quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

QUERIDO TRAVESSEIRO,

Resolvi escrever-lhe depois de comprovar e reconhecer sua importância na minha vida. Não! Não estou falando de conforto físico e o senhor sabe muito bem disto! Levei toda minha vida dormindo em travesseiros de espuma, e só, muito recentemente, mudei para um mais sofisticado, recheado com penas de ganso. Aliás amigo, se um travesseiro não der conforto, não faz o minimo pela cabeça que acolhe. Acolhe? Há controvérsias!

Todos os dias da minha vida, na hora de deitar-me, falo do meu prazer em fazê-lo, mais motivada pela trégua do sono e pelo outro travesseiro ao lado que acolhe a cabeça do meu marido, do que pelo conforto que você me oferece. Por isso coloco em duvida sua capacidade de acolhimento.

Por favor, responda-me uma coisa: por que, quando nos aproximamos, voce teima em pintar minha vida de cores tão fortes? Sei que não sou mulher de "mais ou menos". Mas os tons poderiam ser mais claros! Vibrante como o amarelo mas aliviar, de vez em quando, com um rosa clarinho. Adoro verde, voce sabe disso, é a cor da esperança, quem não precisa dela?! Quando tudo parece azul, voce aparece e pincela tudo de cinza e me deixa desnorteada. Isso é sadismo ou vai me dizer "que a vida é assim mesmo?". Vermelho! Vermelho sim! Mas vinho, como um cálice de sangue? Até Cristo pediu ao Pai para afastá-lo de si!

Quando não adormeço logo, você, perversamente, começa a colocar demônios na minha cabeça, me incita a fazer questionamentos insolúveis, a não ver com orgulho minhas conquistas, a não olhar com condescedência minhas derrotas, a culpar-me pelos meu erros e omissões que sei, são muitos, graves e assumidos! E ainda, como se não bastasse, muitas vezes, aponta-me soluções que sabe, muito bem, não tenho coragem nem força para colocá-las em prática.

Quando, depois de muito esforço e química consigo adormeçer, voce enche meu sono de pesadelos, e se o sonho é bom, trata de acordar-me no meio da noite! Aí, tudo recomeça, com direito a fantasmas, medos a ponto de fazer-me ranger os dentes! Sabe que sou ansiosa, tenho bruxismo e isto é covardia!.

Ainda não decidi, qual a sua, comigo. Amanhece o dia e todas aquelas entidades, malévolas e bondosas imaginárias desaparecem, assim como a trégua do sono é suspensa. Você, sadicamente, empurra-me para a realidade e eu, masoquistamente, morro de saudades de voce! Mas, tenho força para continuar e esperar a noite e, de novo, reencontrá-lo. Ainda não sei se para me acolher ou para me infernizar...

ALICE ROSSINI

4 comentários:

Anônimo disse...

Hoje, afinal, consegui entrar no seu blog (ih, isso pode dar dupla interpretação), rsrsrsrs... Farei sempre. Está muito bonito, com aquele ramo de rosas vermelhas tão calientes...
Travesseiros, sonhos e pesadelos...
Sabe o que acho deles?
Acho que o cérebro, enquanto dormimos, faz como a memória dos computadores, quando ativamos o compactador de arquivos. Para ordenar o espaço na memória, transferem-se os assentamentos dispersos, agrupando-os. Uma sensaçãozinha que ficou gravada alí, uma impressãozinha que guardou-se acolá...Esse processo ocorre durante o sono, automaticamente.
Assim, acho que os sonhos e pesadelos são deformações e associações ocorridas nesses momentos de transferência espacial no cérebro.
Os sonhos e pesadelos são frutos dessas transições, acho eu.
É mais romântico, como os gregos, ir interpretar os sonhos no Oráculo de Delfos, como fazia Alexandre?
Sim, é.
Mas, como eu sou um organicista, acho que são gerados pelos impulsos dos neurônios em busca de ordem.
O sono não é um estado de doce letargia. É um momento de intensa e febril atividade da memória, tão intenso que precisamos ficar inconscientes para não atrapalhar e agüentar a barra...
Por isso, talvez, quando acordamos, nos sintamos renovados, embora, às vezes, um pouco assustados, com os apavorantes pesadelos que nos assaltaram, frutos das informações esparsas em deslocamento.
Ou, às vezes, com os doces sonhos que nos embalam...
Se a velocidade do tempo altera até o espaço, como intuiu Einstein, imagine o que a velocidade dessas transferências noturnas não faz com as nossas emoções gravadas no dia-a-dia...
Para a máquina cerebral, uma simples operação. Para a nossa consciência, que capta um pouco de tudo isso, fortes emoções.
Beijos,

Anônimo disse...

Oi Alice,
Adorei o seu texto “QUERIDO TRAVESSEIRO”...
Sem querer intelectualizar o meu comentário... Pois quando intelectualizamos, perdemos a espontaneidade...

O homem produz símbolos, inconsciente e espontaneamente, em forma de sonhos, como dizia Jung!
Do ponto de vista histórico, foi o estudo dos sonhos que permitiu, inicialmente, aos psicólogos,
a investigação do aspecto inconsciente de ocorrências psíquicas conscientes.
O que podemos chamar de função complementar ( ou compensatória ) dos sonhos na nossa constituição psíquica.

O seu texto me retornou à Grecia – Especificamente a Epidauro! Lá eram realizados “rituais” de
Cura... sabia? É... Nos Templos destinados a Asclépio, ralizavam rituais de cura. As pessoas iam a
Epidauro para se curarem, sabe como?
Quando os tratamentos médicos falhavam, as pessoas eram encaminhadas para estes santuários...
Os tratamentos eram constituídos de banhos, jejuns e poesias... Porções eram empregdas para relaxar
e adormecer os “doentes”. As curas deveriam acontecer durante o sono do paciente, que,
ao acordar, deveria relatar os seus sonhos... Prefeito!!!
Aí está a “chave”...

Continue com este “diálogo” com seu travesseiro... mesmo que às vezes ele “teime” em não
lhe dar respostas...
Círculo na fronte,
Bel

Anônimo disse...

O comenário não era para sair "Anônimo"... Odeio ANÔNIMO!!!
sou eu Lúcia Izabel...

Anônimo disse...

Alice,

Invejo seu talento!! Este texto está tudo de bom!
Quanta coisa compartilho com meu travesseiro tb e nem tinha me dado conta até ler seu texto traduzindo suas batalhas com ele!
Amei!
beijos!