Eu tenho um hábito de sempre fazer listas que expressam as minhas vontades no que se referem a metas, objetivos, planos e propósitos a realizar. Esta manhã, quando iniciei meu período de trabalho, liguei o meu computador e comecei a delinear tudo o que tinha que fazer durante o dia e talvez, nos dias a seguir que antecedem minha tão aguardada folga.
Enquanto pensava medindo o nível de prioridades, desviei meus olhos para uma frase de Arthur Schopenhauer que eu mesmo havia escrito num pedaçinho de papel: “Os pensamentos próprios tem verdade e vida”.
Isto imediatamente me deteve nas minhas tarefas e retrocedeu minha mente até o mês de Junho quando meu filho perdeu seu melhor amigo de forma abrupta, repentina e inexplicável.
Esta notícia, à idade de 31 anos, sempre movimenta as bases de sustentação de qualquer ser humano, mas de imediato, serviu para reforçar a solidariedade entre amigos e familiares.
Apesar da tristeza que a morte prematura deste jovem provocou no seio da sua família e o impacto que provocou dentro do círculo de amigos mais chegados, foi gratificante ver as reações do meu filho diante da tragédia. A tristeza e a sensação de perda foram tão claras e tão fortes que se tornaram nos dias que se seguiram uma advertência, anunciando que os bons dias de juventude já se haviam acabado. Desdobrou-se em solidariedade com família, e "tomou com os dentes" o papel que cabe realmente a um melhor amigo, numa situação como esta.
Era óbvio que aquela amizade havia contribuído, e muito, para a felicidade dele. Segundo Aristóteles, "A amizade tem como base a busca do bem do amigo, porque esta disposição é essencial, não acidental".
Um amigo é uma pessoa que está sempre ao nosso lado, nos bons e nos maus momentos. Os amigos compartem a alma, se conhecem, se apreciam e se querem. Também se desculpam se ajudam e se unem diante de qualquer adversidade.
Se tivéssemos isto presente, sem dúvida alguma, teríamos um mundo melhor.
Não é fácil tomar decisões na vida onde renunciamos ao nosso próprio querer, e meu filho, afortunadamente nada habituado a estas lides que incluem perdas de pessoas que nos são queridas, me surpreendeu quando, de uma forma inédita, tomou as rédeas da organização do cerimonial que estes acontecimentos carecem.
Muitas vezes questiono e busco um verdadeiro significado para a palavra AMOR e, sem dúvida, sem dar muitas voltas e recorrer às mais variadas Encíclicas, nomeadamente a do papa Benedicto XVI (cuja leitura recomendo a todos), amor é sinônimo de entrega, de doação, de esquecimento de si mesmo.
Quando decidimos nos entregar sem condições ao amado, somos felizes. Se nos perguntarmos, sinceramente, o que nos faz mais feliz, se dar ou receber, creio que todos chegamos à mesma conclusão. Nossa essência humana busca fazer feliz as pessoas que amamos. Verdade gravada em nosso coração desde que nascemos.
A prova disto se encontra na lei natural que não é mais que a verdade gravada no coração de todo o ser humano. "A lei natural, que é uma lei prévia ao Homem e como tal, universal e imutável, e que todos possuímos". Já dizia Tomás de Aquino.
Se refletirmos sobre estes temas tão próximos e simultaneamente tão distantes, tenho certeza que extrairemos conclusões maravilhosas para nossas vidas e converteremos os pensamentos em algo vivo que repercutirá no nosso cotidiano.
Sem dúvida, é importante que nos proponhamos metas e objetivos dentro das nossas profissões. Escrevo no plural porque todos nós temos de ordinário, profissões duplas: a profissional e a familiar. Mas, por um momento, deixemos de parte estas considerações e pensemos em quatro dos pensamentos essenciais descritos acima: solidariedade, amizade, amor e lei natural.
Translademo-nos ao mais profundo de nossas almas e façamos uma escala de valores e virtudes, com a finalidade de sermos melhores e podermos preparar as nossas famílias, o nosso bairro, a nossa cidade, e assim, o Brasil que tanto sonhamos.
Um Brasil onde todos estejam incluídos, compreendidos, dignificados e considerados. Um Brasil verdadeiramente democrático, justo, seja qual for governo que escolhamos, se essa for a vontade da maioria e o melhor caminho para alcançar mais liberdade e a mais felicidade.
Fernando Trovador
6 comentários:
fernando.
belo texto. na verdade, seguindo o mesmo mote do anterior, publicado por sergio gomes. a busca da vida civilizada, que tanto sentimos falta no brasil, deve ser continua e desprovida de esmurecimentos diante de fatos que vimos diariamente nos telejornais da vida. a solidariedade e o amor são, efetivamente, condimentos importantes na alquimia da vida.
Os filhos sempre nos surpreendendo! Felizmente absorvem que que tentamos lhes passar com exemplos, e assim crescem e nos enchem de esperança de um mundo melhor.
Pouquissimos os pais se dão ao trabalho e refletir sobre aspéctos tão subjetivos das atitudes de seus filhos. É nesta subjetividade dos comportamentos diários que sempre podemos intervir nas suas vidas, pois, por mais que cresçam, sabemos que este processo é contínuo para eles e para nós.
Eles também nos ensinam muito e devemos ter humildade para aprender e compreendê-los no novo contexto que o mundo lhes oferece.
Muito boa sua reflexão
Tenho filhos e temo muito pelo futuro deles. O mundo está tão cruel que qualquer gesto de solidariedade ou gentileza é digno de registro como se fossem comportamentos raros. Mas não podemos perder a esperança. Este mundo que voce propõe é muito melhor do que o que vivemos.
Obrigada por nos oferecer esperança.
Hoje em dia ser solidário é motivo de comemoração... sinal dos tempos...
Amei o texto, alto astral e cheio de esperanças. Parabens!!!
Muito bom texto. Dá uma injeçao de ânimo nestes dias terriveis e catastrofes e violencia
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