quinta-feira, 13 de agosto de 2009

"COMO FOI SEU DIA HOJE?"


“Como foi seu dia hoje?” Frase simples, mas muito difícil de ser dita e, claro, de ser ouvida. Entretanto, ouvi esta frase, da boca de um garoto de 25 anos, que se diz apaixonado, entre outras razões, porque a namorada, todas as vezes que o encontra lhe faz esta pergunta.

Certamente, a pessoa que faz uma indagação deste tipo, se formos nos basear no senso comum, deve achar que ouvirá um relato das idas e vindas, dos afazeres, das dificuldades, vitórias e detalhes relevantes do cotidiano do outro. Quem é indagado, impulsivamente, relata acontecimentos banais, a não ser que algum fato tenha sido marcante.

Mas a pergunta poderá assumir outras conotações e profundidades para quem a ouve. Revelar-se amorosa, preocupada e interessada na sua rotina e, na grande maioria das vezes, aberta a saber os motivos daquela tristeza no olhar, daquela ruga na testa, no gesto incontido de irritação. Ou do brilho diferente do olhar, da excitação na voz que denuncia a possibilidade de um novo projeto e até uma mudança na vida.

Esta é uma pergunta de alto risco, quando se está preparado para responder e escutar a verdade. Aquele olhar brilhante, tanto pode ser representativo de uma vitória profissional como de um encontro com alguém tão interessante que nos leve a ficarmos inquietos e excitados. Aquela ruga na testa tanto pode significar uma nova idéia difícil de ser executada como uma mudança radical na vida que poderá, até, nos excluir.

Por mais perigosa que possa parecer, faz falta quando não é feita e é indicador que, um dia na vida da pessoa amada, seja ela quem for, tem pra você uma importância equivalente à sua. É nesta óbvia conclusão que uma simples pergunta, pode fazer a diferença na relação entre duas pessoas.

Imagine um filho que nunca sente dos pais nenhum interesse pelas suas atividades. Certamente, sua leitura será de descaso, desatenção, ausência. Mas, raros pais não se preocupam em saber, até com detalhes, sobre o cotidiano dos seus filhos, principalmente as pessoas com as quais interage ocasional ou diariamente. A ausência de perguntas como esta pode ter como conseqüência resultados desastrosos.

Se agimos assim com nossos filhos e sabemos que isso lhes faz bem, fazendo-os sentirem-se amados e importantes, por que não o fazemos com nossos amigos e nossos parceiros?

Acho um substituto muito mais eficaz e verdadeiro para os “eu te amo” mecânicos que ouvimos sem prestar muita atenção no sentido e não raro, duvidando da sinceridade de quem o declara. Porque quem ama, cuida e deseja saber do dia do outro. Sofreu? Sorriu ou chorou? Quais os porquês que determinaram aquelas emoções? Mais ainda, quem ama, quer saber como, quando e o que pode fazer para que o cotidiano do ser amado seja pontuado de momentos agradáveis e felizes.

A casualidade e a simplicidade de quem manifestou encantamento por uma pergunta, aparentemente, tão banal, acendeu-me uma luz amarela. Fez-me enxergar porque as pessoas sentem-se tão sozinhas, ainda que acompanhadas, por que os jovens queixam-se de relações superficiais e descartáveis, porque cada dia os casamentos ficam mais vulneráveis às diferenças.

Na pergunta “como foi seu dia hoje?” pode-se conhecer a pessoa que compartilha a vida com você quando as circunstâncias lhe apartam da sua convivência ou quando está exercendo seu livre arbítrio totalmente liberto de conveniências que não sejam só suas. Pode denunciar a firmeza dos seus princípios e a importância de valores fundamentais.

Portanto, é uma excelente oportunidade para conhecê-la, admirá-la, fazê-la sentir-se amada ou até para mostrar a si próprio, que pode existir alguém no mundo que possa lhe fazer mais feliz.

Mais que isso. Interessar-se pelas emoções experimentadas pelo objeto do seu amor, pode ser uma aventura fascinante pelos meandros da natureza humana, no que ela pode representar de mais instigante e surpreendente.

No conforto desta cumplicidade muitas relações assumem a capacidade de renovar-se sempre.

ALICE ROSSINI

10 comentários:

Ana Clara disse...

Ai, que orgulho de ser sua sobrinha (e afilhada). rs
É linda a sensibilidade com que você aborda os temas cotidianos. E, mais que isso: consegue torna-la acessível a nós, que ouvimos e respondemos um "como foi o seu dia?" de forma mecânica, sem enxergar a beleza do zelo, do carinho, da preocupação por trás dessa frase.

Beijos, tia!

thiago disse...

Que bom que um garoto -homem- trouxe essa reflexão a tona. Isso faz-nos remeter ao vazio (ou não) de ser amado e amar.
Sentir a cumplicidade e afeto que o outro, que por mais distante, fisicamente, demonstra é uma sensação inigualável! E mesmo depois de 25 anos(somente?!) de (con)vivência poder acrescentar algo a uma mulher madura e formada é uma experiência única...
Amar mais do que o próprio gostar, é conhecer os defeitos e limites do amado e saber lhe dar com essa "corda bamba".
Bjos enormes a essa tia que a cada dia tenho mais carinho e amor.

Ana Clara disse...

Orgulho de meu irmão agora. rs

E pra complementar o que ele falou: independente da idade, da (con)vivência, estamos sempre aprendendo. Somos eternos "alunos" - que a falta de luz não seja vista como algo negativo, mas sim como uma eterna necessidade de aprendizagem.

Beijos!

Alice Rossini disse...

Meu Deus! Que corujice familiar! Voces dois não imaginam o conforto emocional de sabê-los meus e saber-me de voces.

A esta altura da vida podermos trocar experiências e emoções é tudo que um ser humano precisa para sentir que tudo valeu a pena.

beijosssss

Selene May disse...

Bravo!!!!
Bravíssimo!
Bjsss

IZABEL disse...

Alice,
Mais um lindo texto! Este adjetivo não traduz tudo, é muito mais.

Estive refletindo sobre a nossa trajetória... Tivemos a felicidade de conviver com dois tipos de demonstração de “amor”. O cuidado material, o cuidado cotidiano, a preocupação com as roupas, alimentação, tarefas escolares, saúde... Como também o amor “pele”, o amor aconchego, colo, carinhos, beijos, afagos. Isto nos deu uma estrutura de personalidade, que hoje colhemos “estes maravilhosos frutos”!

Hoje mais do que nunca, sei o como é importante esta simples/complexa pergunta: “Como foi o seu dia hoje?”. Ela denota processo... Denota que o outro está atualizado com o seu parceiro, com os seus filhos, com o seu entorno relacional, acompanhando, dividindo e mais ainda sendo cúmplice.

Tenho a felicidade hoje de responder esta pergunta, que me é feita de forma “bem carinhosa”, todos os dias e a respondo num compartilhar prazeroso e cúmplice, mesmo que distante geograficamente.

Beijos carinhosos,
Bel

Vitória Régia disse...

Alice,

Dessa vez voce conseguiu se superar. Pegou um pequeno detalhe da vida da gente e demonstrou o quanto é importante. Aprendemos com os jovens. Temos que dar mais valor a eles.

Muito boa sa sua percepção.

Mariana disse...

Adorei Alice! Só voce pra falar tanto de tão pouco! Braviiiiisimo!!!!!!!!!! Como disseram acima!

IZABEL disse...

Querida... o que mais quer um escritor... Vc tá BOMBANDO!! Te amo!!

bjsss,

Bel

Juliana Tobler disse...

Oi Alice!

Lindo texto...! Adorei!!

beijos

JU