Uns dizem que viver é simples, outros que a vida é complicada. Pessoalmente acho tudo complicado. O mesmo motivo que nos conforta, torna a tarefa de viver trabalhosa: o “outro”. Além "dele" tem o “próximo”, o “não tão próximo” e muitas vezes, até o “desconhecido”. Este último ainda tem como agravante o peso da fertilidade da nossa imaginação, da nossa carga existencial e do medo natural de tudo que desconhecemos.
Quando Sartre disse que “o inferno são os outros” ele deu a esse “outro” um poder imenso; de dar sentido à nossa vida e ser uma referência que legitima nossos projetos, encampando-os ou impedindo-os. É através desse “outro” que nos reconhecemos como pessoas.
Alguns colocam entre as maiores complicações da vida os relacionamentos amorosos e suas inúmeras implicações. Por melhores que sejam, são complicados mesmo. E tanto nos atormentam como nos dão uma confortável sensação de plenitude.
Outros se consomem com os filhos. Ao que não corresponde às suas expectativas, ao que desejam e não têm ou ao que tiveram e perderam. Ao que tem, mas não possuem, ao que não inspira expectativa nenhuma e por aí vai...
Ainda existem os que anseiam por um dia que seja, sem dor, física ou emocional. As primeiras, muitas vezes curáveis, outras não. As segundas, tantas vezes sem razões aparentes. Essas, infernais.
Há os que lutam pela sobrevivência, outros para quem a sobrevivência já está garantida, mas querem mais, muito mais. Vivem na angústia de manter um padrão que acham, seja o mais robusto pilar onde repousa sua felicidade.
Depois de toda esta relação, que está longe de esgotar-se das questões, problemas e tragédias humanas, há alguém que diga que viver é fácil? Não há uma só situação por mim citada em que o “outro” não seja nosso coadjuvante e, quando permitimos, ainda é o protagonista de uma história que é nossa!
Portanto, meus amigos, problemas existem e existirão sempre, o que me leva a ratificar a crença de que viver não é simples.
Só há uma possibilidade, aceitando esta verdade. Simples assim. Será?
Não. Não é simples porque somos seres providos de sentimentos de todas as naturezas. Como “aquele outro” é inevitável, problemas sempre farão parte das nossas vidas e não é nada simples administrá-los e enxergá-los com naturalidade. Quanto aos nossos sentimentos, nosso controle é bastante relativo, quando o descontrole não é absoluto.
O que estou querendo é demonstrar, através da complexidade da vida e da nossa condição humana, o quanto ela pode ser simples.
Tarefa difícil para muitos, impossível para outros tantos. Simplesmente porque depende de acharmos uma fresta menos impregnada de teias e equívocos, através da qual nossa miopia existencial nos permita enxergar a vida e nos possibilite a consciência da complexidade inerente á nossa interação com todos os “outros”, conhecidos, desconhecidos e os que nem conhecemos, mas determinam nossos destinos.
Como todo ser humano, procuro a equação que torne a vida, quando não feliz, até porque seria insípida e tediosa, mais simples e mais cômoda. Uma equação em que prazeres e tristezas sejam pesados através de uma balança, cujo “fiel” garanta poucas oscilações mensuradas por uma unidade de medida que relativize os fatos, dando-lhes a justa largura e profundidade.
Deixemos por conta da incógnita, presente em todas equações, a pitada de incertezas e imprevistos que lhe dão o sabor e a excitação, sem os quais seríamos inexoravelmente infelizes.
ALICE ROSSINI
8 comentários:
ALICE,
ESTE TEXTO ESTA MARAVILHOSO.
PARABENS
OLANDO
Ahh minha amiga! se tudo fosse tão fácil ou definitivamente complicado, certamente seria mmais simples. A quastão é que é tudo isso, e, como voce diz, vivemos feito loucos em busca do equilíbrio de uma equação, mas à mercê da sua incógnita...
A complexidade da vida vem justamente da simplicidade de suas soluções. São tão simples que não acreditamos que possa orientar as nossas vidas dentro de um cenário que parece ser complexo, mas não é.
Alice, minha filósofa:
a vida é algo tão complicado que, no dia em que eu vier a bater as botas, gostaria que colocassem na minha lápide:
"Aqui jaz um fulano que nunca entendeu o mundo e a quem o mundo, em retribuição, também nunca o entendeu"
Beijos
Sérgio, sou "Satanás pregando Quaresma". Também acho tudo muito compliado e muito trabalho pra poucos momentos de alegria e prazer.
Sabe o que quero no meu epitáfio?
"Aqui jaz Alice, alguém que nunca sonhou com a eternidade. Por favor, não lamentem minha morte, o que não os impede que sintam muitas saudades" (isto não é um epitáfio, é um bilhete...rsrs)
Maravilhosos devaneios, tanto nas complexidades do ser simples (menina, que lua é aquela???)como nas eternas noites de luar...
Será ?
Alice,
texto fantástico!!!!
Oscar Wilde disse:
"Adoro as coisas simples.
Elas são o último refúgio
de um espírito complexo!"
Parabéns,
Bel
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