Segundo anunciado insistentemente pela Imprensa, a macabra relação horas x morte é assustadora: em 16 horas três mulheres foram brutamente assassinadas pelos seus maridos. O motivo? Não queriam mais viver com eles. Uma delas fez oito denúncias à Delegacia de Proteção à Mulher e nenhuma providência legal foi tomada.
Provavelmente quem acha que tem direitos de vida e morte sobre alguém se acha poderoso. Aliás, poderosíssimo! E este poder lhe foi outorgado, sorrateiramente, ao longo de séculos, à custa de omissões, sob a égide da ignorância, ao preço da submissão e por que não, do oportunismo.
Poder e direitos são dois conceitos muito interligados. Aliás, quem tem poder deve reconhecer que existe muita gente que tem direitos. Mas, quem tem poder tem tantos deveres quanto quem não os tem. Direito não se negocia, antes de deixar de ser direito alguma coisa tem que mudar. Para começar um dispositivo legal que legitime sua supressão.
Existem direitos que estão impressos na Constituição, que são tão importantes que são chamados Direitos Elementares. O direito à vida, o direito de ir e vir e o direito de expressão dentre outros. Desculpem os advogados, mas não vou falar nos demais, pois sou completamente leiga, falo como tal e, ao me alongar, fujo da proposta do texto.
Direitos têm uma característica peculiar, uma vez que você abre mão de um, por mais insignificante que possa parecer recuperá-lo é difícil! E nesta escalada de concessões, quando você percebe está totalmente cativo. É assim tanto nas relações pessoais quanto nas sociais. No caso das relações pessoais há que haver uma correlação de forças sem a qual elas adoecem. No caso das sociais, as coisas são bem mais complexas, os governos, a depender do sistema adotado devem procurar manter um equilíbrio perfeito entre as Instituições que o integram o que facilitará a governabilidade. Numa sociedade de classes, este equilíbrio também é necessário. Governo e sociedade devem sempre buscar a equidade para que haja harmonia que promova o bem estar de todos.
Portanto, tanto quem detém o poder quanto quem é comandado, além de ter direitos e deveres, deve zelar pela manutenção desta correlação de forças, sem a qual, nenhuma relação, seja de que natureza for, funciona.
Veja o exemplo da Venezuela. O Presidente Hugo Chávez fechou seis canais de televisão porque criticavam o governo que comanda. Em se tratando de América Latina o silêncio oficial dos países vizinhos referente a este assunto, me causa arrepios de horror. Outros precedentes estão sendo criados e os governos ditos democráticos fazem “visitas grossas”, quando se trata de alguns requisitos exigidos para países integrarem organismos internacionais. Respeitar regras democráticas é uma delas. Esta exigência é feita no Mercado Comum Europeu e ninguém discute. Existem princípios com os quais não se transige.
Penso que há uma estreita relação entre o direito de uma mulher “dizer” que não quer mais conviver com um homem e um homem, que representa um governo não aceitar críticas em relação à sua forma de comandar, usando a força para impedir a liberdade de expressão que no fundo é o mesmo direito que as três mulheres em questão usaram para manifestarem suas vontades.
Estas formas de agir diante do que não lhe agrada é um traço político e cultural que determina o nível de liberdade existente num país ou numa família. Claro que se este é um estado que está num Continente com histórico de regimes totalitários ou uma família que não costuma respeitar direitos uns dos outros, existe uma perigosa tendência de recrudescimento do uso da força para cercear direitos que podem, no caso da família, acabar em crimes, de diversas formas o, no de governos, cujos desfechos, infelizmente, já conhecemos.
A sensação que estes dois fatos me causam é de impotência e descrença nas Instituições que garantem os direitos dos indivíduos e, a certeza que, quando convém, as leis se relativizam até perderem o valor subjetivo. Porque força de lei, já perderam há muito tempo, já que foram descumpridas.
A verdade é que o mundo continua preso a velhos conceitos, embora estejamos em pleno século vinte e um. Em todos os lugares vemos o homem indiferente e arrogante desrespeitando a natureza, provavelmente esperando dela um “perdão” através da reversão da sua forma natural de reagir às agressões. Maltratam-na em nome de um desenvolvimento que me parece não haverá testemunhas nem beneficiários.
Por outro lado, pessoas totalmente entregues e subjugadas à sua fúria, curvando-se à sua pequenez diante dos desastres ecológicos que se evidencia através do número de vidas ceifadas.
Tudo agravado pela existência do fantasma do autoritarismo, tanto doméstico quanto de estado, com pessoas matando ou mandando matar quem ousa dizer o que pensa.
Desculpem o pessimismo, mas é o que vejo, ouço e sinto. E, por mais que políticos façam proselitismo em cima de misérias e antigas carências teimosamente ainda presentes, por mais bem intencionados que alguns organismos esforcem-se para ajudar os necessitados, por mais que a justiça tente equilibrar sua simbólica balança para que possa julgar assassinos e caudilhos, sua cegueira, cada dia, assume características de criminosa omissão.
Assim, fica difícil manter a esperança de que um dia o Planeta será um lugar menos inóspito.
ALICE ROSSINI
o cotidiano e suas contradições, descrito e compartilhado - Blog inaugurado em 18 de fevereiro de 2 009 - ANO VIII
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
domingo, 24 de janeiro de 2010
SEMPRE COMPARTILHAMOS A FELICIDADE DO OUTRO?
Como nossa vida pelo planeta é passageira, todos querem ser felizes. Uns acham que se não for agora o serão na “vida eterna” prometida pela maioria das filosofias religiosas. Mas, ser feliz é uma busca incessante do ser humano, cada um de acordo com seus valores e conceitos. E, como a maioria delas sente-se boa e generosa, quer que esta felicidade estenda-se às outras pessoas.
Este é o senso comum, salvo ditadores, terroristas, psicopatas e outros maníacos que querem tudo pra sí em detrimento dos outros. Mas existe uma felicidade, bem mais individualista e pessoal, ditada pelas circunstâncias que determinam nosso cotidiano, que, algumas pessoas têm dificuldade de suportarem nas outras.
Explico o meu ponto de vista, onde não pretendo esgotar todas as inúmeras formas como encaramos as venturas e desventuras do outro e, muito menos, fazer generalizações.
É fácil o ser humano regozijar-se com a felicidade de um grupo que ganha na Mega Sena e que mora a quilômetros de distância de sua cidade. Como é fácil comover-se com tragédias que atingem cidades, países ou até pessoas. Existe um tipo de curiosidade, representada pelos primeiros que é a de projetar-se no outro. E a segunda, que classifico de mórbida, que levam as pessoas a se interessarem, exageradamente, por fatos catastróficos. Em algumas pessoas este interesse é quase que doentio.
O terremoto no Haiti é um exemplo clássico. Quem não sabia da miséria e pobreza em que viviam seus habitantes, era, no mínimo, mal informado. Associadas a estas velhas circunstâncias, com as quais convivíamos tranqüila e indiferentemente, o país foi vítima da fúria da natureza. A imprensa cumprindo seu papel de informar mostra, a toda hora, as circunstâncias por que passam seus habitantes ao mesmo tempo em que vai comentando sua triste história. A mídia “mostra” cenas da tragédia, motivada pelos elevados índices de audiência que um certo “sadismo” esconde-se entre milhares de outros sentimentos dentro de cada um de nós. Paradoxalmente, mobiliza o sentimento da compaixão que já se transformou numa grande corrente de solidariedade. Se os haitianos tiverem o azar de sua tragédia ser superada por uma maior - o que me parece impossível - voltarão a viver da forma dramática e anônima como sempre viveram com o agravante da infestação de moléstias e doenças já preconizadas por médicos infectologistas.
Já perceberam como enterros e hospitais são tão cheios de gente tanto quanto aniversários de “desculpas” por não comparecimento? É mais fácil nos sentirmos obrigados a ir a um enterro ou num domingo de sol visitar alguém em estado terminal num hospital que ir à formatura ou ao casamento do filho do nosso amigo e ter que encarar sorrisos de felicidade, como se aquele formando ou aqueles noivos fossem os únicos sobre a face da Terra.
Quando a tragédia é próxima a nós, observá-la de nada adianta. Felizmente existem verdadeiros abnegados que lideram comoventes mutirões de solidariedade. Sem falar nos organismos internacionais e profissionais capacitados para estas missões. Acho que estas pessoas são as verdadeiras responsáveis por ainda existir vida no planeta.
Quando o sofrimento é alheio, distante, esta palavra é chave, só resta-nos solidariedade e indignação formal e, na maioria das vezes, apenas a contemplação. Mas, quando está próxima e é pessoal, uma “atração fatal” como um imã nos magnetiza, nos mobiliza, como se aquele sofrimento fosse companheiro das nossas vicissitudes, soprando-nos aos ouvidos que a dor é democrática e não escolhe suas vítimas.
Mas as alegrias e as vitórias alheias nos incomodam inconscientemente claro, fomentando nossa criatividade que se transforma num verdadeiro manancial de desculpas para que continue alheia, já que não lhe emociona, não muda sua vida e você vai ter que assistir sorrisos, mesas fartas de comida, copos que não se esvaziam, o tilintar de brindes e “ficar pensando” se um dia você também terá direito a momentos daquela natureza.
Sentimos vergonha destes sentimentos como se não fossem humanos. Há uma parte de nós que não aceitamos e sofremos, desnecessária e inutilmente, pois estão impregnadas na nossa humanidade, mesclada de sentimentos grandiosos e mesquinhos. Os negamos através de milhares de mecanismos que mal nos convencem, quanto mais a quem os observam
Pessoalmente, quero amigos que me dêem o endereço de seus ombros, que sempre tenham paciência para minhas queixas, as repetidas e as que ainda não tive motivo para fazê-las.
Mas também quero amigos que quando estiver fazendo alguma coisa inusitada ou vendo algo raro, lamentem por eu não estar em suas companhias. Que se lembrem que aquele é meu prato preferido quando o tiver degustando, que me escolham entre as dez pessoas que gostariam de acompanhá-los se tivessem que ficar numa ilha deserta. Que me associem a cheiros de frutas e perfumes. Que vejam um vestido ou um objeto numa vitrine e achem “a minha cara”. Que jamais se esqueçam da data do meu aniversário e percam horas preciosas imaginando um presente que vá me surpreender. Amigos que fiquem felizes com a minha felicidade, por mais tola que lhes pareça.
Porque de expectadores de tristezas e “azarões” o mundo está cheio!
ALICE ROSSINI
Este é o senso comum, salvo ditadores, terroristas, psicopatas e outros maníacos que querem tudo pra sí em detrimento dos outros. Mas existe uma felicidade, bem mais individualista e pessoal, ditada pelas circunstâncias que determinam nosso cotidiano, que, algumas pessoas têm dificuldade de suportarem nas outras.
Explico o meu ponto de vista, onde não pretendo esgotar todas as inúmeras formas como encaramos as venturas e desventuras do outro e, muito menos, fazer generalizações.
É fácil o ser humano regozijar-se com a felicidade de um grupo que ganha na Mega Sena e que mora a quilômetros de distância de sua cidade. Como é fácil comover-se com tragédias que atingem cidades, países ou até pessoas. Existe um tipo de curiosidade, representada pelos primeiros que é a de projetar-se no outro. E a segunda, que classifico de mórbida, que levam as pessoas a se interessarem, exageradamente, por fatos catastróficos. Em algumas pessoas este interesse é quase que doentio.
O terremoto no Haiti é um exemplo clássico. Quem não sabia da miséria e pobreza em que viviam seus habitantes, era, no mínimo, mal informado. Associadas a estas velhas circunstâncias, com as quais convivíamos tranqüila e indiferentemente, o país foi vítima da fúria da natureza. A imprensa cumprindo seu papel de informar mostra, a toda hora, as circunstâncias por que passam seus habitantes ao mesmo tempo em que vai comentando sua triste história. A mídia “mostra” cenas da tragédia, motivada pelos elevados índices de audiência que um certo “sadismo” esconde-se entre milhares de outros sentimentos dentro de cada um de nós. Paradoxalmente, mobiliza o sentimento da compaixão que já se transformou numa grande corrente de solidariedade. Se os haitianos tiverem o azar de sua tragédia ser superada por uma maior - o que me parece impossível - voltarão a viver da forma dramática e anônima como sempre viveram com o agravante da infestação de moléstias e doenças já preconizadas por médicos infectologistas.
Já perceberam como enterros e hospitais são tão cheios de gente tanto quanto aniversários de “desculpas” por não comparecimento? É mais fácil nos sentirmos obrigados a ir a um enterro ou num domingo de sol visitar alguém em estado terminal num hospital que ir à formatura ou ao casamento do filho do nosso amigo e ter que encarar sorrisos de felicidade, como se aquele formando ou aqueles noivos fossem os únicos sobre a face da Terra.
Quando a tragédia é próxima a nós, observá-la de nada adianta. Felizmente existem verdadeiros abnegados que lideram comoventes mutirões de solidariedade. Sem falar nos organismos internacionais e profissionais capacitados para estas missões. Acho que estas pessoas são as verdadeiras responsáveis por ainda existir vida no planeta.
Quando o sofrimento é alheio, distante, esta palavra é chave, só resta-nos solidariedade e indignação formal e, na maioria das vezes, apenas a contemplação. Mas, quando está próxima e é pessoal, uma “atração fatal” como um imã nos magnetiza, nos mobiliza, como se aquele sofrimento fosse companheiro das nossas vicissitudes, soprando-nos aos ouvidos que a dor é democrática e não escolhe suas vítimas.
Mas as alegrias e as vitórias alheias nos incomodam inconscientemente claro, fomentando nossa criatividade que se transforma num verdadeiro manancial de desculpas para que continue alheia, já que não lhe emociona, não muda sua vida e você vai ter que assistir sorrisos, mesas fartas de comida, copos que não se esvaziam, o tilintar de brindes e “ficar pensando” se um dia você também terá direito a momentos daquela natureza.
Sentimos vergonha destes sentimentos como se não fossem humanos. Há uma parte de nós que não aceitamos e sofremos, desnecessária e inutilmente, pois estão impregnadas na nossa humanidade, mesclada de sentimentos grandiosos e mesquinhos. Os negamos através de milhares de mecanismos que mal nos convencem, quanto mais a quem os observam
Pessoalmente, quero amigos que me dêem o endereço de seus ombros, que sempre tenham paciência para minhas queixas, as repetidas e as que ainda não tive motivo para fazê-las.
Mas também quero amigos que quando estiver fazendo alguma coisa inusitada ou vendo algo raro, lamentem por eu não estar em suas companhias. Que se lembrem que aquele é meu prato preferido quando o tiver degustando, que me escolham entre as dez pessoas que gostariam de acompanhá-los se tivessem que ficar numa ilha deserta. Que me associem a cheiros de frutas e perfumes. Que vejam um vestido ou um objeto numa vitrine e achem “a minha cara”. Que jamais se esqueçam da data do meu aniversário e percam horas preciosas imaginando um presente que vá me surpreender. Amigos que fiquem felizes com a minha felicidade, por mais tola que lhes pareça.
Porque de expectadores de tristezas e “azarões” o mundo está cheio!
ALICE ROSSINI
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
A FAXINA
Ela rasgava aqueles papéis como se fossem a última coisa que ela gostaria de ver na vida. Jogava aquelas caixas cheias de coisas no lixo do mesmo jeito que uma pessoa vomita o jantar do dia anterior. E aquelas bugigangas eram todas estraçalhadas antes de serem entulhadas no grande saco plástico. Minha tia sabia que se ela não deixasse todas aquelas coisas num estado deplorável, eu iria catá-las de volta quando estivessem na porta da casa esperando pelo caminhão do lixo. Por isso, havia a necessidade de destruí-las por completo antes de mandá-las para o esquecimento Mas aquelas não eram coisas que mereciam ser rasgadas, amassadas, partidas, quebradas nem esquecidas. Aqueles eram os vestígios de minha infância. O que incluía fotos, rabiscos, brinquedos, roupas temáticas, adesivos, papeis de bala, revistinhas e qualquer outra coisa que já estivesse mofada o suficiente para, segundo a minha tia, não servir mais.
É óbvio que ninguém gostaria de guardar a nota fiscal de uma compra feita há anos atrás ou um trabalho escolar da época em que os professores ainda castigavam os alunos com palmadas. Mas, mesmo que tudo aquilo fosse considerado um monte de tralha inútil, eram os meus registros do passado e tinham o seu valor. Não mereciam ser jogados no lixo como se fossem uma fralda suja... Por mais que tudo já fosse tão antigo que o próprio tempo já os havia dilacerado, estavam ali as minhas memórias. Uma manchinha numa foto trazia um recordação, uma página rasgada de um livro fazia-me relembrar de algum fato e um brinquedo cujas lembranças me faziam pensar em como era boa aquela época
Mas minha tia não tinha a menor compaixão, ela rasgava as pilhas de desenhos que fiz, quando criança, a sangue frio. Partia os brinquedos ao meio e socava tudo o que encontrava de antigo no saco de lixo. Tudo isso para que eu não tivesse chance de recolher mais tarde. Ela mais parecia um animal destruindo minhas lembranças... É, daí que eu passei a odiar faxinas.
RAFAEL NEVES, estudante, 15 anos
É óbvio que ninguém gostaria de guardar a nota fiscal de uma compra feita há anos atrás ou um trabalho escolar da época em que os professores ainda castigavam os alunos com palmadas. Mas, mesmo que tudo aquilo fosse considerado um monte de tralha inútil, eram os meus registros do passado e tinham o seu valor. Não mereciam ser jogados no lixo como se fossem uma fralda suja... Por mais que tudo já fosse tão antigo que o próprio tempo já os havia dilacerado, estavam ali as minhas memórias. Uma manchinha numa foto trazia um recordação, uma página rasgada de um livro fazia-me relembrar de algum fato e um brinquedo cujas lembranças me faziam pensar em como era boa aquela época
Mas minha tia não tinha a menor compaixão, ela rasgava as pilhas de desenhos que fiz, quando criança, a sangue frio. Partia os brinquedos ao meio e socava tudo o que encontrava de antigo no saco de lixo. Tudo isso para que eu não tivesse chance de recolher mais tarde. Ela mais parecia um animal destruindo minhas lembranças... É, daí que eu passei a odiar faxinas.
RAFAEL NEVES, estudante, 15 anos
domingo, 17 de janeiro de 2010
TARJA PRETA
Tive o privilégio de assistir a peça escrita por Contardo Calligaris, “O HOMEM DA TRAJA PRETA”. Com texto excelente, bem humorado e real, Calligaris denuncia as dificuldades de ser homem, de exercer a masculinidade que muitas vezes torna-se um fardo, principalmente quando acompanhada pela complexidade humana e o ritmo frenético das transformações dos costumes, no caso da peça, os sexuais.
Calligaris, na sua condição de psicanalista não poderia deixar de abordar que parte das dificuldades masculinas tem origem no útero materno, quando a mãe idealiza e “inventa” a pessoa que está gestando. Nascemos, segundo nossos pais, para sermos diferentes, especiais, mas iguais a todo mundo. Porque o diferente incomoda e exige uma criação diferenciada de quem é “normal.” Não é à toa que a indústria de brinquedos fabrica Super Heróis para crianças até determinada idade. Sabem eles que vão ao encontro do imaginário infantil e paterno, uma vez que pais incentivam e se colocam como super homens para suas crias até determinada fase da vida da criança que, quando adolesce descobre outros ídolos.
Mas meu texto, até agora, me parece e a quem assistiu à peça, óbvio. O grande “insight” que a peça provocou em mim foi que todos nós, homens e mulheres temos “tarjas pretas” censurando o que somos nos bastidores dos nossos “bastidores”. Todos têm uma “persona” como disse Jung.
Por trás de cada tarja preta carregada de censuras, culpas, pudores, medos, inseguranças, existe alguém com olhar fixado no vazio e buscando o caminho certo, como se ele existisse ou fosse único
Todas as culturas valoram comportamentos, grosso modo, como convenientes e inconvenientes. E é para isso que servem as tarjas pretas, para cobrir nossas inconveniências. Nossa tão propalada e necessária privacidade esconde o engodo que apresentamos socialmente. Porque o que apresentamos socialmente é um engodo. A mentira conveniente. É nossa privacidade que esconde nossa verdadeira “face”, nosso sorriso de vanglória quando a arrogância de alguém se esbarra com a humildade vitoriosa de outra. É nossa privacidade que esconde quando roemos as unhas dos dedos da nossa ansiedade, quando não tiramos os olhos do telefone esperando ouvir “aquela” voz que teima em calar-se, quando buscamos na ficção a satisfação de fantasias não realizadas, os beijos que não degustamos ou as bofetadas que gostaríamos de ter aplicado até as vinganças que não consumamos.
Porque somos sim, carregados, também de sentimentos negativos. Ira, gula, avareza, soberba, este, ninguém tem, todos se acham humildes, inclusive eu. Preguiça, até tratada no diminutivo – “preguicinha” - tal o estigma e o estrago que faz na imagem de quem a assume. Inveja! Esta última então, ninguém assume, a tarja é enorme e, quanto à luxúria, chega de hipocrisia, todo mundo tem, nem que seja inconsciente e sub-repticiamente e a exerce de inúmeras formas!
Penso que, todos nós temos tarjas pretas a nos proteger, até de nós mesmos. Como campos de força ou como trincheiras contra este “outro”, que um alguém muito importante, chamado Sartre, classificou de infernal.
Voltando à peça, “falou” da sexualidade do ponto de vista masculino. Já estava na hora de uma abordagem séria e, queiramos ou não, com conteúdos concretos. Foi de uma verdade massacrante, por isso saímos todos achando que valeu a pena sair de casa para ouvir o que já sabíamos.
Mas se a perspectiva do texto fosse feminina, sairíamos felizes e sorridentes sim, não só pelo toque de humor contido no texto, mas tenha certeza, algumas lágrimas emocionadas seriam vertidas. Tanto pelo normal pudor feminino como pelo eventual, mas redentor despudor de, enfim, alguém rasgar por dó e por piedade nossas inúmeras e pesadas tarjas pretas que a condição feminina nos impõe.
Por gloriosos momentos, veríamos nossas dificuldades descaradamente expostas.
ALICE ROSSINI
Calligaris, na sua condição de psicanalista não poderia deixar de abordar que parte das dificuldades masculinas tem origem no útero materno, quando a mãe idealiza e “inventa” a pessoa que está gestando. Nascemos, segundo nossos pais, para sermos diferentes, especiais, mas iguais a todo mundo. Porque o diferente incomoda e exige uma criação diferenciada de quem é “normal.” Não é à toa que a indústria de brinquedos fabrica Super Heróis para crianças até determinada idade. Sabem eles que vão ao encontro do imaginário infantil e paterno, uma vez que pais incentivam e se colocam como super homens para suas crias até determinada fase da vida da criança que, quando adolesce descobre outros ídolos.
Mas meu texto, até agora, me parece e a quem assistiu à peça, óbvio. O grande “insight” que a peça provocou em mim foi que todos nós, homens e mulheres temos “tarjas pretas” censurando o que somos nos bastidores dos nossos “bastidores”. Todos têm uma “persona” como disse Jung.
Por trás de cada tarja preta carregada de censuras, culpas, pudores, medos, inseguranças, existe alguém com olhar fixado no vazio e buscando o caminho certo, como se ele existisse ou fosse único
Todas as culturas valoram comportamentos, grosso modo, como convenientes e inconvenientes. E é para isso que servem as tarjas pretas, para cobrir nossas inconveniências. Nossa tão propalada e necessária privacidade esconde o engodo que apresentamos socialmente. Porque o que apresentamos socialmente é um engodo. A mentira conveniente. É nossa privacidade que esconde nossa verdadeira “face”, nosso sorriso de vanglória quando a arrogância de alguém se esbarra com a humildade vitoriosa de outra. É nossa privacidade que esconde quando roemos as unhas dos dedos da nossa ansiedade, quando não tiramos os olhos do telefone esperando ouvir “aquela” voz que teima em calar-se, quando buscamos na ficção a satisfação de fantasias não realizadas, os beijos que não degustamos ou as bofetadas que gostaríamos de ter aplicado até as vinganças que não consumamos.
Porque somos sim, carregados, também de sentimentos negativos. Ira, gula, avareza, soberba, este, ninguém tem, todos se acham humildes, inclusive eu. Preguiça, até tratada no diminutivo – “preguicinha” - tal o estigma e o estrago que faz na imagem de quem a assume. Inveja! Esta última então, ninguém assume, a tarja é enorme e, quanto à luxúria, chega de hipocrisia, todo mundo tem, nem que seja inconsciente e sub-repticiamente e a exerce de inúmeras formas!
Penso que, todos nós temos tarjas pretas a nos proteger, até de nós mesmos. Como campos de força ou como trincheiras contra este “outro”, que um alguém muito importante, chamado Sartre, classificou de infernal.
Voltando à peça, “falou” da sexualidade do ponto de vista masculino. Já estava na hora de uma abordagem séria e, queiramos ou não, com conteúdos concretos. Foi de uma verdade massacrante, por isso saímos todos achando que valeu a pena sair de casa para ouvir o que já sabíamos.
Mas se a perspectiva do texto fosse feminina, sairíamos felizes e sorridentes sim, não só pelo toque de humor contido no texto, mas tenha certeza, algumas lágrimas emocionadas seriam vertidas. Tanto pelo normal pudor feminino como pelo eventual, mas redentor despudor de, enfim, alguém rasgar por dó e por piedade nossas inúmeras e pesadas tarjas pretas que a condição feminina nos impõe.
Por gloriosos momentos, veríamos nossas dificuldades descaradamente expostas.
ALICE ROSSINI
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
QUAL A ÉTICA DO DESEJO?
A arte de boa qualidade – no caso específico me refiro ao cinema e à literatura - pode ser revisitada quantas vezes quisermos. Sempre existirá algum novo aspecto que nosso grau de maturidade ou de perspicácia deverá descobrir. Aí reside a magia e o infinito dos limites da percepção humana
Noite destas, fui recompensada pela insônia assistindo, pela terceira vez CLOSER (Perto demais). O filme, como é sabido, conta a história de dois casais que vivem situações de atração, amor, traição, lealdade, mágoas e tudo que os acompanha.
Coincidentemente, comecei a ler o livro Amar e Trair, cujo autor Aldo Carotenuto pergunta: “Podemos não nos trair e não trair”? O autor, um dos maiores representantes do pensamento de Jung, mergulha sobre o delicado tema - traição - abordando aspectos desconcertantes, para nós leigos, condicionados a conceitos estreitos de fidelidade e lealdade.
A Bíblia está recheada de situações que podem ser caracterizadas como traição. Simbolicamente, quando Adão aceita de Eva o “fruto proibido”, juntos traem o “Criador”. Quando Judas entrega Jesus aos seus algozes e Pedro nega-o três vezes, o traem! Judas até os dias de hoje é demonizado. A covardia de Pedro foi premiada com a chave que lançou a pedra fundamental da Igreja Católica.
Em minha opinião, todos dois traíram. Embora, em relação a Judas já exista uma versão que sua “traição” fazia parte dos planos de Cristo que, na hora da morte pergunta ao Pai: “Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?”. Nestas últimas e trágicas palavras da vida terrena de Jesus, Jung viu um sinal de um malogro radical.
Não vou entrar neste mérito por absoluta ignorância. A lição que tiro desta história é que nem tudo é o que parece.
.
Freud já se referiu à “sensação oceânica” experimentada pelo feto no ventre materno que leva minha condição de leiga a reconhecer o nascimento como uma situação traumática, causada pela interrupção da simbiose mãe-filho. A criança acolhida no útero materno “acha” aquela condição eterna. Quando a natureza a expulsa para a vida a sensação de desamparo da criança e de abandono da mãe têm repercussões nos seus imaginários, cujos conteúdos são de uma traição.
Posto isto, vemos que os fundamentos da traição têm raízes atávicas.
Existem situações, que todos enfrentam, em que nossa lealdade em relação a quem amamos, sejam parceiros, pais, irmãos e amigos são colocadas em xeque. Com relação aos irmãos, pais e amigos a manutenção do princípio é mais fácil. Se os amamos dificilmente seremos desleais a este amor, salvo deslizes de caráter, o que não transforma ninguém em Caim ou Judas, já que somos falíveis.
Quando o conceito é relativo ao relacionamento entre homens e mulheres, outros aspectos têm que ser considerados. Dificilmente alguém preenche todas as expectativas de outro alguém. Alguns vácuos acontecem, principalmente quando o estado de paixão acaba. Estamos em constante transformação. Amadurecemos, modificamos nossas prioridades, nossa visão de mundo, nosso sentir e com ele nosso agir. E cada um de nós modifica-se à sua maneira, no seu ritmo e em várias direções.
Vivemos num mundo com, aproximadamente, sete bilhões de pessoas. Muitos são os encontros e, em cada um deles, uma enorme dose de sentimentos inesperados estão presentes. Existem características, virtudes, defeitos, jeitos de pensar, falar, olhar, que podem ser devastadores para quem os experimenta, ainda que por uma questão de segundos. Uma carência aqui, uma fantasia ali, uma fraqueza acolá, aventuras, encontros e contatos com desfechos imprevisíveis podem surpreender qualquer de nós. O filme CLOSER mostra isto claramente. Todos os encontros foram casuais e definitivos. Todos os desencontros provocados por traições, deslealdades que provocaram raiva e dor.
A inquietação evidente em homens e as repressões que a maioria das mulheres submete-se para que o mundo, pelo menos o Ocidental, seja monogâmico e todos preservem suas zonas de conforto, nos levam a crer que o homem, um animal que só diferencia-se dos outros pelo raciocínio, não possui a monogamia impressa nos seus genes. O costume de ter um só parceiro é, obviamente, meramente cultural. O homem precisa ter certeza que é para sua prole que toda sua força de trabalho e a riqueza gerada por ela estão sendo direcionadas. O Estado precisa de familias estruturadas que lhes sirvam de base e as Igrejas, entre elas a Católica, através dos seus dogmas e princípios assentados na culpa acabam por imprimir um costume que atravessa séculos.
Quem nunca tiver olhado para alguém e desejado ficar ao seu lado, sentir desejo de tocar-lhe, ter fantasiado situações eróticas ou românticas, que atire a primeira pedra. Façamos um exame de consciência rigoroso, liberto de medos, culpas, condicionamentos, moralismos, permitindo-nos ser gente com desejos, fantasias, vontade e vamos perceber quantas vezes na vida tivemos que abrir mão, certo ou erradamente, de momentos de felicidade e de verdade.
Quando abdicamos de sermos levados por algum impulso, seja ele, culturalmente lícito ou ilícito, somos sim leais e honestos com nossos parceiros, se este for o pacto acertado e aceito entre os dois. Mas, ao nos pouparmos o direito de vivermos nossos impulsos, sejam eles de que natureza for, abortando encontros que podem ser definitivos, mágicos ou fugazes estaremos sendo desleais e infiéis conosco?
E aí, como resolveremos este impasse? Porque infidelidade e a deslealdade doem. Estimulam a insegurança, fazem o ferido experimentar um sentimento horrível de exclusão e o algoz a terrível sensação de não ter honrado um compromisso feito de forma livre e consciente.
Mas também, pode sim, fortalecer relações, começando pela sua com voce mesmo. Diagnostica seus limites e por que os ultrapassou. Sabendo de si é mais fácil e menos penoso o enfrentamento com o parceiro e com o modelo pactuado da relação. Ainda é válido? Suportaremos uma mudança? Se for mantido, teremos condição de mantê-lo?
É possível haver vida depois de uma traição. Vida real, sofrida, mas que permite enxergar a humanidade do outro e aceitá-lo não mais como um ser idealizado, mas como alguém real, capaz de assumir erros e por isso mais digno e mais humano. Ou, como aconteceu no filme CLOSER, um dos casais não suporta a pressão e separa-se enquanto o outro sai por aí, tentando cicatrizar feridas.
Bem mais próximo da nossa realidade.
ALICE ROSSINI
Noite destas, fui recompensada pela insônia assistindo, pela terceira vez CLOSER (Perto demais). O filme, como é sabido, conta a história de dois casais que vivem situações de atração, amor, traição, lealdade, mágoas e tudo que os acompanha.
Coincidentemente, comecei a ler o livro Amar e Trair, cujo autor Aldo Carotenuto pergunta: “Podemos não nos trair e não trair”? O autor, um dos maiores representantes do pensamento de Jung, mergulha sobre o delicado tema - traição - abordando aspectos desconcertantes, para nós leigos, condicionados a conceitos estreitos de fidelidade e lealdade.
A Bíblia está recheada de situações que podem ser caracterizadas como traição. Simbolicamente, quando Adão aceita de Eva o “fruto proibido”, juntos traem o “Criador”. Quando Judas entrega Jesus aos seus algozes e Pedro nega-o três vezes, o traem! Judas até os dias de hoje é demonizado. A covardia de Pedro foi premiada com a chave que lançou a pedra fundamental da Igreja Católica.
Em minha opinião, todos dois traíram. Embora, em relação a Judas já exista uma versão que sua “traição” fazia parte dos planos de Cristo que, na hora da morte pergunta ao Pai: “Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?”. Nestas últimas e trágicas palavras da vida terrena de Jesus, Jung viu um sinal de um malogro radical.
Não vou entrar neste mérito por absoluta ignorância. A lição que tiro desta história é que nem tudo é o que parece.
.
Freud já se referiu à “sensação oceânica” experimentada pelo feto no ventre materno que leva minha condição de leiga a reconhecer o nascimento como uma situação traumática, causada pela interrupção da simbiose mãe-filho. A criança acolhida no útero materno “acha” aquela condição eterna. Quando a natureza a expulsa para a vida a sensação de desamparo da criança e de abandono da mãe têm repercussões nos seus imaginários, cujos conteúdos são de uma traição.
Posto isto, vemos que os fundamentos da traição têm raízes atávicas.
Existem situações, que todos enfrentam, em que nossa lealdade em relação a quem amamos, sejam parceiros, pais, irmãos e amigos são colocadas em xeque. Com relação aos irmãos, pais e amigos a manutenção do princípio é mais fácil. Se os amamos dificilmente seremos desleais a este amor, salvo deslizes de caráter, o que não transforma ninguém em Caim ou Judas, já que somos falíveis.
Quando o conceito é relativo ao relacionamento entre homens e mulheres, outros aspectos têm que ser considerados. Dificilmente alguém preenche todas as expectativas de outro alguém. Alguns vácuos acontecem, principalmente quando o estado de paixão acaba. Estamos em constante transformação. Amadurecemos, modificamos nossas prioridades, nossa visão de mundo, nosso sentir e com ele nosso agir. E cada um de nós modifica-se à sua maneira, no seu ritmo e em várias direções.
Vivemos num mundo com, aproximadamente, sete bilhões de pessoas. Muitos são os encontros e, em cada um deles, uma enorme dose de sentimentos inesperados estão presentes. Existem características, virtudes, defeitos, jeitos de pensar, falar, olhar, que podem ser devastadores para quem os experimenta, ainda que por uma questão de segundos. Uma carência aqui, uma fantasia ali, uma fraqueza acolá, aventuras, encontros e contatos com desfechos imprevisíveis podem surpreender qualquer de nós. O filme CLOSER mostra isto claramente. Todos os encontros foram casuais e definitivos. Todos os desencontros provocados por traições, deslealdades que provocaram raiva e dor.
A inquietação evidente em homens e as repressões que a maioria das mulheres submete-se para que o mundo, pelo menos o Ocidental, seja monogâmico e todos preservem suas zonas de conforto, nos levam a crer que o homem, um animal que só diferencia-se dos outros pelo raciocínio, não possui a monogamia impressa nos seus genes. O costume de ter um só parceiro é, obviamente, meramente cultural. O homem precisa ter certeza que é para sua prole que toda sua força de trabalho e a riqueza gerada por ela estão sendo direcionadas. O Estado precisa de familias estruturadas que lhes sirvam de base e as Igrejas, entre elas a Católica, através dos seus dogmas e princípios assentados na culpa acabam por imprimir um costume que atravessa séculos.
Quem nunca tiver olhado para alguém e desejado ficar ao seu lado, sentir desejo de tocar-lhe, ter fantasiado situações eróticas ou românticas, que atire a primeira pedra. Façamos um exame de consciência rigoroso, liberto de medos, culpas, condicionamentos, moralismos, permitindo-nos ser gente com desejos, fantasias, vontade e vamos perceber quantas vezes na vida tivemos que abrir mão, certo ou erradamente, de momentos de felicidade e de verdade.
Quando abdicamos de sermos levados por algum impulso, seja ele, culturalmente lícito ou ilícito, somos sim leais e honestos com nossos parceiros, se este for o pacto acertado e aceito entre os dois. Mas, ao nos pouparmos o direito de vivermos nossos impulsos, sejam eles de que natureza for, abortando encontros que podem ser definitivos, mágicos ou fugazes estaremos sendo desleais e infiéis conosco?
E aí, como resolveremos este impasse? Porque infidelidade e a deslealdade doem. Estimulam a insegurança, fazem o ferido experimentar um sentimento horrível de exclusão e o algoz a terrível sensação de não ter honrado um compromisso feito de forma livre e consciente.
Mas também, pode sim, fortalecer relações, começando pela sua com voce mesmo. Diagnostica seus limites e por que os ultrapassou. Sabendo de si é mais fácil e menos penoso o enfrentamento com o parceiro e com o modelo pactuado da relação. Ainda é válido? Suportaremos uma mudança? Se for mantido, teremos condição de mantê-lo?
É possível haver vida depois de uma traição. Vida real, sofrida, mas que permite enxergar a humanidade do outro e aceitá-lo não mais como um ser idealizado, mas como alguém real, capaz de assumir erros e por isso mais digno e mais humano. Ou, como aconteceu no filme CLOSER, um dos casais não suporta a pressão e separa-se enquanto o outro sai por aí, tentando cicatrizar feridas.
Bem mais próximo da nossa realidade.
ALICE ROSSINI
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
NÃO AO MEDO!
Pelo simples fato de que se pense diferente, não se é menos brasileiro do que a “situação” insiste em nos fazer acreditar. Hoje fazem alarde de que são os mais fiéis cidadãos que esta pátria amada, mãe gentil, pariu.
Como conseqüência do cotidiano que, infelizmente, por momentos nos faz pensar que a indiferença ou o hábito se apropria dos cidadãos comuns, há uma inquietação que nos ocorre a cada instante: Como é possível que Lula ainda tenha tanta gente que o apóia? Por que o Presidente goza de tão alta porcentagem de aceitação, principalmente em setores populares do país ainda que não tenha dado mostras materiais de eficácia do seu mandato, como melhorar os mais importantes setores sociais?
E, não me refiro aos seus colaboradores mais íntimos, porque aquele que recebe benefícios a troco de lealdades, mesmo quando não se desculpa, apesar do desonroso que nos pareça, é possível entendê-lo. Refiro-me aqueles que perderam seus empregos motivados por medidas políticas, e não por justificativas econômicas.
Aqueles que de uma forma ou outra estão sendo punidos por não ser um reduto eleitoral da situação. Existem também os que se arrastam nos ambulatórios da saúde pública e encontram a morte, agonizando lentamente por falta de assistência mais básica à insumos médicos. Ou, os que não têm um teto próprio e são empurrados de um lado para o outro com a promessa de que um dia o terão.
Enfim, são tantos os não atendidos e não vejo nenhuma reação dos governantes porque “o que o olhos que não vêem o coração não sente”. Só resta aos que ficam se entregarem ao alcoolismo com a esmola que recebem como salário família. E, novamente nos perguntamos: Por acaso não são os mesmos que sofrem com a insegurança ou a criminalidade crescente? Não são os principais prejudicados com a deficiência da saúde pública? O aumento do custo de vida? A deterioração do transporte público?
Poderíamos encontrar várias explicações: A falta de educação do povo, o "voto de cabresto" em épocas eleitorais, a realidade de que este setor da população não tem oportunidades e, portanto, não tem nada a perder. Também, é verdade que pela primeira vez se lhes falou diretamente, sem palavras rebuscadas, sem discursos complicados. Talvez por isso se apaixonassem por quem lhes fala com a linguagem a que estão acostumados, e usando efeitos visuais mostrando contínua e estrategicamente quatro dedos onde deveria haver cinco, pobrezinho! Quem sabe?
A situação é propícia para uma análise racional do fenômeno em questão. Devemos todos, e de uma vez por todas, tirarmos a venda dos olhos e sabermos ler as pedras da rua, sem justificações de nenhum tipo. Está claro que Lula é conseqüência do passado, já estudamos essa lição até a exaustão. Está na hora de semearmos a verdade, este é o momento de se cultivar o que se está por vir, ou, o que falta fazer para, finalmente, sermos todos, parte da vida de um só povo.
Um povo sem genéricos. O mesmo que vende DVD’s piratas e que abraça o subemprego. É hora de perguntar cara a cara o que querem? O Que buscam? Com que sonham? Trazê-los à realidade da vida possível em um campo de oportunidades materializáveis. E, sobretudo, é urgente, mais que qualquer outra coisa, explicar-lhes em seus bairros, onde vivem, em seu contexto, que um voto não dá de comer ao faminto, mas exige o cumprimento das promessas ou, para todos os efeitos, pode e tem que ser o castigo dado à ausência de efetividade do atual governo.
Só assim se pode mudar o rumo ao país e fazer possível as melhorias em suas condições de vida. Só assim poderemos pôr em paralelo, o Brasil de Lula, propagandeado aos quatro ventos no exterior, com a nossa realidade mais básica.
Esta é uma tarefa de todos. Esta é uma tarefa da Nação Brasileira!
Fernando Trovador
Como conseqüência do cotidiano que, infelizmente, por momentos nos faz pensar que a indiferença ou o hábito se apropria dos cidadãos comuns, há uma inquietação que nos ocorre a cada instante: Como é possível que Lula ainda tenha tanta gente que o apóia? Por que o Presidente goza de tão alta porcentagem de aceitação, principalmente em setores populares do país ainda que não tenha dado mostras materiais de eficácia do seu mandato, como melhorar os mais importantes setores sociais?
E, não me refiro aos seus colaboradores mais íntimos, porque aquele que recebe benefícios a troco de lealdades, mesmo quando não se desculpa, apesar do desonroso que nos pareça, é possível entendê-lo. Refiro-me aqueles que perderam seus empregos motivados por medidas políticas, e não por justificativas econômicas.
Aqueles que de uma forma ou outra estão sendo punidos por não ser um reduto eleitoral da situação. Existem também os que se arrastam nos ambulatórios da saúde pública e encontram a morte, agonizando lentamente por falta de assistência mais básica à insumos médicos. Ou, os que não têm um teto próprio e são empurrados de um lado para o outro com a promessa de que um dia o terão.
Enfim, são tantos os não atendidos e não vejo nenhuma reação dos governantes porque “o que o olhos que não vêem o coração não sente”. Só resta aos que ficam se entregarem ao alcoolismo com a esmola que recebem como salário família. E, novamente nos perguntamos: Por acaso não são os mesmos que sofrem com a insegurança ou a criminalidade crescente? Não são os principais prejudicados com a deficiência da saúde pública? O aumento do custo de vida? A deterioração do transporte público?
Poderíamos encontrar várias explicações: A falta de educação do povo, o "voto de cabresto" em épocas eleitorais, a realidade de que este setor da população não tem oportunidades e, portanto, não tem nada a perder. Também, é verdade que pela primeira vez se lhes falou diretamente, sem palavras rebuscadas, sem discursos complicados. Talvez por isso se apaixonassem por quem lhes fala com a linguagem a que estão acostumados, e usando efeitos visuais mostrando contínua e estrategicamente quatro dedos onde deveria haver cinco, pobrezinho! Quem sabe?
A situação é propícia para uma análise racional do fenômeno em questão. Devemos todos, e de uma vez por todas, tirarmos a venda dos olhos e sabermos ler as pedras da rua, sem justificações de nenhum tipo. Está claro que Lula é conseqüência do passado, já estudamos essa lição até a exaustão. Está na hora de semearmos a verdade, este é o momento de se cultivar o que se está por vir, ou, o que falta fazer para, finalmente, sermos todos, parte da vida de um só povo.
Um povo sem genéricos. O mesmo que vende DVD’s piratas e que abraça o subemprego. É hora de perguntar cara a cara o que querem? O Que buscam? Com que sonham? Trazê-los à realidade da vida possível em um campo de oportunidades materializáveis. E, sobretudo, é urgente, mais que qualquer outra coisa, explicar-lhes em seus bairros, onde vivem, em seu contexto, que um voto não dá de comer ao faminto, mas exige o cumprimento das promessas ou, para todos os efeitos, pode e tem que ser o castigo dado à ausência de efetividade do atual governo.
Só assim se pode mudar o rumo ao país e fazer possível as melhorias em suas condições de vida. Só assim poderemos pôr em paralelo, o Brasil de Lula, propagandeado aos quatro ventos no exterior, com a nossa realidade mais básica.
Esta é uma tarefa de todos. Esta é uma tarefa da Nação Brasileira!
Fernando Trovador
sexta-feira, 1 de janeiro de 2010
O EXEMPLO DAS FORMIGAS
Quando Freud se perguntou “o que querem as mulheres?” certamente não imaginou que esta pergunta seria emblemática e que nos perseguiria até hoje. Questionou-se sobre nossas idiossincrasias porque dedicou, a maior parte do seu tempo estudando-nos. Tivesse ele se dedicado, da mesma forma ao seu próprio gênero, certamente, faria igual questionamento.
É sabido que o mentor da Psicanálise pensou bem mais além. Tinha consciência que a angústia faz parte da condição humana. A vida por si só, com seus sentidos ocultos e seus imprevistos, contribui para isto. De lá pra cá, muita coisa mudou e hoje sabemos nomear nossas tragédias pessoais. As coletivas, nós mesmos as tornamos infindáveis e algumas irreversíveis.
Homens e mulheres lidam cada qual à sua maneira com as questões inerentes aos respectivos gêneros. Inclusive e principalmente as que advêm do fato de sermos diferentes.
Enquanto nós somos aparelhadas com as características da busca do autoconhecimento, de sermos reflexivas e resistentes às vicissitudes, na sua grande maioria os homens, por razões já sabidas negam-se a se reconhecerem frágeis, preferindo carrear sua energia e inteligência para outras áreas.
Mulheres, com seu instinto gregário, quando sofrem ou estão felizes agrupam-se e, sem pudores falam de si, expõem com naturalidade seus sentimentos, não importando a natureza. Homens quando se juntam não têm o costume de falarem de questões subjetivas e das dores que os angustiam. Preferem discutir desde o problema do aquecimento global à crise palestina. Procurar ajuda de suas companheiras, filhos e amigos íntimos nem é cogitado. Buscar ajuda profissional é passar “atestado de incompetência”.
O resultado deste distanciamento são ilhas de solidão e sofrimento provocados pelo acontecer natural da vida cujos rituais de passagem, todos os seres vivos atravessam independente do que os diferencie.
Sempre fui a favor da mistura. Contra a “apartheid” sexual. Não acho saudável. Só aprenderemos uns sobre os outros se nos juntarmos e nos permitirmos mergulhos profundos, sem pudores nem reservas.
Alguns dizem que a vida é simples e nós a complicamos. Verdade e equívoco.
Tanto homens quanto mulheres somos seres complexos, uns mais que outros, vivendo num mundo em alucinante transformação, cujas demandas teimamos em atender. Junte-se a tudo isto, as questões que fogem ao nosso controle, o fato de termos de lidar com perdas, as previstas e imprevistas, as lutas pelo poder, que queiramos ou não nos atingem e nossa intolerância em relação á nós mesmos.
É... Se quisermos sobreviver, já está passando da hora de transpor nossas diferenças e assumir o que temos em comum, na nossa maravilhosa e desconcertante humanidade
Mais uma vez, neste Blog, levanto a bandeira da solidariedade, da conciliação, da quebra de tabus e do entendimento entre os seres.
“O que será o amanhã? Será o que Deus quiser”. Terreiros sinalizam que Oxalá, o orixá dos orixás, o padroeiro da Paz, regerá este ano. Que entendamos as mensagens dos nossos próprios símbolos.
Ouçamos, também, o "recado" que o Universo nos mandou através de Vênus, planeta do amor e da criatividade.
ALICE ROSSINI
É sabido que o mentor da Psicanálise pensou bem mais além. Tinha consciência que a angústia faz parte da condição humana. A vida por si só, com seus sentidos ocultos e seus imprevistos, contribui para isto. De lá pra cá, muita coisa mudou e hoje sabemos nomear nossas tragédias pessoais. As coletivas, nós mesmos as tornamos infindáveis e algumas irreversíveis.
Homens e mulheres lidam cada qual à sua maneira com as questões inerentes aos respectivos gêneros. Inclusive e principalmente as que advêm do fato de sermos diferentes.
Enquanto nós somos aparelhadas com as características da busca do autoconhecimento, de sermos reflexivas e resistentes às vicissitudes, na sua grande maioria os homens, por razões já sabidas negam-se a se reconhecerem frágeis, preferindo carrear sua energia e inteligência para outras áreas.
Mulheres, com seu instinto gregário, quando sofrem ou estão felizes agrupam-se e, sem pudores falam de si, expõem com naturalidade seus sentimentos, não importando a natureza. Homens quando se juntam não têm o costume de falarem de questões subjetivas e das dores que os angustiam. Preferem discutir desde o problema do aquecimento global à crise palestina. Procurar ajuda de suas companheiras, filhos e amigos íntimos nem é cogitado. Buscar ajuda profissional é passar “atestado de incompetência”.
O resultado deste distanciamento são ilhas de solidão e sofrimento provocados pelo acontecer natural da vida cujos rituais de passagem, todos os seres vivos atravessam independente do que os diferencie.
Sempre fui a favor da mistura. Contra a “apartheid” sexual. Não acho saudável. Só aprenderemos uns sobre os outros se nos juntarmos e nos permitirmos mergulhos profundos, sem pudores nem reservas.
Alguns dizem que a vida é simples e nós a complicamos. Verdade e equívoco.
Tanto homens quanto mulheres somos seres complexos, uns mais que outros, vivendo num mundo em alucinante transformação, cujas demandas teimamos em atender. Junte-se a tudo isto, as questões que fogem ao nosso controle, o fato de termos de lidar com perdas, as previstas e imprevistas, as lutas pelo poder, que queiramos ou não nos atingem e nossa intolerância em relação á nós mesmos.
É... Se quisermos sobreviver, já está passando da hora de transpor nossas diferenças e assumir o que temos em comum, na nossa maravilhosa e desconcertante humanidade
Mais uma vez, neste Blog, levanto a bandeira da solidariedade, da conciliação, da quebra de tabus e do entendimento entre os seres.
“O que será o amanhã? Será o que Deus quiser”. Terreiros sinalizam que Oxalá, o orixá dos orixás, o padroeiro da Paz, regerá este ano. Que entendamos as mensagens dos nossos próprios símbolos.
Ouçamos, também, o "recado" que o Universo nos mandou através de Vênus, planeta do amor e da criatividade.
ALICE ROSSINI
Assinar:
Postagens (Atom)