domingo, 25 de outubro de 2009

A ARTE SALVA

Sempre ouvi falar em projetos de inclusão social e vejo, com especial interesse, alguns maravilhosos exemplos, através da televisão e relatos de pessoas que deles participam. Admiro todos e, mais ainda, quem os executa. Aliás, invejo-as pela generosidade de saírem das bolhas dos seus mundinhos pessoais e irem ao encontro de tantos quantos precisem do seu auxílio.

Recentemente, tive a felicidade de assistir, na celebração pelos 40 anos da Tribuna da Bahia, uma orquestra formada por crianças entre 5 a 17 anos que viviam em risco social, num bairro popular de Salvador. Mais uma iniciativa vitoriosa de abnegados cidadãos, que colocam seu saber, seus dons e suas habilidades a serviço da sociedade.

Mais ou menos vinte e cinco violinos, acompanhados por um instrumento de percussão, um órgão e alguns violoncelos foram suficientes para que as estrelas que compunham o nome do grupo musical enfeitassem a Ode à Alegria, de Bach e auxiliasse a Asa Banca, de Luis Gonzaga, a voar para mais além.

O som angelical e onírico ecoava na sala e preenchia, de sentimentos vários, todos os corações que lá pulsavam. Estava à disposição, para quem receptivo estivesse, um das mais carinhosas e poderosas formas de transformar o banal em raro, a euforia em felicidade, a apatia em esperança, a tristeza em melancolia, a revolta em ação ou a saudade em mais saudade.

A arte além de ter o dom de encantar tem, também, e, sobretudo, o poder de salvar o homem da mediocridade do cotidiano, dos seus sofrimentos, das suas perplexidades. Possibilitando a transcendência, burila a sensibilidade. Sensibilizado, aguça a vocação para a justiça e para a fraternidade.

E a música, com as infinitas possibilidades de seus sons, dos seus ritmos, com suas fusas, semifusas, colcheias, sustenidos que dançam em pautas lideradas por claves, até com nome de Sol, consegue, com tudo que vibra no universo, formar uma sinfonia que tanto nos liberta, quanto nos aprisiona e nos acorrenta, ao amor e à beleza

A música salva, mas pode empurrar-nos para os abismos dos nossos tormentos, emaranhar-nos em nossas emoções. Acordes impregnados de poderosa magia nos transportam para um mundo de infinitas possibilidades.

Assim, como aquelas crianças descobriram, para suas vidas, caminhos novos, nós, seus privilegiados ouvintes, poderíamos pegar carona nas asas do possível que só a arte, com seu despudor inocente escancara, mudar rumos, rever desejos, reencontrar a coragem e só assim não nos tornarmos reféns das nossas pequenezas diárias.

­ALICE ROSSINI

8 comentários:

IZABEL disse...

Alice,

Que reflexão brilhante! Só as pessoas que têm a arte na sua essência podem produzir um texto tão profundo quanto este.

A ARTE, nas suas diversas “linguagens”, tem o papel de contar histórias, mostrar a realidade, divulgar sentimentos, polemizar temas, eternizar amores, perpetuar culturas, extravasar desejos, preencher lacunas... Enfim, a arte tem os mais diversos papéis é a linguagem do nosso emocional, é o espelho do nosso interior, revela aquilo que se esconde no fundo de nós. A arte é autoconhecimento.

beijinhos,

Bel

Neto disse...

A arte também é trabalho e este dignifica o homem.

Muto bom texto!

Marco Rossini disse...

atitudes como esta ainda representam o fio de esperança no mundo que vivemos. o trabalho é emocionante e de uma qualidade musical invejável. parabens pelo texto e pela percepção

Penha Castro disse...

Concordo que a arte é poderosa e acho que experiências como estas poderiam ser mais frequentes.

A emoção que voce imprimiu no seu texto contamina a quem lê.

Parabens, mais uma vez!

Mariana disse...

Que maravilha! Esta crônica parece mais um poema! Fiquei emcionadíssima e feliz.

Beijos e mais uma vez parabens, voce se superou!

Ricardo disse...

Seu blog ja esta na minha lista de favoritos. Confesso que não leio todos os dias mas, quando leio, vejo o que perdi.

Excelentes textos, parabens

Vitória Régia disse...

Alice, sua percepção da vida é, realmente, surpreendente. Voce consegue ver além. Este texto está uma mistura de prosa e pesia.

Lindo, muito lindo.

beijos

Anônimo disse...

Fico impressionado e surpreso de ver que por tras da sua figura risonha e brincalhona, esconde-se uma mulher tão sensível.

Esta crônica é uma poesia!

PARABÉNS