quarta-feira, 20 de maio de 2009

QUE A FELICIDADE SEJA ETERNA, ENQUANTO DURE


Tudo que é bom dura pouco, já ensina a sabedoria popular.

Aliás, se não fosse assim, a bonança, normalmente tão fugaz e tão passageira, perderia os seus encantos.

Restaria mesmo comum, desvalorizada e banal.

Não haveria qualquer sentido na bonança se ela não viesse para o alívio tranqüilizador após a tempestade.

E se não houvesse o sentido de que outras tormentas advirão...

Assim é com a felicidade.

Momentos felizes funcionam como um contraponto às angústias, aos medos e às desilusões que impregnam a vida e alma humanas.

São sopros benfazejos na vida, dura vida.

É possível ser feliz por todo o tempo e por todos os momentos?

Não, dizem os poetas: “Tristeza não tem fim, felicidade sim”, escreveu Vinícius de Moraes, na célebre parceria com Tom Jobim:

“A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar,
Voa tão leve, mas tem a vida breve,
Precisa que haja vento sem parar”

Todos anseiam por momentos felizes, normalmente custosos de chegar e que parecem sempre trazer o aviso prévio da brevidade.

Mais do que nos próprios momentos de ocorrência, a felicidade persiste na lembrança daquele bom hiato ou do agradável lapso de tempo; volátil, como uma lufada perfumada.

“Felicidade foi embora e a saudade no meu peito ainda mora”.

Vinícius diz que a felicidade tem vida breve, Caetano declama que a felicidade vai embora e... deixa saudades.

A felicidade, para um ser esfomeado é um bom prato de comida.

Para um amante, a conquista da mulher desejada.

A felicidade parece ser mesmo o ato de alcançar os desejos, sejam da carne ou sejam do espírito.

O dinheiro facilita tudo, mas, em termos de felicidade duradora, não garante nada. Não sei se foi Truman Capote, ou Norman Mailler, quem disse:

- O dinheiro não traz felicidade... compra!

Deve ser por isso que as mulheres sentem-se tão felizes quando entram num shopping center munidas de cartões de crédito.

A felicidade, às vezes, é um par de sapatos novos, meias de seda, um penteado diferente, um brinco, o fetiche das novas peças íntimas...

Um sábado radiante e feliz, antecipando um domingo abatido pela promessa de um amor que não se cumpriu.

Felicidade também é um simples galanteio, uma troca de olhares interessados, um encontro ou reencontro inesperados. Um assobio, um fiu-fiu.

Um pique, um surto de alto estima, pois uma coisa parece certa: a felicidade ocorre em momentos, como golfadas de ar fresco em meio ao deserto.

E que assim seja, pois só dessa forma as felicidades se renovam.

Voltemos a Jobim: são as águas de março que encerram o verão.

Pois as felicidades nascem e morrem, sazonais como as estações.

E, por fim, parafraseando Vinícius:

Que sejam as felicidades eternas... enquanto durem.

SÉRGIO GOMES - Jornalista










5 comentários:

Alice Rossini disse...

Sérgio, ja postei um comentário e parece que, nem no meu próprio Blog, consigo fazer alguma coisa certa. Isto é infelicidade...rs

Falando sério, buscar na poesia definições para Felicidade foi de uma felicidade enorme! Os poetas, por serem poetas, sentem e pressentem o quanto tudo é fugaz.

Felicidade e sofrimento alternam-se na balança da vida indiferentes às formas como são encarados.

Portanto ha que se viver tudo como se nada fosse e nada como tudo pudesse ser.

Sua prosa com pinceladas de poesia está brilhante. Quando a li, me senti feliz!

marco rossini disse...

parabens sergio. voce foi, com simplicidade, objetividade e romantismo de um jornalista experiente, perfeito. o tema é vasto, com centenas de vertentes e possibilidades de abordagens. a poesia, a música é uma delas. voce foi fundo na escolha delas. gostei muito

Vitória Régia disse...

Sérgio!

Adorei seu texto! É realmente muito simples. Nós, humanos, complicamos tudo. Para ser feliz não basta entender a vida. Temos que vivê-la!

Parabéns!

Carlos Alberto disse...

É isso ai amigo, ser feliz enquanto podemos. Daqui a pouco vêm as doenças, a velhice, a bolsa despenca mais ainda, lula se reelege, ai fica mais dificil, mesmo ouvino musica e lendo poesia.

Parabens pelo belo texto.

Mariana disse...

Sérgio,

Lindo texto! Foi buscar na arte respostas que a mesmice do cotidiano não conseguem responder. Ser feliz é também ter sensibilidade e talento de discorrer de forma tão bela sobre algo que se constiuiu a grande busca e a unica finalidade da vida: ser feliz

parabens!