domingo, 2 de agosto de 2009

TERRA DE NINGUEM

Esta semana mais uma cena inesperada ocorreu em plena luz do dia, no Largo do Carmo, Centro Histórico de Salvador. Policiais militares, praticando suas costumeiras “abordagens”, encontraram um perito criminal, portanto, seu colega de trabalho. Aborda-o e, segundo testemunhas, minutos depois, o perito cai no chão com dois tiros no peito. Ainda vivo e surpreso, antes de morrer, pergunta ao “companheiro”: “precisava isto?”

Falei de cena inesperada, por se tratar de defensores da segurança pública, apesar de ser comum, tanto policiais civis como militares abordarem e tratarem com violência e falta de respeito o cidadão comum. O despreparo das duas policias é antigo e está cada dia mais evidente.

Mais uma vez, eles transferem sua ira assassina contra eles mesmos, num movimento autofágico,

Sei que as raízes destas distorções não são novas, nem simples de serem resolvidas. É uma questão estrutural, que passa tanto por questões educacionais e culturais, quanto por questões de gestão administrativa. Não é objetivo deste texto entrar no mérito destas questões.

Somando-se à indignação e revolta da sociedade, a Polícia Civil, ainda ameaça a população de abandonar a carceragem o que significa deixar os presídios sem vigilância.

Imaginemos o que aconteceria com uma cidade com elevados índices de violência, com o crime cada vez mais organizado e aparelhado, sem a tutela de quem, constitucionalmente, tem a competência de protegê-la. Há alguns anos, a população de Salvador ficou entregue à própria sorte quando, as duas Instituições policiais, insatisfeitas com o desnível salarial entre elas, deixaram de cumprir seus deveres constitucionais. Foi um caos e a sociedade, mais uma vez, ficou refém do seu próprio medo.

Quase dez anos após o referido episódio, mantidas algumas circunstâncias e outras agravadas, vamos fazer um exercício mais radical. Imaginar que, como contribuintes, que pagamos impostos sangrados na fonte dos nossos salários e, todos os anos, debruçamo-nos sobre montanhas de papéis para que o Leão da Receita não nos abocanhe e nos sangre até a morte, e resolvêssemos parar de cumprir nossos deveres de cidadãos?

Motivos não nos faltam para partirmos para algum tipo de desobediência civil. Senão, vejamos.

Pagamos anos de CPMF e nossos filhos são obrigados a estudarem em escolas particulares. Sim! Porque nas públicas, a que tinham direito, não existem professores, materiais adequados, instalações apropriadas, segurança e o nível de ensino é da pior qualidade, ministrado por professores mal remunerados e com qualificação duvidosa.

Se ficarmos doentes e inadimplentes com nossos planos particulares de saúde, teremos a mesma sorte de milhares de miseráveis que protagonizam cenas cruéis, morrendo em corredores de centros de saude. A falta de leitos em hospitais públicos, operacionalizados por médicos sobrecarregados e desaparelhados, não possibilita um atendimento que pudéssemos dar a medíocre classificação de “digno”.

Se sairmos de casa, ficamos expostos, desde a violência à falta de manutenção das ruas e avenidas, à falta de preparo e civilidade de motoristas. Vias públicas insuficientes para o numero de veículos que nos enlouquecem, engarrafados em nossos carros, enquanto o povo espreme-se em transportes públicos decadentes e obsoletos, expostos à sanha de marginais, à ocorrência de assaltos e todo tipo de violência.

Não nos poupam jornais, telejornais e internet bombardeando-nos com notícias de roubos, mau uso do dinheiro público e toda sorte falcatruas e golpes em que estão envolvidos integrantes de instituições que deveriam ser referências de integridade, proteção e justiça.

Foi registrado um superávit na arrecadação de impostos no ano do exercício passado. Onde foi parar nosso dinheiro? Já imaginaram a sociedade nas ruas, com faixas e cartazes, fazendo esta pergunta? Parando trânsito, inviabilizando eventos, fechando estradas, ocupando órgãos públicos? Não! Existem formas democráticas e civilizadas para fazer esta cobrança. Não só com o voto, mas com a vigilancia dos nossos eleitos. Não o fazemos e tudo continua como antes. Portanto, dividamos as culpas. Façamos mais esta concessão aos nossos governantes.

Enquanto isso, o Senhor Presidente da República, em algum lugar do mundo, usando e abusando dos seus jargões saturados de metáforas infelizes e inoportunas, “blinda” antigos inimigos a quem classificava de ladrões e corruptos ou, perversa e cinicamente os defende, usando manobras legais como proteção, dizendo não saber de nada ou que os problemas do Legislativo não são seus... São de quem? Nosso! Claro!


ALICE ROSSINI

6 comentários:

Anônimo disse...

tambem fiquei indignado com a ameaça da policia. vamos reclamar com quem? com o bispo? porque o sr governador, nem se manifestou!!

Paulo Maia disse...

Agora são eles que vão construir sua "herança maldita"!
Culpa nossa que, como voce mesmo diz, votamos errado e não cobramos depois.

Democracia é mais que o que temoss por aqui

Neto disse...

Muito bom. Voce deveria mandar matérias como esta para nossos jornais

Adriano Valverde disse...

É isso aí. Parece que não temos a quem recorrer, que não temos governo. Quem deveria dar o exemplo ou se omite ou acoberta.

O país sempre foi mal governado mas, nunca foi tão ao fundo do poço!

marco rossini disse...

de heranças malditas eu já estou cheio. o problema agora se resume em momento maldito. ou sejas: se correr o bicho pega sem dó nem piedade; se ficar o bicho come sem respeito e sem carinho. rsrsrsrsrs

Selene May disse...

Eu, com meu histórico de mulher guerreira e autônoma, sobrevivente a 2 sequestros, ja capitulei: praticamente abandonei o Golf por um Renault véio. Ficava tão estressada pra chegar em casa, principalmente à noite, q não valia a pena estar me sentindo mais confortável e segura "dentro" do carro.
É, quando siremos desta selvageria?
Já não posso me picar pro exterior e dar um tempo pra voltar com a sensação de segurança...
Tou mesmo fudida...
Sangue de Cristo tem poder...será???
bjs