domingo, 11 de abril de 2010

LIBERDADE INVISÍVEL

Ser famoso é difícil em diversos aspectos. Além das questões inerentes a qualquer pessoa, existem cobranças e curiosidades públicas que com o tempo a pessoa famosa incorpora as primeiras como suas e a segunda, embora de outrem, como uma obrigação a ser atendida.

No mundo em geral e das celebridades em particular, existe uma exigência, cruel, que é a da perfeição. E tudo que foge a este conceito, que assenta-se em areia movediça mas força de coerção inimaginável, sofre sanções que as referidas criaturas, compostas de carne, osso e emoções, portanto sujeitas e todas as circunstâncias boas e más da vida, muitas vezes não suportam. Sucumbem a estereótipos. Enquadram-se a "modelos" e se dão ao desfrute de interferir onde nenhuma fama é capaz de interromper, a cronologia humana.

Não estou sendo ingênua a ponto de achar que quem é famoso, seja porque motivo for, não quer ser reconhecido. É inerente a natureza humana a necessidade de sentir-se ratificado pelo “outro.”

Mas existem duas exigências, uma antinatural e cruel e a outra fantasiada de curiosidade, mas vestida de preconceito que são: juventude eterna e orientação sexual.

Não pretendo aqui levantar a bandeira de privacidade irrestrita de quem é público. Não. Ser público impõe compromissos com um comportamento ético, pois a publicidade de uma vida serve como exemplo para a sociedade onde esta vida interfere. O que evoco é o direito do “sujeito” público ter uma reserva, mínima, mas essencial para tornar suas vidas suportáveis e seu cotidiano menos claustrofóbico: o direito de envelhecer de acordo com seu nível de auto-estima e suas expectativas estéticas e não ser obrigado a proclamar sua orientação sexual.

Se existem pessoas públicas que exercem seus respectivos ofícios de forma competente e talentosa independente da idade que tenham ou orientação sexual que optem, por que o rolo compressor imposto e tão resignadamente aceito para tornar um perene e outro público?

O mundo embora abomine e exclua tudo que é diferente sente uma curiosidade mórbida e perversa por tudo que saia do curso “natural” da vida. Não importa quem invada ou quem se deixe invadir.

Sei o quanto é difícil fugir das “normas”. Mas quem as impõe e as absorvem como se dogmas fossem, são os Homens, seres que dedicam todos seus minutos à criação, ao bem estar, às possibilidades de ser livre.

Ainda que tudo não passe de um pretexto para imprimir sentido à própria vida.


ALICE ROSSINI

7 comentários:

Penha disse...

Acho que, algumas vezes, existe uma relação doentia entre a celebridade e a publicidade do que deveria ser privado.

Existem pessoas que se expoem sem pudor, levando consigo quem faz parte de suas vidas. Parece-me que produzem fatos para que sempre estejam em evidencia.

Algumas, aí icluo os politicos, se acham diferenciadas e tem certeza que suas ações jamais lhe cobrarão responsabilidades.

Tem muitas que, apesar de serem famosas tem a elegancia de mantrem-se a par de fofocas e mostram apenas o que sabem fazer bem.

Ulisses Rebouças disse...

Tudo na vida tem um preço. Posso paracer obvio mas, pouquissimas pessoas responsabilizam-se pelo que fazem reconhecem que tem que pagar os preços correspondentes.
Ainda tem gente que, por razões que somente eles sabem pagam mais que devem e ficam refens da opinião alheia
Otimo, seu texto.

Amanda disse...

Acho que o ponto mais importante deste texto é a subserviencia demonstrada por quem é publico à curiosidades que não tem nenhuma relação com os motivos que lhes tornaram conhecidos. Orientação sexual, seja ela qual for, não impede ninguem de exercer nenhuma profissão. Até as Forças Armadas dicutem a possibilidade de acolher homosexuais em seus quadros...
Boa abordagem

Aparecida Matos disse...

Oportuno seu texto. Fiquei indignada com Ricky Martin, depois de tanto tempo oficializar sua homosexualidade. A propósito a "Santa" Madre Igreja, hoje, relacionou pedofilia á homosexualidade. Tenha dó, porque a paciência, no caso, nao pode ser santa(risos)

RICARDO FARIAS disse...

SUA CABECINHA REFLETE E NOS LEVA A REFLETIR SOBRE DETALHES QUE, NO DIA A DIA, PASSAM TOTALMENTE "INVISÍVEIS". ACHAR UMA LIBERDADE INVISÍVEL QUE ABRIMOS MÃO SEM QUE PERCEBAMOS É TER MUITA SENSIBILIDADE PODE PERCEBER.

VOCE TEM TODA RAZÃO. RESTA SABER QUEM É MAIS CULPADO, QUEM SE DIXA INVADIR OU QUEM INVADE

Vitória Régia disse...

É realmente uma pena que o que venha à tona são aspéctos desinteressantes ou ruins da intimidade das pessoas.

Que me interessa se um politico tem uma filha fora do casamento e a mantém com verbas de terceiros a troco de favores públicos? Que me interessa se um cantor ou cantora seja homosexual(pra que declarar?!) se ele canta bem e é um exemplo edificante para seu público?

Acho que voce tem razão, os homens inventam as conveniências para dar um pouco de sentido às suas vidas...

Ana Maria disse...

Adorei o texto! Bem estruturado e fala de um assunto que sempre vem à tona todas as vezes que vemos uma pessoa pública ter sua vida devassada naquilo que nada interfere na sua atuação na sociedade onde atua.
Quando é um político corrupto, devemos nos ater à sua desonestidade, quando é um artista talentoso devemos nos ater ao seu talento.
Portanto, suas reflexões são mais que bem vindas.
Parabéns!