terça-feira, 5 de outubro de 2010

RETROCEDER PARA AVANÇAR

O que há dois séculos parecia um caminho inquestionável de progresso transformou-se em uma inútil corrida enlouquecida para escapar das consequências de nossos próprios atos.

As pirâmides financeiras desmoronaram, as bolhas imobiliarias estouraram, mas ainda não vemos com suficiente claridade muito do que temos chamado “crescimento” e “desenvolvimento”. Já se passaram tres gerações nos países desenvolvidos e de uma a duas em outros países, e estamos vivendo como se fôssemos a última geração sobre a Terra.

Isto tem que acabar! Ao meu ver esta é a realidade da situação atual. Uma realidade que muitos dos que compõem a nossa sociedade se recusam ver ou reconheçer, por simples e puro egoísmo, começando pelos governantes e políticos.

Esquecemos sempre, e por isso há que repetí-lo mais de uma vez: "Não há nada gratis". Infelizmente, todas as mensagens que escutamos e vemos dizem resumidamente, “vivam como se os recursos naturais fossem infinitos e como se não houvesse amanhã”. Sendo os recursos finitos como o são, quanto maior a rapidez de exploração, mais cedo ficaremos em eles.

Os problemas mais polêmicos da sustentabilidade não são problemas técnicos ou econômicos, são ético-políticos.

Atualmente, a descomunal potência da tecnociência ocidental e o caráter expansivo do capital, asseguram que, em muitos casos, os efeitos das nossas ações - e omissões - chegarão incalculavelmente longe, no tempo e no espaço, como se sabe, a vida média dos resíduos radioativos, ou os prazos para o reequilibrio do clima do planeta, se medem em dezenas de milhares de anos. Deveríamos questionar com frequência que nível de mal - direto, indireto e diferido - estamos dispostos a infligir, uns aos outros, para tratar de manter os atuais niveis de conforto material? Sabemos que já são mais que suficientes e que, em qualquer caso, excedem o que desfrutaram os mais ricos e poderosos de épocas passadas.

É esta uma ideia adequada de progresso? É este um tipo de economia sustentável que esmurra suas proprias bases ecológicas e, portanto, é definitivamente autodestrutiva?.

A alguns nos custa crer que estas questões são mais importantes que as perguntas “fundamentais” às que nós enfrentamos diariamente: “Que roupa visto hoje?”, “onde serão as próximas férias? Ou até, "qual é a última fofoca da revista Caras?" Mas, é aterrador descobrir que nós temos filhos e nos esqueçemos de refletir sobre que nível de mal estamos dispostos a infligir ao futuro dos nossos filhos e netos?

E os governantes? Todos os que estão no poder hoje, sabem que a sua sobrevivência política depende de como se rouba o futuro para entregá-lo ao presente. A verdade é que chamam de conservação, o envenenamento do meio ambiente.

Mas, quando perguntei que nível de mal - direto, indireto
e diferido - estamos dispostos a infligir, uns aos outros, devemos incluir nestes “outros” os animais que habitam conosco o Planeta. Milhões de criaturas torturadas e aniquiladas pela nossa cobiça desenfreada e sem limites, vítimas inocentes do nosso suposto “desenvolvimento”, súditos involuntarios da ditadura humana.

Mas, também, existem boas noticias. Tudo isto não é uma rua sem saída, porque sempre se pode dar marcha a ré. Se quisermos que as gerações futuras tenham acesso ao que hoje nós desfrutamos, "a tal" marcha à ré é inevitável no nosso atual caminho de autodestruição. Retornar não implica retroceder...retroceder, neste caso, também pode ser avançar. Seria um avanço em sentido contrario mas que, definitivamente, beneficiaria as novas gerações.Para isto, é imperativo reconheçer os erros cometidos e aprender com eles.

Não podemos continuar fazendo "vistas grossas" ao ecocídio atual e sendo guiados por cegos, porque se um cego guia outro cego, ambos cairão no precipicio.

FERNANDO TROVADOR

10 comentários:

Maria José disse...

Belo texto de Fernando.Realmente precisamos retroceder nesse consumo desenfreado e nesse capitalismo selvagem.Infelizmente nossas esperanças ficam abaladas quando vemos umacandidata ao cargo máximo, que se diz representante das causas ecológicas e da sustentabilidade, sobrevoando todo o país num jatinhode 50 milhões de dólares acompanhada do empresário mais rico do Brasil, certamente o maior extrator das nossas riquezas naturais. É triste, mas não podemos perder as esperanças.

Grande abraço Maria José

Alice Rossini disse...

Fernando, seu texto é verdadeiro sem perder o realismo. Temos sim, que repensar o uso dos recursos naturais, incentivar a pesquisa da energia limpa e ter a consciência que vivemos num mundo globalizado, onde o que acontece na China repercute no Brasil.

Acho que o que entrava a discussão ambiental é o maniqueismo que a ideologiza, colocando ricos contra pobres, empregados contra patrões.

A tecnologia ja avançou o suficiente para limpar a energia que favorece o desenvolvimento. Culpa nossa que, votamos em governos que não cumprem seu papel de gestor e fiscalizador das leis.

Não é voltando à idade da pedra que diminuiremos o buraco na camada de ozônio.O ser humano pode até parar para pensar, e refletir sobre que planeta queremos deixar para as próximas gerações. Mas a marcha pode continuar por outros caminhos, tendo o bem estar e a vida do planeta como objetivos a serem preservados

p.s. Pobre Marina, já pensou percorrer oo Brasil à pé? Ou num carro à alcool? São estas minuncias que devemos deixar de lado e pensar o meio ambiente como uma saida para a vida. Não um discurso panfletario, que demoniza o empresario, e todos que, até prova em contrário, conseguiram enriquecer com o próprio trabalho ou criando emprego. Minha empregada, Marli, mulher, negra, pobre, compõe a renda dela com os produtos da Natura... rs

Penha Castro disse...

Muito boa sua visão sobre a questão ecológica. Verdadeira, clara e despida de juizos de valor. Criticar uma guerreira e vencedora como a Marina so porque porque percorreu este imenso Brasil de avião e escolheu um empresario serio para ser seu vice é realmente querer inverter valores. Melhor ele, que trabalha e dá emprego que a "pústula" do Michel Temer que vive do erário público e Deus nos livre de cair nas mãos dele!!!!
Imagino o que Dilma deve ter-lhe prometido, alem do cargo, pelo apoio...
Parabéns Fernando, ainda bem que tem gente lúcida neste país.

Luiz Augusto Vaz disse...

Análise bem feita no artigo que recebo.Faltou a meu ver, que a humanidade consiga reciclar o humano que habita o planeta na atualidade.Nunca tivemos tantos medíocres mandando e tantas "vacas de presépio"obedecendo.A humanidade virou uma boiada sem rumo,cheia de modismos,individualista,guiadas por incompetentes.Para dinamizar o processo de recilagem. Que bom que houvese um cataclisma em determinadas regiões do globo para purificar a raça

Aparecida Matos disse...

Muito oportuna a abordagem do Fernando sobre o "ecocidio" de que está sendo vítima o planeta. Vivemos como se agua potável, terrenos ferteis, árvores, ar puro e outros privilégios não fossem fruto de cuidados, consciência e responsabilidade.
Mas, enquanto existir lucidez e generosidade, ainda nos restará a esperança.

VIC disse...

Muito boa sua crônica, Fernando. Pena que alguns aspectos do ecocidio que voce denuncia já é irreversível. Sem contar que existem organizações que lidam com o problema de forma desastrada, infantil e burra.
Mas, enquanto tivermos vozes lúcidas como a sua a deunciar e a esclarecer, ainda nos resta esperanças.
Parabéns!

AMANDA disse...

Excelente texto! Sem o "xiitismo verde", realista e moderno. Parar para pensar, ainda que signifique dar um passo atrás, é sempre saudável e pedagógico.
Parabens, TROVADOR!

Rogerio Freitas Neto disse...

Sempre leio este Blog, indicação de uma amiga e fico "sem jeito" de postar comentários, porque estão sempre à altura dos textos.
Mas a questão ecológica me toca muito e este texto, em particular, foi escrito por uma pesssoa lúcida e informada. Isto é raro. Querer barrar o denvolvimento sem uma reflexão realista é ir contra a história.
Parabéns!
Parabéns!

Roseane disse...

Enfim um texto sobre ecologia equilibrado e maduro. Parabens Fernando! Infelizmente, o que mandam estão nas extremidades. Paciência!

Suely Ribeiro dos Santos disse...

Fernando, adorei o texto. Muito lúcido e "pé no chão". Real e assustadoramente verdadeiro! Mantemos uma visão idividualista sobre o assunto e esquecemos de passar nossa vivência adiante. Valores e conceitos deturpados pelos detentores da última palavra prevalecem infelizmente. Ainda bem que se vê uma luz no final do túnel. O que devemos perguntar é se chegaremos lá ou seremos exterminados antes? rs..
Obrigada pela ótima leitura, Fernando.