domingo, 1 de novembro de 2009

POR QUE DESISTIMOS?

Ouvindo pela televisão depoimentos emocionados e carregados de desespero de moradores atingidos pelos rigores do tempo, cujas casas foram mais uma vez, derrubadas e invadidas pelas águas, experimento uma desagradável sensação de fragilidade e, de alguma forma, identifico-me com aquelas pessoas.

Existem situações na vida que fogem totalmente ao nosso controle, nos impondo uma dolorosa sensação de impotência e de engessamento, que sufoca e imobiliza.

Continuo assistindo ao noticiário e experimento, ainda emocionada, a antítese da sensação acima descrita, através da trajetória de uma atleta paraolímpica. Portadora de uma doença degenerativa fez jus a uma medalha de ouro, com o índice de colágeno no corpo, compatível com o de uma pessoa morta. O inusitado desafiou a ciência a submetê-la a um tratamento de vanguarda e seus índices, hoje, igualaram-se ao de uma pessoa já tendo a cura como uma perspectiva real.

Dois fatos onde a sufocante sensação de nada poder ser feito, com desfechos tão diferentes tiveram repercussão diferenciada em minhas emoções.

Será que existem tantas situações, exceto a da morte, que são irreversíveis? Ou existem pessoas vulneráveis, frágeis onde a desesperança e a apatia encontram confortável hospedagem?

Embora reconheça a crueldade das circunstâncias que esmagam grande parcela das populações carentes, parte delas não possui o espírito de luta que a atleta paraolímpica usou para libertar-se. Será que a vida destruiu nelas esta qualidade ou elas nunca a possuíram?

Questões culturais são determinantes. Cidades de Santa Catarina foram totalmente destruídas pela violenta persistência da água e reconstruíram-se. Com ajuda e solidariedade, mas conseguiram. Nos grandes desastres, todos se comovem. No caso das vitimas das encostas nordestinas o mal é crônico o que o aproxima da pergunta e da identificação levantadas no inicio do texto.

Excluindo questões culturais, a capacidade de superação, que é individual e a ajuda e apoio externos que são acidentais, pergunto-me, o que mantêm pessoas amarradas às “camisas de força” do imobilismo e do medo? Por que abdicam do inalienável direito de arbitrar sobre seus quereres ou de afastarem-se daquilo que as incomoda e aproximarem-se daquilo que as fazem felizes?

Qual o porquê das pequenas desistências, que fazem ruir as paredes que abrigam nossos sonhos?

Sinceramente, confesso que não sei.


ALICE ROSSINI

7 comentários:

Penha disse...

Também não sei. Mas existem algumas pessoas que não se entregam nunca. Povos também. Claro que a cultura contribui mas, existe alguma força que temos dentro de nós que, nas situações limite, mobilizamos e nos salvamos.

Excelente refelxão.

Marco Rossini disse...

com certeza este é um dos aspectos que transforma o ser humano em um ser especial. infelizmente a derrota serve pra valorizar a vitória. o vermelho destaca o amarelo. o grande só é grande se existir o pequeno e por ai vai. aquele que não desiste nunca é grandemente valorizado pelo que entrega rapidamente os pontos. é a competitividade e o instinto de sobrevivência que movem os seres humanos no aspecto abordado neste texto.

Fernando Trovador disse...

A tenacidade e a persistência são caracteristiscas, infelizmente, mal distribuidas no Ser Humano. Eu diria Alice, que é uma questão de educação, cultura, agentes motivadores e principalmente, auto confiança. Uma forte pitada de sonhos e de se querer almejar coisas por cima do que pareçem ser as nossas capacidades, são fatores imprescindiveis. Nao tem necessariamente que ser nesta ordem, e muito menos que todos estes condimentos estejam presentes, mas eles são fundamentais, eu diria.
Porém, como diz o Marcos, que seria do azul se todos gostassem do amarelo. Só se ve o forte porque existem os fracos. Nenhuma partida termina com ambas times ganhando-a.

A reflexão é pertinente mas entregar-se a ela de alma aberta pode acarretar frustrações desnecessarias. Mudamos o que podemos, nos orgulhamos pelos superadores, ajudamos os que se querem superar, e só nos resta lamentarmo-nos pelos que não tem espírito de luta, seja lá porque motivo for.

Fernando Trovador

Mariana disse...

Tudo que poderia ser dito a respeito dos porques somos de uma forma ou de outra, parece que os comentários acima ja esgotaram.

Restou-me falar do que me impressiona em seus textos, que é a forma e os lados que voce consegue enxergar o que para a maioria, passaria despercebido.

Bravo!

Ricardo disse...

Acho que temos todos, um instinto que nos impulsiona para a vida. Como voce mesmo diz, outros fatores fazem com que sejam mais claros em uns que em outros.

Como voce, também não sei o que, muitas vezes nos afasta dos nossos sonhos. Dos que determinam se seremos ou não felizes.

Gostaria, sinceramente, de saber porque nos sabotamos de vez em quando, sem que nada nos obrigue a isto.

Amanda disse...

Só voce mesmo Alicinha, para olhar as coisas naturais da vida e fazer delas uma crônica tão interessante.

Sua vivacidade e sensibilidade est 4ao muito bem aproveitadas. Não pare nunca de escrever, é uma forma de mudar o mundo

IZABEL disse...

Alice,

Eu já me perguntei inúmeras vezes porque nós às vezes nos afastamos, abdicamos em buscar “coisas” que nos fazem felizes. Como você escreveu qual o porquê das “pequenas” desistências? Li uma vez um texto, que abordava o tema felicidade, mesmo não concordando com algumas abordagens do conteúdo, chamou-me a atenção três conceitos – PRAZER, ENGAJAMENTO E SIGNIFICADO. Percebi também, que estes três conceitos são interdependentes, complementares. Interpretei o PRAZER – como as coisas que vão fazer os meus olhos brilharem, que despertam o meu apaixonamento; ENGAJAMENTO – seria o quanto eu estou envolvida, o quanto eu estou fazendo parte, e finalmente, SIGNIFICADO – o que representa para mim e para o meu contexto atual, e o que eu posso aplicar, transferir, transcender. Unir estes três conceitos para mim é onde reside a mágica, para não desistirmos dos nossos objetivos.
Mais uma vez, fantástico o seu texto!

Beijos,
Izabel