o cotidiano e suas contradições, descrito e compartilhado - Blog inaugurado em 18 de fevereiro de 2 009 - ANO VIII
quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
EDITORIAL
Apesar do que se ouve, se vê e sente-se o Verso & Reverso, ainda um bebê de dez meses, deixou-se contaminar pelo “espírito natalino” e, consciente das suas limitações, registrou aqui, alguns desejos para o ano que chega:
Que o sol aqueça a todos sem derreter as calotas polares e sem que seja necessário que usemos litros de filtro solar;
Que a chuva caia nas florestas, em lugares onde a água é escassa, onde os rios estejam secos e a terra infecunda. Mas, poupem as cidades e as pessoas de viverem o pânico de serem destruídas;
Que a violência diminua da mesma forma que os presídios se humanizem e as leis sejam cumpridas;
Que nas próximas eleições votemos com responsabilidade e tenhamos consciência da cidadania que nos dá direitos, principalmente, o de cobrar as promessas dos que nos governam;
Que os políticos, uma vez no poder, não esqueçam seus compromissos em não destruir a consciência das futuras gerações e se comprometam a manter as esperanças do país em tornar-se uma nação justa e democrática;
Que conceitos de guerras "necessária”, “conveniente”ou “defensiva”, “bloqueios econômicos”, “golpes de estado”, “regimes de exceção”, “censura à imprensa” e outras justificativas vãs, sejam banidos do jargão dos poderosos;
Que todos os regimes autoritários sejam atingidos pelo veneno da supressão da liberdade e que os ditadores sucumbam aos clamores por um mundo melhor, nem que para isso seja necessário que acreditemos em duendes;
Que nasçam crianças todas desejadas, com direitos assegurados e que suas familias as eduquem dentro de princípios éticos e valores humanos;
Ah! Que os casais que se amam continuem apaixonados, que os que já não se amam tenham a coragem de buscar a felicidade e os que ainda vão se amar encontrem-se no ano que se avizinha.
Como este Blog não tem a pretensão de esgotar desejos, coloca seu espaço reservado a Comentários para que seus leitores e colaboradores, livremente, externem os seus sonhos e suas vontades.
Até 2010!!!
VERSO & REVERSO
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
O TETO DO MEU QUARTO
O teto do meu quarto é um verdadeiro telão. Nele, assisto a espetáculos, cujos roteiros, ou nascem do infinito dos meus desejos ou da penumbra de esconderijos, onde poeiras providenciais cobrem alguns fatos com as nuvens do esquecimento. Os motivam ainda, a realidade imprevisível dos meus dias.
Não existe uma imagem ou um roteiro que não guarde a veracidade das vivências ou a virtualidade dos sonhos. As personagens, reais. Muitas, amadas. Poucas, indiferentes. Mas todas importantes.
Desta mistura de cenas que muitas vezes parecem oníricas ou vindas de nichos nunca d’antes visitados, percebo o quanto a vida é rica e pode ser desafiadora. Porque no quadrado cinematográfico em que se transforma meu teto não existe censura. Todos os meus demônios têm pleno direito de atuarem como coadjuvantes, personagens principais, diretores e roteiristas de histórias que só são vividas no libertino telão.
No meu cinema particular e imaginário não existe nem o bem nem o mal. Nem certo nem errado. Neste espaço quadrado e limitado por paredes, paradoxalmente, a liberdade é total. Nele a vida acontece, simples e naturalmente.
Nele tudo é possível; como voar sobre campos, cidades e oceanos, até poder pousar junto a pessoas que estão, por alguma circunstância, distantes. Visitar lugares onde o desconhecido me instiga e o exótico me atrai. Voltar a cenários onde senti que a felicidade era um sentimento permanente e eterno.
Entretanto, muitas vezes, a vontade, ainda que estranha, é a de rastejar. Porque nem sempre voar é o desejo, muito menos a necessidade. Rastejar é preciso. Enxergar a vida de perspectivas outras. Degustar e sentir o gosto amargo das camadas mais inferiores e mesquinhas dos sentimentos humanos. Para alguns, experiência humilhante, para outros, instigante, necessária, transformadora e libertária. Compartilhar do cálice transbordante da angústia dos que sofrem e choram, muitas vezes dão ao nosso riso a razão que precisam para perderem o egoísmo da indiferença.
Ah! Quantas vezes o impulso do arrependimento me flagra desprevenida, querendo que cenas reais tivessem sido escritas de forma diferente. Logo me dou conta da inutilidade do desejo. Fossem os escritos diferentes, os personagens seriam outros, a história seria outra, eu seria outra. E a outra que eu seria, nem conheço. Portanto, mais um desejo, além de inútil, perigoso.
A taquicardia, a excitação, as faíscas que teimem em brilhar nos meus olhos sonolentos, lembram-me que tetos de quartos, além de proteger tem a missão de nos ensinar que sonhar, mais que um dever, é uma necessidade. Que mantenhamos a crença que milagres acontecem que ousadia é virtude e que o sentido de viver é, somente, o viver.
E, nas florestas imaginárias dos nossos sonhos existem gnomos, duendes e todos os seres encantados que se escondem na mata.
E eu preciso acreditar neles!
ALICE ROSSINI
Não existe uma imagem ou um roteiro que não guarde a veracidade das vivências ou a virtualidade dos sonhos. As personagens, reais. Muitas, amadas. Poucas, indiferentes. Mas todas importantes.
Desta mistura de cenas que muitas vezes parecem oníricas ou vindas de nichos nunca d’antes visitados, percebo o quanto a vida é rica e pode ser desafiadora. Porque no quadrado cinematográfico em que se transforma meu teto não existe censura. Todos os meus demônios têm pleno direito de atuarem como coadjuvantes, personagens principais, diretores e roteiristas de histórias que só são vividas no libertino telão.
No meu cinema particular e imaginário não existe nem o bem nem o mal. Nem certo nem errado. Neste espaço quadrado e limitado por paredes, paradoxalmente, a liberdade é total. Nele a vida acontece, simples e naturalmente.
Nele tudo é possível; como voar sobre campos, cidades e oceanos, até poder pousar junto a pessoas que estão, por alguma circunstância, distantes. Visitar lugares onde o desconhecido me instiga e o exótico me atrai. Voltar a cenários onde senti que a felicidade era um sentimento permanente e eterno.
Entretanto, muitas vezes, a vontade, ainda que estranha, é a de rastejar. Porque nem sempre voar é o desejo, muito menos a necessidade. Rastejar é preciso. Enxergar a vida de perspectivas outras. Degustar e sentir o gosto amargo das camadas mais inferiores e mesquinhas dos sentimentos humanos. Para alguns, experiência humilhante, para outros, instigante, necessária, transformadora e libertária. Compartilhar do cálice transbordante da angústia dos que sofrem e choram, muitas vezes dão ao nosso riso a razão que precisam para perderem o egoísmo da indiferença.
Ah! Quantas vezes o impulso do arrependimento me flagra desprevenida, querendo que cenas reais tivessem sido escritas de forma diferente. Logo me dou conta da inutilidade do desejo. Fossem os escritos diferentes, os personagens seriam outros, a história seria outra, eu seria outra. E a outra que eu seria, nem conheço. Portanto, mais um desejo, além de inútil, perigoso.
A taquicardia, a excitação, as faíscas que teimem em brilhar nos meus olhos sonolentos, lembram-me que tetos de quartos, além de proteger tem a missão de nos ensinar que sonhar, mais que um dever, é uma necessidade. Que mantenhamos a crença que milagres acontecem que ousadia é virtude e que o sentido de viver é, somente, o viver.
E, nas florestas imaginárias dos nossos sonhos existem gnomos, duendes e todos os seres encantados que se escondem na mata.
E eu preciso acreditar neles!
ALICE ROSSINI
terça-feira, 15 de dezembro de 2009
DOCE REGRESSO
Viajar é uma maravilha! Se existem disponibilidade de tempo e dinheiro, algumas viagens curtas durante o ano, além de relaxantes, oportunizam conhecer diversos lugares neste mundo, tão vasto quanto surpreendente.
E é a constatação da diversidade do mundo que nos faz pessoas melhores. Testemunharmos as diferentes formas de comportamentos, percebermos a infinita nuance de cores da natureza, de peles e de olhos. As diversas texturas de cabelos, sentir diferentes paladares, ouvir sons que vão dos guturais, aos mais familiares, até os impronunciáveis. Conhecer, através da diversidade arquitetônica, a história da humanidade. Visitar museus e tocar com o olhar as obras dos grandes gênios da arte. Observar monumentos seculares e perceber que a inteligência humana sempre foi capaz de superar-se e chegar à beira do impossível!
Tudo isto alarga a concepção do mundo e aguça nossa percepção do equilíbrio que reside no diverso, no diferente. E no contexto da diversidade, o elogio da individualidade.
Viajar nos faz tolerantes. Inclusive, e principalmente, com o que deixamos para trás: nosso país, nossa cidade, nossa casa, nossa rotina. Faz-nos compreender porque tudo é como é.
Até porque uma viagem é bem mais longa do que parece. Começa com a curiosidade que determinado lugar nos provoca. Nas fantasias e expectativas que criamos em relação ao que vamos conhecer ou reconhecer. Na excitação gostosa e nas dúvidas que se impõem; se fizemos a escolha certa, se a hospedagem corresponderá às nossas necessidades, se o clima nos favorecerá. Se dúvidas não aparecerem, nossa natural ansiedade trata de criá-las. Frutos do “estado de prontidão” em que nos colocamos diante do desconhecido.
Chegando ao nosso destino absorvemos e sorvemos tudo que achamos relevante. Buscamos entender a cultura. Conhecemos rostos nunca vistos, semblantes sequer imaginados. Buscamos apreender o mais representativo do cotidiano do lugar visitado. Superamos com bom humor todos os percalços. Registramos todos os “micos” para rir mais tarde com os amigos e tentamos congelar os momentos em centenas de fotografias.
Mas, nada disso seria assim, tão aparentemente perfeito, não fosse a saudade que sentimos da vida que, temporariamente, deixamos para trás. Não tarda sentirmos necessidade da certeza que tudo que deixamos - coisas e pessoas - continuam iguais. Desejo inconsciente que o tempo tivesse parado, à nossa espera.
Chega o dia do retorno. Eu, pelo menos, sinto um prazer igual ou superior ao dia do embarque. Quando, ainda do avião percebo caminhos tantas vezes percorridos, quando ainda no aeroporto, reconheço um rosto querido e ansioso à minha espera, quando vejo, da esquina da minha rua o imponente jambeiro que, silencioso, assiste todas as manhãs, minha primeira refeição, meu coração bate mais forte.
Entro na minha casa. As paredes, os móveis, alguns objetos de uma vida inteira, meus livros, minha varanda onde mora minha palmeira, se curvam num abraço tão aconchegante a acolhedor que, não raro, lágrimas vêm-me aos olhos. Vou entrando mais devagar os reverenciando agradecida por terem me esperado, tal qual os deixei. Então, reencontro meu quarto. Nele minha cama. Nela meu travesseiro. Aliás, dois comportados travesseiros que, pacientemente, esperam duas cabeças que “parecem” inquietas e aventureiras e só saem “por aí”, porque tem a certeza que tem onde pousar e porque voltar.
ALICE ROSSINI
E é a constatação da diversidade do mundo que nos faz pessoas melhores. Testemunharmos as diferentes formas de comportamentos, percebermos a infinita nuance de cores da natureza, de peles e de olhos. As diversas texturas de cabelos, sentir diferentes paladares, ouvir sons que vão dos guturais, aos mais familiares, até os impronunciáveis. Conhecer, através da diversidade arquitetônica, a história da humanidade. Visitar museus e tocar com o olhar as obras dos grandes gênios da arte. Observar monumentos seculares e perceber que a inteligência humana sempre foi capaz de superar-se e chegar à beira do impossível!
Tudo isto alarga a concepção do mundo e aguça nossa percepção do equilíbrio que reside no diverso, no diferente. E no contexto da diversidade, o elogio da individualidade.
Viajar nos faz tolerantes. Inclusive, e principalmente, com o que deixamos para trás: nosso país, nossa cidade, nossa casa, nossa rotina. Faz-nos compreender porque tudo é como é.
Até porque uma viagem é bem mais longa do que parece. Começa com a curiosidade que determinado lugar nos provoca. Nas fantasias e expectativas que criamos em relação ao que vamos conhecer ou reconhecer. Na excitação gostosa e nas dúvidas que se impõem; se fizemos a escolha certa, se a hospedagem corresponderá às nossas necessidades, se o clima nos favorecerá. Se dúvidas não aparecerem, nossa natural ansiedade trata de criá-las. Frutos do “estado de prontidão” em que nos colocamos diante do desconhecido.
Chegando ao nosso destino absorvemos e sorvemos tudo que achamos relevante. Buscamos entender a cultura. Conhecemos rostos nunca vistos, semblantes sequer imaginados. Buscamos apreender o mais representativo do cotidiano do lugar visitado. Superamos com bom humor todos os percalços. Registramos todos os “micos” para rir mais tarde com os amigos e tentamos congelar os momentos em centenas de fotografias.
Mas, nada disso seria assim, tão aparentemente perfeito, não fosse a saudade que sentimos da vida que, temporariamente, deixamos para trás. Não tarda sentirmos necessidade da certeza que tudo que deixamos - coisas e pessoas - continuam iguais. Desejo inconsciente que o tempo tivesse parado, à nossa espera.
Chega o dia do retorno. Eu, pelo menos, sinto um prazer igual ou superior ao dia do embarque. Quando, ainda do avião percebo caminhos tantas vezes percorridos, quando ainda no aeroporto, reconheço um rosto querido e ansioso à minha espera, quando vejo, da esquina da minha rua o imponente jambeiro que, silencioso, assiste todas as manhãs, minha primeira refeição, meu coração bate mais forte.
Entro na minha casa. As paredes, os móveis, alguns objetos de uma vida inteira, meus livros, minha varanda onde mora minha palmeira, se curvam num abraço tão aconchegante a acolhedor que, não raro, lágrimas vêm-me aos olhos. Vou entrando mais devagar os reverenciando agradecida por terem me esperado, tal qual os deixei. Então, reencontro meu quarto. Nele minha cama. Nela meu travesseiro. Aliás, dois comportados travesseiros que, pacientemente, esperam duas cabeças que “parecem” inquietas e aventureiras e só saem “por aí”, porque tem a certeza que tem onde pousar e porque voltar.
ALICE ROSSINI
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
QUANDO A VIDA NÃO VALE NADA
Esta semana, aquela senhora, empregada doméstica da minha vizinha, teve seu único filho morto. Foi lá no morro. Deram-lhe oito tiros. Assim, como quem mata um animal. Simplesmente dispararam e o deixaram estendido na lama do caminho.
O rapaz tinha vinte e dois anos, vivia com uma moça da sua idade e já tinham um filho de um ano e meio. Trabalhava de segunda a sábado, 12 horas por dia, e pensava mudar-se do morro porque várias vezes haviam tentado roubar-lhe a moto, sua única propriedade.
À sua mãe disseram que o filho estava desaparecido há três dias. Ela e outros familiares percorreram hospitais com a esperança de encontrá-lo, por acharem ter sofrido algum acidente de trânsito. Nada. Alguém, então, decidiu ir ao Instituto Médico Legal. Lá o encontraram.
Avisaram à mãe e, depois do reconhecimento, entregaram-lhe o cadáver.
O velório foi horrível. Familiares e amigos se cotizaram para pagar o funeral. Cinco mil reais para ter o direito a um funeral decente. Digno de quem trabalhava e não era bandido. Senão, seria enterrado como indigente. Não há onde sepultar um filho que jaz sem alma, junto à alma de uma mãe despedaçada pela dor. Cinco mil ou nada.
Não há culpados. Nada se sabe. Penso que nunca se saberá. Aquele jovem transformou-se numa pasta a mais no arquivo criminal de algum organismo do Estado, que em alguns meses estará coberta com o pó do esquecimento e da impunidade. Caso encerrado.
Só se sabe do caminho tingido de sangue, da mancha na lama da subida do morro. Lama manchada com a vida de mais um. A chuva se encarregará de fazer desaparecer esta última lembrança. Mais uma saudade naqueles que sobreviveram. Fim da história.
No começo da próxima semana, novas histórias serão escritas com o sangue de mortes provocadas por balas, facadas, roubos, sequestros, assaltos. Mais terríveis que as mortes, são os deflagradores das tragédias. Realidades transformadas em contos de terror. Terrível o sofrimento e a dor de quem sobrevive à cruel realidade.
Pior ainda é acostumar-se a todos esses fatos e viver tendo consciência que não há quem faça algo para solucionar a situação que nos rodeia, que destrói nossos nervos e compromete nossa estabilidade.
Estou convencido que, atualmente, a maior prioridade do brasileiro comum, é viver em paz. Provavelmente uma casa melhor, transporte próprio, educar os filhos. Tudo isto, antecedido pela paz.
Não, imagino que o desejo resumiria algo mais básico, mais instintivo, mais primitivo: viver! E viver envolve planos, estudar, trabalhar, apaixonar-se, ter filhos, ter um teto próprio, divertir-se, conviver com amigos, fazer o que quer, quando quer e como quer. Mas, em paz! Não no meio de uma guerra permitida.
Penso que não há nada pior que viver com a angústia de quem vive num país em guerra. Só que, numa guerra declarada aponta-se o alvo e lança-se uma bomba para destruir o inimigo. No nosso país, parece que somos todos inimigos. A guerra é contra quem caminha pela rua, vai trabalhar, fala no celular, pega o ônibus, dorme ou vê televisão em sua casa. A guerra é nos dias de semana, nos fins de semana, nos dias de festa. A guerra é à noite e durante o dia. A guerra é sempre. A morte é sempre. E as ruas se inundam de lágrimas e de raiva. E não se faz nada. O certo é que o Governo não faz nada.
O certo é que nos ensinam que a vida não vale nada!
FERNANDO TROVADOR, sim, mas triste, muito triste!
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
HOMENS
Recebi de um amigo, um texto de Zélia Gattai intitulado “Homem Maduro”. Lindo! Fiquei emocionada e pensativa.
Imagino que, para escrever texto tão belo, a escritora deve ter-se inspirado no seu adorado Jorge. Embora tivesse, como eu, a mesma forma de sentir e perceber o sexo oposto, prefiro aguçar meu olhar e falar de homens de forma mais generalizada; os maduros e os jovens, os amadurecidos e os imaturos, os equilibrados e insatisfeitos, os desequilibrados e satisfeitos, tantos quantos hajam por aí.
Existem exemplares que se encaixam em todas as classificações e não pretendo, aqui, esgotá-las. Calma! Reconheço que o universo de perfis femininos é bem mais complexo e de uma variedade desconcertante. Para muitos, desanimadora.
Voltando aos homens maduros a que Zélia referiu-se, são sim, charmosos e experientes em vários aspectos. Por terem vivido décadas tão marcantes para a humanidade guardam resquícios deste tempo. O romantismo, a conquista, o sofrimento, a luta por ideais que, certamente, fizeram deles homens maduros e mais densos que provavelmente serão os homens maduros das próximas gerações.
E por falar em gerações, pensar no homem como maduro, não quer dizer que também falo do homem amadurecido. Não quero correr o risco, repito, de restringir o universo das minhas elucubrações, já que convivo com homens de todas as idades.
Assim, percebo que é ainda muito jovem que o homem maduro perde a consciência do seu processo de amadurecimento e não percebe o quanto poderia sentir-se especial e sedutor.
Os padrões estéticos atuais também os esmagam. Os obrigam a violentarem seus organismos, modificando biotipos, mudando a simetria e a harmonia de seus corpos. Isto seria justificado se este padrão fosse ao encontro de expectativas femininas. Mas, não é isto que vejo e ouço. Mulheres não se encantam por montanhas de músculos. Mulheres gostam de músculos e cabeças definidas com equilíbrio e harmonia.
Então, o que os motiva a carregar “toneladas” de ferro? Aí é que as duas pontas da questão se encontram: o homem jovem ao hipertrofiar seus músculos tenta perenizar os símbolos de virilidade e força próprias da masculinidade. O homem maduro, não se enxerga sedutor e cheio de encantos, porque já não pode sustentar aqueles simbolos que o jovem, tola e inutilmente busca.
E neste tumulto existencial, centrando-se numa simbologia tão inconstante quanto passageira, a grande maioria deixa de construir vínculos mais profundos com a vida, cujos pilares mais consistentes os sustentarão e os adensarão quando maduros.
Entramos, então, nós mulheres, como fator complicador, quando não, coadjuvantes nesta busca e insatisfação insanas. Não abrindo mão do pesado estereótipo de “predador” o homem deixa de lado os encantos e os encantamentos inerentes a cada fase da sua vida, eternizando uma postura belicosa e de superioridade em relação às mulheres, cuja trégua só ocorre na cama.
Ao afastarmo-nos um do outro enfraquecemos o casal que, em alguns casos, ainda mantêm-se refém daquele que morava nas cavernas, com papeis rígidos e definidos, direitos desiguais e nenhum espaço comum. Sem contar o alheamento quanto aos respectivos universos, com suas peculiaridades, riquezas, dificuldades e questões que poderiam ser compartilhadas e resolvidas de forma solidária e madura.
Daí porque me nego a rotular homens em maduros ou jovens. Um, a origem, outro, a conseqüência e seus desdobramentos: de um lado virilidade e saúde perdendo-se em espelhos e halteres ou na busca desenfreada pelo “sucesso” a qualquer custo. Do outro, medo enchendo cabeças cobertas de charmosos fios grisalhos, angústia nublando olhos perspicazes, argutos e fascinantes e acelerando corações que emoções agradáveis os tonificariam, em vez de fragilizá-los. Suores de ansiedade molhando mãos construtoras, calejadas de luta, mas capazes de carícias e força para segurar o essencial da vida.
ALICE ROSSINI
Imagino que, para escrever texto tão belo, a escritora deve ter-se inspirado no seu adorado Jorge. Embora tivesse, como eu, a mesma forma de sentir e perceber o sexo oposto, prefiro aguçar meu olhar e falar de homens de forma mais generalizada; os maduros e os jovens, os amadurecidos e os imaturos, os equilibrados e insatisfeitos, os desequilibrados e satisfeitos, tantos quantos hajam por aí.
Existem exemplares que se encaixam em todas as classificações e não pretendo, aqui, esgotá-las. Calma! Reconheço que o universo de perfis femininos é bem mais complexo e de uma variedade desconcertante. Para muitos, desanimadora.
Voltando aos homens maduros a que Zélia referiu-se, são sim, charmosos e experientes em vários aspectos. Por terem vivido décadas tão marcantes para a humanidade guardam resquícios deste tempo. O romantismo, a conquista, o sofrimento, a luta por ideais que, certamente, fizeram deles homens maduros e mais densos que provavelmente serão os homens maduros das próximas gerações.
E por falar em gerações, pensar no homem como maduro, não quer dizer que também falo do homem amadurecido. Não quero correr o risco, repito, de restringir o universo das minhas elucubrações, já que convivo com homens de todas as idades.
Assim, percebo que é ainda muito jovem que o homem maduro perde a consciência do seu processo de amadurecimento e não percebe o quanto poderia sentir-se especial e sedutor.
Os padrões estéticos atuais também os esmagam. Os obrigam a violentarem seus organismos, modificando biotipos, mudando a simetria e a harmonia de seus corpos. Isto seria justificado se este padrão fosse ao encontro de expectativas femininas. Mas, não é isto que vejo e ouço. Mulheres não se encantam por montanhas de músculos. Mulheres gostam de músculos e cabeças definidas com equilíbrio e harmonia.
Então, o que os motiva a carregar “toneladas” de ferro? Aí é que as duas pontas da questão se encontram: o homem jovem ao hipertrofiar seus músculos tenta perenizar os símbolos de virilidade e força próprias da masculinidade. O homem maduro, não se enxerga sedutor e cheio de encantos, porque já não pode sustentar aqueles simbolos que o jovem, tola e inutilmente busca.
E neste tumulto existencial, centrando-se numa simbologia tão inconstante quanto passageira, a grande maioria deixa de construir vínculos mais profundos com a vida, cujos pilares mais consistentes os sustentarão e os adensarão quando maduros.
Entramos, então, nós mulheres, como fator complicador, quando não, coadjuvantes nesta busca e insatisfação insanas. Não abrindo mão do pesado estereótipo de “predador” o homem deixa de lado os encantos e os encantamentos inerentes a cada fase da sua vida, eternizando uma postura belicosa e de superioridade em relação às mulheres, cuja trégua só ocorre na cama.
Ao afastarmo-nos um do outro enfraquecemos o casal que, em alguns casos, ainda mantêm-se refém daquele que morava nas cavernas, com papeis rígidos e definidos, direitos desiguais e nenhum espaço comum. Sem contar o alheamento quanto aos respectivos universos, com suas peculiaridades, riquezas, dificuldades e questões que poderiam ser compartilhadas e resolvidas de forma solidária e madura.
Daí porque me nego a rotular homens em maduros ou jovens. Um, a origem, outro, a conseqüência e seus desdobramentos: de um lado virilidade e saúde perdendo-se em espelhos e halteres ou na busca desenfreada pelo “sucesso” a qualquer custo. Do outro, medo enchendo cabeças cobertas de charmosos fios grisalhos, angústia nublando olhos perspicazes, argutos e fascinantes e acelerando corações que emoções agradáveis os tonificariam, em vez de fragilizá-los. Suores de ansiedade molhando mãos construtoras, calejadas de luta, mas capazes de carícias e força para segurar o essencial da vida.
ALICE ROSSINI
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