segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

EDITORIAL

Cada vez mais os fatos nos levam a acreditar o quanto são necessários a proliferação e o fortalecimento de todas as mídias, também  deste Blog cuja relevância consiste em revelar questões existenciais e juízos pessoais em relação aos acontecimentos que o mundo produz.

A liberdade de expressar-se é condição necessária para que todo homem se sinta plenamente livre. Portanto, é fundamental que jamais se esgote a necessidade de clamar por ela em todas as suas formas e jamais transigir quando alguma força quiser cerceá-la.

Em esferas mais pessoais, sempre existirá o compromisso com quem o inspirou, ainda que  fisicamente ausente, mas onipresente na vida e nas lembranças de todos que a amam. A marca que Kilma deixou é indelével,  e cada qual sente ao seu modo.

Quem tem alguma sensibilidade e é suscetível às grandes mudanças  não está confortável habitar este planeta. A intolerância recrudesce em todos os lugares, nas formas mais insólitas e improváveis. O valor da vida está banalizado e até as religiões servem de pretexto para separar os homens.

Em qualquer parte do planeta, há alguém morrendo de fome, adoecendo por falta de água potável, por falta de um abrigo contra o frio ou de um remédio que diminua sua dor. Em todos os cantos do mundo, há alguém sofrendo pela indiferença, pela ingratidão, pelo desamor.
Em qualquer parte deste mesmo planeta, alguém desperdiça comida e água, possui muitos abrigos contra o frio, tem acesso a uma medicina avançada e ainda não conheceu a indiferença, a ingratidão ou o desamor. Portanto, não faltam nem faltarão dores e diferenças que agridam e distanciem o homem de outro homem. Continuamos iguais quanto às desigualdades.

Neste contexto sombrio, mas sempre permeado de esperança, se faz necessário o registro de uma pessoa como Kilma, que adorava ouvir “que a vida poderia ser bem melhor”. E acreditava nisto, embora, se estivesse entre nós, sua indignação seria maior que a nossa, assim como a busca dos meios de provar que suas esperanças poderiam ser concretizadas. 

Médica, embreava-se pelo interior da Bahia e, acompanhada por companheiros da área de Saúde, levava remédios, além de sua presença carinhosa e competente, tentando diminuir a dor, o desamparo, a falta de cuidados básicos a que todo ser humano tem direito. A sua generosidade era tão grande quanto ainda é incomensurável nossa admiração que seu precoce desaparecimento recrudesce.

Mas Kilma sorria  e sorria sempre! O branco do seu sorriso em contraste com o eterno carmim do seu batom ofuscava qualquer nuvem de pessimismo que assaltasse seus circunstantes, pois dela só se ouviam palavras de otimismo, carinho e fé. Sua forma cristalina de olhar a vida tinha o poder de fracioná-la em uma linda nuance de cores, como o profundo azul do mar, onde o sol todos os dias  ilumina sua última morada nesta existência.

O VERSO&REVERSO completa seis anos. Tão sem importância é a contagem do tempo da sua existência como igualmente irrelevante medir o tempo em que Kilma se foi. Para alguns poucos pode parecer muito, mas para muitos este tempo não existe, pois ausência é um conceito  indivisível  quando transformado em saudade.

Vale  ainda um registro de gratidão aos leitores e aos  colaboradores deste Blog e, principalmente, à diversidade da vida, que empresta significados às dores do mundo e justifica alguns dos textos que o alimentam

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