segunda-feira, 18 de maio de 2009

FELICIDADE: UM DIREITO OU UMA OBRIGAÇÃO?

A obrigação de ser feliz está me tornando profundamente infeliz! Se existe uma pandemia, ela se chama “busca frenética pela felicidade”

Quem não quer ser feliz? Todos querem, mas, cada um do seu jeito e segundo seus conceitos, preconceitos e valores.

Existe uma campanha, através de todas as mídias, que determina o comportamento humano. A obrigação do sorriso eterno, da alegria indiferente às circunstancias, o prazer obrigatório, a necessidade de possuir objetos e ter acesso a confortos até ontem desconhecidos.

Aí é que a coisa pega. Confundir felicidade com estes prazeres. Principalmente, quando estes prazeres têm que ser conseguidos a qualquer custo, não importa o que sacrifiquemos em nome deles. Até o presente, a única coisa que realmente temos e que nos escapa a cada fração de segundos.

Quero deixar claro que não sou masoquista, adoro sorrir e também usufruo de todos os prazeres que a vida pode oferecer. Entretanto, sei que deve haver um cuidado em estabelecer prioridades e uma urgência em definir critérios que nos balizem, à medida que o tempo passa, para definir os conteúdos e os significados de prazer, já que felicidade é um conceito vago.

Houve períodos na história da Humanidade, com o aval de filósofos, pensadores e instituições, em que o corpo era desqualificado e toda a felicidade e prazeres seriam vivenciados em outra vida, a vida eterna. O mal estar era inexorável. Acho eu, que ainda é, dado que a impermanência é inerente à vida e aos seres. Ou estamos felizes e tensos em não sair da nossa zona de conforto ou estamos infelizes ansiando pelo retorno à felicidade.

Só que, o que determina estar feliz ou não, baseia-se em fatos circunstanciais, que, como disse, mudam a cada instante.

Com o final das guerras, com a revolução industrial, com a produção de bens de consumo em serie, o homem criou para si uma armadilha e emaranhou-se nela. Felicidade passou a ser sinônimo de riqueza e poder. Tudo isto fez parte de um momento filosófico – o Iluminismo – que acenou com uma luz brilhante no final do túnel.

Com o passar do tempo, a estes pilares, foram acrescidas necessidades de beleza e de juventude eterna, determinadas e fomentadas pela ganância das respectivas indústrias.

O controle dos bens de produção, o desenvolvimento e o acesso ao conhecimento científico, diminuiu o nível de frustração de toda uma geração, sem perspectiva de mudança, pois criamos nossos filhos a nossa imagem e semelhança.

Ao longo do tempo, o conceito já tão difuso de felicidade, contaminou-se. Foi associado, pelo homem moderno, a sucesso antes de ser sinônimo de bem estar.

Percebo que nós, de um modo geral, diante do devastador e justificado pavor da morte, passamos a existir com outras medidas de tempo. Os ponteiros dos nossos relógios emocionais giram de forma frenética e assim, entram em descompasso com fuso horário da realidade, que continua indiferente aos nossos anseios e começa a tirar-nos horas, minutos, segundos e milésimos de segundos, preciosos.

É, justamente em cima destes milésimos de segundos, que a vida acontece e evapora-se.

Nossos filhos são um bom parâmetro para avaliar este fenômeno. Num dia estamos grávidos, no outro nascem, no outro crescem, no outro voam e no outro se multiplicam.

Como eles, éramos jovens, corríamos atrás de nossos sonhos, onde eles estavam incluídos, precisávamos de dinheiro, conhecimento, construir, desconstruir e administrar relações, certezas, conceitos e preconceitos. Enfim, a vida nos solicitava da mesma forma frenética de hoje e não tínhamos nem maturidade, nem discernimento para saber freá-la e impor um ritmo que trabalhasse a nosso favor

Não é sem motivos, que constatamos o elevado índice de suicídios em países desenvolvidos, a desagregação familiar, o esgarçamento das relações, a violência em todas as suas manifestações, o abuso de drogas, a euforia histérica que apelidam de felicidade

Órfão de ideais, árido de sentimentos mais consistentes, sedento em possuir e em determinar a vida alheia, o homem de hoje, é terreno fértil para prazeres fugazes, que são bons e necessários, mas, não são fundamentais e nem de longe acenam em minorar o mal estar, do qual será eternamente vitima...

ALICE ROSSINI

5 comentários:

Anônimo disse...

ADOREI A IDÉIA! CRIATIVA E CONSTRUTIVA.
SEU TEXTO, COMO SEMPRE OTIMO!

Vitória Régia disse...

Alice,

Só voce mesmo para enxergar aspéctos tão polêmicos na Felicidade! Só provocando seus leitores para que produzam mais "polêmica" que, ou nos fará refletir e ficarmos mais serenos ou pirar de vez...(risos)
Parabens, seu Blog está fazendo a diferença na Blogosfera, onde tem muita coisa boa mas, muito besteirol!
Beijo!

Ricardo Barreto disse...

Alice


Por enquanto vou me provocando com seu texto, fico com um trecho de outra Alice (Ruiz) que diz assim :" viver ou morrer é o de menos, a vida inteira pode ser qualquer momento. Ser feliz ou não, questão de talento".

Abração

Maria de Lourdes disse...

O conceito de Felicidade é, de fato, muito vago, como bem disse minha sábia amiga. Não como o conceito da morte, que nos assombra diuturnamente, pois que este é palpável pela ausência que nos impõe. Entendo que Felicidade tem a ver com a ótica de cada um, com sua escolha pessoal diante dos fatos da vida, fruto e reflexo de sua própria força, que embaça - ou não - as lentes com que cada um vê o mundo. Não só das circunstâncias externas depende a Felicidade, mas principalmente daquilo que fazemos com o que vai dentro das nossas cabecinhas pensantes. Se assim não o fosse, só os ricos seriam felizes, só aos sábios caberiam os melhores e mais verdadeiros sorrisos. Mesmo mergulhados no mundo-cão em que vivemos, somos capazes de ver expressões de felicidade - ainda que nos milésimos de segundos que nos são roubados - traçadas por coisas simples e fugazes, mas capazes de mudar feições em rostos dragados pela miséria e desespero. Felicidade tem a ver com as coisas simples da vida, com a satisfação de nossas necessidades mais básicas, mas infelizmente o homem moderno parece que se esqueceu disso, e se perdeu no próprio mundo confuso e cheio de regras que criou, onde TER vale mais do que SER.
Beijos, vá em frente, amiga!!

Mariana disse...

Alice,

Sua crônica está otima. Conseguiu, de forma simples e didática, falar de um assunto complexo, difícil e bastante pessoal. Este mal estar que voce sente, todos sentimos, e muitos não conseguem identificar. Hoje, as pessoas são muito superficiais, preferindo passar imagem de resolvidas, maduras e alto astral. Se não querem enxergar seus próprios ptoblemas, quanto mais os alheios. a isso eu chamo d eindividualismo e indiferença.

Bom saber que ainda tem gente que pensa...Parabens!

Beijos