domingo, 4 de agosto de 2013

DIALOGANDO COM A DIVERSIDADE

Hoje a atitude mais necessária entre as pessoas e passível de mobilização pela mídia é a TOLERÂNCIA. Num mundo de seis bilhões de pessoas que nem as digitais dos dedos são iguais entre si, ser tolerante deveria ser um atributo natural do ser humano. Mas não é. A cada dia os exemplos do seu contraditório estão sendo a regra.

Somos intolerantes até com o “normal”, se ele não atende às nossas expectativas. Somos intolerantes com a estética, ainda que ela fira padrões marcados pela subjetividade ou quando foge aos padrões já aceitos. No mundo das ideias, ainda que as divergências sejam enriquecedoras e responsáveis pela evolução do conhecimento, há quem as exerçam sem o espírito norteador do enriquecimento de pontos de vista onde se ancoram culturas.
Imaginemos se Sócrates, Cristo, Buda, Freud, Nietszche, Bethoven, Einstein Mozart, Niemayer, Van Gogh, Salvador Dali, Leonardo Da Vinci dentre tantos "estranhos notáveis", atendessem aos parâmetros da sociedade onde viveram? A Filosofia, a Música, a Pintura e outras áreas das artes e da ciência não prestariam tanto prazer, benefícios e avanços à humanidade. Portanto, a História ratifica a importância da diferença. Ainda que políticas de inclusão sejam adotadas por governos, organismos internacionais ou por pessoas, na prática, o que vemos é o preconceito cada dia mais exacerbado, a ponto de excluir, até por meio da supressão da vida, as diferenças que nos incomodam. Isto não é regra, porque a correlação de forças contrárias impedem que esta prática se institucionalize.

Este texto não tem espírito catequético, até porque, muitas vezes me incluo no rol de intolerantes em alguns aspectos. Mas, a exclusão que mais me incomoda é aquela que, o incômodo atinge somente a individualidade de quem é ou convive com o diferente. Acredito ser uma questão meramente pessoal.

Não vou falar de opções sexuais, de ter ou não ter filhos, da preferência por atividades ou estilos de vida alternativos, dentre outras escolhas, até porque, ainda que possam ser debatidas, considero desnecessário mencioná-las, por uma questão de princípios.

A intolerância a que quero me referir e é mais nociva, é aquela que, por ignorância, boa parte da humanidade não tem conciência das diversas formas que muitas pessoas podem ser úteis. O quanto elas podem chegar perto do que é considerado “normal”, tanto quanto, podem ajudar a humanidade a refletir sobre as convergências possíveis, sobre uma ética que permita uma convivência mais pacifista.

Este tema me instigou logo que li num jornal, uma chamada, junto aos jogadores Messi e Neymar, divulgando que os números desenhados nos uniformes do time foram da autoria de uma menina com Síndrome de Down. Qual pai, principalmente os aficionados pelo futebol, não gostaria que um filho seu tivesse este privilégio que, para qualquer criança seria tão marcante? Será que uma menina ou menino que não portasse a Síndrome citada, desenharia números tão originais que, assistindo ao jogo, chamaram minha atenção, a ponto de creditar ao time o "luxo" de contratar um "designer" que diferenciasse seu uniforme?

A partir deste fato, lembrei-me da luta de pais contra escolas ditas avançadas e eficientes. Nem sabem seus pedagogos o porquê de não querer impor o desafio de incluir uma criança “diferente”, que demandaria do educador aprofundar seus conhecimentos na condução de um processo, aparentemente difícil, mas, certamente, motivador e gratificante. Uma criança, portadora de qualquer tipo de diferença, física ou comportamental, poderia fazer a diferença para si, desejando, característica humana, acompanhar seus pares e, as demais crianças teriam o privilégio de, na prática do cotidiano, compreender, aceitar e ajudar alguém diferente do que está condicionada a “achar” normal.

A extinção deste tipo de preconceito, dentre os milhares já arraigados, começa nos lares. Pobres, medianos ou luxuosos. A dificuldade está no abismo dos valores das pessoas que neles habitam. Nem sempre correspondem à classificação dos tetos e paredes que as abrigam.

Com o avanço da Medicina, já é possível detectar a maioria das Síndromes e outras complicações que podem acometer uma criança, ainda no ventre materno. Muitas delas podem ser tratadas durante a gestação, outras são irreversíveis. Mas, as reações a elas são as mais diversas, tornando-as difíceis de elencar. É obvio que uma mãe que se submete a um exame com caráter investigativo, o faz com expectativa de que o filho que terá em seus braços seja saudável e sua vida transcorra com o mínimo de dificuldades que um ser humano enfrenta ao longo do seu existir. Mas, quando se concebe um filho deve-se estar imbuído de um espírito de aceitação incondicional, ainda que, seja obrigado a ter uma vida mais modesta, quando não planejado. O Estado deveria ser aparelhado para dar-lhe o suporte necessário.

Há que se ter a consciência da responsabilidade da transmissão das respectivas cargas genéticas. Portanto, um filho se concebe, não se escolhe em vitrines, até porque não descemos a este ponto, ainda. O cerne do amor está na aceitação. Em olhar o filho em perspectiva e imaginar sua exposição a milhares de aberrações de caráter, que aumentam e nos surpreendem a cada dia.

Quem sabe, se for o caso, seja mais gratificante acompanhar e dividir as pequenas e significativas vitórias de uma criança portadora de alguma síndrome que permita a evolução física, emocional e social, que debater-se com os problemas de filhos com sérios e irreversíveis problemas de caráter, que nenhuma pedagogia e tratamento psicológico ou psiquiátrico seja capaz de reverter?

Alice Rossini


8 comentários:

AMANDA disse...

Acabei de acordar - hábito domingueiro e me deparo com você e suas provocações. A leitura me leva a refelxões em que vejo-me em muitos parágrafos. Posso lhe dizer que o resultado da leitura é o desejo de ser uma pessoa melhor para que o mundo seja melhor.
OBS.Voce escrevendo pouco!(risos)

Izabel disse...


O título já instiga o leitor!

Dialogar com a diversidade é um desafio, pois checa a “teoria proclamada” e a “teoria em uso”.

Convivemos bem com a diversidade desde que ela esteja “distante” de nós, ou seja, temos um discurso “politicamente” correto para todas as situações, mas quando estamos envolvidos, o discurso muda e encontramos mil justificativas para defender as nossas posições.

Obrigada por abrir esta temática, pois estou trabalhando com a Diversidade no Serviço Público e tenho encontrado muitas dificuldades... Peço permissão à autora para trabalhar este texto no próximo evento que vou coordenar na Universidade Corporativa do Servidor Público. Será um disparador para reflexões sobre o tema.

Parabéns!!!

Beijos,
Bel

Penha Castro disse...

O comentario acima se refere a um ponto que faria a diferença, caso fosse visto de forma lúcida e sem hipocrisias:de longe, todos somos contra os preconceitos,louvamos a diversidade, sem pensar que cohabitamos com a diferença, seja representada pelo filho, marido ou empregados.

As teorias,o ético estão para as pessoas, como suas atitudes estão para seus discursos, distanciadas, ficticias.

Este texto será sempre oportuno, até que o ser humano evolua espiritualmente e reconheça sua condição humana como um privilégio que lhe impõe obrigações para com o outro, principalmente o que está mais próximo.

Anônimo disse...

O texto além de muito bem escrito, leva à reflexão do quanto "pisamos na bola" quando precisamos mostrar, na realidade, o quanto somos iguais mas, completamente, diferenciados.

Tenho acompanhado seu Blog e, pelo nível dos comentários, fico tímida em escrever os meus. Quero lhe parabenizar pelos temas que voce aborda sem medo de, muitas vezes, ser muito franca ou ser leve, quando necessário.

Pessoalmente, sou carente de um espaço que aborde temas raros e difíceis, que só são encontrados em livros, quando qeremos, apenas um "toque" bem fundamentado como o seu.
No próximo texto me identifico(risos)

Aparecida Matos disse...

Me impressiona sua capacidade de falar sobre assuntos ja falados e debatidos com insistência, apontando aspectos tão imprevisíveis,tipo "há intolerância até com a normalidade",o que me faz achar que seus textos são, além de bonitos e interessantes, educativos. Principalmente, porque voce se auto critica, não excluido-se das coisas que incomodam.
Cada dia que passa, sinto que voce amadurece suas reflexões. Parabéns

Sonia disse...

Que bom que voce também tocou no assunto da exclusão de crianças consideradas "diferentes" em escolas, um dos principais lugares que deveriam aceitá-las. O que pretendem são matriculas de crianças medianas, porque os ditos "nerds" também sofrem bulling. Para estas instituições o interesse é engordar suas estatíticas de aprovação no ENEM e em VESTIBULARES com concorrências acirradas.
Muito bem dito. Neste primeiro contacto com o mundo a criança descobre a intolerância. É lamentável.

RICARDO disse...

BOA MENINA! CADA VEZ QUE FICA DIANTE DE UM TECLADO, CONSEGUE SE SUPERAR. ME IMPRESSIONA SUA CAPACIDADE DE PENSAR E ESCREVER DE FORMA TÃO CLARA, OBJETIVA E EDUCATIVA. NÃO ME CANSO DE TE LER E TE ADMIRO MUITO.

Anônimo disse...

AMEI! TEM GENTE QUE VIVE CHEIA DE "IBFORMAÇÕES" SOBRE A VIDA ALHEIA. ESQUECEM QUE SUAS VIDAS TAMBÉM PODEM ESTAR SENDO ALVO DE COMENTARIOS. BOA "PORRADA", MUITA GENTE VAI LEVAR A CARAPUÇA. PARABÉNS!