quinta-feira, 30 de julho de 2009

A IMPORTÂNCIA DO "NÃO"

Dizer que mulher é “sexo frágil” virou clichê. Além de defasado, inverídico.

Desde os primórdios da humanidade, quando uma das suas tarefas era cuidar da cria e defender seu “território,” enquanto o macho buscava o alimento, desenvolveu uma enorme capacidade de desempenhar várias atividades simultaneamente. Tornou-se uma privilegiada observadora de todas as fases do desenvolvimento físico e psicológico do ser humano, através da proximidade dos filhos.

Sentimentos humanos e suas variações tornaram-se uma “especialidade” feminina, inclusive a análise e a consciência dos inerentes à sua condição de mulher.

Nem por isso, teve um papel privilegiado na história da humanidade e muito teve que lutar para ter acesso a direitos elementares. Quanto a isto muito já foi dito. Por estes direitos e, em nome da luta, alguns equívocos foram cometidos e o saldo positivo depositou em nossos colos uma enorme responsabilidade de não permitirmos nenhum retrocesso.

Hoje, ao mesmo tempo em que conquistamos uma legislação que protege, fatos nos dão a lucidez de reconhecer que a frieza da lei, por mais severa que seja, não é capaz de mudar comportamentos atávicos, arraigados em todas as culturas, que usurpam da mulher a autonomia capaz de torná-la totalmente livre.

As mais cruéis seqüelas sofridas pelo ser humano, oriundas da sua trajetória histórica e cultural, tiveram origem na incapacidade masculina de lidar com reversão de expectativas, de elaborar de forma positiva sentimentos de rejeição, de reconhecer como natural o processo de envelhecimento, de se sentir dono perpétuo de tudo que conquista e cria, de ser refém de um pragmatismo que exacerba e o torna, muitas vezes, um ser frio e distante, até dos próprios sentimentos. Embora nunca desista e lute com tenacidade por maiores parcelas de liberdade, não a reconhece como um direito de todos e, neste universo, incluem as mulheres.

Fatos frequentemente divulgados pela mídia, em todas as épocas, atestam que o homem não reconhece na mulher o direito de dizer um simples NÃO.

Refiro-me aqui ao que ocorre entre as quatro paredes da sua vida, pois certamente, o que transborda para o público é reflexo dos bastidores em que vive e. não raro, apenas sobrevive.

São pequenos, mas decisivos, os detalhes que determinam esta distorção. Nossa anacrônica submissão nos faz presas fáceis de um assentimento incondicional a todas as demandas dos nossos parceiros. Não estou generalizando, mas sabemos que muitas de nós, independente de nível sócioeconômico e cultural, com a intenção de manter o “equilíbrio” e a harmonia familiar, pelos quais nos colocamos como únicas responsáveis cedem nas questões acidentais, com o mesmo desamor por nós mesmas como fazemos no que é essencial e fundamental.

O resultado disso são relações patológicas de dominação, onde a violência assume sutilezas infinitas que vão da manipulação psicológica à agressão física.

Quando extrapolam os limites da “civilidade” a imprensa divulga, a polícia prende, as famílias revoltam-se, muitas mortes e mutilações físicas e psicológicas perpetuam-se. Mas algumas perguntas ficam no ar: Qual o caminho percorrido por aquela mulher para ser vítima de tanta violência com requintes de perversidade? Quantas concessões devem ter sido feitas que derrubassem barreiras, extrapolassem limites e cedessem lugar a tanta brutalidade? Quantos “sim’s” violentaram “não’s” que legitimavam direitos, vontades, desejos, medos, inseguranças tão humanas quanto recorrentes?

Não se passa pelo calvário sem tropeçar em todas as suas pedras e sem conhecer ou sentir o peso da cruz.

Nossa dificuldade cultural de dizer não, associada à dificuldade do outro de ouví-lo, nos aprisiona. Nossa incompetência de sermos donas dos nossos destinos tem raízes históricas, embora as chaves das prisões que nos encarceram, sabemos onde encontrá-las. Mas a covardia, o comodismo e, muitas vezes, o oportunismo que reside em algumas de nós, faz com que escolhamos ser segregadas das nossas próprias essências e do amor que deveríamos sentir por nós mesmas.

Preço alto demais por tão pouco ou quase nada.

ALICE ROSSINI

domingo, 26 de julho de 2009

A COMPLEXIDADE DE SER SIMPLES

Uns dizem que viver é simples, outros que a vida é complicada. Pessoalmente acho tudo complicado. O mesmo motivo que nos conforta, torna a tarefa de viver trabalhosa: o “outro”. Além "dele" tem o “próximo”, o “não tão próximo” e muitas vezes, até o “desconhecido”. Este último ainda tem como agravante o peso da fertilidade da nossa imaginação, da nossa carga existencial e do medo natural de tudo que desconhecemos.

Quando Sartre disse que “o inferno são os outros” ele deu a esse “outro” um poder imenso; de dar sentido à nossa vida e ser uma referência que legitima nossos projetos, encampando-os ou impedindo-os. É através desse “outro” que nos reconhecemos como pessoas.
Alguns colocam entre as maiores complicações da vida os relacionamentos amorosos e suas inúmeras implicações. Por melhores que sejam, são complicados mesmo. E tanto nos atormentam como nos dão uma confortável sensação de plenitude.
Outros se consomem com os filhos. Ao que não corresponde às suas expectativas, ao que desejam e não têm ou ao que tiveram e perderam. Ao que tem, mas não possuem, ao que não inspira expectativa nenhuma e por aí vai...
Ainda existem os que anseiam por um dia que seja, sem dor, física ou emocional. As primeiras, muitas vezes curáveis, outras não. As segundas, tantas vezes sem razões aparentes. Essas, infernais.
Há os que lutam pela sobrevivência, outros para quem a sobrevivência já está garantida, mas querem mais, muito mais. Vivem na angústia de manter um padrão que acham, seja o mais robusto pilar onde repousa sua felicidade.


Depois de toda esta relação, que está longe de esgotar-se das questões, problemas e tragédias humanas, há alguém que diga que viver é fácil? Não há uma só situação por mim citada em que o “outro” não seja nosso coadjuvante e, quando permitimos, ainda é o protagonista de uma história que é nossa!
Portanto, meus amigos, problemas existem e existirão sempre, o que me leva a ratificar a crença de que viver não é simples.

Só há uma possibilidade, aceitando esta verdade. Simples assim. Será?

Não. Não é simples porque somos seres providos de sentimentos de todas as naturezas. Como “aquele outro” é inevitável, problemas sempre farão parte das nossas vidas e não é nada simples administrá-los e enxergá-los com naturalidade. Quanto aos nossos sentimentos, nosso controle é bastante relativo, quando o descontrole não é absoluto.

O que estou querendo é demonstrar, através da complexidade da vida e da nossa condição humana, o quanto ela pode ser simples.

Tarefa difícil para muitos, impossível para outros tantos. Simplesmente porque depende de acharmos uma fresta menos impregnada de teias e equívocos, através da qual nossa miopia existencial nos permita enxergar a vida e nos possibilite a consciência da complexidade inerente á nossa interação com todos os “outros”, conhecidos, desconhecidos e os que nem conhecemos, mas determinam nossos destinos.

Como todo ser humano, procuro a equação que torne a vida, quando não feliz, até porque seria insípida e tediosa, mais simples e mais cômoda. Uma equação em que prazeres e tristezas sejam pesados através de uma balança, cujo “fiel” garanta poucas oscilações mensuradas por uma unidade de medida que relativize os fatos, dando-lhes a justa largura e profundidade.

Deixemos por conta da incógnita, presente em todas equações, a pitada de incertezas e imprevistos que lhe dão o sabor e a excitação, sem os quais seríamos inexoravelmente infelizes.


ALICE ROSSINI

quarta-feira, 22 de julho de 2009

ETERNAS NOITES DE LUAR...

“Poetas, seresteiros, namorados, correi
É chegada a hora de escrever e cantar.
Talvez as derradeiras noites de luar”

Em “Lunik 9”, a genialidade de Gilberto Gil previa que logo, o homem alcançaria a Lua. Dois anos mais tarde, 20 de julho de 1969, enfim, a conquista.

São assim os poetas, sonham com o impossível. Tão incríveis são seus sonhos, que a vida lhes ensina que alguns têm a estranha vocação para vestirem-se com os mantos da realidade.

Tão grandiosa e irreal foi a façanha, quanto o direito de duvidar da sua veracidade. Teorias conspiratórias “criaram” histórias inverossímeis em que americanos, os donos da aventura, teriam iludido a humanidade para assim passar à frente dos russos, numa peculiar disputa que, paradoxalmente, era apelidada “Guerra das Estrelas”

Fato é que, ainda hoje, alguns poucos duvidam da ousadia humana, embora, para todos os argumentos contra, existe um tão forte que os derruba.

A Arte, mãe de todos os devaneios, na tentativa de manter o mito, pegou carona nas asas do imaginário poético de Gil, para impedir, tão logo fosse desvirginada, pelas pegadas humanas, a Lua perdesse seu encanto e mistério.

Hoje, quarenta anos depois, se mantém altaneira e majestosa, indiferente à curiosidade humana, senhora dos dons de encantar e de fazer sonhar.

Sempre pacata e silenciosa acolheu o homem. Ferida pelo mastro de uma bandeira desbravadora, nem sangrou. Permaneceu igual e continuamos a contemplá-la com o mesmo sonhador olhar, a cantá-la em poesias e a suspirar quando alguma saudade nos esmaga o peito.

Mares, rios e matas continuaram prateando-se com as madrepérolas inquietas que fogem ariscas da sua luminosidade.

Permanece crescendo, minguando, quarto minguando-se, renovando-se, eclipsando e ressurgindo, seguindo seus ciclos naturais e mantendo intactos, em cada um, o impacto da sua beleza e a fantasia de, definitivamente, conquistá-la.

Felizmente, a triste profecia do poeta não se cumpriu:
. “Talvez não tenha mais luar, pra clarear minha canção. O que será do verso sem luar? O que será do mar. Da flor, do violão?”

Sosseguemos! Se um dia a possuímos, ela, todo dia, nos possui; se sua luz tornar-se opaca, terá sido nossa ingratidão que estendeu sujas cortinas para escondê-la.


Continuaremos a ouvir canções em seu louvor, pois haverá sempre, homens de boa vontade para marcar encontros entre o verso e o luar.


O mar, espelhado e límpido, sempre refletirá, através dela, estrelas platinadas. Vaidoso, jamais renunciará à sua condição de ser belo.


O violão generoso vibrará suas cordas, em melodiosas formas, tendo-a sempre como sua Musa preferida; e a flor, com delicadeza e humildade, ensinará ao amor a possibilidade de ser simples e forte, embora perecível.

O homem foi á lua. Foi e voltou. Tanto o homem permaneceu igual na grandiosidade dos seus sonhos e na capacidade de os apequenarem quando alcançados; quanto a lua, mesmo desvirginada e possível, não perdeu sua brancura e mistérios virginais.

Para viver nela, dela e com ela, basta olhar para o céu...


ALICE ROSSINI

domingo, 19 de julho de 2009

SARNEY NA ÁFRICA

Maio de 1986. Recebo a confirmação da embaixada do Brasil, de que o presidente Sarney e comitiva, estariam nos país durante a semana, em visita oficial. Perguntei ao embaixador se eram necessários meus serviços, e o mesmo informou que o presidente vinha acompanhado de médico, e bastava que eu me apresentasse a este como colega, para qualquer eventualidade. No mais estaria liberado, mas não poderia deixar a cidade, estando convidado para o almoço que seria oferecido pelo governo caboverdeano à comitiva presidencial brasileira. No dia da chegada dirigi-me ao aeroporto com alguns funcionários da embaixada, apresentei-me ao médico do presidente que me disse que estava "tudo ok", e que tinha estrutura a bordo para resolver qualquer “piti” ou “piripaqui” presidencial. Liberou-me presenteando-me com alguns maços de “Hollywood, o sucesso” para eu matar a saudade do Brasil – o que achei um presente estranho de médico/médico, mas adorei porque naquela época eu fumava - e marcamos para voltar a “trocar figurinhas” no almoço, pois a estadia seria curta.

Como do aeroporto o presidente ia desfilar em carro aberto pelo centro da cidade, voltei correndo para meu apartamento para trocar de roupa, e fui assistir uma coisa que nunca tinha visto: um presidente, no caso, o do meu país, desfilando em carro aberto e ao vivo. Misturei-me gostosamente com a população. As ruas estavam limpas. Crianças e adolescentes em roupas escolares, agitavam bandeiras do Brasil e Cabo Verde. As janelas repletas, pessoas com a roupa de domingo. Minhas retinas percorriam o espaço esquadrinhando cada pedaço da praça. Do velho na altura dos oitenta, negro alto, trajado de paletó, gravata, colete, bengala e chapéu côco, caminhando lenta e solenemente pelo asfalto junto ao meio fio à algazarra de alguns e ao silêncio compenetrado de outros. O burburinho dos bares onde os bêbados contumazes confraternizavam-se e já estavam “de meio fogo”, funcionários civis e militares, senhoras, enfim, uma multidão típica destes eventos.

Passei a andar atoamente pelas ruas livres de tráfego, quando vejo aparecer ao longe, numa rampa que dava acesso à avenida, os batedores em motocicletas que anunciavam a vinda do carro presidencial, um Buik preto conversível, onde despontavam no banco de trás de pé, Sarney e Aristides Pereira, presidente local. Vi-os vindo aproximando-se em meio ao esquema de segurança medianamente aparatado ( nosso presidente não tinha "ibope" para atentado). Sarney sorridente acenava para a multidão, às vezes com as duas mãos num estilo papal e olhava as sacadas, correspondendo a um ou outro cumprimento particular.

Em pé na calçada, agora por detrás de uma corda, via o “Estadista” – assim que o haviam anunciado no jornal oficial. Os inúmeros telex’s que lia quase todos os dias na embaixada traduziam a febre instalada no Brasil àquela época, com o Plano Cruzado. Sabíamos, incrédulos, dos fiscais de Sarney, e toda euforia existente no país, quando a classe política dirigente, brindava sua população com mais uma fugaz ilusão. Mas enfim, diante de mim ali estava o Estadista, e parecia mesmo que ele era. Olho para o relógio, dez horas, o almoço era as doze em ponto, com toda rigidez protocolar.

Volto a trocar de roupa, vestindo-me adequadamente para a recepção – na rua estava a “paisano”. Cheguei um pouco mais cedo no hotel onde haveria o almoço, e também onde todos estavam hospedados. No saguão encontro Kiko, caboverdeano que conhecia das paródias, metido num circunspecto paletó e colete. Não sabia que o mesmo era funcionário da segurança, fato que ele me confirmou quando, inadvertidamente, ao perguntar se ele tinha fósforos, apalpei na altura do seu peito esquerdo, o que me pareceu haver uma pistola 9 mm. Aqueles que chefiavam a segurança local tinham um apartamento no mesmo hotel, e estavam agora reunidos traçando as linhas básicas da ação naquele dia, e para onde o Kiko estava indo. Convidou-me para acompanhá-lo, dizendo que os jornalistas locais também estavam lá, sendo alguns deles meus conhecidos.

No local, sete a oito pessoas conversavam, e creio que a reunião já se findava, visto que um dos presentes circulou uma bandeja com cálices do autêntico grogue de Santo Antão, informando a posição, recebida pelo seu “wt”, da comitiva já a caminho. Saímos pisando firme, indo para o salão onde estavam chegando os convidados. Alguns seguranças ficaram à porta, sendo que dois deles entraram comigo e foram para seus postos, deixando-me só entre os já chegados. Após cumprimentar um ou outro conhecido, aceitei um drinque que circulava frouxo, e ficamos aguardando Vossas Excelências.

O primeiro Logan consertou-me as pernas que vinham meio bambas do grogue, e eu fiquei ali, nas amenidades, jogando conversa fora com um e com outro, quando chega ao salão a comitiva presidencial: Sarney acompanhado do embaixador do Brasil, Dr. Souza Gomes, um sisudo Celso Furtado, General Bayma Denis, Jorge Amado, Deputado Fernando Santana, e outros que eu não conhecia. Dirigimos-nos aos nossos lugares marcados na mesa, e ficamos de pé, aguardando que suas excelências se sentassem como manda o protocolo. Eu estava ávido para estraçalhar logo aquela lagosta suada com pirão, salada e arroz branco, ou aquele peixe au bèrre blanc com batatas e cebolas cozidas, regado a Chateau Lafitte branco, sendo que este último já circulava pelo salão, onde todos já estavam devidamente encharcados de Logan 12 anos: “obrigado, contribuinte brasileiro”.

Ao lado da minha mesa, vejo um impaciente Jorge Amado para quem me dirijo, e da minha eloqüência etílica, disparo o maior lugar comum da minha história, tipo, “perdeu-uma-boa-oportunidade-de-ficar-calado”: “O mais amado Jorge da Bahia!” , digo, e ele me responde com um gutural “bah”! Faz muxoxo, e meneia a cabeça para o lado, suspirosa. Tento consertar pedindo desculpas, digo que também sou baiano, “do Barbalho”, e ele diz: “sim, sim”, e volta a menear a cabeça impaciente, desencarando-me.

Servem-nos o almoço após breves discursos de boas vindas e outras afabilidades. Da minha mesa, onde estava acompanhado de funcionários de embaixadas creditadas no país, autoridades locais e alguns cooperantes estrangeiros, via a grande mesa redonda com Sarney, Aristides Pereira, autoridades graduadas, locais e brasileiras, sendo que despertou-me a atenção, a maneira como o deputado Fernando Santana usava o guardanapo preso ao colarinho, que é uma das formas corretas de usá-lo, mas que dava a impressão dele estar de babador. Mas enfim, participava do rega-bofe com gosto. Ali estava o Estadista, representante máximo do meu país, que naquele momento vivia um dos seus raros momentos de orgasmo.

Ao fim do almoço falei rapidamente com o deputado Fernando Santana, perguntei pelo Leonelli, como ia minha terrinha, etc e o mesmo ratificou as informações que recebíamos do Brasil Cruzado, embora ele fizesse ressalvas quanto à timidez com que a classe dirigente abordava as questões da ordem econômica e social, etc, etc.

Meses depois, começávamos a receber funestas informações. A vaca tinha desaparecido do brejo, gêneros escasseavam, a classe produtora boicotava a política convivia, a inflação reaparecia, os fiscais de Sarney multavam. A imagem do Estadista ia-se desvanecendo a cada ato, a cada improvidência. Eu até o admirava – apesar do PDS – por ser poeta bissexto, mas ele ia se mostrando cada vez mais frouxo na conduta dos destinos do país dos 86% de inflação/mês.

Quando voltei, Ulisses regia uma tímida e lacunar Constituição, e para minha tristeza, vejo na televisão, um trêmulo e “lexotânico” presidente, jurando-a perante o Congresso e a nação.

Triste Brasil.

BERNARDO ASSIS – Psiquiatra e Psicanalista


quinta-feira, 16 de julho de 2009

A ¨justiça¨ DA JUSTIÇA


Mais uma tragédia. Uma mãe deixa sua filha, de cinco anos, sozinha no apartamento, aparentemente acomodada na cama e desce ao playground do prédio, onde mora, para buscar a outra filha de 14 anos. Minutos depois sobe e descobre que a filha havia caído pela janela da área de serviço. Um buraco na rede de proteção num lugar de perigo improvável, mas previsível, atraiu a criança para o abismo que a matou.

Os pais foram presos em flagrante por abandono de incapaz seguido de morte. E agora? A Lei é clara, uma criança de cinco anos não pode ficar sozinha, nem por um minuto. Esta, segundo a polícia, ficou por 30 minutos e morreu. A pena prevista no caso de condenação é de 16 anos de reclusão.

Pois bem, a Justiça vai julgar e seja lá qual for o veredicto, jamais seremos capazes de apontar para estes pais e julgá-los culpados ou inocentes. As únicas certezas que podemos ter é que não houve intenção de matar, que estas duas pessoas terão suas vidas irremediavelmente marcadas pela dor provocada por uma tragédia desta natureza e que, a outra filha do casal, adolescente de 14 anos, poderá ter no caso de uma condenação, sua família totalmente destruída.

A Justiça foi célere e eficaz na aplicação da lei. É o seu papel que está sendo cumprido com denodo.

Hoje, voltando para casa revi o rotineiro quadro de crianças nas sinaleiras. Meninos expostos a todo tipo de violência, meninas a um passo da exploração sexual, mães expondo recém-nascidos para tirar proveito da compaixão, impossível de não sentir, para angariar moedas que podem ou não servir para alimentá-las.

Nas ruas da cidade, multiplicam-se ‘outdor’s contra a exploração e prostituição infantil. A mídia de todo o pais encampa a justa campanha.

No caso das crianças da sinaleira, a Justiça não pode ser célere na aplicação da lei, porque estas crianças não têm dono e o Estado já assumiu que às mães que as expõem, só lhes restou a cruel alternativa.

È isso mesmo ou estou sendo simplista e injusta com a Justiça?

Onde está o Ministério Público, que tem na sua estrutura uma Curadoria de Menores cujo objetivo é a vigilância contra qualquer ato que os desproteja?

Por quê não tem a mesma eficiência da Curadoria de Proteção do Meio Ambiente e Patrimônio Histórico que, rapidamente, embargou uma obra do SESI, onde milhares de jovens aprenderiam um oficio que os tirariam das ruas, protegendo-os do desemprego e tornando mais difícil seu acesso às drogas e à violência? No terreno onde o prédio está sendo edificado haviam dois coqueiros que mereciam ser preservados a qualquer custo, ora!

Os coqueiros, certamente, tinham donos e o Ministério Público alguma fortíssima motivação, até então desconhecida, que o fez inverter valores, e colocá-los em rota de colisão com o futuro e o destino de milhares de jovens.

A morte da criança aconteceu no Rio de Janeiro, a obra que o SESI está enfrentado dificuldades para ser concluída situa-se na Bahia. Mas as crianças nas sinaleiras estão por todo o Brasil, como nacionais são as campanhas contra a exploração e prostituição infantil.

Fatos aparentemente sem ligação. O primeiro, um acidente fatal que vitimou uma criança com família estruturada. Os outros já fazem parte da nossa rotina porque vitima crianças e jovens sem estrutura familiar. Os elos que os unem é a ineficiência, o descaso, a insensibilidade de um lado e a eficiência e o rigor do outro, da mesma instituição – a Justiça – que, mais uma vez , mostra que sua cegueira não é para tratar a todos com igualdade, mas para não ver o que muitas vezes está muito claro, mesmo que atrás das suas sempre simbólicas, providenciais e convenientes vendas.

ALICE ROSSINI

domingo, 12 de julho de 2009

O VOTO DIÁRIO

Em meu posto de trabalho eu sou o único "cara" com mais de 30 anos de idade. O restante da minha turma são meninos e meninas recém graduados cheios de projetos e objetivos fiéis à pujança de suas idades e à tenacidade própria dos jovens. Eu sei bem como é porque também já passei por isto e ainda hoje guardo muitas dessas armas em meu arsenal. A diferença de gerações lhes dá o direito de pensarem em mim não só como tutor, mas também como único recurso para as suas dúvidas, no ambiente de trabalho.

Esta nova geração assiste com angustia a destruição em câmara lenta do nosso planeta e quer, de uma forma ou outra, fazer a diferença sobre o que estamos fazendo e o que deveríamos fazer para atrasar ou reverter o processo em curso. Frequentemente sou envolvido em discussões passionais. Em uma dessas, um deles disparou a queima roupa:“- Sr. Fernando, o que é Consumismo Ético?” Engasguei, fiz de conta que pensava e disse; “- Consumismo Ético é... espera, deixa-me pensar”. E esta agora? Como saio desta? Logo agora que ia começar o jogo do Brasil com a Itália...pô! Dei uma desculpa e saí de fininho.Assisti ao jogo pensando no tema, mas depois do nosso terceiro gol, o jogo não mais importava. Sentei-me a frente do meu amigo teclado e comecei a viajar sobre os mais prováveis conceitos que definem o tema.

Consumismo Ético poderia ser um termo subjetivo tanto para companhias como para consumidores, mas, no seu sentido mais cru, significa consumir sem dano nem exploração à pessoas, animais ou ao meio ambiente. E assim que eu vejo este negócio!
Na realidade, o importante seria aprendermos como o nosso estilo de vida afeta outras pessoas, o planeta, a fauna, e com isto, tomarmos nossas próprias decisões sobre o que constitui uma compra ética ou não. A estas, se juntam implicações relacionados com o livre e justo comércio, a sustentabilidade ambiental, a proteção à fauna e à flora, o desenvolvimento de comunidades, (que inclui o consumo de produtos produzidos localmente), e até a arte e o costume de comer de forma saudável (incluindo produtos orgânicos). Isto não significa que comecemos imediatamente a seguir uma lista de companhias e países que precisem ser boicotados por suas práticas ameaçadoras ao planeta. Trata-se, sobretudo, de delegar poder e dar liberdade a nós mesmos, consumidores!

Frequentemente nos sentimos impotentes diante de problemas globais como a destruição do meio ambiente e a exploração das populações do terceiro mundo. O Consumismo Ético pode ser uma força devastadora para efetivar muitas das mudanças que se fazem necessárias na solução desses problemas. Embora no Brasil já hajam imensos produtos considerados éticos, ainda é mais difícil e consome mais tempo buscá-los do que simplesmente ir ao supermercado da esquina e pegar o que houver e da marca que estamos habituados. Em tempo, paralelamente ao aumento da demanda, crescerá a oferta.

Quais seriam então os passos simples que podíamos dar para fazermos a diferença? Questionar-me parece mais fácil e proveitoso. Será que eu necessito realmente disto? Posso comprar usado? Posso pedir emprestado ou alugar? Posso fazê-lo em casa? Onde é feito? Posso comprar o nacional? Posso avaliar o impacto ambiental global ao comprar tal coisa, isto, incluindo o sistema de produção, a energia e a materia prima usadas na sua produção, o transporte, a publicidade com sua poluição visual e, o consumo de energia e a embalagem. Finalmente, como descarto a mesma? O produto é descartável ou posso seguir usando com intervalos longos de tempo? É renovável? Reaproveitável? Reciclável? Será que a fábrica garante receber o produto de volta e reciclá-lo quando este deixe de funcionar? Pergunta importante no caso da compra de celulares, televisões, geladeiras, liquidificadores, etc. Se é um produto importado, informar-se se existem normas ambientais obedecidas em sua produção. Os trabalhadores recebem um salário justo pela sua fabricação? Se voce acha que estas são perguntas exageradas para realizar uma tarefa tão simples como comprar, leia a seguir algumas verdades publicadas e nunca difundidas.

A produção de camarões tigre em tanques de crescimento, está relacionada com 3850 casos de abusos descarados aos direitos humanos em 4 países diferentes. Uma viagem intercontinental de avião contribui mais para o aquecimento global do que voce dirigindo seu carro diariamente o ano inteiro. Seu fundo de pensão privado pode estar sendo usado para financiar o fabrico de armas ou agrotóxicos e produtos químicos agressivos. As normas que regulamentam a comida orgânica incluem preceitos exatos de proteção animal. O Brasil consome anualmente mais de 300 milhões de dólares em produtos de maquiagem e toucador. Custariam apenas 120 milhões para realizar um programa de prevenção e cuidados ao aparelho reprodutivo a todas as mulheres que o necessitam a nível mundial. Poderíamos resolver os problemas mundiais de analfabetismo, com a soma economizada se usássemos apenas dois terços do perfume que se consome no mundo. Na verdade, a Sociedade priorizou o valor do consumo bem acima da Ética.

Comprando produtos éticos, voce estará apoiando diretamente companhias progressistas que trabalham para melhorar a situação. Ao mesmo tempo suas ações estarão impossibilitando outras que pelo "vil metal", abusam em suas práticas. Por exemplo, quando voce compra um detergente biodegradável para a cozinha, voce está dando ao fabricante do mesmo, fundos necessários para que ele possa investir em tecnologia limpa e propaganda a um mercado mais amplo. Ao mesmo tempo, se voce deixa de comprar outro produto sem as mesmas características estará fazendo com que este fabricante diminua suas vendas e seus lucros, forçando-o a pensar em melhorar seus produtos. Outro atrativo desta prática é a conveniência. Voce não pode evitar consumir a mais variada gama de produtos para cobrir suas necessidades, mas cada vez que o fizer com esta nova consciência, voce estará fazendo a “DIFERENÇA.”

Para a Sociedade em que vivemos os benefícios de comprar eticamente, são potencialmente de longo alcance. Motiva companhias e produtos inovadores e paralelamente desencorajam outros que ignoram as consequências sociais e ambientais de suas ações e delega ao consumidor o poder de especificar como um produto deve ser feito e como as companhias que os fazem devem conduzir seus negócios. Isso pode fazer muita diferença e em realidade já está fazendo.

Viver eticamente significa considerar o impacto de tudo o que fazemos no nosso dia a dia, às nossas familias, à outras pessoas e ao ambiente em que vivemos. Significa também pensar em todo o ciclo da vida de um produto, qual seja roupa, medicamento, computador, creme, eletrodoméstico, automóvel, desde a energia usada na sua fabricação, embalagem, manutenção, até ao descarte ou reciclagem do mesmo. Viver eticamente, nos motiva a sermos bem informados e a descobrir mais acerca de como lojas, companhias, bancos, e grupos de investimento operam por detrás do brilho ostensivo da vitrine, de como tratam seus provedores, seus funcionários, e que conceito fazem do Mundo em que vivemos.

Em resumo, viver eticamente significa agir responsavelmente, pondo as pessoas e o meio ambiente em primeiro lugar, ao mesmo tempo em que renovamos com carinho, amor e respeito, o nosso PlanetaImaginem nós todos votando diariamente por melhorias contínuas e sustentáveis, com a carteira ou o cartão de crédito.

Fernando Trovador

quinta-feira, 9 de julho de 2009

A DOR DE ROBERTO JACKSON

Quando comparamos as reações humanas às suas dores e às suas conquistas sempre nos surpreendemos. A singularidade do homem lhe capacita a produzir uma gama infinita de respostas às circunstâncias da vida, que vão da destruição ao crescimento, do altruísmo à mesquinhez, da sublimação à sedimentação de “verdades” equivocadas.

Em minha opinião sofrimentos não se medem com critérios uniformes, portanto, não podemos esperar reações padronizadas a eles. O que para uns é trágico, para outros não passa de problemas que o tempo se encarrega de resolver. As variáveis que interferem nesta leitura vão desde a personalidade de cada um no contexto em que os fatos acontecem, às circunstâncias em que as vidas se desenrolam.

Fico observando o que resultou da vida de Michael Jackson, que debitava suas idiossincrasias a uma infância ceifada pela fama, sob a batuta de um pai violento, sob a indiferença de uma mãe omissa, num contexto de uma sociedade racista que o levou a distanciar-se de si mesmo a ponto de automutilar-se para negar tudo que o feria.

Claro, o que sabemos da vida do mais completo artista produzido pelos Estados Unidos é baseado em inferências de jornalistas sérios ou os que só buscam escândalos, na indiscrição de íntimos que se diziam “amigos” e nas suas entrevistas revisitadas pelos arquivos das grandes emissoras, que mostravam um ser estranho, infantilizado, que se mostrava solitário e tímido.

Foi acusado de pedófilo e nada foi provado, pois nos tribunais conseguia fazer acordos milionários com suas de suas “pretensas” vitimas. Que pais são esses que trocam uma violência desta natureza contra seus filhos por dinheiro? Excetuando a acusação de pedófilo, Michael Jackson era um ser humano digno de pena. O que é um sentimento passível de mais piedade para um artista com seu talento.

Coincidentemente, Roberto Carlos completa 50 anos de carreira. Podem achar que estou comparando laranja com banana. Mas arte se mede pela sua repercussão na emoção de quem a admira, da mesma forma que sofrimento também é visto pelo filtro pessoal e, principalmente, sob a ótica de critérios de normalidade que também se formam com base em parâmetros culturais e numa série temporal.

Portanto, nada sabemos da vida de ninguém. Roberto Carlos perdeu o que dizia “ser o amor de sua vida” e reagiu a isso num luto prolongado, permeado por uma depressão, que levou o “Rei”, como é tratado no Brasil, a procurar acompanhamnto profissional, inclusive com o objetivo de curar transtornos subjacentes. Michael Jackson tinha um séquito de médicos que, parece-me, curvava-se às suas mais loucas vontades.

Perguntamos: Quem sofreu mais, Michael Jackson com seu pai violento ou Roberto Carlos que passou sua infância sem uma perna, esmagada por um trem? Eu respondo! Os dois sofreram igualmente. Embora haja quem diga que ter um pai violento acompanhado de uma mãe omissa esgarça a personalidade de qualquer ser humano. Pessoalmente, acho uma violência maior. Mas tenho quase certeza, digo “quase” para não ser temerária, que para Roberto Carlos perder a perna foi pior já que ter um pai violento não fazia parte do seu contexto.

A vida de ninguém é fácil. Todos enfrentam perdas. Para muitos a perda atinge até a dignidade de não ter como alimentar seus filhos. Presídios, verdadeiros infernos na Terra, estão lotados, com mães, mulheres e filhos do lado de fora na desesperança de um reencontro. Hospitais estão cheios de seres sem nenhuma esperança de cura. Mães e pais perdem filhos. Pais e mães os abandonam. Enfim, ficaria aqui, eternamente, elencando todas as misérias humanas que seriam capazes de tornar qualquer um numa pessoa tão estranha ou mais, se é que isso é possível, em que se transformou Michael Jackson, apesar de toda sua arte e todo o dinheiro, com o qual tentou criar sua própria Terra, sintomaticamente chamada de Nunca – Neverland.

O enterro do astro americano foi transformado num espetáculo ao gosto de Hollywood, qual filme de ficção, com a presença de artistas e astros do esporte e de uma família que o renegou. Longe de descansar, Michael Jackson perdeu este direito. Mesmo tendo construído tantas “saídas secretas” na mansão onde morava, morreu sem saber em qual delas estava escondida a paz que tanto procurava.

Enquanto isto está marcado um espetáculo ao gosto brasileiro, no Estádio do Maracanã, Rio de Janeiro, que celebrará o meio século da carreira do “nosso” Rei. Segue Roberto Carlos com sua vida, com suas dores denunciadas pelas rugas e pela tristeza sempre presentes em seu olhar, resolvidas ou não, mas com aparência serena, homenageado e aparentemente mais feliz ou menos infeliz como queiram.

Todas as vezes que tentarmos comparar os homens, diante do seu inferno ou da sua plenitude, deveríamos ficar mais tolerantes e extasiados com esta virtude da nossa humanidade de sermos únicos, mesmo fazendo parte do todo.


ALICE ROSSINI

domingo, 5 de julho de 2009

MEIA IDADE, PARA QUE TE QUERO?

Amigas:
Ele chegou a casa dizendo que a vida é um “saco”. Gostava do emprego e adorava estar em casa com você. Agora expressa inquietude ou apatia... Seu marido, amigo, parceiro, noivo, ou até “tico-tico no fubá” ultimamente está procurando por um ideal ou objetivo indefinido. Tem um profundo sentimento de remorso por não haver conquistado outros ideais anteriores. Deseja “curtir” um permanente sentimento de juventude. Passa muito mais tempo com a nova turma. Adquire bens incomuns tais como roupas de grife, carros esportivos, jóias e etc. Ele está concentrado em melhorar a sua aparência física. Cumprimenta as amigas dos seus filhos de forma mais efusiva e carinhosa e se mistura com a juventude em reuniões sociais deixando seus contemporâneos de lado; cuidado, muito provavelmente estará em rumo de colisão com a Crise de Meia-Idade
Nos homens, e aqui só falo deles, se trata de um período de ansiedade e dúvida psicológica pela qual passam entre os 35 e os 50 anos. Se compreendo o que seja, muito provavelmente um estado de frustração contra a natureza, ou o momento em que nos damos conta da nossa própria mortalidade.
Linhas mais avançadas da Medicina chamam a crise de meia-idade, de segunda adolescência, ou “Maturescência”. Outros afirmam se tratar de uma reação “psico-patética” à mutação fisica, mas nunca catastrófica relacionada com o avanço da idade. Esta transição ocorre quando detectamos as primeiras rugas, esquecemos de cabeça a linha dos 11 do nosso time de preferência, achamos carros de 4 portas um saco, assistimos impotentes a morte de parentes ou amigos, vemos os filhos saindo de casa, ou até mesmo, quando a filha de 24 anos da vizinha do lado, vestindo aquele Jeans apertado, nos chama de Tio - lindo o azul do jeans! -. É precisamente aí!
Os homens falham no esforço exaustivo de convencer a natureza que merecem permanecer sempre na casa dos vinte e poucos anos. No afã de se manterem jovens, começam a querer perpetuar, beleza, estado físico, aparência e performances que não são mais de sua alçada nem competência, tudo isto, na vã tentativa de reverter o processo de amadurecimento e se auto afirmar. O homem se dá conta que vai morrer e tenta freiar esse processo. Inevitavelmente ele pensa que morrerá sózinho, velho, acabado, sem atrativos nenhum, com um montão de sonhos não realizados e pior, na idade da “meia perna”, Chama-se assim por ser a idade em que os testículos se separam ficando um deles, direito ou esquerdo numa posição geográfica mais ou menos equidistante entre a virilha e o joelho. O outro se pega ao nosso corpo talvez até com medo de cair. Periodicamente, sem explicação científica confiável, até o momento, eles trocam de lugar, igualzinho ao relógio de cuco, “manja”? Mas voltemos a C.M.I. (Crise da Meia Idade).
Os pobres coitados impactados pela CMI entram literalmente em parafuso. Literalmente, porque a primeira coisa que eles fazem é comprar roupinha nova de “carinha” ¼ de século mais jovem. No provador da loja, ficam girando em parafuso sem tirar os olhos do espelho, tentando descobrir alguma simetria nos pneus que surgem à volta do abdomen. Alguns pensam até numa rinoplastia para reduzir aquele nariz helênico que outrora era motivo de orgulho! Existem correntes de pensamento, não ortodoxas, afirmando que a época mais frequente do começo da crise, é aquela em que o “cara” compra uma maleta executiva com rodinhas - se você fez isso recentemente meu amigo, você está ficando velho - ou a ponto de confrontar com uma CMI se é que já não está “online” com a “bichinha”.
Outros pensadores não arredam pé de que a teoria mais provàvel diz que a CMI tem sua linha de partida quando o “cara”, folheando revistas para cavalheiros, se fixa no comercial do Boston Medical Center. Paralelamente, é provável que o sujeito mande todo o mundo se calar quando passa o comercial daquele novo aparelho de tirar a barriga que está sendo anunciado no canal de compras. Há quem pense ainda, que o grande sinal e quando o portador se questiona sobre o que é melhor na alcova, quantidade, ou qualidade? “É, esta semana foram só duas, mas foram de primeira, né bem?”

Amigas:

Estereotipicamente a CMI tomou a forma de um adorno psicológico novo porque a maior parte dos homens não cresceu idealizando a vida em torno do trabalho como fazem vocês, mulheres. Para nós, o trabalho é apenas uma forma de pôr comida na mesa e mostrar quem é o “chefe”.

Prestem atenção aos sinais de impaciência e escutem com atenção o que ele diz quando se refere às suas inquietações. Ao invés de mudanças drásticas como ele preconiza, como afogar suas magoas em um bar de Bora Bora pelos próximos 30 anos, encoraje- o a fazer leves mudanças na sua vida, um hobby novo, engajar-se numa ONG, outros interesses paralelos; engaje-se você também neles. Afinal, casal que faz tudo unido permanece unido.

Quando ele começar a dar mais importancia à aparência, comprando modelitos jovens e de grife, se ele teima em entrar numa academia, coisa que não fazia há 10 anos, se ele começa a controlar a ingestão de alimentos não tão saudaveis, ou prefere ficar vendo o Olaria X 15 de Jaú, começando às 10 da noite, sabendo que voçe havia tomado um banho e passado aquele creme hidratante que ele tanto gostava de cheirar, com o objetivo de “dar gás” ao apagado e ferido ego do seu parceiro, muitas vezes, isto não é suficiente.
É aí que você precisa ser bem mais paciente. Infelizmente, um exacerbado sentido de vaidade e descaso para o “bombom” é muitas vezes sinal que seu homem pode estar envolvido com outra mulher!?

Para você Mulher, esta é parte mais dolorosa da crise do seu parceiro. Algumas vezes os homens com CMI se tornam “moles” e se enfocam mais em pessoas e sentimentos, e muitas uniões sofrem por isso. Se assim for lembre-se; não é sua culpa. Ele esta fazendo uma escolha, temporária ou não, de romper a sua confiança. Você pode prevenir um caso de um homem de meia idade? Provavelmente não. Você poderá confrontar exigir, dar ultimatos, mas, se um homem esta enterrado numa CMI, ele não escutará.

Ele começou a tomar decisões impetuosas que involvem os recursos financeiros da familia ou ate a sua carreira? Sinal que o seu “menino” esta querendo viver a vida a 200 km/hora. Certamente ele estará pensando: “Tavez assim eu possa compensar o que não vivi em minha juventude em prol desta vida que tenho hoje”

Não fuja e nem lhe dê tréguas. Esta situação é a mais fácil de um casal superar. Este é o tipo de ímpeto que requer paciência e comunicação. Tente entender o porque das intenções do seu homem em mudar de carreira ou gastar aquela poupança em coisas que não estavam planificadas, e porque ele chegou a essa conclusão. Depois, discuta o assunto com ele de forma racional.
E o “bombom” como fica? Se ele está dando sinais de relutancia ou desinteresse em ficar na cama com você ou se a frequência sexual reduziu-se, é só você raciocinar. Se as coisas antes já não eram muito frequentes, talvez não signifique necessariamente que haja uma crise. No entanto, se ele parece gladiar com a sua auto-estima ou dá sinais frequentes de infelicidade, o sexo pode ser uma carga adicional para ele. Por outro lado, se ele está envolvido com outra mulher, provavelmente aumente a frequencia em casa, mas com uma qualidade deploravel; tipo “tapando o sol com uma peneira”.

Pergunte, indague, discuta, seja cúmplice. A comunicação é muito importante numa CMI, tanto na dele, como na sua. Mas não é da sua que estamos falando.
Que fazer então?

Se ele ainda não a feriu o suficiente para voçe procurar outro caminho fora da vida dele, está na hora de provar que todas as juras de amor que voce lhe fez na vida, tinham fundamento.
Não só amor é necessário. Carinho, muitíssima AMIZADE e exacerbada cumplicidade são tão ou mais importantes.
A cumplicidade é a melhor alternativa para se reverter esse processo.

Faça-se sua sócia nos negócios ou sua colega na profissão, voluntarie-se para ajudá-lo em suas investigações sobre a nova carreira ou o novo investimento. Acima de tudo seja sua amiga e companheira de todas as horas. Que lhe custa gritar “gol!” mesmo não sentindo essa exacerbada emoção que todo o torcedor sente na hora do gol do seu time? Pode até soar falso, mas, nessa hora a leitura que ele fará do seu entusiasmo será a parceria incondicional.

Parafraseando Che Guevara, seja dura, mas sem nunca perder a ternura. Nunca se esqueça que ele está em crise, mas em seu sub-consciente, você e a namorada dele. Mesmo que você não entenda nada do assunto, leia sobre isso, e seja a sua terapeuta preferida. Escute, pergunte e debata tudo com ele. Pode ser que no principio seja dificil, mas insista. Se lhe assaltar um repentino sentimento de impotência acompanhada de uma gigantesca vontade de chorar, va para debaixo da ducha, chore o que quiser, seque-se, perfume-se e volte pra ele. Se ele perguntar porque os olhos estao vermelhos, diga que entrou sabão ou shampu. Se ele sai pra beber, va com ele, mesmo sem ser convidada. Voces mulheres tem uma habilidade inexplicavel de nos convencer. Não e pecado chegarem ambos em casa de pileque! Quando sairem juntos, talvez esteja na hora de voce se vestir mais sexy e, de vez em quando, se “esquecer” da calcinha em casa. Faca-o e comunique a situação quando ja estiverem pela sobremesa. Ou então, va ao banheiro tira a calcinha e deposite-a no colo dele quando retornar a mesa. Se não tem banheira em casa, compre queijos e vinho, um montao de velas perfumadas e sais de banho perfumados e vaiam-se os dois para um motel com banheira de hidro. As probabilidades que isso va alem do banhinho sao enormes.Tire-o da rotina com voce iluminando o caminho! Esta na hora de voce abrir o cofrinho da sua sensualidade e do seu atrevimento. Faça suas as fantasias dele e comparta-as, conte-lhe abertamente as suas, sem se esqueçer de o olhar nos olhos. Tire-o do sério, se insinue em todos os aspectos, espalhe as brasas da vossa antiga paixão, seja devassa com o seu homem e só para ele. Fale com ele antes, durante e depois do sexo, incentive-o a experimentar todas essas pastilhas que existem para melhorar performances. Voce não tera tempo de ser pudica porque nessa hora tera que ser todo o tipo de mulher para o seu homem. Canse-o, esgote-o e deixe-o rebentado, ofegante metal e fisicamente, nao lhe de espaco para manobrar. Se assim não for, não ha cumplicidade, não ha parceirismo, não ha amizade...so um costume de estar junto... ou sera que e comodismo? Longe de se anular ou perder o seu respeito proprio, deixe-se violar sob todos os aspectos por ele e para ele, a troco de confiança, respeito, lealdade, cumplicidade, amor e acima de tudo, em prol da consolidação da vossa união e da vossa FELICIDADE !
Nao o deixe sozinho na cirse. Combata-a com ele e não permita a imiscuição de terceiros (as). Seja sua unica salvacao!
Tenho a certeza que seu Homem resurgira, mais homem, mais amante, mais amigo, mais cumplice mais amado e muito, mas muito melhor Ser Humano. De alguma forma ele estara retribuindo tudo o que lhe foi dado com o mesmo peso e medida.
Mas quem esta medindo?

FERNANDO TROVADOR