Quem nunca pediu a Deus um dia, ou até menos, para ficar morto? Calma! Guardem as forcas e o veneno de barata! Não falo de suicídio, mas de tirar um dia para vegetar por 24 horas. Deitar numa cama e ficar olhando para o teto... Só reparando cada mínima imperfeição do piso, os pequenos detalhes do travesseiro e todas aquelas coisas inúteis que, por motivos óbvios, não prestamos atenção no dia a dia.
É quando a nossa cabeça está prestes a explodir que imploramos aos céus que façam desse dia abençoado um presente de aniversário. Um bocado de gente desconhecida gritando no seu ouvido e cobrando uma pilha de documentos, dezenas de outras marcando horário retoricamente e outras centenas, que nem o nome você sabe, lhe ordenando fazer coisas que você não faz idéia de como foram parar em sua vida... Tem mesmo que ter uma hora de dizer “CHEGA!”. Uma válvula de escape ligeiramente grosseira, mas conveniente
E é ai que, após ter se levantado ao som do despertador, que você volta ao quarto e contempla a sua cama. Aquele travesseiro macio feito uma nuvem, aquele colchão tentador, o ar condicionado ainda ligado... Quase como uma droga, lhe puxando para mais cinco minutinhos que logo se transformarão em sessenta. E mesmo com mil e uma amarras lhe puxando para aquele santuário de panos, algodão e molas, é preciso dar aquele basta. Dizer não e se virar de costas desejando poder ter dito sim.
É por estas e outras que invejamos os cadáveres. Tudo bem que não tem o que fazer, mas às vezes ter o que fazer é justamente o problema! É claro que um caixão pode não ser uma cama, mas se tem quem durma em pé em um ônibus lotado, há quem se ache uma Bela Adormecida em um cantinho debaixo da terra.
RAFAEL NEVES, estudante
o cotidiano e suas contradições, descrito e compartilhado - Blog inaugurado em 18 de fevereiro de 2 009 - ANO VIII
sexta-feira, 15 de abril de 2011
quarta-feira, 6 de abril de 2011
O SAGRADO DIREITO DE ESCOLHA
Viajar é uma das atividades mais educativas que existe. Aliás, devíamos ter o hábito de levar conosco nossos filhos para além das cidades onde moramos, pois, assim como acontece com os adultos, guardadas as devidas proporções, o mundo também se alarga para as crianças e a chance de contato com o diverso, o diferente e o inusitado forma cabeças arejadas, livres de preconceitos e receptivas a tudo que é novo.
Acabo de chegar de uma viagem de onze dias de navio. Me acompanharam pessoas de 56 nacionalidades. Uma pequena amostra do planeta, já que todos os continentes estavam ali representados.
Além de usufruir das “mordomias” que transatlânticos colocam à disposição dos passageiros para que não se entediem, olhei e vi muito. Contemplei as pessoas, suas formas de expressar-se que vão além das variedades de vestirem-se, hábitos alimentares até as maneiras que usam para preencher seu cotidiano. Mais uma vez me conscientizei que as diferenças humanas são reais e nada nos resta senão aceitá-las e entendê-las, enquanto não firam nossas singularidades.
Uma forte evidência, também notada em Roma e em Veneza, é que as pessoas não mais se preocupam em formar casais do mesmo sexo. Não vou entrar no mérito da questão por princípio. Esta é uma questão individual. Mas, está havendo alguma mudança nos conceitos de liberdade do ser humano que está lhes permitindo relacionar-se com quem quiserem e da forma que lhes dê mais prazer e felicidade.
Ao retornar ao Brasil tomo conhecimento da declaração de um parlamentar, um representante do povo no Congresso Nacional que se deu ao desplante, à falta de pudor e de respeito de mostrar, para uma nação, com dimensões continentais, o quanto seu mundo é estreito. Esta pessoa vota projetos de interesse nacional, tem um salário que vale por dezenas de trabalhadores e, se tem assento na casa do povo, deve ser alfabetizado, portanto, não lhe é dado o direito de desconhecer as leis do pais, onde é pago para legislar. Em que pese minha crença no direito do deputado falar o que bem entender, afinal vivemos numa democracia, é com base neste princípio que sinto-me livre para criticá-lo.
Mas, são atitudes como estas que propiciam manifestações coletivas que ferem direitos individuais, garantidos pela Constituição do país. Num jogo de volei, sempre que determinado jogador pegava na bola, parte da tocida do Cruzeiro, numa atitude cruel e desumana, gritava ensandecida o termo "bicha", por ser o atleta homosexual. Neste caso, em particular, quem fere a democracia é uma maioria estúpida e preconceituosa.
Enquanto, em Roma, presenciamos manifestações de um povo participativo nas praças e, mais que isto, a respeitosa indiferença pelo que poderia, num país de incultos, causar estranheza pelos casais e pessoas que fujam aos padrões estabelecidos.
Foi emocionante ver aqueles monumentos seculares, a exemplo do Coliseu, meca da intolerância e da violência, testemunhar silenciosa e majestosamente pessoas se agruparem do jeito que quiserem, se amarem e se respeitarem transcendendo conceitos superados de raça e sexo.
Seria recomendável que o “nobre” deputado reservasse uma parte da sua vultuosa “mesada” e mandasse seus filhos viajarem pelo mundo, já que para ele só resta viver sob a sombra do atraso.
ALICE ROSSINI
Acabo de chegar de uma viagem de onze dias de navio. Me acompanharam pessoas de 56 nacionalidades. Uma pequena amostra do planeta, já que todos os continentes estavam ali representados.
Além de usufruir das “mordomias” que transatlânticos colocam à disposição dos passageiros para que não se entediem, olhei e vi muito. Contemplei as pessoas, suas formas de expressar-se que vão além das variedades de vestirem-se, hábitos alimentares até as maneiras que usam para preencher seu cotidiano. Mais uma vez me conscientizei que as diferenças humanas são reais e nada nos resta senão aceitá-las e entendê-las, enquanto não firam nossas singularidades.
Uma forte evidência, também notada em Roma e em Veneza, é que as pessoas não mais se preocupam em formar casais do mesmo sexo. Não vou entrar no mérito da questão por princípio. Esta é uma questão individual. Mas, está havendo alguma mudança nos conceitos de liberdade do ser humano que está lhes permitindo relacionar-se com quem quiserem e da forma que lhes dê mais prazer e felicidade.
Ao retornar ao Brasil tomo conhecimento da declaração de um parlamentar, um representante do povo no Congresso Nacional que se deu ao desplante, à falta de pudor e de respeito de mostrar, para uma nação, com dimensões continentais, o quanto seu mundo é estreito. Esta pessoa vota projetos de interesse nacional, tem um salário que vale por dezenas de trabalhadores e, se tem assento na casa do povo, deve ser alfabetizado, portanto, não lhe é dado o direito de desconhecer as leis do pais, onde é pago para legislar. Em que pese minha crença no direito do deputado falar o que bem entender, afinal vivemos numa democracia, é com base neste princípio que sinto-me livre para criticá-lo.
Mas, são atitudes como estas que propiciam manifestações coletivas que ferem direitos individuais, garantidos pela Constituição do país. Num jogo de volei, sempre que determinado jogador pegava na bola, parte da tocida do Cruzeiro, numa atitude cruel e desumana, gritava ensandecida o termo "bicha", por ser o atleta homosexual. Neste caso, em particular, quem fere a democracia é uma maioria estúpida e preconceituosa.
Enquanto, em Roma, presenciamos manifestações de um povo participativo nas praças e, mais que isto, a respeitosa indiferença pelo que poderia, num país de incultos, causar estranheza pelos casais e pessoas que fujam aos padrões estabelecidos.
Foi emocionante ver aqueles monumentos seculares, a exemplo do Coliseu, meca da intolerância e da violência, testemunhar silenciosa e majestosamente pessoas se agruparem do jeito que quiserem, se amarem e se respeitarem transcendendo conceitos superados de raça e sexo.
Seria recomendável que o “nobre” deputado reservasse uma parte da sua vultuosa “mesada” e mandasse seus filhos viajarem pelo mundo, já que para ele só resta viver sob a sombra do atraso.
ALICE ROSSINI
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