Desde que nascemos somos obrigados a fazer escolhas. Ainda que sejam determinadas por necessidades fisiológicas como a fome, as dores e o sono dentre outras. O fato, é que atravessamos nossas existências escolhendo.
Tudo seria muito natural como estudar, escolher a profissão, o companheiro, ter ou não ter filhos, se não houvesse um momento em que, algumas escolhas fundamentais, fossem objeto de questionamentos a ponto de sentirmos enorme dificuldade de voltar atrás, desistir, ter a chance de uma nova tentativa. Estas escolhas sofrem interferências de todas as ordens: de algo ou alguém que nos imobiliza ou nos impulsiona, do momento em que somos questionadores ou resignados, guerreiros ou alienados, do nosso alheiamento ou "envolvimento" com circunstâncias que antecipamos e acomodamos nos espaços reservados para nossas angústias. Preocupações que, muitas vezes, tem o enorme poder, tanto de mudar nossos destinos quanto de nos ensinar como são inuteis.
Muitos vão pensar, “ora, sempre há tempo para recomeçar”. Para muitos há mesmo mas, esta não é a questão. Independente de singularidades pessoais, muitos de nós experimentamos um enorme cansaço ou impotência em deflagrar qualquer movimento, que revolucione ou transforme nossas vidas. Traga-a para o caminho do qual nunca deveria ter saído. Mude nossa história pessoal e as de quem dela depende. Que supere o cansaço, o peso de sentir que qualquer esforço seria inútil, até porque, a crença é de não haver força suficiente. O movimento ser tardio e inócuo.
É a queda na desesperança. A desmotivação. A sensação de ter chegado no fim da linha sem nunca ter subido no bonde. Podemos nos enredar nestas armadilhas, sem que tenhamos consciência de nelas termos caído. Caso não tenhamos o dom da superação,ou não possuamos a consciência da força que, nem sabemos, sempre mora em nós, jamais iluminaremos os caminhos que elucidem as tramas que nos levariam para onde fomos ou estagnamos.
Não vejo nesta postura nenhuma patologia, se quem nela se instala não "gostar" de sofrer. Nos aturdimos, e engatar os elos das nossas emoções com os da nossa capacidade de agir é um processo doloroso.
Percebo, ainda, a disceminação de indicadores equivocados de sucesso, uma subserviência a modelos de comportamentos que demonstrem poder e coragem, tornando nosso fardo e culpas mais pesados
Entretanto, este “sentir”, este “perceber-se” com tanta transparência, demonstra um imenso destemor qundo perguntamos: “onde está a ponta da corda que amarra meu pescoço?”
Quem sabe que respostas teremos?
Se as tiverermos, as suportaremos?
Se as suportarmos, ainda, resta a dúvida se poderemos desatar o nó que nos sufocava e poderemos viver sob outros parâmetros, novos padrões de comportamento.
A pergunta permanece; qual escolha ou escolhas, acrescento, decidiu nossos destinos?
Quais momentos das nossas vidas, tornaram tudo tão importante quanto irreversível?
O livre arbítrio, não tão livre como o concebemos, é contaminado por situações, fatos, pessoas, paixões, rancores, falta ou excesso de vontade, sabedoria ou ignorância que moldam as decisões que determinaram para onde, hoje, nos encontramos, com tudo que nos envolve, nos agonia ou nos alegra. Ou será que durante toda a existência humana, cada escolha leva à outra escolha, até que encaremos a morte, a única escolha que não temos poder de fazer?
Dentre tantas angústias, perguntas e dúvidas que nos perseguem, depois de saber-se finito, viver na encruzilhada do lá ou cá, do certo ou errado, da coragem ou da prudência, da ousadia ou da renúncia e, no emaranhado de tantas decisões que tomamos a cada instante, saber onde nossa vida se definiu é uma das perguntas que nos atormenta por ocupar lugar de destaque na nossa condição de homo sapiens sapiens.
Alice Rossini