O que é felicidade? As palavras não passam de interpretações, antes mesmo de serem signos, e elas só significam porque são “interpretações essenciais”. Segundo Nietzsche, as palavras foram inventadas pelas classes superiores e assim, não indicam um significado, mas impõem uma interpretação. Parece-me que a felicidade, tem algo espantosamente denso, algo que lembra alegria, riso, plenitude e com certeza além da plenitude e densidade também trás brilho que se dissipa tão rapidamente, terminando de maneira tão decidida. É uma palavra que, dicotomicamente, pode nos fazer rir ou chorar.
Não existem causas externas da felicidade, elas são apenas desculpas. Felicidade é uma sensação. Que sensação é esta? É a satisfação em ter uma necessidade atendida, saciada, um projeto realizado?
Compreender essa sensação é saber individualizar no universo pessoal, pois o que é motivo de felicidade para uns, pode ser de infelicidade para outros. É um sentimento que pode metamorfosear-se em cada instante, tendo significados diferentes.
A procura do autoconhecimento ajuda na transformação de desejos em vontade e da vontade em projeto de vida. Aprendendo a ser responsável pelas próprias escolhas, assumindo o sofrimento dos erros e fracassos e o gosto das conquistas e vitórias.
Sempre ouvi esta frase “a vida nos cobra um preço antecipado por tudo que queremos, desejamos, almejamos” – esta frase caracteriza bem o pensamento judaico cristão da sociedade. Porque a vida tem que cobrar? Ou somos nós mesmo que nos impomos sofrimento ou culpa de não termos feito o que “devíamos”?
Podemos encontrar algumas explicações para esta frase em vasta literatura – A Félix Culpa. Que melhor lugar para procurar o embrião da culpa, senão na matriz original da cultura ocidental? Será que temos que sofrer para sermos felizes?
A religião, numa passagem bíblica, cita que a humanidade só recebeu “redenção”, após o arrependimento de Adão e Eva por ter conhecido o fruto proibido. A tônica sentimental era a de que Adão havia sido corrompido através de Eva, e depois disso tudo saiu errado. A própria Igreja sempre afirmou que Maria corrigiu todos os erros e Eva cometeu todos os erros. Eva só é tolerável porque as coisas foram corrigidas mais tarde. Creio que o maior legado cristão imposto ao psiquismo humano é o desafio de quem realmente é inocente, impedindo inclusive que a pessoa não abandone suas experiências de sofrimento Quanto maior o sofrimento, maior será o senso do dever em detrimento da satisfação pessoal.
A história da psicologia nos mostrou que a capacidade para o prazer é algo que nos é delegado, seja por um ambiente familiar amoroso e compreensivo, ou algo que apenas obteremos pela luta ou conquista, externamente ou lidando com nossos medos internos. A conseqüência máxima para a personalidade culposa é a de que a mesma não possui a menor noção de seus "direitos" afetivos, pessoais e sociais. Sua vida é uma tortuosa espera da autorização do outro para minimizar sua angústia.
Se refletirmos historicamente, no passado o prazer era uma fonte proibida de se tocar, porém já em nossos tempos podemos experimentar de tudo, mas parece que a proibição ainda permanece, seja no vazio de nossa vida diária, ou o tédio a que somos constantemente submetidos.
Deixo um trecho de uma música de Lula Queiroga, interpretada pela Zélia Duncan – O Habitat da Felicidade, tendo hoje a certeza que a Felicidade não precisa estar aliada a culpas e que ela mora dentro de cada um de nós.
O HABITAT DA FELICIDADE
Felicidade não precisa de culpa
Felicidade é o alívio da dor
Felicidade é higiene mental
Exercício da alma
Só alguém
Que na vida sofreu todo tipo de dor
Sabe dar valor
Aos caprichos da felicidade...
LÚCIA IZABEL - Consultora Organizacional
4 comentários:
Lucia(Bel)
Associar felicidade à culpa, além de pertinente do ponto de vista cultural vai ao encontro de um dos pontos cruciais quando se "pretende" debater sobre o tema. Ser feliz num mundo de deprimidos, famintos, analfabetos, sem teto, sem esperanças é um sacrilégio. Como ser infeliz sendo o oposto de tudo isso, também é. Daí a dificuldade e os vários aspéctos com que o tema está sendo abordado. Aqui, só conseguiremos entender mais um pouco dos vários conceitos e saber que a todos preocupa.
A culpa é um dos aspéctos mais relevantes e um dos que mais compromete a sensação de estar feliz. O que os orientais chamam de "impermanencia" os ocidentais chamam de "tributo". As duas culturas tratam diferentetemente a felicidade assim como emprestam-lhes conteudos diversos. O homem é um só portanto, a busca continuará. Vã, acho eu.
Li, em algum lugar que, quando nos perguntamos se somos felizes, deixamos de sê-lo...
Brilhante texto, BEL!
Parabéns!
meu bem, q maravilha!
família de escritores!
não sabia dessa arte da coleguinha geminiana (isto eu sabia)
beijos
Excelente! Mostrou outro aspécto da felicidade que contamina de forma nociva nossa cultura que é a culpa! Por causa dela perdemos enormes chances de momentos felizes e em nome dela, antes de sermos felizes somos capazes dos mais terriveis sacrifícios. Um dia destes, antes de qualquer prazer, vamos nos auto chicotear! rs
Estou adorando esta fase do blog!
Como leitora assídua, fico feliz em abri-lo e encontrar sempre algo interessante para ler.
beijos, Lucia ou Bel?
Lucia,
Muito bom seu texto. Alem de bem escrito analizou a felicidade sob a otica da culpa que é de onde ela sempre é vista, julgada, mal interpretada e ignorada.
Parabens!
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