Este texto foi escrito tal qual um escultor esculpe uma escultura ou uma rendeira manipula os bilros que transformam o emaranhado de linhas em renda. Quase dois meses me separavam do fato que o motiva e eu já o escrevia, palavra por palavra, linha por linha, cada vez que algum forte sentimento me invadia.
Existem emoções, cuja composição assemelha-se a uma colcha de retalhos. Feita de partículas de momentos, alguns úmidos de lágrimas, outros enfeitados de sorrisos, que não podem nem devem ser monopólio de sensações solitárias. Foram vividas para serem compartilhadas, gritadas e mostradas ao mundo com o cuidado de artesão e a humildade do artista que sabe o quanto aquela obra foi cuidadosamente trabalhada para ser concluída como “prima”.
Emoções, por mais subjetivas e abstratas que pareçam se adensam e fogem pelas modulações da nossa voz, pelo brilho do nosso olhar, pelas palpitações incontroláveis do nosso coração. Se as represamos, sufocam-nos e corremos o risco de perdê-las nos meandros de outros sentimentos gerados por circunstâncias várias. Se as guardamos nas duvidosas gavetas do futuro abdicamos da capacidade de sonhar e os sentimentos, com os quais costuramos aquela colcha, talvez percam a tessitura delicada com que a construímos durante toda nossa vida.
A tentativa, às vezes vã, de desvendar o futuro com chaves emprestadas pela fé na vida pode ser uma aventura, cujo desfecho é uma pergunta sem resposta. Viver intensamente, talvez seja assumir um compromisso com o risco, experimentar com antecedência momentos ansiados ou temidos. Ficar preso à dúvida, uma opção covarde. Sempre preferi a primeira, porque sonhar talvez seja minha maior necessidade, minha primeira vocação.
Tenho alguma idéia sobre o que estou tentando descrever. Já vivenciei o fato ao qual me refiro. Certamente, o degustei de diferentes formas, já que saboreava a vida com expectativas e paladares, para mim desconhecidos e com intensidades diversas. Tudo para mim parece inédito. Nunca experimento as emoções da mesma forma, porque a cada dia sou uma e o mundo sempre será irreconhecível pois, invariavelmente, surpreendente.
Lembro-me que sensações de completude me fizeram transcender a realidade e levitar afastando-me de tudo que era mundano. Como se tivesse vivido minha vida inteira para chegar àquele momento.
Embora as personagens apenas troquem de identidade e uma seqüência diferente de acontecimentos que, entre um fato e outro se misturaram, agora se reencontram em determinado momento. É transformar a vida com toda sua amplitude em um passo, num acontecimento. Refiro-me às emoções que me inundam quando entrego aos meus filhos seus Diplomas de Graduação.
Muito mais que a certeza e o conforto do dever cumprido o sentimento é de gratidão. À vida pela emoção que tão poucos experimentam e à Rodrigo e à Matheus pela honra de dividirem comigo o que seria o clímax das suas humanas trajetórias. Vestimo-nos a rigor para nps inserir no contexto onde tornaremos a viver a plenitude das nossas existências e eles, mais que isto, a realização das suas maiores conquistas, a legitimação da posse das ferramentas que os ajudarão a desbravarem seus futuros.
Na aparência do ritual que exige sedas, becas, faixas, sorrisos, abraços e muita emoção, tudo se resume ao momento que acontece em um cenário, de um sonho tão sonhado por isso, quase irreal.
Que me estenda Matheus, suas amadas mãos como um dia segurei as de Rodrigo, e mais uma vez será entregue um símbolo de pergaminho que lhes conferem a certeza que já podem continuar seus caminhos, fortalecidos pela liberdade das suas escolhas.
Das vitórias e das dificuldades, a humildade e a coragem para fazerem de cada dia um motivo de recomeço.
ALICE ROSSINI
o cotidiano e suas contradições, descrito e compartilhado - Blog inaugurado em 18 de fevereiro de 2 009 - ANO VIII
domingo, 27 de junho de 2010
sábado, 19 de junho de 2010
EDITORIAL
Acho que se Jose Saramago lesse este editorial,certamente ficaria muito zangado. Porque ao ouvir a noticia da sua morte ontem pela manhã, senti a sensação que a humanidade perdeu um dos homens mais importantes para, pelo menos, dois séculos.
Esta importância que lhe confiro ele “esnobaria”, pois era um homem simples, capaz de apaixonar-se, capaz de viver este amor e conviver com seu talento com a mesma naturalidade com que observava a beleza da paisagem mágica que o acompanhava através da janela da sua biblioteca.
Mais que a Literatura fica órfão um valioso arcabouço de princípios éticos, políticos e sociais que se mantiveram coerentes até o inicio da manhã do dia 18 de junho. Avesso a qualquer tipo de censura banhava de modernidade o que para alguns ainda são necessárias a violência e o arbítrio.
Perde o mundo mais que um escritor. Perde um homem livre, que mantinha a jovialidade de ser critico voraz das causas que acreditava justas, que compreendia as circunstâncias históricas, aceitando-as ou rejeitado-as com a mesma desenvoltura e coragem.
Uma das maiores e mais nocivas “intermitências da morte” é acordarmos e descobrirmos que alguém, tão importante para o crescimento da humanidade, “não estar mais aqui”, como diria ele.
Esta importância que lhe confiro ele “esnobaria”, pois era um homem simples, capaz de apaixonar-se, capaz de viver este amor e conviver com seu talento com a mesma naturalidade com que observava a beleza da paisagem mágica que o acompanhava através da janela da sua biblioteca.
Mais que a Literatura fica órfão um valioso arcabouço de princípios éticos, políticos e sociais que se mantiveram coerentes até o inicio da manhã do dia 18 de junho. Avesso a qualquer tipo de censura banhava de modernidade o que para alguns ainda são necessárias a violência e o arbítrio.
Perde o mundo mais que um escritor. Perde um homem livre, que mantinha a jovialidade de ser critico voraz das causas que acreditava justas, que compreendia as circunstâncias históricas, aceitando-as ou rejeitado-as com a mesma desenvoltura e coragem.
Uma das maiores e mais nocivas “intermitências da morte” é acordarmos e descobrirmos que alguém, tão importante para o crescimento da humanidade, “não estar mais aqui”, como diria ele.
sábado, 12 de junho de 2010
SAWABONA*
Temos o hábito de confundir os significados dos sentimentos. Nomeá-los com exatidão é uma tarefa complexa porque, além de seus conteúdos serem vários e inexatos provocam sensações diferenciadas para as pessoas.
Hierarquizá-los é outro costume que muitas vezes causa estragos nas relações e compromete nossa lucidez em relação à vida. Não importa se os relacionamentos a que me refiro acontecem entre pessoas, com nossos animais de estimação ou até em relação a lugares, situações e momentos que não queremos esquecer. Vivemos cheios de conceitos e preconceitos. Achamos que tudo que sentimos tem que ser explicado, rotulado, possua qualquer sinal ou demonstre algum sintoma que lhe identifique. Por mais subjetivo que seja.
Vamos por partes. Quando resolvemos adotar um animalzinho de estimação o fazemos motivados por inúmeras razões, necessidade de companhia, de “ter” alguém que nos seja fiel, que nos ame incondicionalmente, que sempre demonstre alegria pela nossa presença e sofra com a nossa ausência. Carências nossas de cada dia ou, simplesmente porque adoramos suas presenças.
Faço analogia com o amor de um cão por seu dono, porque não conheço sentimento mais despido de razões para existir, que tudo perdoa e nada cobra, tudo dá e nada pede.
Já entre nós, humanos, para achar que podemos amar uma pessoa, precisamos de uma serie de motivos que devem ser, obrigatoriamente, identificados e valorados. Mal sabendo o quanto estamos expostos a sentimentos de naturezas várias e, por mais que nos escudemos, quando o Cupido, atração sexual ou a simpatia nos contamina, não há antídoto que nos livre de nos emaranharmos nos nas suas teias.
Assim como agimos com os animais, agimos com as pessoas. Não raro amamos o amor que sentimos por elas, o quanto ele nos ratifica como seres humanos, o significado social de fazermos parte de um par, a muleta emocional com que esta pessoa nos ajuda a caminhar na vida, o medo de uma velhice solitária, a companhia para pequenos prazeres, como ir à praia, ao cinema, ao teatro ou ao casamento da nossa melhor amiga.
Quantas vezes, ao vermos alguém desacompanhado num restaurante, especulamos penalizados, que deve ser separado, viúvo, por isto infeliz ou até que tenha algum defeito o tenha confinado à solidão.
Esta cobrança de duplicarmo-nos ou sermos um sendo dois faz com que nos atiremos nas relações, de qualquer natureza, banalizando o “encontro”, tanto em relação aos nossos sentimentos quanto às expectativas que criamos para que os outros as administrem.
Toda esta “complexidade” deve-se ao fato de sermos providos de raciocínio. Ao raciocinar impregnamos de conteúdos estranhos aos nossos instintos sentimentos que nascem de forma natural e imprevisível.
O sentimento mais forte entre duas pessoas é a amizade. Quando acompanhada pela atração sexual segue um roteiro que começa com a paixão que pode transformar-se em amor. Se conseguir ser aprovado nos testes dos desencantos, das descobertas dos defeitos, do sorrriso de um sempre contagiar o sorriso do outro, da capacidade de sobreviver às calmarias e às tormentas da vida, este é o amor que tantos anseiam e poucos alcançam.
Ainda assim não é fácil viver com quem dizemos amar, porque muitas vezes dizemos amar alguém que não suportaríamos ter como nosso amigo. E como a amizade é o sentimento que resiste ao tempo, sem ela, nenhum amor, por mais apaixonada que tenha sido sua história será capaz de testemunhar cabelos brancos e rugas que contam histórias de “Branca de neve”, “João e Maria” e “Piratas da perna de pau".
ALICE ROSSINI
* sobre estar com o amor!
Hierarquizá-los é outro costume que muitas vezes causa estragos nas relações e compromete nossa lucidez em relação à vida. Não importa se os relacionamentos a que me refiro acontecem entre pessoas, com nossos animais de estimação ou até em relação a lugares, situações e momentos que não queremos esquecer. Vivemos cheios de conceitos e preconceitos. Achamos que tudo que sentimos tem que ser explicado, rotulado, possua qualquer sinal ou demonstre algum sintoma que lhe identifique. Por mais subjetivo que seja.
Vamos por partes. Quando resolvemos adotar um animalzinho de estimação o fazemos motivados por inúmeras razões, necessidade de companhia, de “ter” alguém que nos seja fiel, que nos ame incondicionalmente, que sempre demonstre alegria pela nossa presença e sofra com a nossa ausência. Carências nossas de cada dia ou, simplesmente porque adoramos suas presenças.
Faço analogia com o amor de um cão por seu dono, porque não conheço sentimento mais despido de razões para existir, que tudo perdoa e nada cobra, tudo dá e nada pede.
Já entre nós, humanos, para achar que podemos amar uma pessoa, precisamos de uma serie de motivos que devem ser, obrigatoriamente, identificados e valorados. Mal sabendo o quanto estamos expostos a sentimentos de naturezas várias e, por mais que nos escudemos, quando o Cupido, atração sexual ou a simpatia nos contamina, não há antídoto que nos livre de nos emaranharmos nos nas suas teias.
Assim como agimos com os animais, agimos com as pessoas. Não raro amamos o amor que sentimos por elas, o quanto ele nos ratifica como seres humanos, o significado social de fazermos parte de um par, a muleta emocional com que esta pessoa nos ajuda a caminhar na vida, o medo de uma velhice solitária, a companhia para pequenos prazeres, como ir à praia, ao cinema, ao teatro ou ao casamento da nossa melhor amiga.
Quantas vezes, ao vermos alguém desacompanhado num restaurante, especulamos penalizados, que deve ser separado, viúvo, por isto infeliz ou até que tenha algum defeito o tenha confinado à solidão.
Esta cobrança de duplicarmo-nos ou sermos um sendo dois faz com que nos atiremos nas relações, de qualquer natureza, banalizando o “encontro”, tanto em relação aos nossos sentimentos quanto às expectativas que criamos para que os outros as administrem.
Toda esta “complexidade” deve-se ao fato de sermos providos de raciocínio. Ao raciocinar impregnamos de conteúdos estranhos aos nossos instintos sentimentos que nascem de forma natural e imprevisível.
O sentimento mais forte entre duas pessoas é a amizade. Quando acompanhada pela atração sexual segue um roteiro que começa com a paixão que pode transformar-se em amor. Se conseguir ser aprovado nos testes dos desencantos, das descobertas dos defeitos, do sorrriso de um sempre contagiar o sorriso do outro, da capacidade de sobreviver às calmarias e às tormentas da vida, este é o amor que tantos anseiam e poucos alcançam.
Ainda assim não é fácil viver com quem dizemos amar, porque muitas vezes dizemos amar alguém que não suportaríamos ter como nosso amigo. E como a amizade é o sentimento que resiste ao tempo, sem ela, nenhum amor, por mais apaixonada que tenha sido sua história será capaz de testemunhar cabelos brancos e rugas que contam histórias de “Branca de neve”, “João e Maria” e “Piratas da perna de pau".
ALICE ROSSINI
* sobre estar com o amor!
domingo, 6 de junho de 2010
Rola a bola e gira a vida
Confesso que estou vivenciando esta Copa do Mundo de forma diferente. Sou daquelas pessoas que não contamina o Esporte com nenhum assunto de outra natureza. Intrigas, interesses econômicos e políticos e clichês como “desviar a atenção do povo das mazelas sociais”. Nada disto me incomoda. Durante a Copa “eu sou brasileira, com muito orgulho, com emoção”, “pra frente Brasil! Do meu coração” e acho que “vai rolar a festa, vai rolar, o povo do gueto, mandou avisar”.
Todos os anos criticam os convocados. Chamam o técnico de teimoso e o “xingam” de burro quando não dá ouvidos às 180 milhões de opiniões e convoca jogadores que, ao seu juízo, são os mais capazes de conquistar o hexa campeonato. Se convoca “estrelas”, jogadores experientes e “maduros” dizem que cedeu às pressões, que não tem poder, que quem manda na Seleção são os cartolas da CBF, etc, etc.
Ele, Dunga, que deveria chamar-se Zangado, tão econômico em sorrisos, parece que não está nem aí. Imagino que a consciência da responsabilidade que carrega é, também, responsável pela sisudez da sua fisionomia. Mas o técnico da seleção brasileira é pago para tomar decisões difíceis, assumir erros, dividir acertos e ter 180 milhões de fanáticos e implacáveis patrões, daqueles bastante intolerantes e todos "experts" em futebol.
A verdade é uma só, há décadas: se ganhamos o tão sonhado título, técnico e jogadores são endeusados e não são poucos os que especulam na “Bolsa de Valores dos Craques” o quanto em moedas passam a valer seus passes. Pena! Roubam muito da magia inerente ao esporte. Se perdermos, ah, o Presidente da República é "pé frio”, o técnico é inexperiente, não entende nada de futebol, os jogadores uns mercenários, alguns são, e muito, mas a maioria quer ganhar o título. Quem não quer? As razões deles pouco me importam. O que eu quero é ver um brasileiro erguer o tão ambicionado troféu e, de quebra, ainda faça algo inusitado como a declaração de amor de Cafu. Que sejamos também criativos no momento de reverenciar a vitória.
Esta Copa esta dividindo minhas atenções com a formatura do meu filho e a vinda de um neto. Só o coração desequilibrado e em êxtase de uma mulher para não enfartar vítima de eventos de tamanha magnitude. Embora, na escala de prioridades, formaturas só aconteçam uma vez na vida e esta é a última que vivenciarei, netos são nossa continuidade no mundo, fazem a gente voltar no tempo e, infantilizados, acharmos que passaremos a vida à limpo, Copas do Mundo, estas, acontecem de quatro em quatro anos e não são garantia de felicidade.
Não tenho dúvida que quando ouvir o Hino Nacional, um arrepio de emoção vai percorrer meu corpo e minha alma vai ficar verde e amarela. Até porque a excitação nos contamina e o espírito competitivo, característica que normalmente não faz parte do meu perfil, toma conta de mim.
A certeza que o mundo, ou grande parte dele está com as atenções voltadas para a África do Sul, só conhecida pela pobreza e pela ignorância do "apartheid" racial, é agregador por princípio, que inspira a solidariedade, que intensifica o esquecido amor à pátria e onde a violência é punida na hora em que é cometida, faz do evento um momento de relevância na história da humanidade. O olhar do mundo inteiro Oriente e Ocidente, voltado para os caprichos de um objeto esférico, a semelhança da forma do Planeta que dele se ocupa. Geralmente, a justiça prevalece, ganha quem melhor joga, quem valoriza a cooperação, quem aproveita oportunidades, quem respeita regras. E se for o nosso Brasil, com Dunga ou sem Dunga, que jogar o jogo justo e bom, tanto melhor.
Período em que, a cada jogo damos folga às nossas preocupações por, pelo menos, 90 minutos. Quando haverá no país um consenso recorde, em período pré-eleitoral, entre 180 milhões de pessoas (já pensaram na importância disto?) e todas as alegrias terão uma única e tão tola quanto decisiva importância para nossa auto-estima nacional? Coisa rápida, mas dá aquele gostinho do bom que se "parece" definitivo.
Ainda que depois sejamos engolidos pelas nossas circunstâncias, vale a pena nos dar uma trégua e sermos todos patriotas.
ALICE ROSSINI
Todos os anos criticam os convocados. Chamam o técnico de teimoso e o “xingam” de burro quando não dá ouvidos às 180 milhões de opiniões e convoca jogadores que, ao seu juízo, são os mais capazes de conquistar o hexa campeonato. Se convoca “estrelas”, jogadores experientes e “maduros” dizem que cedeu às pressões, que não tem poder, que quem manda na Seleção são os cartolas da CBF, etc, etc.
Ele, Dunga, que deveria chamar-se Zangado, tão econômico em sorrisos, parece que não está nem aí. Imagino que a consciência da responsabilidade que carrega é, também, responsável pela sisudez da sua fisionomia. Mas o técnico da seleção brasileira é pago para tomar decisões difíceis, assumir erros, dividir acertos e ter 180 milhões de fanáticos e implacáveis patrões, daqueles bastante intolerantes e todos "experts" em futebol.
A verdade é uma só, há décadas: se ganhamos o tão sonhado título, técnico e jogadores são endeusados e não são poucos os que especulam na “Bolsa de Valores dos Craques” o quanto em moedas passam a valer seus passes. Pena! Roubam muito da magia inerente ao esporte. Se perdermos, ah, o Presidente da República é "pé frio”, o técnico é inexperiente, não entende nada de futebol, os jogadores uns mercenários, alguns são, e muito, mas a maioria quer ganhar o título. Quem não quer? As razões deles pouco me importam. O que eu quero é ver um brasileiro erguer o tão ambicionado troféu e, de quebra, ainda faça algo inusitado como a declaração de amor de Cafu. Que sejamos também criativos no momento de reverenciar a vitória.
Esta Copa esta dividindo minhas atenções com a formatura do meu filho e a vinda de um neto. Só o coração desequilibrado e em êxtase de uma mulher para não enfartar vítima de eventos de tamanha magnitude. Embora, na escala de prioridades, formaturas só aconteçam uma vez na vida e esta é a última que vivenciarei, netos são nossa continuidade no mundo, fazem a gente voltar no tempo e, infantilizados, acharmos que passaremos a vida à limpo, Copas do Mundo, estas, acontecem de quatro em quatro anos e não são garantia de felicidade.
Não tenho dúvida que quando ouvir o Hino Nacional, um arrepio de emoção vai percorrer meu corpo e minha alma vai ficar verde e amarela. Até porque a excitação nos contamina e o espírito competitivo, característica que normalmente não faz parte do meu perfil, toma conta de mim.
A certeza que o mundo, ou grande parte dele está com as atenções voltadas para a África do Sul, só conhecida pela pobreza e pela ignorância do "apartheid" racial, é agregador por princípio, que inspira a solidariedade, que intensifica o esquecido amor à pátria e onde a violência é punida na hora em que é cometida, faz do evento um momento de relevância na história da humanidade. O olhar do mundo inteiro Oriente e Ocidente, voltado para os caprichos de um objeto esférico, a semelhança da forma do Planeta que dele se ocupa. Geralmente, a justiça prevalece, ganha quem melhor joga, quem valoriza a cooperação, quem aproveita oportunidades, quem respeita regras. E se for o nosso Brasil, com Dunga ou sem Dunga, que jogar o jogo justo e bom, tanto melhor.
Período em que, a cada jogo damos folga às nossas preocupações por, pelo menos, 90 minutos. Quando haverá no país um consenso recorde, em período pré-eleitoral, entre 180 milhões de pessoas (já pensaram na importância disto?) e todas as alegrias terão uma única e tão tola quanto decisiva importância para nossa auto-estima nacional? Coisa rápida, mas dá aquele gostinho do bom que se "parece" definitivo.
Ainda que depois sejamos engolidos pelas nossas circunstâncias, vale a pena nos dar uma trégua e sermos todos patriotas.
ALICE ROSSINI
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