Do meu "Observtório Espacial" não vejo a Terra Azul, como foi a visão do astronauta russo. Infelizmente, é preciso reconhecer os fatos e pessoas que compõem meu cotidiano, quando cedo me levanto.
É certo que reparo o mar com suas ondas, as nuvens que passeiam pelo céu, o bando de pássaros que voam, numa sincronicidade maravilhosa. Os pombos que pairam sobre fios elétricos, como equilibristas do grande circo.
De repente, visualizo homens e mulheres, catando o lixo, que os mal-educados jogam na rua. Crianças que andam descalças, sem camisa, acompanhadas de um cão sujo. Os dormitórios das varandas dos restaurantes ou toldos, sob os quais homens e mulheres dormem cobertos por papelão. Usam sacos plásticos como mictórios e saem cambaleando, em direção à orla.
Esta visão triste e inaceitável é contrabalançada pelo operário que passa todos os dias, empurrando um carro com material de construção; o rapaz jovem que corre, olhando o relógio;
a moça que passa todos os dias como se fosse cumprir uma tarefa. Começam a chegar os clientes de duas clínicas e os pontuais frequentadores de uma Academia. Pessoas que passam com seus cães. Algumas, muito poucas, trazem sacos e apanham as fezes. Homens altos e de roupa preta, com aspecto de seguranças..."o hábito faz o monge"? Os corredores que se dirigem à orla.
A alegria vai chegando, com crianças e adolescentes que se dirigem às escolas puxando carrinhos; outras carregadas por pais, avós e babás... Algumas choram, mas é melhor chorar porque vão à escola do que chorar de fome ou fazer malabarismos circenses nas sinaleiras.
Há muitas coisas positivas, mas ainda não posso dizer como Yuri Gagarin: "A Terra é azul"!
Lúcia Araújo, psicóloga
10 comentários:
Das janelas da nossas vidas observamos o mundo. Janelas existirão sempre e cabe a nós abrí-las ou deixá-las fechadas.
O que muda é o olhar de quem observa. Se abrimos nossas janelas o mundo muda, as pessoas mudam, os dias podem parecer, cada dia, diferentes uns dos outros e cheios de surpresas.
E, a depender da sensibilidade, da bondade e da compaixão do observador, tudo, inclusive o que nos parece cinza e sem cor, pode adquirir todas as cores do arco iris
O texto é tão lindo, tão comovente e tão singelo como a dona das mãos que o escreveu e do coração compassivo de quem o concebeu.
Beijosss
A sensibilidade de minha vó é incrível. Ela consegue ver e traduzir o cotidiano com simplicidade e beleza.
Não me refiro ao 'belo' e sim a toda beleza, toda poesia que há nas nossas vidas e, talvez por falta de tempo, esquecemos de contemplar, de observar, de criticar. E de transformar num texto lindo tudo aquilo que está na nossa frente, todos os dias...
Que texto lindo! Que forma atenta e amorosa de enxergar a vida! Um exemplo para quem só vê o que é ruim e feio como ruim e feio.
Parabens pela leveza das palavras!
Leve, gostoso de ler e o melhor, todos nós de alguma forma vivemos momentos como esse. Por algum comentário acima, percbo que Lucia já é avó. Portanto, envelhecer desta forma é muito bom! Quanta lucidez!
Linda crônica, Lucia! Pelo que vi, voce ja é avó. Que bom saber de alguem com sua vivencia tendo uma visão tão lucida da realidade! Parabens!
Lindo texto!
Realmente só as pessoas com sensibilidade podem registrar com tamanha “maestria” este nosso cotidiano.
Sei também que deste Observatório Espacial, você interage de forma ativa, contribuindo para que este cotidiano se transforme, envolvendo as pessoas que estão à sua volta, permitindo que “peguem uma carona” nesta LUPA da sabedoria.
Beijinhos,
Bel
Amei o texto! Com poucas palavras Lucia conseguiu nos transmitir o quanto o cotidiano pode ser visto de forma atenta e que é possivel modificá-lo
Chega de comodismo. Realmente, basta olhar pela janela!
EXCELENTE! Li e reli em segundos e fiquei contaminada por horas (risos)
É a vó Lúcia, gente! A gordinha mais sexy de Salvador. Hahahahaha
(Não podia perder a piada...)
Veja como vc é "acolhida e tratada" uma pessoa "contextualizada" neste tempo de tanta discriminação!!! Vc é uma pessoa especial, mãe! Nós te amamos por tudo...
beijos,
Bel
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