Há 57 anos, em todos os seis de maio havia uma comemoração, o aniversário de Luis Augusto Timbó, Luca, para os
íntimos. Ontem, sua esposa sentou-se à beira da cama e cantou “Parabéns pra
você!” em sua homenagem.
Esta cena seria a alegre se, nesta
repetição de mais de trinta anos em que o casal Luca e Lourdinha estiveram
juntos, a cama não estivesse num quarto de Hospital e, em vez do sorriso
disfarçado ou alguma observação carregada de um senso de humor peculiar, ela
não tivesse percebido sua dificuldade para respirar.
Luiz Augusto era engenheiro e
empresário. Dos bons. A competência e o raciocínio lógico foram sua marca
registrada. Luca viveu a exata metade do dia seis. Morreu, pontualmente às doze
horas.
Toda sua vida foi marcada pelo trabalho
ético, honesto e competente, pela intensidade nas relações, pela franqueza rara
e desconcertante, pela inquietação, característica natural em mentes
brilhantes. Direto no trato com os amigos, os que não se incomodavam com as
idiossincrasias do seu estilo, gostavam dele e entendiam que, debaixo daquele
olhar perscrutador e uma postura sempre em alerta, morava um ser humano que
amava a família, o mar e a aventura. Os
que não gostavam ou não possuíam a sensibilidade de percebê-lo, acho que sua
sabedoria dizia-lhe que não se incomodasse, afinal, Luca sabia que ninguém
possui a prerrogativa da unanimidade.
Era capaz de surpreender até sua
companheira de toda a vida. Entretanto, quando sorria ou quando vociferava
contra tudo que achava errado ou fugia ao seu controle, o fazia com uma verdade
tão contundente que, para muitos, faltavam argumentos para contradizê-lo.
A criança que morava dentro dele adorava
filmes de super heróis. Admirava o Homem
Aranha e “acreditava” na fantasia que o Super Homem nasceu da explosão de uma
criptonita.
Infelizmente, Luca morreu exatamente na
data que nasceu tal a vontade que tinha de fazer as coisas certas, de não
deixar nada inconcluso. Só sentia-se à vontade de percorrer o caminho que achava
correto e que não o surpreendesse a ponto de mudar sua rota, desviando-o para
atalhos ou estradas alternativas.
Personalidade forte e presença marcante
para todos que o conheceram. Será sempre
uma ausência sentida, principalmente para sua esposa, pais, irmãos, filhos,
genro, amigos e familiares e a convivência, cruelmente interrompida, com
seu primeiro neto, o pequeno Pedro.
Este imenso vazio que deixou em nossos
corações, talvez tenha sido a única falha na sua rara capacidade de prever o
imprevisível, independente da exatidão da data e da hora que “escolheu” para
decretar por concluída sua breve, mas intensa existência.
Doze horas do dia seis de maio será,
sempre, para quem o ama o momento da vacuidade, da lacuna e da saudade.
ALICE ROSSINI
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O COMETA LUCA
Falar de Luca é difícil e fácil. Difícil porque a
tristeza gerada por sua ausência acaba embargando a voz e embaralhando os
pensamentos. Fácil porque Luca foi e sempre será um jantar para 400
talheres. Atitudes polêmicas, frases marcantes, amigo e inimigo fiel, pai presente, marido
apaixonado, chefe competente, perfeccionista, exigente, entre outras qualidades
e defeitos.
Há 57 anos, no dia 6 de maio, nasceu em Salvador.
Nasceu, cresceu, formou-se engenheiro, casou-se com o grande amor de sua vida,
formou família com dois filhos, tornou-se executivo e, por fim, empresário do
ramo de seguros. Empresário muito bem sucedido. Ainda fez, como ultima tarefa,
a transferência da empresa para seus dois filhos. Após 57 anos, no mesmo dia 6
de maio, morreu.
Tudo em Luca foi fora dos padrões. Se ele gostava de
barco, sua lancha tinha que ser
especial.Se resolvia andar de jeep teria que estar entre os tops. Previa os
riscos de sua vida com uma excelência impressionante. Queria, e conseguia,
andar sempre dois passos a frente dos outros. Adorava superlativar
posições. Não era homem de média. Por
isso mesmo sempre achei que a
frase ame-o ou deixe-o bem que poderia ter sido formulada para ele.
Luca tinha uma qualidade que me chamava a atenção. Ele
sabia escutar. Sabia tirar proveito de tudo que ouvia. Tinha consciência de que
nunca se sabe tudo. Em uma única noite ele navegava entre atitudes
ranzinzas, radicais, a posturas simpáticas, liberais, humildes,
inteligentes e engraçadas.
Por terem personalidades parecidas, gostava de brincar
de brigar com Alice, que era carinhosamente tratada por ele como Tia Alice.
Pareciam gato e rato. Viviam as turras.
Mas não dispensava um final de semana em nossa companhia. A ultima vez que
saímos para o mar, ele providenciou com antecedência, asinhas para segurança de
Tia Alice. Era sua maneira de demonstrar carinho.
Durante um bom
tempo usamos as noite de quinta feira para jantarmos juntos. Nossos
encontros a quatro eram sempre no Bahia Marina. Ríamos sem parar. Atualizávamos
nossos assuntos, comíamos e bebíamos do bom e do melhor. Claro, era sempre uma
luta conseguir com o maitre que a cebola
fosse retirada dos temperos de sua escolha. Mesmo assim, quando o prato chegava
ele dava uma vasculhada para conferir se sua exigência tinha sido respeitada. E
quando encontrava qualquer indício do
tubérculo maldito amuava e desistia de comer. Nada o demovia desta atitude
infantil. Já sabíamos. Mas também não permitíamos que o resto da noite fosse
azedado pela presença da cebola. Normalmente só saíamos do restaurante com os
garçons colocando as cadeiras em cima das mesas. E saíamos sempre as
gargalhadas. Ah saudade....Pois é Luca.
Você é uma das saudades que, com certeza, gostaremos de ter.
MARCO ROSSINI