A invisibilidade é uma “doença” que atinge grande parte da humanidade. Prima-irmã da discriminação e da indiferença, já é crônica em algumas categorias de trabalhadores, idosos, pessoas portadoras de necessidades especiais, algumas etnias e classes localizadas na base da pirâmide social.
Quando se instala nas relações interpessoais e familiares assume algumas peculiaridades.
Neste último caso, vitima mulheres, crianças e homens, independente dos papéis que assumem nos ambientes. Com relação as mulheres, idosos e as pessoas portadoras de necessidades especiais, tem raízes cravadas na ancestralidade. Não vou entrar no mérito das causas antropológicas, nem pretendo ser repetitiva, nem óbvia.
Não podemos e nem devemos generalizar a invisibilidade. Considero-a uma “doença” degenerativa, degradante e excludente. É insidiosa, indiferente à raça, classe social ou nível cultural. Entretanto, só atinge os que são ou se percebem fracos, os omissos ou os covardes. Embora considere mais covarde e omisso quem favorece ou determine a invisibilidade de alguém, através de frestas das suas fraquezas.
Ainda, no caso das relações familiares seu diagnóstico é confundido com “crise”, este saudável processo que banalizamos. Porque crise tem características outras; é pontual, tem principio e fim, é transformadora e, muitas vezes, assume caráter libertário.
O que quero registrar aqui é a necessidade de todo ser humano ser “visível” ao outro e toda existência ser considerada relevante. E isto seria determinado e condicionado pelo equilíbrio e autonomia emocionais de um lado e solidez de valores e compaixão do outro.
O grande empecilho são os condicionamentos deformados que nos contaminam, impostos pelo mundo e aceitos passivamente: machos e fêmeas, cada qual assumindo, respectivamente, os estereotipados papeis de “predadores” e de “caça” abatida e indefesa. Algozes usando como armas negligência e prerrogativas imaginárias e vítimas anulando-se por comodismo ou por fraqueza, numa "guerra" sem vencedores.
Pais e mães negligenciando filhos que, livre ou irresponsavelmente gestaram e povoaram o mundo, delegando a terceiros a responsabilidade de formá-los. Sentenciando, assim, o futuro a uma geração de seres que, de humanos, só tem a classificação no reino animal.
A intolerância entre etnias e crenças desconhece que o conceito de raça já foi modificado e avançado para o de uma única raça, a Humana e que o DEUS que muitos usam como álibi para a intolerância não fosse um ser uno, cósmico e onipresente.
Certamente que devemos dividir responsabilidades já que não superamos “explicações” e “justificativas", nem demos um salto de qualidade em questões existenciais básicas. O mundo mudou e embora tenhamos provocado estas mudanças, muitos de nós não as acompanhamos e nem as compreendemos. Infelizmente!
Refiro-me aqui, aos homens e mulheres contemporâneos que ainda se mantêm reféns do casal que vivia em cavernas; aos que desconhecem os avanços da ciência quanto às possibilidades a que tem direito os “ditos” deficientes; os indiferentes à renovação de conceitos étnicos, culturais e aos imunes ao resgate e solidificação de princípios éticos
A ausência desta consciência enfraquece a Humanidade. Os seres, ao se alienarem dos anseios uns dos outros, privam-se de um universo rico, em diversidade, possibilidades e emoções. Empobrecem-se os sonhos. E com eles as perspectivas e as esperanças.
ALICE ROSSINI
8 comentários:
Menina,
você foi fundo, hem? Nunca tinha pensado nisso pelo termo invisibilidade social.
Beijos
Minha Querida Alice.
Invibilidade: A maioria da sociedade brasileira sofre da doença.Alguns têm um quadro mais agudo.É a invisilidade associada a preguiça e a malandragem.Como tem malandro querendo que os outros façam por ele.Machos e fémeas.
Beijão
Tio Luiz
Já tinha ouvido falar neste "conceito" mas nunca parei para pensar nele. Voce o analizou com muita propriedade, sob todos os ângulos, passeando pelo social ao pessoal com seu jeito aguçado e franco. Voce falou em "frestas". Está ficando especialista em olhar a vida através delas, ou seja, só voce consegue.
Mais uma vez, parabéns!
Adorei! Já experimentei esta sensação, já se queixaram dela comigo e acho que o mundo todo sofre desta "doença". Como é bom ter alguem que fale por nós!
beijos
VOCE É INCRÍVEL! ME SINTO MEIO CEGO QUANDO LEIO SEUS TEXTOS.VÊ COISAS, DA NOMES A ELAS E AS ANALIZA DE UMA FORMA QUE SO VOCE FAZ. O MELHOR DE TUDO É QUE CONSIGO ENTENDER O QUE VOCE QUER DIZER. DESCOBRI QUE INVISIBILIDADE É UM FENÔMENO MUITO COMUM (RISOS)
Excelente sua percepção de um comportamento que, embora muito comum, uma pandemia, como voce o classifica mas, pouquissimas pessoas registram. Apenas sentem sem saberem que nome dar à sensação de exclusão.
Adorei o texto e me identifiquei muito com ele. Tenho certeza que muita gente deve ter tomado a carapuça. Como vitima, como causadora ou as duas coisas
O que mais me impressiona em qualquer escritor é a sua capacidade de ver o que ninguem consegue, nomear o que todos não sabem como chamar e olhar diferente e com bastante atenção para o mundo, sem parecer que está olhando.
A forma solta e coloquial como voce escreve ratifica esta impressão transformando o estereótipo em conceito.
Parabéns! Nunca deixe de transformar seus pensamentos em palavras
Voce não me conhece. Seu BLOG me foi indicado por uma amiga de uma amiga. Propaganda boa é essa, de boca em boca. Voce tem certeza que stá agradando. Sou super tímido e seu jeito franco, aberto e poético de escrever me deixa mais inibido. Portanto, para não ficar apócrifo, vou colocar um pseudônimo. Mas voce ja esta entre minhas favoritas. "Favoritos", desculpe a brincadeira.
Este seu texto e os outros, claro, está genial. Voce, como alguem falou aí em cima, consegue olhar "pelas frestas" com olhos argutos de um escritor, portanto, atento à vida. Tem senso crítico, consegue ser neutra mas tem opinião clara, não faz generalizações, coisa perigosa para quem escreve para muita gente e é criativa.
Li seu BLOG todo. Aliás, venho lendo e lhe garanto que voce é muito talentosa e sensível. Não, não sou um crítico literário mas, um leitor assiduo e atento.
Não pare de escrever porque recebo muita coisa ruim na net e seus textos são um "intermezzo" de lucidez, beleza e qualidade.
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