que, estatisticamente, as soluções serão uma ou outra, em partes iguais, 50% para sim e 50% para não. Na vida é exatamente a mesma coisa de acordo com o número de vezes que voce fizer suas perguntas.


Outro obstáculo que devemos suplantar é o medo da rejeição. Começamos por perguntinhas simples praticando-as escutando “não” e vamos nos habituando a isso. As pessoas normalmente tem uma certa simpatia por quem escuta um “não” delas. Por isso, normalmente o fazem de uma forma gentil. Outra forma é perguntar sobre coisas grandes, não emocionalmente importantes, mas inesperadas. Como jogar na loto todas as semanas. Voce pode até encontrar um certo sentimento de diversão com isto, mas esta negativa, não o humilhará porque não está carregada de emoção.

Faça como o cara lindo e sexy que chegando a uma discoteca ou bar, começa imediatamente a insinuar-se e a cantar, de uma forma inteligente, graciosa e extremamente simpática. As gatas ao seu redor insinuando-se para irem a um motel com ele. A maior parte diz que não mas o faz rindo-se da situação. Eventualmente, esse cara tem sorte! O certo é que para cada porta que se fecha, outra se abre. A merda toda é saber porque é que a que se abre o faz, somente, quando a outra se fecha. Porque as duas não ficam simultaneamente abertas, mesmo que seja por pouco tempo? Normalmente, a que se abre o faz muito depois de que a outra se fechou. Aí voce fica em pânico no corredor. Dá medo! A vida nos arma muitas situações que nos fazem saírmos da nossa "area de conforto" antes que uma nova oportunidade se materialize. A vida é um inferno mesmo. No processo de se reinventar, voce terá que aceitar que esse inferno não so é uma probabilidade; voce terá que entrar nele ativa e deliberadamente.

Quantas vezes não temos pesadelos nos quais somos perseguidos por um incêndio e não nos resta alternativa a não ser correr montanha acima? O fogo nos persegue e nós vamos correndo ofegantes até chegarmos à beira de um altíssimo precipício. Aí, o pavor nos deixa imobilizados porque nos restam duas terríveis opções. Ou morremos queimados pelo fogo que se aproxima das nossas costas, ou nos atiramos no vazio e nos amassamos contra as rochas lá embaixo.
Neste
momento, escutamos uma voz dentro de nossos corações que nos diz:
- Salta, voce pode voar!


Se voce quer que mudanças seguras e pequenas ocorram em sua vida, o esforço e o risco não serão tão amedrontadores nem deveras desafiantes. Se voce deseja ser feliz e crescer como pessoa ou mudar radicalmente sua vida para melhor, deve aceitar o fato de que todos somos valentes e audazes.

Nunca voaremos se não tirarmos os pés do chão!

Fernando Trovador!

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

REFÉNS DO ACASO

Não há muito tempo dei um salto de qualidade no meu processo de amadurecimento convencendo-me, emocionalmente, que somos resultados das nossas escolhas.

Confesso que esta óbvia conclusão provocou-me uma sensação de apaziguamento, já que, não atribuiria a mais ninguém nem meus acertos, nem meus erros, embora, para ser justa comigo e com os outros, não excluo a participação determinante de algumas pessoas na qualidade dos meus “saldos”.

Entretanto, ainda luto para excluir do "menu" das minhas neuroses o sentimento da culpa e seu sucedâneo imediato, o arrependimento. Continuo amadurecendo e, para ser coerente com o que acabo de afirmar, responsabilizo-me quanto à duração do referido processo, que acho, nunca devemos dar por concluído, uma vez que lhe são inerentes avanços e retrocessos.

A esta altura da vida, quando começo a colher o que plantei, refletindo sobre a obviedade de que a semeadura não é feita de forma solitária, faço uma analogia da vida com os processos da natureza, onde vários fatores concorrem para uma boa colheita. O clima e seus caprichos, a qualidade das sementes, os companheiros de lavoura, ajudando ou dificultando, a qualidade do terreno, onde semeamos, enfim, os milhares de fatores sobre os quais exercemos um limitado controle, embora sejam eles que vão certificar a qualidade dos frutos.

Isto é assustador! Você desperta pela manhã e uma incógnita lhe acompanha até o final do dia. Se chegar até lá, outra incógnita, muitas vezes mais assustadora, pelo menos para mim, esconde a qualidade das condições emocionais, com as quais se fortalece ou se enfraquece, para enfrentar os fatos que a vida, naquele dia, guardou para você.

Somos reféns do acaso e como interagimos, nossas vidas dependem também das vidas, carregadas de acasos, daqueles que nos rodeiam.

Esta “questão” que tem me angustiado diuturnamente e, certamente, residia no meu inconsciente espreitando uma fresta para vir à tona, é comum a todo ser que habita o planeta, pois esta sucessão de condicionantes é o cerne das inquietações humanas e jamais será resolvida. Diante dela nos sentimos tão impotentes quanto diante da certeza da morte.

É assim que a vida está organizada. Somos postos no mundo, através do encontro entre duas pessoas, convivemos com outras tantas e, com algumas delas criamos laços afetivos tão fortes, que definem a forma como nos relacionamos com o mundo e com nós mesmos, tamanho é o seu poder. Vínculos que têm a capacidade de fazer-nos livres ou cativos.

Mesmo aqueles que estão longe, que nunca vimos nem veremos, determinam nossos destinos. Como se a existência fosse uma enorme engrenagem onde, qualquer peça, por mais insignificante que possa parecer, tem o poder de modificar a forma da engrenagem se comportar. Portanto, aquela conclusão a que me refiro no inicio do texto, sobre ser única responsável por minhas próprias escolhas, tem um grau assustador de aleatoriedade que torna tudo relativo. E ainda nem me referi, embora tenha pensado, às outras variáveis, que são os outros seres sensíveis, os inanimados e tudo que compõe o Universo.

Consciente da minha insignificância, minha conclusão não me apequena no sentido de me sentir desimportante, ao contrário, me agiganta tanto quanto me assusta. Posso interferir até o limite da minha vontade que já sofreu algum grau de influência de variáveis desconhecidas que, adiante, vão modificar o que virá em seguida. E nesta sucessão de vontades, a minha já é o resultado contaminado por outras tantas vontades que já se consumaram.

Tudo isto, permeado de emoções e sentimentos vários, torna o processo mais complexo. Mas, não ao ponto de impedir que flua com naturalidade ou que não nos estimule a tentar compreendê-lo.

Seria este o "sal" da vida? Esta consciência convivendo com a ignorância sobre o que está sendo engendrado nos bastidores da existência? Será, realmente, excitante o desafio da incerteza dos resultados do que você acha que escolheu? Seria este o preço a pagar para experimentarmos algum tipo de tranqüilidade?

O que seria do homem se não contasse com o confortável desconforto do imprevisível? Ou se vivesse suas alegrias convivendo com a decepcionante antecipação das surpresas? Como conviveria com a angustiante e assustadora certeza sobre quando e como irá morrer? Valeria a pena saber tudo?

Ou estaria a vida sabiamente organizada a forçar-nos a viver nossos segundos dentro de uma relativa ignorância, vivenciando cada momento, cuja importância devesse conter o peso da eternidade?

Tenho certeza, que estes questionamentos parecem tolos e intelectualmente incipientes e primários para a maioria de vocês. Mas confesso que tem emprestado a cada manhã da minha vida a sensação de estar sempre estreando uma aventura, cujo final tem tantas alternativas quanto minha imaginação não tem a capacidade de prever.

Muitos saltos terei que dar até sentir-me próxima de um "desequilíbrio saudável" pois, lucidez demais enlouquece de verdade e certezas graníticas nublam a mente e levam a uma tediosa inércia.

Esta “reflexão”, vamos chamá-la assim, está me inquietando e, sem que pudesse contê-la, escapuliu das minhas angústias e fugiu pelos meus dedos, tão humildes quanto insurretos, até o teclado do meu laptop.

Escreveu-se por si só.

ALICE ROSSINI