quinta-feira, 1 de março de 2012

VIDA QUE SEGUE


Se meu filho vai ser pai, logo, serei avó! Esta frase tão lógica quanto mágica que ora escrevo, provocou, em mim, um turbilhão de emoções que até agora não sei como descrevê-las. Demorei algum tempo para entender o encadeamento tão óbvio quanto sonhado e o processo ainda não terminou.

Sinto como se meu papel de mãe se completasse através da continuidade e dos diversos sentidos que esta criança já criou, tanto na minha vida, quanto na vida das nossas famílias e, principalmente, quanto à direção da sua relação com um mundo premente de mudanças e tão necessitado de tudo que fuja ao que, antiético, nos atinge e nos avilta.

Espero desta pessoa em formação uma relação positiva, saudável e transformadora com a humanidade que a cerca. Comecei a sonhar e a cultivar esperanças.

Quando imagino que um neto leva à completude do papel de mãe não quero colocar-me como centro deste contexto tão mágico quanto natural. Quero, sim, enaltecer a sucessão de eventos que ocorrem na vida de qualquer ser humano que decide gerar, gestar e formar uma pessoa. Estes eventos que perpetuam a vida neste pequeno planeta perdido no universo levam-me à reflexão da quão complexa e tão necessária é a aceitação incondicional, em qualquer relacionamento.

Assim sendo, não posso deixar de recordar-me que esperei o pai desta criança embalada por este conceito. Foi amado logo que desejado e durante sua gestação, quando a Ciência ainda nada antecipava quanto ao seu rosto, suas dimensões, o formato das suas mãozinhas, a cor dos seus olhos, a profundidade e vivacidade do seu olhar ou a evolução do seu peso. Estas e outras interrogações formavam um enorme e maravilhoso mistério quando a vida nos impunha a espera, como todas, impacientes.

Quem decide forjar uma pessoa assume um compromisso com o imprevisto, com a aceitação acima de qualquer conceito de estética ou normalidade que obedeçam, apenas, aos estreitos, mutáveis, relativos e individuais parâmetros definidos pelo homem. Comprometidos com uma aceitação ética com o que a vida colocará em nossos braços e nos responsabilizará, objetiva e emocionalmente, indiferentes às polaridades entre bom ou ruim, preto ou branco, certo ou errado. Começa a temporada de "amor acima de tudo”, mas também, “amor apaixonado e racional”, “amor louco e lúcido”, amor capaz de abstrair o mundo e colocar a pessoa no centro de nossas vidas, decisões, vontades,, necessidades que se tornam relativas e renúncias, indolores. É chegada a hora de repensar o que é essencial.

O pedaço de mim que ora se desdobra, nasceu num domingo ensolarado e tingido de anil, rompendo o silêncio invisível e cerimonioso, carregado das promessas que precedem a eclosão da vida. Um choro forte que demonstrava uma enorme ansiedade pelo existir. Confesso que, naqueles momentos infinitos, minha ingenuidade juvenil traçou, com arrogante ignorância, a trajetória daquela criaturinha que somente naquele instante, descobria-se das formas que habitavam meu imaginário.

Hoje sei quanto importantes e necessários os momentos positivos, como são as negociações com os imprevistos para que os sonhos tenham a força de burilar, de esculpir e construir um Ser Humano capaz de ser fonte que sacie as necessidades do mundo que acolhe mas impõe condições, de ser o equilíbrio se qualquer instabilidade o exigir, de sonhar e ter fé onde houver ausência de esperança.

Aos poucos, a gravidez de Aninha vai se tornando mais uma incontestável manifestação da vida. Consciente da dimensão do compromisso assumido, lamento pelos que não aproveitam a mais contundente, libertária e generosa oportunidade de crescimento e transformação que a vida pode oferecer à qualquer animal, de qualquer espécie. Porque nos “obriga” a ser humildes, tolerantes, pacientes, tranquilos, perspicazes, firmes, carinhosos, saber sair, sem amargura, das inevitáveis armadilhas das expectativas, saber que a vida é carregada de surpresas, boas e ruins, entre milhares de outras lições que eles - filho e nora - de agora em diante, terão um “parceirinho” que, usando a pedagogia, o amor, a inocência e a compreensão, aprenderão juntos. Sim, porque se cada pai é um pai, desculpem o clichê, mas gente não vem com Manual de Instrução. Não somos iguais, nem física nem emocionalmente, um só dia das nossas vidas.

Há que haver muita intuição, muita capacidade de improvisar e relativizar as verdades para o ato da criação. A “over dose” do ingrediente emoção nos obriga a criar filhos fugindo dos manuais de Psicologia e, inseridos numa sociedade que clama por vida mas a desrespeita, é formada sobre conceitos, embora alimente preconceitos, assim como engessa e apequena o que venha a ser felicidade de cada um.

Menina ou menino, a irrelevância destas preferências sucumbe diante da necessidade de desejar uma personalidade permeável às mudanças benéficas que a humanidade, inexoravelmente caminhará, mas tão flexível e crítica quanto aos sentidos das mudanças que temos que conviver a cada segundo das nossas existências.

Sei o quanto é difícil e doloroso. Mas é o preço que o pagamos para, além de existir, sermos reconhecidos pelos que amamos e, ratificados por nós mesmos.

ALICE ROSSINI

12 comentários:

gloria disse...

ALICE .FIQUEI MUITO FELIZ EM SABER QUE VOCE VAI SER AVÓ. DESEJO PARA ELE OU ELA
QUE SEJA UMA CRIANÇA MUITO AMADA E A VOCE COMO VOVÓ QUE POSSA PARTI-
CIPAR INTEGRALMENTE DA VIDA DELA. VOCE SABE.: AVÓ E BABÁ DE DE LUXO.
SERVE PARA AJUDAR MAS NUNCA PARA PARTICIPAR.
ENVIO TAMBEM UM ABRAÇO PARA MARCO .
BEIJOS.

lucia disse...

Minha filha,

Não esperava de você outra reação, com a notícia da chegada do seu neto (a), a não ser esta expressa em seu 'blog'. Aliás, com a intensidade que a alegria de uma 'chegada' provoca em nossas vidas. Compreendo porque também estou vivendo este sentimento divino de mais um 'ser' em nossa família, esperado com AMOR, MUITO AMOR.
Bem-vindo meu bisnetinho (a)!!!
Beijos de mãe

alberico disse...

Ben-vindo os que de mim se desdobram, me fazem crescer no Universo, e vão me etrernizando na misteriosidade do tempo, na purificação da Humanidade,
e de DEUS, vou recebendo as benesses celestiais, como membro e elo contínuo de uma caminhada, em busca da perfeição e recompensa de todo um processo evolutivo.
Beijos, com amor, do paínho.

Izabel disse...

“Se meu sobrinho querido vai ser pai, logo, serei tia avó!” Qual o significado deste papel para mim? “É uma avô mais “melosa” – cheia de açúcar!! É aquela que curte todos os momentos do seu sobrinho neto! Que felicidade saber que terei mais um papel a cumprir – papel este que além de prazeroso e significativo será uma renovação! Que alegria ter uma nova “vida” para ser cuidada e mais que isto vivenciada em todas as dimensões!
Meu querido “sobrinho neto” chegue e terás todo o nosso carinho e acima de tudo – AMOR!!

Bem vindo – sua tia avó,
Bel

Aparecida Matos disse...

Este texto voce pode ler de qualquer jeito. De todas as formas em em todas as direções cheira a amor e a felicidade. PARABÉNS! Pela intensidade como escreve e a sensibilidade demonstrada em todos os seus texto, imagino sua emoção. Por isto mesmo me abstenho de escrever mais. Voce esgotou a cota de carinho e felicidade

AMANDA disse...

Vai ser a vovó mais curuja do mundo! Do mesmo jeito que "lambe as crias", a cria da cria, então...nem posso imaginar o significado que esta criança terá na sua vida.
Voce a merece por ser terna e apaixonada

beth rossini disse...

Querida Alice:
Que alegria eu senti agora ao ler o seu blog!
Imagino a emoção que lhe invade a alma posto que também já a senti.
Já posso imaginar um serzinho peralta e alegre , com os olhos espertos e luminosos da avó!!!!!Deus lhes dê todas as bênçãos, á vc, Aninha ao papai e aos vovôs!!!!!
Parabéns á todos!!!Curtam bastante, mas guardem a baba para quando nascer, OK?
Beijos

PENHA CASTRO disse...

Alice, seu texto me comoveu por varios motivos. O primeiro foi por ter revivido o amor de minha avó, que deve ter experimentado os mesmos sentimentos mas não soube se exprimir com tanta beleza. Segundo porque sou avó e sei que mais emoções lhe aguardam, sensível como vem demonstrando ser. Terceiro por sua felicidade paupável, pura, quase infantil.
PARABÉNS! Este é só o começo!(risos)

RICARDO disse...

VOCE QUE GOSTA TANTO DE ESCREVER SOBRE EMOÇÕES, SENTIMENTOS, É TÃO SENSÍVEL E ESCREVE DE FORMA TÃO BONITA SOBRE TUDO, MERECE ESTA FELICIDADE QUE, DIZEM SER UMA DAS MELHORES QUE PODEMOS TER
PARABÉNS!

Rose disse...

Parabéns! Que coisa boa! Estou longe de ser avó mas, fico feliz pela felicidade que meus filhos fazem meus pais e meus sogros experimentarem!
Que venha um netinho ou netinha saudável. Parabéns para as familias que se manifestaram de forma tão bonita. Pelo visto, ele ou ela terá bisavós!

Sonia disse...

Que linda declaração de amor à vida que chega, ao tempo que passa e à tudo que voce construiu e contempla com gratidão.

Voce será uma avó amorosa, não tenho dúvida. Que esta criança lhe dê muitas alegrias e lhe traga a sensação de realização que todos procuramos

Parabéns,VOVÓ!

Anônimo disse...

Um texto que fala do nascimeno de uma criança mas, consegue diagnosticar os problemas do mundo de forma precisa e poética.Refere-se às falhas da formação das crianças, hoje terceirizada, isentando os pais, verdadeiros responsáveis, do quanto nocivo o futuro adulto pode ser à sociedade em que vive