quinta-feira, 2 de abril de 2009

AS TRES ÁRVORES



Sempre que passo pela Avenida Juracy Magalhães, antes de visualizar o Hospital Aliança, do outro lado, deparo-me com a exuberância da vida em forma de três maravilhosas árvores – amendoeiras – que, de tão grandes e vigorosas, certamente centenárias.

Prefiro acreditar que quem projetou a avenida deva ter se curvado à beleza dos seus caules, preservando-as. Trigêmeas esculturas, que a natureza teve o capricho e o esmero de resguardar as semelhanças das formas, cuidadosamente retorcidas por suas talentosas mãos.

Quem projetou o Hospital, cenário da dor, portal da morte e palco da cura, jamais imaginaria que haveria um ângulo de visão, que dura pouquíssimos e valiosos segundos, em que os dois, as três arvores e o Hospital desenhariam juntos a parábola da Vida: nascimento, amadurecimento e morte.

O fato é que, sempre que passo por aquela avenida, fico expectante. Sentir a vitalidade que aquelas três formas emanam, sem deixar de perceber o Hospital. Vida e Morte em luta constante, um jogo sem prazos definidos, cujas misteriosas regras ninguem tem a verdadeira versão.

Vida e Morte, uma curvando-se diante da outra na eterna dança da existência.

Certamente, todos que estão de um lado ou de outro, ou experimentando o ser ou temendo o não ser, não têm tempo para pensar que uma condição é a necessidade da outra. A proximidade do Hospital daquelas manifestações exuberantes de vida, raramente será registrada através da dicotomia em que estão inseridas. Ali continuarão, indiferentes ao tempo e a eterna vontade humana de domá-lo.

Quem sabe, sejam tres, as vocações das trigêmeas esculturas; lembrar-nos que a vida existe simplesmente para ser vivida. Por ser finita e imprevisível, naturalmente transforma-se: tranformando-se, nos dá a certeza do eterno Retorno.

ALICE ROSSINI


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3 comentários:

Unknown disse...

Gostei muito do poema em prosa das amendoeiras. Nunca as notei.
Ainda não li outras mensagens suas. Ando ocupado,
beijão
Pancho

Anônimo disse...

Nunca percebi, naquele caos que se transforma aquela avenida, um aspécto tão relevante da existencia:VIDA x MORTE. So sua sensibilidade para enxergar atraves do barulho dos carros e do cheiro de gás carbônico, tantos sentidos. Parabens! Li uma crônica e descobri uma poesia

izabel disse...

Também, passo por estas árvores e elas teimam em me chamar para um abraço... Para um aconchego... E agora assumem mais vida ao perceber que: Também elas exercem o mesmo fascínio para outras pessoas...
Tenho a certeza que só as pessoas com uma “sensibilidade especial” captem estes códigos...
Amei o seu texto. Você fala de duas coisas tão opostas, mas tão interdependentes e presentes em nossas vidas, de forma simples e poética...

Você usa os símbolos da contemporaneidade, para falar de um tema tão discutido ao longo da existência humana – MORTE e VIDA!!

O impiedoso Tânato (Tânatos ou Thanatos), filho da noite e irmão do sono. Eros e Tânatos, os deuses da mitologia grega que Freud elegeu para personificar as pulsões da vida e da morte, são normalmente representados juntos... E, assim...as moiras que eram três irmãs que determinavam os destinos humanos, especialmente a duração da vida de uma pessoa e seu quinhão de atribulações e sofrimentos.
• Cloto (em grego “fiar”) segurava o fuso e puxava o fio da vida.
• Láquesis (”sortear”) enrolava o fio e sorteava o nome dos que iam morrer. Distribuía o quinhão de atribuições de uma vida;
• Átropos (”não voltar”) cortava o fio. Determinava os que iam morrer.

Bem irmã, obrigada pelo brinde a vida! E como um “anônimo” escreveu.. “Li uma crônica e descobri uma poesia”...

Círculo na fronte...
Bel