Esta frase pode parecer obvia. O amor como todos os sentimentos são invisiveis. É o mais inefável, etereo, inexplicável, incompreendido e multifacetado de todas as emoções experimentadas pelo homem.
Manifesta-se ou esconde-se como, desculpem-me a grosseira analogia, uma barata que ultrapassa e esconde-se em lugares nunca imaginados. Só elas sabem como entram ou como saem por uma fresta pretensamente hermética. Como uma barata, o amor mete medo. Ou os enfrentamos e aceitamos sua perigosa e instigante presença, podemos esmgagá-los ou, simplesmente, ignorá-los, afinal, já que existem, possuem a mais cruel das prerrogativas inerentes ao existir: sofrer por ser ignorado .
Não raro ficamos sem saber o que fazer com ele e, como as baratas, escapam diante de nossos olhos e, sem sabermos como, tornam-se invisiveis!
Pode o amor estar nos mais inusitados lugares. Camuflado de um odio presumido, de uma magoa mal resolvida ou adormecido nas profundezas da alma. Pode residir numa conversa que ficou presa na garganta, num silêncio que fecha portas ou num barulho que abre feridas. Sobreviver de um desencontro que não o revela ou de um encontro que o desmascara: Não! Isto não é amor!
Mas, também, pode estar nos pequenos gestos de cuidado: dar ao outro a melhor fatia da carne, o café quentinho, pegar agua no meio da noite, puxar o cobertor por perceber o outro gelado pelo frio e todos os pequenos detalhes que juntos, chamamos de bem estar, felicidade , qualidade de vida, paz.
Amor é sensação de completude, de tempo parado, de vontade de discordar para ensinar, de merecer a verdade, feia ou bonita, confortável ou desestruturante. O amor presume a urgência e abdica da pressa que obriga e dispensa a presença do outro. O amor sente prazer na saudade e transborda paciência na presença constante. Por ser dialético, seu circulo fecha-se no odio. Na indiferença, jamais!
Há uma necessidade humana em tornar tudo que é abstrato em substantivo. Com o amor, sentimento do qual precisamos para nos sentir felizes, esta necessidade exacerba-se. Então, declarar, abraçar, beijar, dar presentes, enviar mensagens apaixonadas e outras manifestações objetivas, claro que também necessarias e instintivas, principalmente na fase do apaixonamento,solitarias se relativizam e, com o tempo perdem a densidade.
Se fizermos um exercicio e só nos permitirmos manifestações românticas, deixando de lado os pequenos cuidados citados acima, o amor esvazia-se, perde sentido. De tão objetivo, perde o encantamento da sua subjetividade.
E a objetividade da “certeza”, sensação impossivel no amor, lhe confere o “status” de atração, entusiasmo e outras sensações que situam-se no patamar da paixão que poderá, ou não, transcender e transformar-se em amor associado à ingredientes como amizade, cumplicidade, confiança , atração sexual e outras manifestações objetivas.
Portanto o amor, como as baratas, perdoem-me novamente, também detesto-as, é invisível. Só o vemos quando estamos muito atentos, receptivos e capazes de perceber que existe alguma coisa estranha e assutadora como as baratas ou mágica e surpreendente como o amor, bem perto de nós.
ALICE ROSSINI
12 comentários:
Corajosa, falar de amor! Sentimento não só invisivel como indescritível e cada um sente de um jeito. Mas,com seu talento, conseguiu descrever vários de seus mais importantes aspéctos.
Parabéns, está lindo, realista e ao mesmo tempo idealista
O amor é tudo.Como voce diz, até o ódio pode ser uma forma estranha de amar, de não esquecer a pessoa. Pode também ser platônico e correspondido da mesma forma. Na verdade é o sentimento que move o mundo.Sem ele, nos sentimos vazios, solitários e adoecemos.
Tá vendo? Fiquei até romântico (risos), qualidade que dizem que não tenho. Mas lendo um texto assim, fico pensando que me falta um amor.De qualquer forma, serviu como alerta
Parabéns!
Voce, mais que ninguem pode falar de amor.Sabemos que vivemos o amor verdadeiro, de pessoas faliveis e normais, não aquele amor idealizado dos romances.Voce, mais que ninguem sabe o quanto é difícil e o quanto vale a pena amar, já que dedicou sua vida ao amor. Não só à mim mas,também aos nossos filhos, nossas familias e amigos.
Quanto às baratas, sabendo do pavor que sente por elas rs, achei a analogia criativa e corajosa.
Nosso amor é sólido porque é tão visível quanto invisível, apesar de tantos anos de convivência.
Muitos beijosssss
O amor é o sentimento mais declarado em vão que conheço. Muitas pessoas o confundem com Outras emoções, como acomodação, hábito ou preguiça de buscar algo mais instigante que, por mais que o tempo passe,o amor não perde esta caracteristica.
Muito boa a forma como dividiu, quase didaticamente
(risos) os vários sentimentos que achamos ser amor.
Concordo com voce. O amor está nos detalhes, nos pequenos gestos de carinho, no respeito pela idividualidade do outro, em interessar-se pelo que lhe é importante. O resto, embora agrade e corresponda às expectativas românticas que fomos criados para valorizar, para mim, não querem dizer absolutamente nada se não houver o respeito e a aceitação.
Alice,
muito bacana teu blog, rí até chorar da piada do Frango com Whisky!
Beijos
Na semana dos namorados, pretensamente dedicada ao amor, voce nos lembrou o que realmente podemos chamar de amor. Que ele se esconde em milhares de formas contraditórias,verdeiras e equivocadas. Brilhantemente, conseguiu num texto, falar de um sentimento tão complexo, tão pouco entendido e menos ainda exercido.
Parabéns
AI EU VI, FALAR DE AMOR SEM SER "FRESCA".PARABÉNS. MUITA GENTE DEVERIA LER ESTA CRÔNICA PARA SABER FAZER A DIFERENÇA ENTRE AMOR, APIXÃO E ATRAÇÃO."UMA COISA É UMA COISA. OUTRA COISA É OUTRA COISA"
MUITO BOM, PRA VARIAR(RISOS)
ONDE SE LÊ APIXÃO, LEIA-SE PAIXÃO. ACHO QUE O AMOR TIRA A GENTE DO SERIO(RISOS)
O amor não acaba. Nós é que acabamos com ele, achando que é para sempre, que não precisa de cuidados, sempre tirando dele o encantamento. Aí, nem a amizade, destino de todo amor, resiste.
Se ficássemos mais atentos para a parte invisível do amor, talvez a parte visível, que tanto conforto nos tras, durasse mais um pouco e amizade se aprofundasse.
Espero que muita gente leia e compreenda esta crônica.
Seu BLOG, quem me indicou, foi um amigo comum. Adorei mas, sou tímida e não pretendo me identificar. Como detesto mensagens anônimas, vou me auto denominar de Joana D'Arc.
Pois bem, este texto sobre o amor, além de didático (risos) identifica de forma bonita e leve as diferenças de sentimentos. Nós mulheres, principalmente, temos a "mania" de confundir sexo com amor e paixão. Azar nosso que sofremos à toa. O amor, não digo que seja invisível mas, é sutil, feito de pequenos detalhes e precisa de muitos cuidados para sobreviver. O que não condiz com os arroubos da paixão e a rapidez do sexo. Não entendo, só o medo da solidão pode justificar, porque, as pessoas, homens tambem, fazem de tudo uam coisa só.
Adorei a forma com que voce diferenciou o que nem seria necessário, mas acaba sendo.
Vou ser sua leitora.
Bela forma de dismitificar o "romantismo barato" que muito poucos usam com sinceridade e emoção. Vejo milhares de casais onde a manifestações de amor resumem-se a presentes e flores nos dia "oficiais". Mas os comportamentos que voce tão poeticamente descreveu, passam despercebidos e levam, sem que percebam, uma vida sêca e sem amor.
Este texto é pedagógico. Muita gente deve tê-lo lido como se olha num espelho.
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