domingo, 23 de agosto de 2009

SER OU PARECER

De nada vale sermos e não pareçermos o que dizemos ser.

A parte técnica da minha vida profissional é apaixonante, envolvente e me ofereçe desafios que me fazem continuamente exercitar os meus cansados neurônios, me mantendo ativo, atento e com o meu ego "gordinho". Sou engenheiro e trabalho em projetos que se realizam em lugares remotos, longe da civilização e convivendo por semanas a fio com todo o tipo de pessoas das mais variadas origens, credos ou escolhas politicas, sem sexismo, racismo ou qualquer outro “ismo” havido e por haver.

Compartilhamos quartos, banheiros, cozinhas, escritórios, máquinas lavadoras e secadoras de roupa, idéias, opiniões, enfim, quase tudo. No entanto, a função que ocupo, como todas, tem sua descrição específica. O primeiro item subentendido, lógico, é “aguentar as mais variadas pressões sem perder o controle nem sair da linha”. Alem disso, mesmo rodeado de muita gente e nutrido pelas experiências de uns e de outros, frequentemente me sinto sozinho por estar isolado, longe dos meus queridos familiares e amigos, longe do meu País e das minhas coisas.

A terapia mais comum que uso para combater a pressão, a solidão, o isolamento e as saudades de tudo e de todos é pensar. Me concentro agarrando mentalmente a qualquer idéia que me ocorre de forma imprevista. Em silêncio e dentro de mim mesmo, tento esmiuçar os conceitos desta nova idéia por horas ou mesmo dias, até chegar a uma conclusão própria. Para mim é como tricotar.

Assim, me questiono: O que é melhor? Sermos ou parecer que somos?

A verdade única e absoluta é que o ideal é viver o Ser! Do contrário, as nossas vidas poderiam estar dominadas pelo materialismo e, consequentemente, viveriamos as piores “fossas”, depressões e infelicidades quando nos faltassem os bens materiais.
A parte complexa do “Ser”, não é precisamente isto, mesmo porque é fácil dizermos que somos isto ou aquilo, o difícil é parecermos. Isto é muito simples de entendermos quando o reduzimos ao plano de algumas profissões:

Um professor que estudou para ensinar e ao mesmo tempo ser um modelo de virtudes e moral, não pode viver escravo de maus exemplos, danificando a juventude de seus alunos com palavras ou idéias desprovidas de sabedoria ou mau educando com seus gestos, respostas e posicionamentos de quaisquer espécies. O educador se reconhece não só pelos seus conhecimentos e padrões de comportamento, como também pela sua forma de interagir com os alunos, a forma de se vestir, suas atitudes e estilo de vida. No nosso mundo atual, muitos se parecem qualquer coisa, menos educadores.

Um engenheiro se gradua para nos oferecer soluções, ter repostas acertadas e concretas para resolver qualquer problema que se lhe apresente, em função de proporcionar harmonia entre o Homem e o Meio Ambiente. Ele não pode atuar para confundir e criar conflitos na resolução prevista dos casos que abraça como também não pode ser lento na tomada de decisões que se façam necessária.

O adovogado, que se preparou para o conhecimento e aplicação das leis em favor da justiça e da igualdade social, não deve utilizar os instrumentos jurídicos para prejudicar a dignidade de inocentes, pondo os recursos da Nação à sua disposição, para uso pessoal. O terno e a gravata sofisticados e de grife, não são suficientes para ser advogado. Se necessita mais do que isso. Honestidade e transparência em todos os seus atos publicos sem nada escondido “debaixo das mangas” são o principal.

Aqueles que estudam medicina devem fazê-lo motivados por uma vocação para salvar vidas e uma consciência prestativa no sentido de fazer o bem. Ser médico não é só ficar fechado em elegantes consultórios enriquecendo a custa da falta de saude de uma grande maioria. Um diploma pendurado na parede do consultório e um jaleco impecavelmente branco não dão méritos a ninguém para se ser um grande médico. O que o faz assim é a sua entrega e dedicação em defesa da saude sem comercio ou mercantilismo.

Os que vivem metidos em igrejas de todo o tipo e se dizem arautos do Senhor, disparando a esmo palavras, testemunhos, pensamentos e condutas de santidade, até em sua forma de vestir devem parecer praticantes dos ensinamentos que pregam o amor ao próximo.

Entender a filosofia do Ser e Parecer se resume no justo significado de cada palavra: “SER” corresponde ao curriculum e ao marco teórico que representam os nossos ideais, do que supostamente estudamos ou sabemos fazer, enquanto “PARECER” representa a prática e a realidade do que somos, onde o suposto desaparece e o restante é atributo do nosso comportamento.

Diante deste cenário, não há lugar para falsas aparências ou correções políticas e, muito menos, máscaras. Aqui, se abrem espaços para os verdadeiros testemunhos de vida de cada um de nós.

Ainda que o “SER” seja determinante na nossa personalidade, isso não é suficiente. O dificil e parecermos o que dizemos ser. Os fatos falam por si só.

Que a nossa vida seja a nossa menssagem.

FERNANDO TROVADOR

4 comentários:

Sacack disse...

Este texto por exemplo, SER OU PARECER, é algo para
se meditar, pensar e etc.... Muito bom mesmo.
Abraços,

Alice Rossini disse...

Ser e parecer, este o eterno dilema e a eterna busca do ser humano. Parecer o que realmente somos é um ato de coragem pois temos que enfrentar o julgamento do outro, que sempre cria expectativivas em relação a nós e, se não atendemos, o preço a ser pago pode ser alto e muitas vezes impagável. Não raro abrimos mão do direito sagrado de ser o que somos para parecer o que esperam de nós. Azar nosso, se somos covardes...

Só o tempo e a maturidade faz este necessário encontro em nós mesmos a despeito de tudo e de todos.

Longe de mim pretender esgotar as reflexões que seu texto provoca. O importante é que provoca e faz pensar.

BJS

Penha Castro disse...

Num mundo de aparências, onde a verdade e a mentira têm a mesma importancia, a depender as circunstancias, este texto além de oportuno deveria ser lido por muita gente!

Parabéns!

IZABEL disse...

Realmente como é difícil SER e PARECER, onde a multiplicidade dos papéis reivindicados pela dinâmica social nos impõe uma série, de regras comportamentais.

É uma eterna luta... A magia está exatamente na “convergência”, entre demonstrarmos o que somos sem nos corrompermos e atender as expectativas desta dinâmica social.

Um abraço