Cada vez mais os fatos nos levam a
acreditar o quanto são necessários a proliferação e o fortalecimento de todas
as mídias, também deste Blog cuja
relevância consiste em revelar questões existenciais e juízos
pessoais em relação aos acontecimentos que o mundo produz.
A liberdade de expressar-se é condição
necessária para que todo homem se sinta plenamente livre. Portanto, é
fundamental que jamais se esgote a necessidade de clamar por ela em todas as
suas formas e jamais transigir quando alguma força quiser cerceá-la.
Em esferas mais pessoais, sempre existirá o compromisso com quem o
inspirou, ainda que fisicamente ausente,
mas onipresente na vida e nas lembranças de todos que a amam. A marca que Kilma
deixou é indelével, e cada qual sente ao seu modo.
Quem tem alguma sensibilidade e é
suscetível às grandes mudanças não está
confortável habitar este planeta. A intolerância recrudesce em todos os
lugares, nas formas mais insólitas e improváveis. O valor da vida está
banalizado e até as religiões servem de pretexto para separar os homens.
Em qualquer parte do planeta, há alguém morrendo de fome, adoecendo por falta de
água potável, por falta de um abrigo contra o frio ou de um remédio que diminua
sua dor. Em todos os cantos do mundo, há alguém
sofrendo pela indiferença, pela ingratidão, pelo desamor.
Em qualquer parte deste mesmo planeta,
alguém desperdiça comida e água, possui muitos abrigos contra o frio, tem
acesso a uma medicina avançada e ainda não conheceu a indiferença, a ingratidão
ou o desamor. Portanto, não faltam nem faltarão dores e diferenças que agridam
e distanciem o homem de outro homem. Continuamos iguais quanto às desigualdades.
Neste contexto sombrio, mas sempre
permeado de esperança, se faz necessário o registro de uma pessoa como Kilma,
que adorava ouvir “que a vida poderia ser bem melhor”. E acreditava nisto,
embora, se estivesse entre nós, sua indignação seria maior que a nossa,
assim como a busca dos meios de provar que suas esperanças poderiam ser
concretizadas.
Médica,
embreava-se pelo interior da Bahia e, acompanhada por companheiros da área de
Saúde, levava remédios, além de sua presença
carinhosa e competente, tentando diminuir a dor, o desamparo, a falta de
cuidados básicos a que todo ser humano tem direito. A sua generosidade era tão
grande quanto ainda é incomensurável nossa admiração que seu precoce
desaparecimento recrudesce.
Mas Kilma sorria e sorria sempre! O branco do seu sorriso em
contraste com o eterno carmim do seu batom ofuscava qualquer nuvem de
pessimismo que assaltasse seus circunstantes, pois dela só se ouviam palavras
de otimismo, carinho e fé. Sua forma cristalina de olhar a vida tinha o poder
de fracioná-la em uma linda nuance de cores, como o profundo azul do mar,
onde o sol todos os dias ilumina sua
última morada nesta existência.
O VERSO&REVERSO completa seis
anos. Tão sem importância é a contagem do tempo da sua existência
como igualmente irrelevante medir o tempo em que Kilma se foi. Para alguns
poucos pode parecer muito, mas para muitos este tempo não existe, pois ausência
é um conceito indivisível quando transformado em saudade.
Vale ainda um registro de gratidão aos leitores e
aos colaboradores deste Blog e,
principalmente, à diversidade da vida, que empresta significados às dores do
mundo e justifica alguns dos textos que o alimentam