quarta-feira, 4 de maio de 2011

ILHAS DE SOLIDÃO

Alguma vez você já sentiu que perdeu as rédeas da sua vida? Se não, parabéns! Se sim vai compreender como algumas pessoas se sentem impotentes, excluídas, solitárias, o quanto esta situação é incômoda e, pasme claustrofóbica. Você prisioneiro das circunstâncias que você mesma criou e não se sente com forças para revertê-las.

Quando acontecem as grandes tragédias e as pessoas as superaram, ainda que sofram danos irreversíveis, nossa tendência é apequenar os nossos, como se o sofrer não fosse algo individual ao qual conferimos uma dimensão pessoal. Existe uma tendência em rotular os problemas cotidianos de "neuroses" de quem não tem problemas graves e, por isto, os criam. Mas o ser humano, diante de uma tragédia tem reações inesperadas e surpreendentes, ora agindo com lucidez e coragem, ora entregando-se ao imobilismo.

Diante dos pequenos problemas que povoam o seu cotidiano ele tem que acessar minuto a minuto seu equilíbrio, ludibriar suas neuroses e até patologias mais graves, buscar a paciência que muitas vezes não faz parte do seu perfil psicológico para viver o dia- a dia com serenidade e passando para o mundo no qual se insere, otimismo e vontade de viver. Entretanto, para algumas pessoas, este enfrentamento com a realidade da vida torna-se muito mais difícil. Elas tendem a reproduzir padrões de comportamentos já arraigados e até inconscientes. Embora saibam quais atitudes são mais adequadas, rendem-se a uma força estranha às suas compreensões que as impedem de exercê-las.

Vemos exemplos disto no nosso dia-a-dia em pessoas do nosso lado ou em nós mesmos. Só é olhar-se no espelho com coragem de despir-se das máscaras

Esta resiliência que o ser humano demonstra nos grandes traumas é o que salva a humanidade. Entretanto, as neuroses e as pequenas sabotagens que nos são impostas, até por nós mesmos, inviabilizam muitas vidas. Falo em inviabilidade, porque, à exceção dos estóicos e dos mórbidos, para estes últimos “quanto pior melhor" somos uma geração que, em nome do equilíbrio, cujo termo já sugere possibilidade de pendência para vários lados, da saúde mental que a cada dia nos surpreende na capacidade de camuflar-se e da inteligência emocional, esta última, raríssima, escondemos, até de nós mesmos, o inferno que muitas vezes, invade nossas vidas

Todos querem parecer felizes, vitoriosos, fortes e imunes aos revezes. Por estas razões tenho paciência para ouvir o que os “felizes” e os “equilibrados” chamam de lamurias e medos. Alheios e indiferentes, fecham-se em casulos, ainda que opacos mas, transparentes para quem tenha sensibilidade de reconhecer as angustias humanas. Já que as suas lhe parecem familiares e lhes conferem humanidade.

ALICE ROSSINI

6 comentários:

Penha Castro disse...

UAU!Pensei que não iria mais escrever (risos)! Mais um texto que toca nas feridas de toda a humanidade. A solidão,a falta de sentido, a vergonha de chorar por nós num mundo tão cheio de tragédias coletivas. Mas, acho que posso garantir que, se estivéssemos em paz com nós mesmos, certamente, o mundo estaria bem melhor para todos.
Mais uma crônica corajosa e verdadeira

Aparecida Matos disse...

Voce fala por bilhões de pessoas. Quando a dor não é fisica é existencial. Mas poucos admitem a condição humana de ser feliz e infeliz. Estas sensações se alternam e não precisam de motivos para aparecerem. Poucos encaram os problemas com coragem, exibindo, como voce diz, máscaras: por pudor, por medo ou por puro alheiamento.

ROSEANE disse...

O mal estar do homem diante da existência é atribuído à morte, ao "outro", a sua própria imcompreensão quanto ao sentido de viver, enfim, várias correntes filosóficas e leigas fazem suas atribuições.
Pessoalmete, como espíritualista, acho que viemos aqui para aprender. E, como todo aprendizado é difícil e requer idas e vindas, a compaixão consigo mesmo e com os outros, nos sentimos infelizes e solitários nas nossas dores. O que nos torna diferentes uns dos outros é a forma como encaramos isto.
Mas, tenho certeza que não somos uma ilha pois, pelo menos, compartilhamos as mesmas dores, só que em intensidades diferentes

Amanda disse...

Este sentimento de solidão é tão forte que acho, seja um dos poucos que unem os homens numa mesma sintonia. Não é a toa que a todo momento, somos surpreendidos por pessoas que nos parecem vitoriosas,felizes e "normais" que sofrem de transtornos, pessoas aparentemente pacatas surtarem a ponto de sairem matando ou suicidam-se, e outras tragégias que moram que a toda hora nos faz mais temerosos quanto à vida.
Voce tocou num ponto, infelizmente, normal no mundo de hoje.

RICARDO disse...

VOCE BOTOU PRA QUEBRAR. A VERDADE DOLORIDA DE UMA GERAÇÃO CHEIA DE DORES. A DOR DA NATUREZA, A DOR DAS PERDAS QUE NÃO DEVERIAM SER TÃO SOFRIDAS, A DOR DO HOMEM EM SI, QUE EXISTIRÁ SEMPRE. O TEXTO INCOMODA MAS ACHO QUE A INTENÇÃO É ESTA.
MUITO BOM

Anônimo disse...

Achei lindo e verdadeiro