domingo, 19 de abril de 2009

A IRÔNICA “VERDADE” DE MAX


Este texto foi escrito no dia 12 de abril em Lisboa. Como o tema é relevante e atemporal, não importa o quanto caduco esteja o assunto que o motivou.


Há quem diga que o Big Brother é o que há de pior na televisão. Dizem também que os índices de audiência foram os mais baixos dos últimos tempos. A verdade é que todos falam mal e isto é um sintoma de “audiência negativa”. Acho que acabei de inventar este termo agora. Na linguagem de pesquisa televisiva deve ser “índice de rejeição”, sei lá...

Pessoalmente, me interesso pela participação de Pedro Bial que, além de emprestar sua dignidade de poeta e jornalista ao “reality show”, dá densidade aos participantes, analisando aspectos de suas atuações. Enfatiza pontos positivos, como comportamento ético, costumes minimamente civilizados e, obviamente, critica-os na forma de exprimirem-se, na ignorância ou na “sapiência” demonstrados, no “jogo sujo” quando o fazem mesmo em nome do “jogo” e nas suas incoerências, quando se deixam flagrar. Tudo isto sem deixar de incentivá-los a não abrir mão da sua condição de seres humanos, portanto, falíveis.

Analisa-os, mandando ao publico “recados” que só não absorve quem é impermeável. Suas falas nos paredões, para mim, são imperdíveis!

Este Big Brother reformulou sua formatação e inovou num aspecto de atual relevância, colocando entre os candidatos, duas pessoas com mais de 60 anos. Tanto o representante masculino quanto o feminino corresponderam às expectativas do publico; ele agiu tal qual um lobo e ela tal qual uma avó.

Não foram poucos os impropérios proferidos contra a emissora, vinda de “críticos”, por tê-los posto ali, como se suas presenças “esclarecesse” o tão propalado preconceito com relação a programas do gênero, que incentivam o erotismo, buscam “talentos” somente entre os belos e fomentam intrigas entre os participantes, como se o ajuntamento de pessoas de origens diversas, fatalmente não extrapolasse os limites do previsível. Tudo isto é verdade, mas, não é só isto.

A aversão à participação dos idosos foi mais forte que a “aversão” ao programa e isto é mais um sintoma de uma sociedade excludente!
Quando se quer e se pode, consegue-se diagnosticar quais os valores vigentes no país, em qualquer oportunidade. E este é um dos papéis da televisão, acho eu.

O que motivou este texto foi, mais uma vez, o preconceito por mim percebido, no caso, dirigido à amizade entre Max e Flávio. Na minha percepção o que houve foi uma identificação de perfis psicológicos, valores e comportamento ético e limpo dos dois participantes. Mas a homofobia, doença com IBOPE elevadíssimo no universo poluído dos preconceitos, foi mais rápida. Logo foram estigmatizados. No inconsciente coletivo, dois homens não podem experimentar, um pelo outro, sentimento que fuja à superficialidade das relações entre as pessoas.

Não importam depoimentos dos que lá estiveram que o confinamento exacerba emoções e fragiliza as pessoas. Não importa que as partes justifiquem não se deixarem levar por jogos de sedução (o que elevaria os índices de audiência), por já terem compromissos nas suas vidas fora daquelas paredes. Nada importa, se frustrar o “voyeur” que se esconde em cada um de nós.

A verdade é que, até quem “não” assiste ao programa desnuda-se tanto quanto quem dele participa. A interatividade, também questionada, encarrega-se de fazer um link entre os dois comportamentos.

Mas Max deu a resposta merecida, o que legitimou ter levado o prêmio milionário para casa. Perguntado por um repórter sobre um possível namoro com Flávio, a reposta, além de irônica, foi inteligente e a única possível; “ainda bem que vocês descobriram que sou gay, daqui a um mês vamos nos casar”.

Tenho dito.

ALICE ROSSINI

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