quarta-feira, 6 de abril de 2011

O SAGRADO DIREITO DE ESCOLHA

Viajar é uma das atividades mais educativas que existe. Aliás, devíamos ter o hábito de levar conosco nossos filhos para além das cidades onde moramos, pois, assim como acontece com os adultos, guardadas as devidas proporções, o mundo também se alarga para as crianças e a chance de contato com o diverso, o diferente e o inusitado forma cabeças arejadas, livres de preconceitos e receptivas a tudo que é novo.

Acabo de chegar de uma viagem de onze dias de navio. Me acompanharam pessoas de 56 nacionalidades. Uma pequena amostra do planeta, já que todos os continentes estavam ali representados.

Além de usufruir das “mordomias” que transatlânticos colocam à disposição dos passageiros para que não se entediem, olhei e vi muito. Contemplei as pessoas, suas formas de expressar-se que vão além das variedades de vestirem-se, hábitos alimentares até as maneiras que usam para preencher seu cotidiano. Mais uma vez me conscientizei que as diferenças humanas são reais e nada nos resta senão aceitá-las e entendê-las, enquanto não firam nossas singularidades.

Uma forte evidência, também notada em Roma e em Veneza, é que as pessoas não mais se preocupam em formar casais do mesmo sexo. Não vou entrar no mérito da questão por princípio. Esta é uma questão individual. Mas, está havendo alguma mudança nos conceitos de liberdade do ser humano que está lhes permitindo relacionar-se com quem quiserem e da forma que lhes dê mais prazer e felicidade.

Ao retornar ao Brasil tomo conhecimento da declaração de um parlamentar, um representante do povo no Congresso Nacional que se deu ao desplante, à falta de pudor e de respeito de mostrar, para uma nação, com dimensões continentais, o quanto seu mundo é estreito. Esta pessoa vota projetos de interesse nacional, tem um salário que vale por dezenas de trabalhadores e, se tem assento na casa do povo, deve ser alfabetizado, portanto, não lhe é dado o direito de desconhecer as leis do pais, onde é pago para legislar. Em que pese minha crença no direito do deputado falar o que bem entender, afinal vivemos numa democracia, é com base neste princípio que sinto-me livre para criticá-lo.

Mas, são atitudes como estas que propiciam manifestações coletivas que ferem direitos individuais, garantidos pela Constituição do país. Num jogo de volei, sempre que determinado jogador pegava na bola, parte da tocida do Cruzeiro, numa atitude cruel e desumana, gritava ensandecida o termo "bicha", por ser o atleta homosexual. Neste caso, em particular, quem fere a democracia é uma maioria estúpida e preconceituosa.

Enquanto, em Roma, presenciamos manifestações de um povo participativo nas praças e, mais que isto, a respeitosa indiferença pelo que poderia, num país de incultos, causar estranheza pelos casais e pessoas que fujam aos padrões estabelecidos.

Foi emocionante ver aqueles monumentos seculares, a exemplo do Coliseu, meca da intolerância e da violência, testemunhar silenciosa e majestosamente pessoas se agruparem do jeito que quiserem, se amarem e se respeitarem transcendendo conceitos superados de raça e sexo.

Seria recomendável que o “nobre” deputado reservasse uma parte da sua vultuosa “mesada” e mandasse seus filhos viajarem pelo mundo, já que para ele só resta viver sob a sombra do atraso.


ALICE ROSSINI

11 comentários:

PENHA CASTRO disse...

Até que enfim! Estava ansiosa pelos seus textos. Este está impecável, tanto na forma quanto no conteudo. É inadmissível que até nossa opção sexual seja assunto público. Qualquer tipo de preconceito deve ser rechaçado, ainda que estejamos numa democracia. A lei é clara, todos somos iguais, pelo menos, perante a LEI.
PARABÉNS!

laís disse...

Brilhou, Alice...Seu diário de bordo, com observações tão inteligentes e subliminares (quero ver quem percebe que está sendo objeto de análise de Dra. Rossini...), vão muito além do olhar e ver terras estrangeiras...
Afinal, não é de hoje que as questões sexuais são muito mais influenciadas pela sociedade do que pela fisiologia. Cada vez mais, as afinidades norteiam as relações humanas...E quanto maior o nível de liberdade e aceitação social, menos as relações humanas se baseiam em instituições. O que diferencia as sociedades é como a a convivência das diversidades se dá de fato, no dia a dia. E uma boa maneira maneira de perceber isso é viajar. Isso vale até quando você volta pra casa..Por falar nisso, Marcelo Tas deu um show no CQC que foi ao ar na última segunda-feira, 04, quando abordou a forma covarde como o tal deputado falou do assunto. Vale conferir.

Aparecida Matos disse...

Concordo com toda a sua linha de raciocinio. O mundo esta caminhando para derrubar barreiras, preconceitos e imposições. Até governos que cerceiam as liberdades estão caindo. Aproveitemos para dar uma arejada nas nossas cabeças. Existem verdadeiros preocupações, como a fome, a desigualdade, a ignorancia para um parlamentar se preocupar, do que dar declarações homofóbicas e racistas em público.
O que aconteceu com o atleta do volei foi revoltante.São posturas como estas, quando toleradas, que diferenciam as nações que fazem parte do primeiro e do terceiro mundos.Não o desenvolvimento econômico.
Adorei sua crônica

MARIANA disse...

É isto mesmo. Em vez de cuidar dos interesses do país, o deputado solta o verbo contra homosexuais, contra negros, enfim uma avalanche de impropérios sem sentido e, como voce diz no seu texto, na contra mão da história.
Denunciar coisas como estas é uma forma de contribuir para que se desvie a atenção de assuntos meramente pessoais e pensemos no coletivos que, aqui pra nós, está uma M.
Viva as diferenças!!

RICARDO FARIAS disse...

OS PRECONCEITOS SÃO VERDADEIROS E ÚNICOS IMPECILHOS PARA QUE VIVAMOS EM PAZ E SEJAMOS MENOS INFELIZES.O TIPO DO SOFRIMENTO QUE PODEMOS EVITAR. MAS O HOMEM, "DOTADO" DE INTELIGÊNCIA FAZ TUDO QUE PODE PARA TORNAR A VIDA AINDA MAIS DIFICIL.
IMPORTANTE E BASTANTE UTIL SUA ABORDAGEM E INTELIGENTE SUA ANÁLISE.
PARABÉNS.

Anônimo disse...

Muito boa sua crônica mas, confesso que tenho preconceito com gays. Nao acho natural e tenho certeza que eles se auto rejeitam e, por isto, são infelizes. Sei que há os que se aceitam mas, depois de muita análise ou como golpe de marketing, no caso de artistas.

AMANDA disse...

Qualquer tipo de preconceito não cabe no mundo de hoje. Infelizmente todos temos alguns. Mas, textos como o seu, ajudam a abrir a cebeça de quem lê. Muito pertinente o tema que voce abordou. Quanto a vaia ao jogador de volei, fiquei revoltada e envergonhada

Anônimo disse...

Não concordo com o homosexualismo. Acho uma distorção da personalidade que faz sofrer tanto a vítima quanto os que os rodeiam. Além do péssimo exemplo para crianças.

Estas pessoas vivem marginalizas, são promíscuas e mal educadas.

Acho até, que a ciência não tem nenhum mecanismo para curá-las.

Desculpe mas, esta é a opinião d agrande maioria das pessoas.

IZABEL disse...

Alice,

Excelente texto. Espero que ele sirva para a reflexão de algumas pessoas que ainda são preconceituosas.

Quanto ao comentário do “anônimo” – gostaria de dizer-lhe que opção sexual não é doença, daí não existir “cura”. Sobre serem “marginalizados, promíscuos e mal educados, são adjetivos de pessoas, independente também da opção sexual”.

Encerro como Mariana com a frase de Mariana – VIVA A DIFERENÇA!!!

Izabel

ZEUS disse...

É isso aí, o mundo ta mudando numa velocidade quem quem não acompanhar vai ficar falando "BESTEIRA" como estes dois aí em cima que nem tiveram coragem de se identificar.

Promiscuidade, falta de educação,infelicidade e outras mazelas, existem em todos os lugares e podem atingir qualquer grupo.

Esta sua cônica é de utilidade pública pois é educativa. Ajuda a arejar cabeças

ROSEANE disse...

Nem vou comentar o que os dois anônmos comentaram. So queria avisá-los que ninguém está obrigado a ser bi ou homosexual! Pelo contrario, se ele respeitar os homosexuais ele tem mais direitos de permanecer hetero.
As pessoas esquecem que preconceitos geram precendentes perigosos. Um dia um deles pode se voltar contra nossos interesses.
Mais uma vez parabéns pelo texto e pelo olhar corajoso e arejado para o mundo.