domingo, 6 de junho de 2010

Rola a bola e gira a vida

Confesso que estou vivenciando esta Copa do Mundo de forma diferente. Sou daquelas pessoas que não contamina o Esporte com nenhum assunto de outra natureza. Intrigas, interesses econômicos e políticos e clichês como “desviar a atenção do povo das mazelas sociais”. Nada disto me incomoda. Durante a Copa “eu sou brasileira, com muito orgulho, com emoção”, “pra frente Brasil! Do meu coração” e acho que “vai rolar a festa, vai rolar, o povo do gueto, mandou avisar”.

Todos os anos criticam os convocados. Chamam o técnico de teimoso e o “xingam” de burro quando não dá ouvidos às 180 milhões de opiniões e convoca jogadores que, ao seu juízo, são os mais capazes de conquistar o hexa campeonato. Se convoca “estrelas”, jogadores experientes e “maduros” dizem que cedeu às pressões, que não tem poder, que quem manda na Seleção são os cartolas da CBF, etc, etc.

Ele, Dunga, que deveria chamar-se Zangado, tão econômico em sorrisos, parece que não está nem aí. Imagino que a consciência da responsabilidade que carrega é, também, responsável pela sisudez da sua fisionomia. Mas o técnico da seleção brasileira é pago para tomar decisões difíceis, assumir erros, dividir acertos e ter 180 milhões de fanáticos e implacáveis patrões, daqueles bastante intolerantes e todos "experts" em futebol.

A verdade é uma só, há décadas: se ganhamos o tão sonhado título, técnico e jogadores são endeusados e não são poucos os que especulam na “Bolsa de Valores dos Craques” o quanto em moedas passam a valer seus passes. Pena! Roubam muito da magia inerente ao esporte. Se perdermos, ah, o Presidente da República é "pé frio”, o técnico é inexperiente, não entende nada de futebol, os jogadores uns mercenários, alguns são, e muito, mas a maioria quer ganhar o título. Quem não quer? As razões deles pouco me importam. O que eu quero é ver um brasileiro erguer o tão ambicionado troféu e, de quebra, ainda faça algo inusitado como a declaração de amor de Cafu. Que sejamos também criativos no momento de reverenciar a vitória.

Esta Copa esta dividindo minhas atenções com a formatura do meu filho e a vinda de um neto. Só o coração desequilibrado e em êxtase de uma mulher para não enfartar vítima de eventos de tamanha magnitude. Embora, na escala de prioridades, formaturas só aconteçam uma vez na vida e esta é a última que vivenciarei, netos são nossa continuidade no mundo, fazem a gente voltar no tempo e, infantilizados, acharmos que passaremos a vida à limpo, Copas do Mundo, estas, acontecem de quatro em quatro anos e não são garantia de felicidade.

Não tenho dúvida que quando ouvir o Hino Nacional, um arrepio de emoção vai percorrer meu corpo e minha alma vai ficar verde e amarela. Até porque a excitação nos contamina e o espírito competitivo, característica que normalmente não faz parte do meu perfil, toma conta de mim.

A certeza que o mundo, ou grande parte dele está com as atenções voltadas para a África do Sul, só conhecida pela pobreza e pela ignorância do "apartheid" racial, é agregador por princípio, que inspira a solidariedade, que intensifica o esquecido amor à pátria e onde a violência é punida na hora em que é cometida, faz do evento um momento de relevância na história da humanidade. O olhar do mundo inteiro Oriente e Ocidente, voltado para os caprichos de um objeto esférico, a semelhança da forma do Planeta que dele se ocupa. Geralmente, a justiça prevalece, ganha quem melhor joga, quem valoriza a cooperação, quem aproveita oportunidades, quem respeita regras. E se for o nosso Brasil, com Dunga ou sem Dunga, que jogar o jogo justo e bom, tanto melhor.

Período em que, a cada jogo damos folga às nossas preocupações por, pelo menos, 90 minutos. Quando haverá no país um consenso recorde, em período pré-eleitoral, entre 180 milhões de pessoas (já pensaram na importância disto?) e todas as alegrias terão uma única e tão tola quanto decisiva importância para nossa auto-estima nacional? Coisa rápida, mas dá aquele gostinho do bom que se "parece" definitivo.

Ainda que depois sejamos engolidos pelas nossas circunstâncias, vale a pena nos dar uma trégua e sermos todos patriotas.

ALICE ROSSINI

8 comentários:

Penha Castro disse...

Formaturas, netos, finais de ciclos. Nos alegram como acontecimentos mas incomodam. Nos dão a chance de recomeços. A analogia com a bola rolando no campo, aleatoriamente, como nossas vidas é ótima.

Como sempre sua critividade faz associações incríveis. Fazem elos com seus momentos e o que "rola" no cotidiano.

Não adianta, sou torcedora do seu BLOG(RISOS)

RICARDO FARIAS disse...

ESTE NEGÓCIO DE LIGAR FUTEBOL E OUTROS ESPORTES À POLÍTICA É COISA DE GENTE CHATA E RANZINZA. SÃO RESQUÍCIOS DA COPA DE 70 QUANDO A DITADURA TIROU PROVEITO DAQUELA SELEÇÃO INESQUECÍVEL.
CONCORDO QUANDO DIZ QUE O RSPORTE, QUELQUER UM, TEM O PODER DE MANTER A PAZ, AINDA QUE POR POUCO TEMPO.QUANDO ALGUM PAÍS FERE ESTE PRINCIPIO, FICA UMA FERIDA QUE NÃO TEM CURA.
É HORA DE "DAR UM TEMPO" E VIRAR TORCEDOR.

IZABEL disse...

Querida irmã,

mais uma vez adorei o seu texto – simples e profundo!

Fiz uma viagem ao TÚNEL DO TEMPO – lembra do seriado? rsrsrsrsrs

Também me fez lembrar a música de Chico que passou a ser um hino
de libertação – RODA VIVA! Pois tem dia que a gente se sente como
quem partiu e morreu... Mas também a gente cultiva a mais linda roseira que há!

Estou com você nesta RODA VIVA!

Beijos,

Bel

VIC disse...

Percebo que voce está na "roda da vida" com milhares de solicitações e "acha" que tem que atender a todas. Já aconteceu comigo. Fiquei meio tonta mas como não tenho seu talento de externar, engoli e fiquei cheia de "doenças psico-somáticas".

Viva cada coisa no seu tempo e seja feliz. Só tem coisa boa acontecendo...!

Amanda disse...

Excelente seu texto! Falou do momento atual e do seu de forma leve, com senso de humor e demonstrando toda a intensidade da sua emoção. Vá em frente, textos emocionados é a sua marca

ZEUS disse...

Que texto maravilhoso. Voce fez um elo, de forma muito bonita, de como o esporte e circunstâncias da sua vida lhe emocionam e influenciam no seu cotidiano. Tambem acho que qualquer evento esportivo é digno do nosso respeito e da nossa torcida que tudo ocorra da melhor maneira de justificá-lo: em paz e com espírito de solidariedade.
Adoro te ler.
Parabens, mas ainda não me sinto à vontade de comentar textos tão bons.

Rosane Domingues disse...

Alice, confesso que sou muito timida e seu jeito de escrever me deixa mais timida ainda. Simples, claro, emocionado e cheio de significados nas entrelinhas. Voce ao mesmo tempo que questiona esgota os assuntos tão profundo voce vai. Li alguns textos, não pude ler todos, mas vou colocar seu blog em meus favoritos e indicá-lo ja que me foi indicado por alguem muito generoso.

Anônimo disse...

Vou fazer como voce, dar um tempo nos problemas, nas dividas pelo menos durante os jogos. Sei que tem gente que torce contra, como se o fato de perdermos um titulo tão importante fosse resolver nossos problemas ou tomarmos mais consciência deles. Para muitos, esta pode ser uma das poucas alegrias na vida.
Que venha o HEXA!!!!