segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

VIVER: DIREITO OU OBRIGAÇÃO?

Escrever sobre assuntos pesados em época natalina pode ser classificado como um sádico mal gosto. Embora, a partir de novembro, quando o comercio começa a convocação para o consumo, os assuntos fome, miséria, desigualdade, entre outros, emerjam com mais força a ponto de comover alguns corações que permaneceram impermeáveis nos outros dez meses do ano.

Portanto, sinto-me à vontade para falar sobre um tema, além de controverso, muito pouco discutido: Eutanásia. Calma, não vou falar da Eutanásia como recurso médico, quando a Ciência desiste de seus poderes e, como última alternativa para economizar sofrimentos, delega ao paciente ou aos parentes o direito de escolher a morte, a uma sobrevida isenta de qualquer sentido de vida ou possibilidade de recuperação.

A Eutanásia a que vou me referir, pode até incomodar mais algumas pessoas, já que a referida acima possa ser encarada apenas como um conceito distante e estranho à nossa realidade. Refiro-me às pequenas desistências, que tem a gravidade daquela Eutanásia que coloca em xeque viver com uma qualidade de vida que nos pareça digna e, por medo, covardia, ignorância, oportunismo, masoquismo, seja lá que motivo for, consentindo que nos seja negado tudo que nos tornaria mais feliz, preferindo uma vida isenta de alegria, realizações, liberdade e milhares de outros prazeres.

Claro que a vida é feita de renúncias, as necessárias e as que muitas vezes são assumidas pelo simples prazer de servir, de ser útil, de abrir mão de algum privilégio em pró de alguém que achamos ter o mesmo direito de possuí-los. A ajuda ao próximo, a divisão do muito que temos, o ensinar ou abrir caminhos para que outros alcancem seus objetivos, além de louvável é necessária.

Talvez como haja um consenso universal de que todos tem o direito à vida, esta premissa nos impede de perguntar: A que tipo de vida todos temos direito?

Há quem se sinta feliz vivendo sob ou em qualquer circunstância. Há os mais exigentes que lutam por direitos. Úteis e necessárias, estas pessoas. Ainda que suas lutas não sejam coletivas, uma vez alcançados os objetivos, outros se beneficiam com a conquista, tornando-se exemplos de tenacidade e determinação. E há os eternos insatisfeitos. Por mais que tenham, acham que a vida ainda lhes deve alguma “coisa”.

Não pretendo, aqui, limitar as aspirações alheias ou determinar escala de valores para a felicidade, mas há que haver um equilíbrio nos desejos e conceitos dos quereres e daquilo que nos obrigamos ou somos obrigados a desistir.

Todas as pessoas querem a vida, “sempre desejada, por mais que esteja errada”, mas há que se respeitar e valorizar tanto os que lutam por uma vida melhor, quanto os que desistem de alguns aspectos dela para, quem sabe, conferir-lhe mais sentidos.

Alice Rossini

8 comentários:

AMANDA disse...

Viver bem é obrigação, viver mal é uma opção feita por muitas pessoas.A grande maioria se contenta com pouco, nos relacionamentos com parceiros, filhos, amigos, vizinhos, prestadores de serviços, etc. Sempre nos acomodammos a não reclamar, achando que a obrigação de dar é apenas nossa. Somos educados para não exigir, não pedir. Com esta epécie de "eutanásia", milhares de pessoas desistem de viver, tanto às grandes quanto às pequenas coisas.

Aparecida Matos disse...

Esta analogia entre a Eutanásia médica, um verdadeiro tabu e a Eutanásia que refere-se às desistências de ser mais feliz, mais alegre, ter mais prazer foi excelente. As pessoas precisam ser felizes sem culpas, sem ter que pedir perdão ao mundo. Cada um tem sua história e faz suas escolhas. Que assumam o que a vida lhes reserva ou o que fizeram por merecer...
Otimo texto, vou enviá-lo para algumas pessoas, adorei!

Penha disse...

Viver é um direito e a obrigação é tentar viver da melhor forma possivel. Feliz, em paz, procurando fazer o bem e não fazer concessões à princípios.
Uma excelente analogia e uma mensagem muito positiva para ser refletida. Voce, como sempre, indo direto ao ponto. Parabens e espero que em 2011 o VESRO REVERSO continue nos instigando.

RICARDO disse...

MAIS UMA VEZ ADOREI SEU TEXTO. O COMENTARIO SERA CURTO PORQUE ESTOU VIAJANDO

Anônimo disse...

Dizem que a vida é um privilégio. Quando estamos felizes, concordamos, quando a tristeza nos atinge achamos que viver é um fardo. De uma forma ou de outra, vivemos. O que nos resta é a obrigação de torná-la, já que sobre ela não temos o menor controle, em algo que valha a pena, que faça a diferença para os que nos cercam. Assim, tristes ou alegres quem sabe, ela adquira algum sentido

VIC disse...

Muito bom seu texto. Dá pra pensar muito. Quantas vezes abimos mão de pequenas coisas que juntas somos nós desistindo de ser o que somos. Não deixa de ser uma forma de Eutanásia, já que não temos como mudar as coisas, "jogamos a toalha"
Temos que ficar mais atentos a nós mesmos, se estamos dizendo sim ao que queremos e não ao que nos incomoda.

IZABEL disse...

Querida Alice,

Que texto... Você conseguiu “adentrar” conteúdos nunca visitados por alguns de seus leitores...

Poxa!!! É muito complicado termos a exata dimensão do que nos é de direito – ou obrigação. Que qualidade de vida queremos? O que é viver?

Estarei refletindo...

Beijos

Anônimo disse...

Foda-se você Amanda, se você tem a seu Triplex em Copacabana, eu moro numa Caixa, aqui num beco, encontrei um Iphone 6s PLUS no busão ta ligada?!! Sua Troxa, se esperta ai, sei fazer bomba de cal. To roubando wifi e comendo amendoim na lage do banco do brasil