quarta-feira, 11 de março de 2009

PARA QUE SERVEM AS RELIGIÕES?


Não vou falar em indignação, em revolta e em ignorância, porque o Bispo, cujo nome nem me dei o trabalho de gravar, forçou a mídia a tornar estas palavras repetitivas e estes sentimentos generalizados pela população do mundo inteiro

Em vez de ocupar minha mente em julgar ou elucubrar sobre a indiferença humana ao sofrimento dos seus semelhantes, forçada pelas circunstâncias ditas acima, uma questão voltou a me preocupar: “Para que servem as Religiões?”

Tenho consciência, que há de se fazer uma diferença entre os significados das palavras RELIGIÃO - que deriva do termo latino “re-ligare”, que significa re ligação com o Divino; HERESIA – tudo que vai de encontro a uma religião dominante: Cristianismo x heresia Judaica, Protestantismo x heresia Católica ou Budismo x heresia Hinduísta; SEITA, que se origina da palavra latina “secta”, segmento minoritário que se diferencia das crenças majoritárias, mas, consideradas Religiões e INSTITUIÇÕES RELIGIOSAS, organizações sociais que controlam o funcionamento da sociedade e indivíduos. Possuem normas de acordo com a Religião que se dizem representar, podendo ser chamadas de Igrejas, Templos, Sinagogas, Mesquitas, Centros Espíritas, etc., etc.

Posto isto e considerando que toda a história da humanidade e todos os grandes pensadores dela se ocuparam, podemos afirmar que as Religiões são fenômenos inerentes à cultura humana.

Freud, um dos homens que mais influenciaram o pensamento humano, é um exemplo a ser citado. Assumo a responsabilidade e ousadia de resumir seu juízo a respeito do papel da Religião para o homem. Afirmou que o sentimento religioso decorre da sensação de desamparo do indivíduo ao nascer, quando encontra um mundo que considera hostil e cheio de mistérios, sem falar do mal estar que a certeza da morte lhe causa. Karl Marx, não menos importante, mas em outra linha, caracterizou a Religião como uma droga que anestesia a dor, “a Religião é o ópio do povo”, disse.

Podemos ratificar, então, a importância da Religião para o equilíbrio humano e minha questão começa a ser respondida.

Não pretendo aqui um tratado histórico nem entrar na perigosa seara dos dogmas e dos princípios doutrinários das dez religiões com mais adeptos no Planeta. Ate porque, doutrinas religiosas determinam e são determinadas por aspectos culturais, que não nos cabem julgar, por mais que nos causem estranhamento.

A chocante decisão do Bispo, com apoio do Vaticano, sobre o caso da criança de nove anos foi, por mim, associada a determinado aspecto da novela da Rede Globo, “Caminho das Índias”, identificado pela existência dos “dalits” também chamados de “intocáveis”. Pessoas que, por 3000 anos teem vivido num ciclo de discriminação e desespero, presos ao sistema de Castas vigente na Índia, que não teem acesso à água potável, emprego com pagamento compatível, à terra, à moradia e outras restrições. Suas casas são queimadas, suas mulheres estupradas entre outras barbaridades consideradas comuns.

Segundo o Hinduísmo, a mais antiga tradição religiosa dentre os grupos religiosos, “....entre os princípios fundamentais incluem-se a “ahimsa” (não violência).............a chama divina essencial (Atman/Brahman) está presente em cada ser humano e em todas as criaturas viventes.......” Prega, portanto, igualdade e pacifismo.

Na minha laica e leiga visão, toda e qualquer Religião, que, repito re liga o Homem ao Divino, deveria ter como função primordial anular costumes que o discrimine, que lhe traga sofrimentos e não respondam a questões existenciais inerentes à sua condição humana. O que vejo e sinto é que as Instituições Religiosas nada teem a ver com as Religiões que abrigam. São contraditórias em relação a seus próprios dogmas, são subservientes aos poderosos e, quando lhes conveem, lançam mão da violência para lidar com fatos que vão de encontro aos seus interesses.. Só para dar um passeio, vergonhoso, na História, na Idade Média, a “Santa” Inquisição perseguiu, matou, torturou, queimou pessoas e livros, bloqueou o avanço científico e outras barbaridades.

Todos os textos religiosos pregam a igualdade entre os seres, pregam a compaixão, pregam a não violência, dentre outros princípios éticos universais.

Todas estas considerações são tão relevantes que respondem à pergunta que originou este texto e torna mais absurda e cruel a posição da Igreja Católica diante do drama de uma criança de 9 anos. Sem contar que ainda incita a desobediência civil e o desrespeito ao Código de Ética Medica, cujo principio norteador, é salvar vidas - se a gravidez fosse levada adiante as três vidas, provavelmente, estariam sentenciadas à morte. Quanto ao Hinduísmo, em que princípios se fundamenta para sustentar a existência dos “dalits” na Índia, tão miseráveis como todos os miseráveis do resto do planeta?

Religiões não precisam de Instituições religiosas com seus dogmas, seus sectários e “fundamentalistas” mandatários, para encontrarem eco no coração dos homens. Até porque, nem Sidarta Gautama escreveu uma só linha sobre o que mais tarde seria o Budismo, nem Cristo, que deu a Pedro a missão de fundar sua Igreja, apesar de saber que por ele foi negado três vezes, dando um exemplo de tolerância e perdão, também nunca escreveu um trecho da Bíblia.

Concluo reconhecendo na religiosidade uma necessidade humana e o que coloco em xeque, no momento, é a necessidade das Instituições que usurpam e deturpam os naturais sentimentos religiosos, assim como creio que “Deus” é uma energia vital que une e habita todos os seres e regula o equilíbrio do Cosmos. Para crer e sentir-se parte do Todo não é necessário sentir-se parte de qualquer organização humana, por mais bem intencionada que se autodenomine e intitule.


Portanto, se me excomungarem, nem um crente em potencial estarão perdendo. Só tempo.

Alice Rossini




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2 comentários:

Anônimo disse...

Sou criticada por não ir à missa todos os domingos, imagine! E não é por gente ignorante não! Ac cham mesmo que se não for serei castigada! Lendo seu texto, sinto que ainda existem pessoas lucidas no mundo e questionam o que muitos nem ousam duvidar.Parabéns, não esperava outra coisa de voce.
Invista em seu Blog, é a sua praia...rsrsrs

Anônimo disse...

Igrejas são criadas para tolher o homem.É uma forma de dominação que ninguem tem noção da força!
Exemplos não faltam, nem na história nem no cotidiano. Basta olhar com atenção o que elas fazem com seus fiéis!!
Parabens pelo texto! Não me surpreendeu...