terça-feira, 15 de dezembro de 2009

DOCE REGRESSO

Viajar é uma maravilha! Se existem disponibilidade de tempo e dinheiro, algumas viagens curtas durante o ano, além de relaxantes, oportunizam conhecer diversos lugares neste mundo, tão vasto quanto surpreendente.

E é a constatação da diversidade do mundo que nos faz pessoas melhores. Testemunharmos as diferentes formas de comportamentos, percebermos a infinita nuance de cores da natureza, de peles e de olhos. As diversas texturas de cabelos, sentir diferentes paladares, ouvir sons que vão dos guturais, aos mais familiares, até os impronunciáveis. Conhecer, através da diversidade arquitetônica, a história da humanidade. Visitar museus e tocar com o olhar as obras dos grandes gênios da arte. Observar monumentos seculares e perceber que a inteligência humana sempre foi capaz de superar-se e chegar à beira do impossível!

Tudo isto alarga a concepção do mundo e aguça nossa percepção do equilíbrio que reside no diverso, no diferente. E no contexto da diversidade, o elogio da individualidade.

Viajar nos faz tolerantes. Inclusive, e principalmente, com o que deixamos para trás: nosso país, nossa cidade, nossa casa, nossa rotina. Faz-nos compreender porque tudo é como é.

Até porque uma viagem é bem mais longa do que parece. Começa com a curiosidade que determinado lugar nos provoca. Nas fantasias e expectativas que criamos em relação ao que vamos conhecer ou reconhecer. Na excitação gostosa e nas dúvidas que se impõem; se fizemos a escolha certa, se a hospedagem corresponderá às nossas necessidades, se o clima nos favorecerá. Se dúvidas não aparecerem, nossa natural ansiedade trata de criá-las. Frutos do “estado de prontidão” em que nos colocamos diante do desconhecido.

Chegando ao nosso destino absorvemos e sorvemos tudo que achamos relevante. Buscamos entender a cultura. Conhecemos rostos nunca vistos, semblantes sequer imaginados. Buscamos apreender o mais representativo do cotidiano do lugar visitado. Superamos com bom humor todos os percalços. Registramos todos os “micos” para rir mais tarde com os amigos e tentamos congelar os momentos em centenas de fotografias.

Mas, nada disso seria assim, tão aparentemente perfeito, não fosse a saudade que sentimos da vida que, temporariamente, deixamos para trás. Não tarda sentirmos necessidade da certeza que tudo que deixamos - coisas e pessoas - continuam iguais. Desejo inconsciente que o tempo tivesse parado, à nossa espera.

Chega o dia do retorno. Eu, pelo menos, sinto um prazer igual ou superior ao dia do embarque. Quando, ainda do avião percebo caminhos tantas vezes percorridos, quando ainda no aeroporto, reconheço um rosto querido e ansioso à minha espera, quando vejo, da esquina da minha rua o imponente jambeiro que, silencioso, assiste todas as manhãs, minha primeira refeição, meu coração bate mais forte.

Entro na minha casa. As paredes, os móveis, alguns objetos de uma vida inteira, meus livros, minha varanda onde mora minha palmeira, se curvam num abraço tão aconchegante a acolhedor que, não raro, lágrimas vêm-me aos olhos. Vou entrando mais devagar os reverenciando agradecida por terem me esperado, tal qual os deixei. Então, reencontro meu quarto. Nele minha cama. Nela meu travesseiro. Aliás, dois comportados travesseiros que, pacientemente, esperam duas cabeças que “parecem” inquietas e aventureiras e só saem “por aí”, porque tem a certeza que tem onde pousar e porque voltar.

ALICE ROSSINI

9 comentários:

Neto disse...

Então, continuemos viajando. Farei força para entrar nessa.

Fernando Trovador disse...

Alice:

Voce esta descrevendo um raro prazer que a vida me impoz ha muitos anos. O melhor de qualquer viajem e saber que vamos voltar.

Eu te dizia.....

Fernando Trovador

Vitória Régia disse...

É exatamente o que sinto quando viajo. Quando volto a alegria é tanta que dá vontade de viajar de novo so pra sentí-la novamente(risos)

Adorei!

Anônimo disse...

É isso aí. Viajar é bom mas voltar é melhor ainda. Voce descreveu muito bem tudo que passa por nossas cabeças quando resolvemos viajar.Ótimo.

Penha Castro disse...

Como tudo na vida tem vários lados, viajar tem os seus.

Voce conseguiu dissecar com clareza, poesia e lucidez todos os seus lados. E o retorno, realmente, é doce para quem valoriza todos os lados que a vida tem.

Parabens, me vi no seu relato.

Beijos e Feliz Natal e um Ano Novo cheio de viagens!

Cecília Fraga disse...

Adorei o Blog. Textos excelentes, bem escritos e em sintonia com o mundo e o pensamento atuais.

Estes dois ultimos textos em particular, sobre a violência cada vez mais comum no nosso cotidiano e os sentimentos de quem viaja, são bastante representativos dos sentimentos do homem comum mas, reflexivo.

Muito bom!

Anônimo disse...

CABECINHA, DESTA MENINA. GOSTEI DE VER! PEGA UM ASSUNTO DE FAZ DELE UMA CRÔNICA BONITA E MUITO VERDADEIRA.

PARABÉNS!

IZABEL disse...

Alice,
Que texto lindo. Analisa não só a diversidade que vivemos, como também, que temos uma zona de conforto... E que ás vezes é preciso sair dela e percebê-la como uma fonte de segurança, dando-lhe a importância que merece.

Parabéns... Amei!

Beijos,

Bel

Sandra Cristina disse...

Adorei o texto!
Quem sabe o ano que vem vocês não passam por Brasília para visitar os amigos e ter tantas sensações boas?
Feliz Natal e ótimo fim/início de ano para vcs e toda a família!!!!
bjs,
Sandra.