quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

DIREITO AO DIREITO!

Segundo anunciado insistentemente pela Imprensa, a macabra relação horas x morte é assustadora: em 16 horas três mulheres foram brutamente assassinadas pelos seus maridos. O motivo? Não queriam mais viver com eles. Uma delas fez oito denúncias à Delegacia de Proteção à Mulher e nenhuma providência legal foi tomada.

Provavelmente quem acha que tem direitos de vida e morte sobre alguém se acha poderoso. Aliás, poderosíssimo! E este poder lhe foi outorgado, sorrateiramente, ao longo de séculos, à custa de omissões, sob a égide da ignorância, ao preço da submissão e por que não, do oportunismo.

Poder e direitos são dois conceitos muito interligados. Aliás, quem tem poder deve reconhecer que existe muita gente que tem direitos. Mas, quem tem poder tem tantos deveres quanto quem não os tem. Direito não se negocia, antes de deixar de ser direito alguma coisa tem que mudar. Para começar um dispositivo legal que legitime sua supressão.

Existem direitos que estão impressos na Constituição, que são tão importantes que são chamados Direitos Elementares. O direito à vida, o direito de ir e vir e o direito de expressão dentre outros. Desculpem os advogados, mas não vou falar nos demais, pois sou completamente leiga, falo como tal e, ao me alongar, fujo da proposta do texto.

Direitos têm uma característica peculiar, uma vez que você abre mão de um, por mais insignificante que possa parecer recuperá-lo é difícil! E nesta escalada de concessões, quando você percebe está totalmente cativo. É assim tanto nas relações pessoais quanto nas sociais. No caso das relações pessoais há que haver uma correlação de forças sem a qual elas adoecem. No caso das sociais, as coisas são bem mais complexas, os governos, a depender do sistema adotado devem procurar manter um equilíbrio perfeito entre as Instituições que o integram o que facilitará a governabilidade. Numa sociedade de classes, este equilíbrio também é necessário. Governo e sociedade devem sempre buscar a equidade para que haja harmonia que promova o bem estar de todos.

Portanto, tanto quem detém o poder quanto quem é comandado, além de ter direitos e deveres, deve zelar pela manutenção desta correlação de forças, sem a qual, nenhuma relação, seja de que natureza for, funciona.

Veja o exemplo da Venezuela. O Presidente Hugo Chávez fechou seis canais de televisão porque criticavam o governo que comanda. Em se tratando de América Latina o silêncio oficial dos países vizinhos referente a este assunto, me causa arrepios de horror. Outros precedentes estão sendo criados e os governos ditos democráticos fazem “visitas grossas”, quando se trata de alguns requisitos exigidos para países integrarem organismos internacionais. Respeitar regras democráticas é uma delas. Esta exigência é feita no Mercado Comum Europeu e ninguém discute. Existem princípios com os quais não se transige.

Penso que há uma estreita relação entre o direito de uma mulher “dizer” que não quer mais conviver com um homem e um homem, que representa um governo não aceitar críticas em relação à sua forma de comandar, usando a força para impedir a liberdade de expressão que no fundo é o mesmo direito que as três mulheres em questão usaram para manifestarem suas vontades.

Estas formas de agir diante do que não lhe agrada é um traço político e cultural que determina o nível de liberdade existente num país ou numa família. Claro que se este é um estado que está num Continente com histórico de regimes totalitários ou uma família que não costuma respeitar direitos uns dos outros, existe uma perigosa tendência de recrudescimento do uso da força para cercear direitos que podem, no caso da família, acabar em crimes, de diversas formas o, no de governos, cujos desfechos, infelizmente, já conhecemos.

A sensação que estes dois fatos me causam é de impotência e descrença nas Instituições que garantem os direitos dos indivíduos e, a certeza que, quando convém, as leis se relativizam até perderem o valor subjetivo. Porque força de lei, já perderam há muito tempo, já que foram descumpridas.

A verdade é que o mundo continua preso a velhos conceitos, embora estejamos em pleno século vinte e um. Em todos os lugares vemos o homem indiferente e arrogante desrespeitando a natureza, provavelmente esperando dela um “perdão” através da reversão da sua forma natural de reagir às agressões. Maltratam-na em nome de um desenvolvimento que me parece não haverá testemunhas nem beneficiários.

Por outro lado, pessoas totalmente entregues e subjugadas à sua fúria, curvando-se à sua pequenez diante dos desastres ecológicos que se evidencia através do número de vidas ceifadas.

Tudo agravado pela existência do fantasma do autoritarismo, tanto doméstico quanto de estado, com pessoas matando ou mandando matar quem ousa dizer o que pensa.

Desculpem o pessimismo, mas é o que vejo, ouço e sinto. E, por mais que políticos façam proselitismo em cima de misérias e antigas carências teimosamente ainda presentes, por mais bem intencionados que alguns organismos esforcem-se para ajudar os necessitados, por mais que a justiça tente equilibrar sua simbólica balança para que possa julgar assassinos e caudilhos, sua cegueira, cada dia, assume características de criminosa omissão.

Assim, fica difícil manter a esperança de que um dia o Planeta será um lugar menos inóspito.

ALICE ROSSINI

8 comentários:

Cecília Fraga disse...

Tô viciada no seu BLOG!(risos)Os textos que voce escreve, acho, são pinçados dos sentimentos que as pessoas não tem chance de falar. Mas, tenha certeza que sentem. E toda vez que um escritor entra no coração e na cabeça das pessoas ele atinge sua meta.

É esta desesperança, contra qual luto mas, os fatos acirram que voce tão bem descreve que está levando as pessoas à imobilidade.

Parabens.

Penha Castro disse...

Ditadores, psicopatas, loucos e paranóicos saem de alguma familia. Tem pai, mãe como qualquer um de nós. Provavelmente, salvo os doentes mesmo, ditadoes são pessoas criadas sem limites, que nao conseguem ouvir a paravra não nem ter nehuma vontade sua contrariada.

Crescem, aprimoram seu lado ruim, porque sempre acham quem lhes dê espaço.

Se todos nós refletíssemos um pouco sobre a responsabilidade de criar um filho, que temos obrigação de levá-los para o caminho do bem, lhes dar conceitos e princípios éticos, o mundo esraria bem diferente.

Mas é mais fácil colocar pessoas no mundo, se considerar normal normal, e cuidar da própria vida. A sociedade que se lixe!

Ricardo Farias disse...

UM MUNDO EM QUE DIREITOS NÃO ÃO RESPEITADOS É A BARBARIE, ONDE A LEI DO MAIS PODEROSO E DO MAIS FORTE É A QUE PREVALECE.

COMPARTILHO COM SUA DESESPERANÇA EMBORA ACHE QUE DEVEMOS NOS ESFORÇAR PARA QUE AS COISAS NÃO PIOREM. O SILENCIO DE QUEM TEM DISCERNIMENTO É TÃO NOCIVO QUANTO A AÇÃO DOS QUE NÃO TEM CONSCIENCIA DO MAL QUE FAZEM.

CADA UM QUE FAÇA A SUA PARTE.

Aparecida Matos disse...

Alice

É a primeira vez que entro no seu BLOG. Inicialmente quero lhe parabenizar pela seriedade competente com que voce aborda temas polêmicos, delicados e atuais sem cair em generalizações irresponsáveis. É bem fundamentada, e com uma linguagem clara e sem subterfúrgios.

Neste texto, em particular, voce criou um elo que realemente existe, entre a violência contra as mulheres, provocadas pelo autoritarismo dos maridos e o autoritarismo de estado provocado pelos governantes. Os direitos de livre expressão, de manifestar vontades, de criticar tem a mesma natureza e nascem do mesmo lugar, dentro ou fora de casa. Tanto o ditador, quanto o marido assassino são indivíduos.

Vou lhe dizer uma coisa, a corrente que me fez chegar ao seu BLOG é tão grande que, confesso, perdi a referência do primeiro elo.

Portanto, a responsabilidade de quem escreve é enorme e pelo que li o seu BLOG tem cumprido seu papel brilhantemente.

IZABEL disse...

Alice,
O tema abordado por você, mais uma vez é polêmico e complexo!

Uma vez fiquei indignada com um “caso”, geograficamente bem próximo a nós – Villas do Atlântico - uma mulher “assistente social” – agredida de forma terrível pelo marido, ficou hospitalizada, entre a vida e a morte... Foi um caso noticiado em toda a mídia... Revoltante... Os pais da vítima prestaram depoimento, deram queixa, tudo “nos conformes da lei”... Passados alguns meses, a vítima, já “recuperada”, foi prestar o depoimento.... PASMEM!!! Ela inocentou o “marido”!!! Eu só tenho uma explicação!!! Reporto-me à Psicologia Social de Pichon Rivière, quando ele estrutura – a TEORIA DO VÍNCULO. Neste caso em particular, o vínculo doentio, o vínculo que une duas pessoas de forma patológica.

Sei que muitas vezes a nossa Justiça é “cega, muda e surda” - mas que infelizmente nós mulheres ainda estamos ancoradas em padrões arcaicos, onde a mulher escrava tem que servir o marido de forma subserviente, tendo que “relevar” toda e qualquer forma de agressão! Quer seja verbal, psicológica e até mesmo física! Temos que refletir – quais são os vínculos que estão nos ligando às relações que mantemos? Quais personagens internos estão nutrindo e repetindo comportamentos que criticamos e abominamos?

Querida, você tem escrito textos que nos inquietam – tenha a certeza que estes textos são de uma responsabilidade social incrível! Continue nos instigando... Derrubando as nossas máscaras... Você não imagina o quanto tem me ajudado e perceber as sutilezas do meu cotidiano.

Obrigado, e me permita dizer que além de te admirar - TE AMO!

Bjss,
Bel

Amanda disse...

Alice,

Hoje es`´avmos num bar e o assunto foi homem, claro (risos). Dentre algumas vantagens que redescobrimos pela sua existencia nas nossas vidas, reconhecemos também que muitas vezes nos sufocam com suas exigências e vontades que sempre devem ser atendidas.

Por que els tem tanta dificuldade de lidar com frustrações? Acho que é da natureza deles, da história pessoal e da cultura que os fazem uns verdeiros déspotas.

Ainda os aguentamos porque alguns que são "esclarecidos"

Muito bom!
p.s. dei o enfereço do seu blog pra milheres de pessoas.

Vitória Régia disse...

Também me pergunto o porque da onissão dos "democratas" quanto às arbitrariedades de Chavez. Mas me permito responder porque a mulher, ja no século 21 vive sob o jugo do homem. Muitas têm preguiça de ir à luta e batalhar para serem independentes economicamente. Outras porque não querem abrir mão do status de mulher casada. A grande maioria, em que pese a covardia de enfrentar o novo, é o medo da solidão. Como, ter um monstro insensivel lhe rondando pudesse estar na categoria de companhia.

Adorei o texto e estou gostando mais ainda a direção que seu BOLG está tomando.

bjs

Mariana disse...

Minha querida, voce está no "pais das maravilhas". Só ontem o gatuno de Brasilia, com tanta prova contra ele, foi preso!