domingo, 7 de fevereiro de 2010

O COLAR DE PÉROLAS

Frequentemente me ocorrem, de forma inesperada, pensamentos em que minha mente e meu coração, involuntariamente, fazem retrospectivas pelos caminhos da minha Vida. Não como penitência ou arrependimento de tê-los seguido, mas sim, para raspar o fundo do tacho do meu aprendizado e lambuzar-me com as últimas migalhas de sabedoria que, eventualmente, ainda estejam por lá.

Olho para um colar de pérolas na vitrine de uma joalheria de luxo e não posso deixar de vê-lo parecido com a minha vida. Pergunto o preço de alguns à desocupada e aparentemente, desmotivada vendedora. ao mesmo tempo que absorvo dela informações unicamente pertinentes a estas jóias tão apreciadas. Apercebo-me que os colares de pérolas mais procurados, não os mais valiosos ou raros, são os que têm pérolas de tamanhos e colorações diferentes que trafegam do quase branco ao quase negro.

A ostra quando invadida por um grão de areia, se protege cobrindo o mesmo com repetidas capas de carbonatos de toda a espécie, que se tornam, com o tempo, pérolas lindas e únicas. As pérolas negras são as mais difíceis de conseguir porque é fruto de um desequilíbrio químico, por parte da “senhora” ostra que a concebe e, do meio ambiente em que vive. Ou seja, as mais bonitas raras e caras são geradas em decorrência de problemas de natureza desconhecida.

Problemas, desafios, obstáculos, dificuldades, erros, palavras chave, oportunidades de VIDA!

Desconfio então, que a minha vida seja um lindo colar de pérolas de varias cores, cuja raridade ou tom, tem preços que vão do caro ao extraordinariamente caro. Para mim, pelo menos!

Olhando para o colar na vitrine, não posso deixar de encontrar analogias e paradoxos pessoais e nem tanto. Se bem que é fácil vê-las do meu ponto de vista, que aqui coloco à vossa apreciação e despreendido julgamento.

Mas, o que uma jóia tem a ver com minha Vida?

Recentemente celebrei os meus 54 anos de idade! Não é nenhuma data significativa e nem sequer marca um ponto determinante no meu caminho por este mundo. Mas, ao ver aquele colar caríssimo, imediatamente recordo o meu passado e, enquanto um sorriso sarcástico aflora, conscientizo-me de que gostaria de tê-lo para mim. Seria engraçado eu, um homem passando a meia idade, caminhando na rua de colar de pérolas. Calma, não o queria para usá-lo dessa forma, mas sim para olhar para ele e me lembrar constantemente como retrata o meu caminho nestes 54 anos. A melhor forma de fazê-lo seria dá-lo a minha esposa. Assim o veria frequentemente exposto no pescoço mais lindo do mundo e bem à minha frente!

O colar tem o seu fecho no centro e, de cada lado correm duas fileiras de pérolas brancas, de meio tamanho, lindas, de um brilho natural e atraente. Cada uma delas, me lembra os momentos felizes, alegres e reconfortantes que passei nestes últimos 54 anos. As diabruras bem sucedidas que consegui fazer sem ser descoberto durante a minha infância. As minhas vitórias atléticas no começo da juventude, os beijos roubados das namoradinhas, a sensação única de estar nu pela primeira vez com uma delas, sem saber exatamente por que e como ambos chegamos ali. Os êxitos escolares. A tensão emocional e inesquecível do dia do casamento, sabendo que em breve iria abrir uma carta fechada sem saber o que nela havia. Os nascimentos e crescimento dos filhos, a descoberta diária de quem era realmente a mulher que havia se casado comigo. A profissão, as vitórias, as alegrias, as viajens, os novos povos de lugares longínquos que conheci, enfim, os momentos mais felizes! Muitas lembranças cheias de felicidade que ofuscam as lições que viajam junto com elas!

Quando estas pérolas brancas terminam, começam as mais escuras, e num dégradé crescente, chegam ao meio do cordão num cinza forte. Normalmente, ao se usar esta peça, estas últimas pérolas ficam muito próximas onde bate insistente, nosso coração.

Essas pérolas mais escuras personificam os desafios, os problemas não resolvidos, os êxitos não consumados, e quanto maior foi o erro cometido, mais escura é a pérola. O seu maior valor se deve ao fato, suponho, de que eu não me recordo de nenhuma lição importante que me ficou dos bons momentos, a não ser a doce sensação de estar feliz enquanto duraram. Nos outros, que me deixavam o gosto amargo da infelicidade, me ficaram lições de vida que serviram de arsenal para mais vitórias e mais conquistas, para me tornar um ser humano melhor e pôr em perspectiva valores e sonhos. A cada batalha perdida eu aprendia mais e, na próxima era mais difícil ser vencido. Até que eu passei a ganhar as batalhas com as quais me deparava cada vez mais frequentemente.

Até hoje sigo perdendo, mas não vejo nisso um problema. Vejo sim, um rosário de oportunidades únicas para aprender, avaliar e aplicar esse aprendizado para o meu benefício e daqueles que estão de uma forma ou outra, relacionados comigo.


FERNANDO TROVADOR

5 comentários:

Marco Rossini disse...

fernando

este texto é uma emocinante declaração de amor a vida, a jana, aos amigos, filhos, enfim: a tudo e todos que pertencem ao seu mundo, que não é pequeno.
parabens

Alice Rossini disse...

Ah meu amigo, quantos possuem a sabedoria de comparar suas vidas à um joia...
Alem da feliz analogia, ainda a compreensão que so se aprende mais errando que acertando. Embora são muito poucos os que não conseguem transformar suas vitórias em motivos de dominação e arrogância.

A humildade é a maior virtude do seu humano. Com ela torna-se capaz de perdoar os outros e perdoar-se.

Parabens!

Penha Castro disse...

Fernando, ter uma joia como metáfora da propria vida, define a pessoa otimista e feliz que voce é. Parabens! A gande maioria, alem de não enxergá-la como uma joia ainda a vê como um fardo que tem que ser carregado dia após dia. Estes sao, ou pobres de espirito ou de posses que os faça "olhar" um colar de pérolas ou, quem sabe, desprovidos da sorte que voce tem de poder contabilizar vitórias.

RICARDO FARIAS disse...

A VIDA DE TODO MUNDO É ASSIM:MOMENTOS BONS E MOMENTOS RUINS. FELIZ DOS QUE COMO NÓS, TIRAMOS LIÇÕES DOS MOMENTOS DIFICEIS.

Vitória Régia disse...

Vivemos fazendo balanços das nossas vidas e só nos lembramos dos fracassos com amargura.

Os mais sábios tiram deles lições. Há os que repetem os erros. E há os que, culpam os outros.

Enfim, o que sabemos e pensamos que sabemos das nossas vidas depende, exclusivamente, da nossa maturidade e da gratidão por ter oportunidade de vivê-la.

Parabéns por comparar a sua a uma joia