segunda-feira, 29 de junho de 2009

O SOM DO SILÊNCIO


Ruídos dos meus pensamentos sussurram que o silêncio não existe.

Não estou me referindo ao silêncio como oposição ao ruído. Refiro-me ao silêncio que fala, comunica, tem sons, alegra, magoa, aprova, pacifica, permite, seduz, abandona violenta, liberta, aprisiona.

Sou minha própria referência. Quando ouço um ”psiu”, implícito ou explícito, aumentam os ruídos da minha mente.

Na natureza o silêncio significa apenas nossa limitação auditiva de “ouvir” os sons que, certamente, dela emanam. O Cosmos não é silencioso. Segundo os místicos tem um som. Transformaram este som silencioso num mantra, a quem conferem poderes infinitos. Quando entoado em determinada vibração, transpõe distâncias e transforma a energia do Planeta: è o OM ou o UOM, como é pronunciado. Este som presumido tem o poder de aplacar e domar os ruídos das nossas mentes. Já verifiquei pessoalmente.

O silêncio que parece existir nos templos, nos mosteiros ou nos claustros é carregado de sentidos pelos quais os homens tentam uma comunicação com o Divino. E nesta comunicação invocam misericórdia e compreensão. Redimem-se do que acham, foi pecado, agradecem o que acham, foi doado, pedem o que acham, merecem.

Imaginem os ruídos que esta “agonia” e esta inquietação provocam, a ponto de desviarem suas atenções dos ruídos da vida real e sentirem-se submersos no silêncio que acham, mora atrás dos muros que se erguem, afastando-os do mundo.

Cachorros latem, rosnam, uivam, pássaros cantam e alguns homens também, gatos miam e ronronam, pintos piam, galinhas cocoricam. As baleias? As baleias lançam sons lancinantes que comovem a todos. Os golfinhos! Estes quase que falam e sorriem. Enfim, todas as espécies se comunicam. Através dos sons e dos gestos.

O mar. O som do mar é tão belo e balouçante, que acalma, tranqüiliza. Às vezes amedronta. A chuva quando cai também “fala” uma linguagem que convida ao aconchego e ao recolhimento. Às vezes, é precedida dos roncos dos trovões que os povos da mata acham que é a voz de Deus. Se Ele é tudo, então é mesmo a voz dele que, de vez em quando, fala forte e grosso.

Quando as nuvens sobrecarregadas precipitam-se sobre a terra, ainda a instigam a exalar seu cheiro, que não raro, nos provoca nostalgia, quebrando o silêncio que achamos, acompanha nossas lembranças. Repentina ou mansamente, falamos com uma lágrima, com a tristeza e a saudade que moram nos nossos olhos. O som das lágrimas, por mais discretas que tentem ser, são os soluços, ou os gemidos dolorosos, os suspiros...

Nós humanos, por mais silentes que possamos parecer, sempre estamos emitindo mensagens. Dotados de raciocínio, encontramos uma infinidade de formas de burlar o presumido silêncio.
Quando não escrevemos nem cantamos, tocamos, esculpimos, desenhamos ou pintamos. Nossos corpos ganham leveza e dançamos.

Se não temos o privilégio dessas expressões, usamos então nossos corpos com todos os seus simples e definitivos gestos, que vão do acolhimento à indiferença e à violência em todas as suas nuances.

Nossa mais poderosa forma de quebrar os “silêncios”, os impostos ou os assumidos, é o nosso olhar. Através deles dizemos tudo ou nada, e nada pode ter tantos significados. Dizemos amar e admirar. Mostramos nosso espanto, nossa ira, nossa inveja. Nossos desejos mais recônditos, nosso amor mais proibido. Nossa ternura materna. Nossa indiferença e nosso interesse. Nossa loucura ou nossa sanidade. Nossa luxúria ou nossa inocência. Nossa solidão, nossa saudade, nosso vazio. Nossa arrogância, nossa humildade, nossa inquietação ou nossa resignação.

Nossa vontade de viver ou de morrer.

ALICE ROSSINI

segunda-feira, 22 de junho de 2009

OS FILHOS E O SENTIDO DA VIDA

Os seres têm como missão biológica a perpetuação das suas respectivas espécies. O homem, em particular, por questões psicológicas e culturais, dá outras conotações, amplia e empresta novos sentidos a esta missão.

Como a proposta deste Blog é falar de inquietações e sendo extremamente sincera não sonegando a mim, nem aos meus “leitores”, nenhuma emoção, o que me motivou a escrever este texto foi o casamento e a consequente saída de casa do meu filho mais velho e o iminente afastamento do mais novo que, em julho de 2010, forma-se em Medicina e tem planos de residir no interior.

Voltando algumas décadas, percebo hoje, o quanto meus pais sofreram quando também “saímos de casa”. Existem experiências na vida que são indescritíveis e todas são intransferíveis. Às vezes até imperceptíveis, só nos damos conta que existem, quando as vivenciamos. A maternidade, suas dores e suas alegrias, é uma delas.

Nas outras espécies este exercício é feito e, muito bem feito, enquanto a “mãe” ainda não intuiu que a cria já pode viver por si. Quando percebe sua independência segue, cada um, seu caminho. Os humanos, com o raciocínio e a complexidade inerentes aos seus cérebros, tornam tudo mais complicado. A sua socialização, além de necessária é complexa, como complexa é a sua convivência.

Entra aí outro fator que torna irreversível a ligação do homem com sua cria: o amor.

Amor que sofre toda sorte de influências negativas e positivas: através da nossa carga existencial, das circunstâncias socioculturais onde estamos inseridos e do nosso perfil psicológico, que nos levam a definir a nossa forma de perceber que nossos filhos crescem independentes de nós.

Quero salientar que acho brilhantemente cumprida, a missão materna/ paterna, quando eles, os filhos, seguem suas vidas, sós ou acompanhados, sem que nossa ajuda lhes tire a autonomia. Quando nos tornamos “desnecessários”. A negação disso nos faria adentrar numa seara perigosa que é o cerceamento da liberdade e do livre arbítrio, valores que só conseguimos transmiti-los quando os exercemos com nossos filhos, pela nossa obrigação de educá-los.

Até nas culturas onde “sair de casa” logo que possa é normal, mães e pais, as primeiras mais que os segundos, sofrem o que chamam de “síndrome do ninho vazio”. Não adianta negar o fato, pois logo que o ninho esvazia-se correm todos em busca de ocupações, de projetos adiados, da recuperação do homem e da mulher no casal que era somente pai e mãe, de ansiedade pelos netos, e outros mecanismos, legítimos e saudáveis que o raciocínio, aliados à inteligência e à maturidade, tratam de providenciar.

Dadas estas “justificativas” de respeito e entendimento do que seja preparar uma pessoa para o mundo, vou falar de perda, necessária, mas que não deixa de ferir, vou falar de saudade, que nenhum raciocínio lúcido é capaz de minorar, vou falar de vazio, que nenhuma atividade é capaz de preencher.

A verdade é que construir uma pessoa confere a qualquer vida, muitos sentidos. E não ter o que construir faz com que vivamos angustiados em busca deles.

Se imaginarmos que nossa responsabilidade ou irresponsabilidade, nossa omissão ou nossa intervenção, nosso mau ou bom exemplos, nosso equilíbrio ou desequilíbrio, nossas circunstâncias favoráveis ou desfavoráveis, nossa autoridade ou nosso autoritarismo, poderão fazer a diferença entre construir um homem útil ou inútil, um criminoso ou um médico, um ladrão ou um juiz, um pedreiro ou um vagabundo, um mau caráter ou um justo, nos dá a dimensão dos infinitos sentidos que a vida oferece a alguém que se propõe a construir outro alguém.
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Hoje, minha saudade e meus vazios são repletos de sentidos porque, embora tenha sido mãe muito jovem e, muitas vezes, tenha feito escolhas movida pelo mais puro instinto materno e pelos ímpetos juvenis, dela resultaram duas pessoas que já podem fazer um voo solo sem que nada me impeça de continuar amando e preservando o aconchego do meu ninho. Vazio, mas carregado de sentidos.

ALICE ROSSINI

sexta-feira, 19 de junho de 2009

ENQUANTO HÁ DÚVIDA, HÁ INSEGURANÇA !

Eu amo a vida e me desfaleço a cada momento tentando não deixar nenhum segundo em vão. Hoje, embora sabendo que era possível e muito normal, vi um fenômeno que me deixou extasiado. Enquanto o sol brilhava diretamente sobre a minha cabeça, uma chuva torrencial, tocada a vento, caía a não mais que 5 metros de mim. Dava para entrar de lado com os braços abertos na linha da mesma, molhando o braço esquerdo sem molhar o direito. Lindo e ao mesmo tempo melancólico. Não sei porque, mas uma avalanche de maus pensamentos soterrou meu êxtase contemplativo, permanentemente. Deparei-me com imagens de mau agouro já vividas ou imaginadas e que assolam o nosso mundo como se fossem as nuvens negras de onde caía tamanha carga de água. E me lembrei: Mais um louco, armado até aos dentes com armas nucleares, ameaça deflagrar uma hecatombe sobre mundo para salvaguardar suas loucuras megalomaníacas e sua mania de perseguição pelo mundo ocidental. Era só o que nos faltava!
E logo este tal Kim Jong-il que nem teve de trabalhar para conseguir o poder absoluto que abarca com as duas mãos. Herdou-o do seu papi, Sr. Kim il-Sung em 1994. Em 1948 o “papi querido” foi designado, unanimemente, líder supremo e dono de todo poder da Corea do Norte, sem se abster, na subida ao poder, de cortar, pessoalmente, algumas cabeças de quem o havia ajudado a chegar lá, e com a ajuda comunista de Mao, Stalin e etc. Construiu um autêntico culto à personalidade, tendo ele mesmo como a principal figura de adoração. O “gostosão da península!”
Desde cedo, o talento bélico desta família de déspotas, foi dado a conheçer ao mundo quando o pai tentou ocupar toda a Peninsula Coreana sem prestar atenção aos desejos de uns e de outros. Tipo, quem não é por mim, é contra mim. Ao sul da península, se instalou a República da Corea, ou Corea do Sul. Ambas as partes, Sul e Norte, reclamavam seus direitos ao território completo, até que os nortenhos, com a ajuda da China e da extinta União Soviética fizeram a primeira incursão armada em 1950, dando início, assim, a Guerra da Corea. Os americanos, seguindo uma resolução da ONU, adotaram o paralelo 38 como limite de avanço das forças do Norte. Ou seja, ninguém nunca invadiu o Norte. Eles simplesmente foram mantidos a uma distância saudável de Seoul. Finalmente, depois de China e Estados Unidos terem entrado no conflito de forma ativa, este chegou a um fim com o Armisticio de 1953.

Mas, que Pais é este? A seguir a época da Guerra, e com a ajuda da, ainda intacta, extinta União Soviética e da República Popular da China, Kim Il-Sung usou os recursos minerais e energéticos do país como base para um programa ambicioso de industrialização e reabilitação. Kim reteve o poder efetivo do país até a sua morte em 1994.

Na última década do seu regime (ou deveria dizer reinado?), o desenvolvimento econômico foi estorvado e quase impedido, pelo mesmíssimo rígido sistema comunista e a fuga de seus parceiros, acima citados, que acharam melhor afastarem-se do comunismo, abrindo suas economias e sua política, à razão universal e à flexibilidade.

Depois da sua morte, adivinhem quem foi designado como seu substituto? Seu filhinho Jong, atual ditador que,ao contrário de seu pai que era popular e carismático, é mais reclusivo e está longe de ser popular. Tem fama de playboy, usa o cabelo brilhantinado, sapatinhos de plataforma e um gosto anti-revolucionário por bebidas alcoólicas ocidentais. Acredita-se que é o unico responsável pelo programa de desenvolvimento de armas nucleares Norte Coreano.
É óbvio o esforço que o atual governo faz para restabelecer o mesmo culto a personalidade a Jong, similar a do seu falecido pai. A imprensa Coreana o chama de o “Lider Sem Amigos” e “O Grande Sucessor da Causa Revolucionária”. Enfim, outro megalômano de plantão
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Hoje a Corea do Norte tem um produto interno bruto menor que o da maioria dos países do terceiro Mundo, incluindo os mais pobres da Africa Ocidental. É conhecida sua alta taxa de mortalidade infantil, somente suplantada pela Ásia e por Bangladesh. O país sofre uma grave crise de energia que se vem ampliando depois que os Estados Unidos terminaram seus envios grátis em troca do fim do programa nuclear. Aliás, é do conhecimento geral que o comércio externo da Corea do Norte se limita à venda de armas de forma legal e ilegal.

Um poema de Berthold Brecht dizia; “Que tal se houvesse uma guerra e ninguem aparecesse?” E que tal se uma nação fizesse um teste nuclear e ninguem percebesse?

Apesar das tentativas da comunidade internacional em convencer o Sr. Jong a desistir da corrida armamentista, ele segue ampliando o seu arsenal ou fazendo de conta que é surdo. Num curto espaço de tempo, experimentou um míssil balístico e uma arma nuclear de grande potência. As datas foram friamente calculadas. A primeira no dia da reunião da OTAN e a segunda, no dia dos mortos na guerra da Corea, feriado americano.

Até que ponto podemos concluir que a Corea do Norte está menos peocupada com a aceitação internacional e mais com a sua própria sobrevivência e poder? Será que eles estão inventando uma nova “comodity”; a Paz? Isso me parece coisa da máfia siciliana: eu te protego de todos os males, e tu me sustentas com gordas ajudas humanitarias e etc. Uma mão lava a outra, “capiche?” Lembram de “Os Intocaveis”? Como se sustentam as gangs criminosas juvenis, ou ate a guerrilha colombiana? O negócio e o seguinte: dão-me boa vida de graça e eu prometo não bombardear ninguem.

O Obama e seus amigos já ameaçaram com a intensificação das sanções comerciais e até com o isolamento total, mas o homem segue no seu caminho bélico porque parece ser a única linguagem que compreende. Até a China, de quem a Corea mamou grátis, direto das tetas, o leite e o mel, ja alertou: Cuidadinho! Mama mas não abuse!
À Corea do Norte, não lhe importa se seus testes foram considerados um “desafio descarado” ao Conselho de Segurança da ONU. Se isso fosse importante para eles, simplesmente não os haveriam consumado, uma vez que, haviam outras sanções. Além disso, Jong já disse abertamente que está “temerariamente” desafiando as Nações Unidas e que os testes têm o objetivo de aumentar tensões e solapar a estabilidade da região. Cada vez que testaram outras formas de ataque, mísseis disto e daquilo, sempre conseguiram concessões da Comunidade Internacional e dos próprios Estados Unidos, mesmo no tempo de George “Rambo” Bush.
Por que haveriam de pensar diferente desta vez? “Time que está ganhando não se muda!”
O pior de tudo, é que mais uma vez a Comunidade Internacional está a um passo de perder mais sua já fragilizada reputação. Será que as Nações Unidas e os Estados Unidos não se dão conta que se a Corea do Norte continuar a desafiar, irresponsavelmente, a Comunidade Internacional e esta falhar em sancioná-la de forma incisiva e clara, acontecerão duas coisas: a Corea ganha o desafio e cria um precedente para que outros párias façam o mesmo.

O discurso de Obama que não incluiu em seu conteudo as palavras Estadas Unidos, representou a multilaterização da política americana. Enquanto o secretário chefe do Gabinete Japones declarou que o teste Coreano era totalmente inaceitável e que o Japão adotaria ações duras (?) contra a Corea do Norte, os Estados Unidos se reduziram a uma simples promessa de trabalhar com seus parceiros no Conselho de Segurança da ONU. Será que seria tão dificil para Obama condenar pessoalmente estes testes? Ou foi o medo que isso talvez pudesse colocar demasiada pressão política no assunto em vez de mais diplomacia?

Até Javier Solana, dono da pasta de politica externa da Comunidade Europeia, foi mais incisivo e duro com as palavras ao afirmar que ações dessa natureza eram irresponsáveis e garantiam uma resposta firme da comunidade internacional. Noutras palavras, em termos de resposta, Comunidade Europeia 1 x USA 0

Palavras a parte, em diplomacia elas têm muito peso e muito valor. Não só as que são ditas mas as que o deveriam ser para se estabelecerem principios e posições muito pouco negociaveis.
Enfim, quantas vezes mais eu verei a chuva e o sol brincando de molha-molha com meu corpo? Por que uns vêm colorido e outros preto e branco? Que mundo terão meus netos e todos os outros netos do mundo? Por que este gosto amargo na boca?
Bom, pelo menos com este teste o tal do Jong gastou uma bomba. Mas, quantas lhe sobram?

FERNANDO TROVADOR

segunda-feira, 15 de junho de 2009

LIBERDADE POSSIVEL


Liberdade é um valor universal. Inquestionável. Quem vive sem ela, por ela anseia. Quem a desconhece sabe que esta cometendo um genocídio existencial.

É inerente a todos os seres vivos a necessidade de arbitrar sobre a própria vida. Deliberar sobre seu destino sem que para isto tenha que fazer concessões, nem curvar-se diante de condições alheias à sua vontade.

Todos são livres, mas poucos assim o sentem ou reconhecem que, mais que um direito, a liberdade é um dever. Dever sim, porque a natureza concebeu todos livres. Entretanto, as relações foram se tornando tão complexas que surgiram códigos, normas, leis, que resultaram na Ética, que as disciplinou. Todo este arcabouço de “restrições”, entretanto, não lhes tirou a condição de antinaturais,

A sensação de ser livre tornou-se, com o tempo, muito difícil de ser exercida de forma leve e verdadeiramente isenta de proibições e cerceamentos. Pois ao fazermos o que queremos, muitas vezes, invadimos a liberdade alheia, já que vivemos em comunidade.

O processo civilizatório condicionou o homem a ser livre tendo como restrição a liberdade alheia. Somos gregários e buscamos o desenvolvimento e bem-estar. Esta condição e este privilégio cobram seu preço.

Homens. Animais. Vegetais. Cada um no seu habitat, que deveria ser natural e inviolável. Utopia sim, mas assim a natureza os organizou.

Os animais vivem na terra, no ar e nas águas buscando, unicamente, sobreviverem. Para isto devoram-se, com a pura legitimidade dos seus instintos. Nada tem a ver com os conteúdos de violência, usurpação de direitos ou invasão de limites perpetrados pelo homem.

As plantas também vivem onde podem sobreviver. Tanto na terra como na água, buscam o sol, o oxigênio ou até a sombra, onde a fotossíntese lhes garanta a vida.

Nos humanos, por sermos investidos de raciocínio, invadimos a “cadeia alimentar” necessária à preservação da vida e obrigamos todos os seres a viverem a relatividade do que entendemos o que seja “ser livre”. A inteligência nos deixou como sequela a condição de predadores, portanto suicidas. Uma espécie depende da outra.

Perdoem-me o julgamento severo, mas os fatos estão ai, e não nos absolvem. Sabemos o que fazemos e continuamos a fazê-lo, e com dolo.

Entretanto, existe uma liberdade possível. Liberdade que deveria ser exercida sem questionamentos, já que seria vivida no varejo da existência de cada um - uma causa pessoal – cuja arena é a vida e cujo guerreiro somos nós mesmos e nossas circunstâncias.

Já que nos é impossível ser livres só fazendo o que queremos, pelo menos, reconheçamos o direito de ser livres não fazendo o que não queremos.

Que evitássemos aquilo que nos avilte e fira nossa dignidade. Que nos permita viver em paz sem ignorar os espelhos impostos pela nossa vergonha de fugir da luta, que é nossa. Que nada impeça nosso direito de escolher e banir o que não queremos que povoe nossos dias, nossas horas, nossos momentos, fragmentados em segundos.

Nosso presente e nosso improvável futuro, já que ser feliz depende de muitas outras variáveis, embora, sobre a liberdade repousem todas elas.

Simples assim. Poderíamos, enfim, falar em LIBERDADE sem usar “seu santo nome em vão”.


ALICE ROSSINI

sexta-feira, 12 de junho de 2009

“UM AMOR MAIOR QUE EU”


Eu me meto em cada enrascada! Não tenho culpa se minha cabeça não para de “pensar”, às vezes certo, às vezes errado, se é que isto existe. Nós e essa medíocre mania de classificar tudo de forma dicotômica: certo e errado, preto e branco, feio e bonito, como se a vida fosse tão pobre em possibilidades.

O certo é que sempre eu “penso”. Claro, que o que acontece fora de mim, influencia meus pensamentos. Sou atenta, portanto, presa fácil da informação. Por falar nela, já acontece um novo bombardeio televisivo que, além de me obrigar a pensar, nos obriga a consumir. Desta vez, o Amor.

Amor em forma de chocolover’s, em forma de jóias, celulares, sapatos, roupas, enfim: Amor em forma de Coisas.

Porém, a bala passa raspando minha cabeça e não chega a me ferir. Pelo menos, não gravemente. Dentro deste universo de mesmice e obviedades que ocorrem anos após anos, uma propaganda chamou minha atenção: a do Boticário.

Pretendendo ser romântica para vender mais, incitou o beijo. Pelo menos no dia dedicado aos enamorados. Entretanto, joga nas nossas caras, o triste e melancólico caminho que muitos relacionamentos percorrem. Só não foi mais fundo e mostrou que, muitas vezes, não mais acontece beijo nenhum, portanto, nem um grão de milho vira uma solitária pipoca.
Imagino, quantos casais foram forçados a identificarem-se, principalmente, na última e monótona fase.

Excetuando o amor materno, este intenso e incondicional e o fraternal, no qual o respeito já nos satisfaria no que se refere ao envolvimento amoroso entre homens e mulheres, pedimos e esperamos pouco. Pior, acomodamo-nos com este pouco. Que é bem menos que nossas retinas prejudicadas pelas carências conseguem enxergar.

Esmagados pelo estereótipo de que toda relação desgasta-se - o que é uma verdade, desgasta-se, mas continua a existir em outras bases, muitas até mais sólidas - damos tão pouco quanto, menos ainda, exigimos do parceiro. Porque ninguém me venha com a hipocrisia ou com o comodismo de querer me fazer acreditar que tudo que vem do parceiro deve ser dado de graça, porque isso não existe. Não vamos confundir espontaneidade com troca. Quem dá sem receber sente. E ressente-se muito! Fica com as mãos abanando, com um vácuo no coração ou repleto de expectativas frustradas.

Acho que todas as pessoas querem e merecem um “amor maior, amor maior que eu”, “um amor a qualquer hora”, “um amor de corpo inteiro” como grita a poesia do grupo Jota Quest.

Um amor capaz de substituir flores, “te amo’s” desatentos, jóias e outros “mimos” por um abraço silencioso que fale mais que mil palavras de tão cálido, carinhoso e cheio de promessas. Por um olhar que desnude nossa alma e adivinhe os mais recônditos pensamentos, dos inocentes aos devassos. Por mãos que se estendam, cegas e despretensiosas e não escolham onde querem tocar, porque qualquer parte do corpo amado pede urgência em tocar e ser tocado.

Um amor que viva os minutos do cotidiano com alegria, com aceitação das rugas às gordurinhas, da serenidade ao desequilíbrio, dos pedidos imprevisíveis ao acordar feliz por mais um dia ao lado do outro. Um amor que saiba ler nuance em expressões na face. Que não confunda mal-humor com tristeza, que saiba que brilhos no olhar tem infinitas intensidades, que ouça um suspiro e pergunte a si próprio o que aquele suspiro anseia. Que respeite silêncios, ouça gritos e goze com sussurros.

Um amor com cheiro de Água de Alfazema ou de Chanel numero 5. Que possa ser celebrado com Dom Perignon Vintage 1996 ou com caipirinha. Um amor que goste de amar, que qualquer gota d’água faça germinar novas sementes ou que qualquer centelha provoque um incêndio. “Um amor maior que eu”.

Não, não estou sendo romântica nem utópica. Estou sendo pragmática. Já que temos que viver, e muitos de nós achamos que uma das formas de ser feliz é “estar com”, então não abdiquemos do direito de querer ser amados da forma que nos torne mais completos ou, menos incompletos, como queiram...


ALICE ROSSINI

quarta-feira, 10 de junho de 2009

EDITORIAL

Hoje, 10 de junho de 2 009, o dia amanheceu incompleto. Um telefonema madrugador anunciou que daqui pra frente vai haver mais uma ausência definitiva em nossa família: ALBINA ROSSINI, minha sogra, morreu...

Logo que a conheci, senti que não era uma mulher comum. Filha de imigrantes italianos, trazia nos cristalinos olhos azuis a firmeza e a força de seus ancestrais, que cruzaram o oceano em busca de uma vida melhor.

Uma mulher a frente do seu tempo. Era a síntese da “mama italiana.” Da mesma forma que ia à cozinha, a pedido das noras, fazer fetuccine a quatro queijos, pão caseiro e arroz de forno (sem pele da galinha porque Marco não gostava), quando alguma queixa lhe fazíamos “contra” seus filhos, sem pestanejar dizia-nos: “devolva, nêga...” Era assim, minha sogra: sem “papas” na língua. Tínhamos tanto a certeza do terreno minado quanto do carinho e do amor que nos dedicava.

Queria todos ao seu redor. Adorava contar as historias da sua vida, sem poupar-nos dos detalhes picantes. A inteligência e a perspicácia eram suas maiores qualidades, que usava da forma como levava a vida: independente e livre.

Sou uma pessoa feliz por ter tido duas sogras, igualmente especiais, cada uma à sua maneira. A vida as tirou de mim, mas, seus legados de honradez, amor à família acima de tudo e modernidade, serão sempre um referencial ao qual, farei tudo por merecer.


terça-feira, 9 de junho de 2009

EU, HOMEM


Há uma crença, justificada pelos fatos que o desenvolvimento científico não tem limite. O que hoje é impossível, amanhã já é realidade. Da mesma forma, o que hoje é seguro, amanhã já é falho. Atualmente, a obsolescência já é destino de tudo o que hoje é moderno.

O avanço frenético da ciência e os conceitos cada vez mais difusos e confusos, que definem o que é moderno, têm tido uma influência decisiva na vida do ser humano.

Uma das hipóteses, da queda do Air Bus da Air France, pode ter sido a quebra de um dos aparelhos, um sofisticado sensor, que informa a velocidade da aeronave, até agora não claramente explicada. Com toda sofisticação tecnológica, o Air Bus levou 228 seres humanos para o fundo do mar.

Quando o Titanic foi fabricado, todo o avanço científico, disponível na época, foi utilizado a ponto de, quando concluído, a euforia humana vociferar que nem Deus seria capaz de afundá-lo.

O Concorde, a “prima-dona” da aviação francesa, também sofreu uma pane, que o deixou um ano e meio no solo, até que o defeito fosse identificado.

Para trazer mais um exemplo, desta vez mais próximo ao nosso cotidiano, do quanto a máquina falha, quem não já foi ao Banco e demorou em ser atendido, porque “o sistema caiu”?

Até a tecnologia impor à aviação um sistema capaz de dar mais autonomia aos pilotos, até descobrirem sensores capazes de antecipar a proximidade e o tamanho de um iceberg, até que os Bancos relembrem como funcionavam antes dos computadores, até que o Homem dê à máquina sua real dimensão, muitas vidas foram e serão ceifadas e muita paciência levada ao limite.

Já fui, com toda justiça, rotulada de “tecnofóbica” e, eu mesma, me achava anacrônica.

Achava que computador “mordia” e nunca me sentei diante de um deles, até perceber as razões: minha mente não é exata, a máquina é. Um ser humano, como eu, a criou, portanto eu sou o Criador e a máquina a criatura.

Hoje estou aqui, compartilhando com vocês minhas inquietações, minhas alegrias e tristezas, comunicando-me com pessoas que, sem a informática, jamais teria esta oportunidade.

Nunca, nem no tempo em que a máquina amedrontava-me, duvidei da sua utilidade.
Assim, teria que negar a importância da invenção da roda e a influência determinante da Revolução Industrial, na História da humanidade. Não teria visto nenhum sentido do homem pisar na lua, nem se aventurar pelo Cosmos à procura de companhia. Nem valorizaria a contribuição da tecnologia para a ciência e suas conseqüências para o bem- estar do homem e o aumento da sua expectativa de vida.

Porém, mesmo extasiada diante do avanço científico, nunca deixei de extasiar-me diante de mim mesma como Ser Humano. Falível, capaz de rever erros, criar e fazer coisas improváveis. Um ser repleto de infinitas possibilidades.

Descobri que a máquina me entretém, me ocupa, me diverte, conecta-me com o mundo, mas não me preenche.

Nada substitui o cheiro e a textura da pele, o som do sorriso ou da voz, a capacidade de enxugar uma lágrima dos amigos virtuais ou das pessoas que já conheço e estão, por alguma circunstância, distantes. Quando desligo a máquina, em vez de ficar o rastro energético das pessoas com quem me comunico, fica só a visão do botão DESATIVAR e o vazio que isso possa representar.

Quando sento e derramo sobre estes teclados minhas emoções, elas já moravam na minha mente. Meus sentimentos, quando aqui os deposito, já os recolhi nas poeiras do passado. As dores e as alegrias, que isso me impõe, ficam presas no meu rosto. As letras, aqui digitadas, são apenas resquícios que o filtro da eletrônica deixou escapar. Nunca duvidei que a máquina fosse apenas mera coadjuvante da vida e seus desdobramentos.

Máquinas falham. A natureza surpreende. Quando estes dois fatores aliam-se de forma trágica, o ser humano, tão falível quanto a máquina e tão imprevisível quanto a natureza, silencia-se. Ou nas profundezas dos oceanos, ou na dureza da terra ou abrindo sinistros clarões em florestas, ou na solidão dos seus sentimentos, ou na impossibilidade de cumprir tarefas mais simples e prosaicas, como pagar sua conta de luz.

ALICE ROSSINI

domingo, 7 de junho de 2009

“TE ACEITO COMO ÉS”


A novela Caminho das Índias tem mostrado o quanto o mundo é diverso..

Não são poucas as oportunidades em que se evidenciam comportamentos impregnados de tolerância e de estranhamento, tanto em frente às telas quanto através delas.

As diferenças entre Ocidente e Oriente, nem precisaria registrar, são tão profundas quanto difícil nossa capacidade de entendê-las.

A Índia que a Globo nos mostra está longe da Índia real. Portanto, também não me cabe mostrar a realidade nem vou aqui fazer um paralelo entre as duas culturas. Vou ater-me a alguns aspectos, que a novela, uma obra ficcional, achou por bem enfatizar.

As diferentes formas de encarar a instituição familiar e os rituais necessários à sua formação e manutenção são um desses aspectos que chamam minha atenção e onde sinto o quanto somos diferentes.

Os casamentos, em que pese o atraso da falta de liberdade do lado de lá - o amor não é motivo suficientemente forte para transpor diferenças sociais - apesar de “arranjados” pelas famílias, são rituais complexos e ricos em significados. Encarados como um dos momentos mais importantes da vida de um ser humano, portanto, compatível com a importância que a referida cultura empresta ao conceito de família.

É bom registrar, com base em estatísticas, que casar-se por amor, não garante longevidade ao casamento, embora ajude, e muito! Também não podemos ignorar a relevância da liberdade, direito inalienável, que todos os seres, orientais e ocidentais devem possuir, quando se trata de fazer escolhas que determinem seus destinos. Isto, em todos os aspectos da vida.

Numa sociedade dividida em castas, em que uns são considerados puros e outros impuros, a restrição deste direito nem causa estranhamento. Como numa sociedade espiritualizada, as diferenças econômicas também deveriam ser motivo de questionamentos, embora, quem lá esteve, é unânime em dizer que a lógica indiana é diferente da vigente no resto do planeta. Vá lá...

Funciona com a mesma falta de lógica existente no tráfego das ruas, onde a diversidade de meios de transporte e de direções convive harmoniosamente, num caos organizado, mas, para eles, perfeitamente lógico e previsível.

Na cerimônia de casamento de Camila e Ravih, duas personagens que conseguiram burlar os costumes locais, uma frase, particularmente, chamou minha atenção: ”Eu te aceito como és”. Nas cerimônias ocidentais, pelo menos as realizadas nos templos católicos, as juras referem-se à fidelidade, ao companheirismo e à solidariedade nas dores e nas alegrias. Tudo certo e apropriado.

Sabemos que ser fiel é difícil. Jurar sê-lo é fácil e já é um bom começo.

Ser solidário é obrigação. O juramento poderia até ser desnecessário, pois se solidariedade é condição fundamental para quem convive, imaginem para quem diz amar.

Entretanto, não vamos polemizar nem questionar a liturgia do ritual, embora, na nossa cultura, a firmeza e o cumprimento das juras nem sempre atendem às necessidades do amor. Até porque, não temos nenhuma garantia de que os casamentos no Ocidente têm como única motivação o amor. A liberdade abre um “leque” de opções tão variado, que permite e acolhe uma infinidade de motivações que nos levam a escolher um companheiro.

Voltando à frase que além de chamar minha atenção me emocionou, aceitar o outro a quem não escolheu, é, antes de qualquer coisa, uma mostra de coerência: “Se eu não te escolhi e tenho que te aturar, só me resta te aceitar como és”

Mais ainda, aceitar o outro como é consiste na maior prova de amor que um ser humano pode dar à outro. Escolhendo-o ou não. Poderia substituir todas as juras que fazemos do lado de cá, raramente cumpridas.

Se aceitássemos nossos companheiros como são, respeitando-lhes a individualidade, as modificações impostas pelo tempo e a forma diferenciada que cada um absorve as circunstâncias e os fatos que a vida impõe, talvez fizesse mais sentido a liberdade, que faz parte dos nossos costumes, de escolhermos quem, a princípio, dividirá conosco o resto das nossas vidas.

ALICE ROSSINI

sábado, 6 de junho de 2009

SUNTENTABILIDADE É O NOME DO NEGÓCIO

Pois é, estamos perdidos mesmo. São tantas as razões, os argumentos as normas e leis que nós, comuns mortais, já nao sabemos para que lado nos virarmos. Se fosse só isso seria facil, mas não é assim. Tambem existem os interesses que podem fazer o preto virar branco, e o branco tornar-se preto, assim mesmo, rapidinho, na hora e por decreto!
E inegável que todos nós já estamos cansados de ter que engolir definições do que e ambientalmente correto, vindos de grupos que eventualmente agem em defesa de interesses opacos e ainda por cima, de competência duvidosa sobre a materia.

Muitos projetos, obras e programas têm sido proibidos, suspensos e sempre com resultados nefastos a cofres públicos e privados; tudo sempre em favor da política e dos interesses políticos do momento ou do lugar, e, muito pouco em defesa ou proteção do ambiente e da justica social. Porém, sempre em nome deles. Não devemos nem podemos esquecer que não são somente os mandantes nem os governos que podem tomar decisões sobre este assunto tão serio. A sociedade como um todo tem que participar ativamente das decisões que pretendem gerar ações no sentido de proteger o meio ambiente.
A protecão ambiental é a prática de proteger a nível individual, governamental e organizacional, o pouquinho que ainda sobrevive, para beneficio da qualidade de vida dos Seres Humanos e da propria fauma e flora que ainda vivem neste planeta, e que seguirão vivendo depois de nós.
Devido á pressão da evolução tecnológica e dos diversos setores da sociedade, principalmente da população que vê seus recursos naturais desaparecendo em prol do lucro de alguns, o meio ambiente biofísico tem sofrido degradações aceleradas e, em alguns casos, de forma permanente. Desde 1960 que se começou a ver reconhecimento por parte de alguns governos que estabeleceram tímidas e insípidas medidas contra a degradação ambiental. No entanto, estas medidas foram uteis para criar consciência sobre os mais variados temas criando o que se pode chamar ativismo ambiental. Não existe até hoje um concenso sobre a extensão do impacto ambiental e, muitas medidas de proteção são muitas vezes criticadas. É aí, que mentes ambiciosas que exercem o poder de alguma sorte, se aproveitam desta confusão para obter todo o tipo de vantagens utilizando o “estar politicamente correto” em detrimento da verdade social!
A proteção ao meio ambiente se faz urgente por muitos motivos. O lixo, a poluição, a redução da nossa biodiversidade, a introdução de espécies invasoras, a criação e lançamento de organismos geneticamente modificados, os tóxicos, a diminuição da pesca natural, sao alguns dos assuntos mais urgentes. O Movimento Conservacionista, tambem conhecido como conservacão da natureza tem que ser um movimento político, social e científico, com o único objetivo de harmonizar a proteção e conservação dos nossos recursos, garantindo seus habitats no presente e no futuro, mas salvaguardando em primeiro lugar, o desenvolvimento e o bem estar da populacao em GERAL. O movimento contemporâneo conservacionista tem alargado sua ênfase com a utilização sustentável de recursos e preservação total de áreas em estado natural para manter intactas as biodiversidades. Alguns ambientalistas se dizem pertencer a um movimento mais amplo eliminando a palavra Sustentabilidade. Outros a usam em seu beneficio e de forma a favorecer sua agenda pessoal. Na minha humilde opinião, a conservação ambiental tem que ser vista de forma diferente ao ambientalismo, pois ela tem como objetivo preservar os recursos naturais unicamente para o uso sustentável pelo Ser Humano. Não se pode conceber proteção ambiental se isso colocar em risco o desenvolvimento e a qualidade de vida da raça Humana. A situação ideal, é que o Conservacionismo busque horizontes mais amplos que incluam a separação de áreas intocáveis onde se proteja ativamente a fauna em seu habitat natural pelo seu valor inerente ao meio ambiente e não pelo valor que o mesmo possa “significar” para o Homem
Desde a reunião do Rio de Janeiro em 1992, se tem discutido frequentemente sobre desenvolvimento sustentável e sustentabilidade mais abertamente e mais claramente e de forma a substituir ideologias ecologicamente orientadas e bem mais antigas. Isto, em paralelo com o estabelecimento de um movimento global anti-globalizacao, nos últimos anos da decada de 90, pode ser visto como seguimento ao movimento ecológico. (Declaração sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – Rio de Janeiro). Adicionalmente e infelizmente, existem muitos individuos e grupos que acreditam em processos mais lobistas e politizados, ou mais cientificos do que, propriamente, em processos ativistas.
Embora o Partido Verde tenha a suas raizes no movimento ecológico, ele e um movimento separado. Os Verdes políticos têm suas preocupações e prioridades mais voltadas para as questões da justiça social que vão alem dos temas e preocupações ecologicas. Hoje em dia, o termo Movimento Ecológico, está frequentemente associado com uma tendência mais moral, mais confrontacional e mais rigorosa tipo Greenpeace ou qualquer outra O.N.G. que adote o tema da proteção em favor de fortes medidas de prevenção, fundamental para a bio-segurança e a biodiversidade. Estes grupos são, notoriamente, adéptos de ações diretas.
Em alguns lugares do mundo ja existem exemplos de alas radicais de movimentos ecologicos (Earth Liberation Front e Anarchist Golfing Association) se opondo e atuando de forma ilegal com destruições e sabotagens. Outros destroem capital infra-estrutural vendo-o como atividades violentadoras da natureza. Autênticos guerrilheiros que adotaram ações extremas de ataque como opção de defesa.
Entretanto, esperemos que este molho de ações independentes e descoordenadas não se radicalize se dedicando a algo pior em defesa dos mosquitos da Avenida Paralela, por exemplo!
Os temas de sustentabilidade sao geralmente expressados em termos ambientais e cientificos, mas, a implementação de mudanças é um desafio social que inclui, entre outras coisas, LEIS nacionais e internacionais, PLANIFICACAO URBANA e de TRANSPORTE PUBLICO, estilos de vida locais e individuais, e por fim, CONSUMISMO ÉTICO.
As relações entre os direitos humanos e o desenvolvimento humano; o poder corporativo e a justica ambiental; a pobreza globalizada e as ações de cidadania; sugerem que a Cidadania Global é um elemento inevitável e impossível de se ignorar no que, à primeira vista, parecem ser simplesmente problemas de consumismo pessoal e escolha moral.
Perturbações sociais como guerra, crime e corrupção, desviam recursos de áreas de maior necessidade social e humana. Danificam a capacidade que a sociedade tem de planificar para o futuro e geralmente ameaçam o bem estar Social e o meio ambiente. Estratégias em longo prazo para um sistema social mais sustentável incluem: melhoria dos sistemas educacionais, maior empenho para melhorar a justiça social, principalmente no que respeita a igualdade entre ricos e pobres tanto nacional como entre fronteiras, e por fim, mas nao menos importante, igualdades entre gerações.
Posto tudo isto, eu não vejo como e que se pode gerar denuncias e problemas que se resumem a criar conflitos de interesses, de toda natureza, sobre uma área ínfima no meio de uma cidade que não pára de crescer. Talvez, se houvessem mais interesses em diminuir o crescimento vertical de Salvador em beneficio de um crescimento mais horizontal, estariamos em uma cidade mais limpa, mais verde e muito, mas muito mais Humana. O Brasil e um país extenso com uma densidade demografica ínfima quando comparado com a maioria dos países deste planeta. Entretatnto, no reino do “jeitinho”, o problema persiste e na resolução do mesmo aparecerão heróis e vilões. Por enquanto, todos e cada um de nós, podemos ir fazendo a nossa parte, reciclando, selecionando para reciclar, reflorestando ou nos reunindo para reflorestar - tremendo programa de final de semana - protegendo, limpando, nos negando a consumir produtos de procedência ilegal ou conhecidamente prejudiciais ao ambiente, entre outras medidas.
Finalmente, é muito difícil convencer a Sociedade em geral, ricos, pobres e remediados, que não se protege o ambiente embargando obras já autorizadas, com milhares de empregos gerados em relacão as mesmas, e localizadas no meio de uma cidade capital. O que se vê em todo este projeto na Paralela, e um completo descaso por parte da perfeitura no que tange a um projeto de desenvolvimento urbano/ambientalista que faça nossa cidade crescer de forma SUSTENTÁVEL.
Fica difícil vender de uma forma óbvia e racional, a ideia de que a iniciativa privada padeça, porque o trabalho básico de planejamento e urbanização que deveria ser feito pelos governos, nao o foi!


Fernando Trovador

quarta-feira, 3 de junho de 2009

ESCUTA ZÉ NINGUEM

Prometi a mim mesma nunca mais falar sobre isso, desde que comecei, de fato, a tentar descobri que havia vida também fora do meu mundinho de esquerda, adotado desde a década de 1970. Sei lá o que me impele a fazê-lo agora...Talvez os 19 graus do Rio de Janeiro, o frio matinal, o outono, a mediocridade dos dias infindáveis.

Eu não sou mais do PT, mas já votei até em armário do PT, nunca mais votarei no PT e não me decepcionei com o PT -- me decepcionei com a humanidade. A esquerda explicou muito (historicamente) seus erros passados e as traições.Já me criei na esquerda sabendo que a Revolução Russa tinha dado errado. Já entrei dicutindo que a Alemanha Oriental tinha se desencaminhado e que a própria Cuba não era um bom exemplo.

Hoje, desconfio que a esquerda esqueceu, de novo, por pura distração, de reler os seus melhores, caso do doutor Wilhelm Reich, que nos explicou brilhantemente que jamais criaríamos o homem novo desse barro neurótico que aí está. Ainda dá para lê-lo em "Escuta Zé Ninguém"; "Cem Flores para Wilhelm Reich" ou "O Assassinato de Cristo".Dá para ler Bakunin e descobrir, através do velha e gostosa anarquia, que não viria nada de bom através dos métodos e preconceitos do velho Marx. Que não gostava do seu genro cubano, Paul Lafargue, porque o acreditava negro. Lafargue é autor do brilhante "Pelo Direito a Preguiça", livro que provavelmente influenciou o Marcio Pochmann, de quem gosto muito, a preconizar a jornada de trabalho semanal de 12 horas. Louvado seja Pochmann.

Tinha mandado um comentário sobre o assunto para o Marco Rossini, tentando compartilhar a compreensão de que vivíamos no Brasil uma democracia capenga, porque não republicana. Numa democracia assim, republicana, não se criam ACMs, que se apropriam do Estado como coisa sua. Nem seus filhos que, por acaso, estudaram comigo no Severino Vieira.

Mas, por conta de nossa origem de país-empresa (já que nascemos para ser mero entreposto de Portugal), mantemos há mais de 500 anos as características do lugar dos "você sabe com quem está falando?", periférico, subdesenvolvido e piorado pela destruição neoliberal, que não privatizou as empresas: as deu graciosamente aos novos donos das capitanias hereditárias. São como diz o embaixador Samuel Pinheiro "500 anos de Periferia" do mundo.

Um país desse tipo, para evitar o surgimento de grandes rebeldias, pde vez em quando agrega personagens antes rejeitados. E os agrega, com alegria, quando eles traem os seus.

Dessa vez, agregaram Lula e sua gente. E com enorme alegria nos corações, porque Lula traiu o povo. Traiu a mim também. Ele apareceu quando o País estava decidido a criar uma Nação. Todos nós, do PT, acreditamos que estava ali o que precisávamos-- não era nossa guia, nem mestre, nem profeta. Era o personagem da história, que vinha do povo criado acidentalmente, que o Brasil precisava para se constituir em Nação. Como diz o César Benjamin, meu mestre e amigo querido, a crise brasileira não é econômica. É de destino da sociedade, de um povo que não estava previsto para existir. Hoje, ou o Brasil se "reafirma como uma empresa, a custo de um genocídio (o que já ocorre nas favelas) ou como uma Nação". Quem poderia fazê-lo foi tratado generosamente pelo povo brasileiro, conduzido até Brasília. Mas preferiu trair o povo.

O PT fez uma longa caminhada em direção à mediocridade. Desvio coletivo? Desvio só explicável pela psicologia comportamental? Não sei. Compreendê-lo é uma tarefa aquém de minhas forças. Só sei que a maioria aderiu alegremente. E uma minoria disse não. Alguns talvez só porque não tenham sido convidados para o banquete. Outros, sabe-se lá os motivos, talvez origens arraigadamente cristãs ou só vergonha na cara mesmo ou princípios. Não sei, sinceramente, porque optei por não trair.

Repito: não só votei, como ajudei a fundar o PT, sou fundadora da 19ª Zona Eleitoral (do PT) e de vários núcleos de organização e discussão, desde o de jornalistas até de metalúrgicos e favelas. Por ter estudado, apesar de origem pobre dos que não tinham nome para se apresentar, eu fazia parte talvez da ala mais organizada e mais informada de um povo que queria fundar uma Nação, no qual jamais haveria espaço, de novo, para "você sabe com quem está falando?" ou negociatas entre amigos para construir até mesmo um mero muro de praça ou as grades da pobreza que cercam as nossas outroras belas praças.

Deu tudo errado. Hoje, me dedico a tentar entender tudo isso, através dos belos livros da Contraponto Editora, do Chico de Oliveira, de Fernando Pessoa, de Reich. E sei que jamais ouvirei nossas mais belas canções cantadas de novo enquanto eu viver. Azar o meu. Mas volto a dizer: apesar da derrota, foram nossas as mais belas canções.



Desconfio de que desistimos de ser uma Nação.


ROSE BAIANA - jornalista

segunda-feira, 1 de junho de 2009

EM QUE REGIME NÓS VIVEMOS?

Tenho me perguntado qual o regime de governo do Brasil? Parece uma pergunta meio obtusa. Comecei a questionar uma ou outra situação e a coisa foi assumindo dimensões gigantescas em minha cabeça. Já ouvi de algumas pessoas frases tipo: ah! Isso está pior do que nos tempos da ditadura. Absurdo? Será mesmo? Afinal, um governo populista se eterniza no poder de outras formas, mas não deixa de ser um tipo de ditadura. Na democracia, a arma do povo é o voto. Em um País de terceiro mundo, cheio de analfabetos e miseráveis, o voto passa a ser cabrestado pela necessidade básica de comer, vestir e morar. O sentimento de prosperidade é deixado para trás. Quer dizer: prosperidade só para poucos. Assim como nos países comunistas, é sabido o grau de concentração de riqueza nos palácios, enquanto o povão acaba se contentando com sobejos dos poderosos. E o peixe distribuído não é nenhuma sororoca. Para eles não se ensina a "manha" de pescar. Uma tainha é o máximo que se captura.

Eu entendo como democracia, um sistema de governo que emana do povo, pelo povo e, para o bem do povo. Será que é isto que registramos no Brasil?

É triste verificarmos o dia a dia de nossos semelhantes mais humildes.

O sistema de saúde pública está completamente falido. Ainda hoje escutava na rádio uma senhora desabafando que era o quarto dia que ia para o posto de saúde e nem senha recebia. Como se a doença pudesse aguardar a boa vontade e a burrocracia dos políticos. As escolas públicas ensinam que dois mais dois são quatro, mas não explicam o significado de quatro. As favelas amontoam-se como uma árvore de natal nos morros, a ponto de terem que construir um muro em volta delas para que não avancem mais em direção a mata atlântica. Como se isso fosse resolver alguma coisa. Com o dinheiro que se constrói este muro, quantas casas poderiam ser construídas? Não adianta se outorgar maior valor a uma mata em detrimento da vida das pessoas. Eu vou pra cadeia se matar um tatu bola. Mas tenho uma série de benevolentes argumentos se tirar a vida de um ser humano. O homem atual pode ficar sem emprego, mas as árvores da Paralela devem permanecer onde estão. É mais fácil, para o jovem promotor, proibir construções, que geram empregos e renda, do que criar soluções para os seres humanos atuais. Aqueles que estão vivendo o hoje. O aqui e agora. Nós precisamos comer, vestir, adquirir conhecimentos, ter uma vida digna, com saúde, crescer, realizar sonhos possíveis, criar nossos filhos. Esse é o papel dos governantes. Cuidar do povo. Para isso recebe os votos do povo.

A corrupção assola nosso País. O exemplo vem de cima. A impunidade é parceira dos mais endinheirados e carrasca com os pobres. Principalmente com os negros. Se for negro e pobre então, o castigo chega a galope. Vivemos num País onde ser digno passou a ser adjetivo de bobo. De otário.

Deparamo-nos constantemente com funcionários públicos (com salários sete vezes maiores que na vida privada, na média) gastando sem dó nem piedade em shoppings da cidade. Roupas de grife. Restaurantes caros que distribuem senhas para organizar a ordem de chegada dos comensais, que são muitos.

Uma democracia sugere um trabalho sério, dedicado e até idealista dos homens que ocupam cargos. Se o que presenciamos no nosso País é justamente o contrário, isso é democracia? Isso é o que? Um homem público se tornar milionário é democracia? E não estou me referindo tão sòmente ao PT não. Essa praxe já esta incrustada na política brasileira acho que desde que Cabral chegou ao Monte Pascoal. É bem verdade que, nestes 7 anos de PT, esta prática se cristalizou. Parece que a pressa em “se fazer” foi entendida como oportunidade única. É agora ou nunca. E eu que não sou político. Nem sou petista. Não tenho direito a andar por vias razoavelmente asfaltadas? Não tenho direito a segurança? Minha empresa foi arrombada 3 vezes num período de 20 dias. Prestamos queixa na polícia informando, inclusive, que os assaltantes foram filmados. Nem um escrivão veio ver a fita. Ou eu desisto ou me armo até os dentes para enfrentar a bandidagem. A polícia pública, que é paga com meus impostos, quer, na verdade, vender segurança privada. Descaradamente é oferecido como única solução para o meu caso. É isso ou os assaltos vão continuar. Repito: não sou PT, nunca votei no PT, nunca votarei no PT e não me decepcionei com o PT.

Só gostaria que alguém me explicasse em que regime vivemos. Se um deputado vai a público e declara que está "se lixando" para o povo, este deputado está contra a democracia. Ah!!!!. Isso já tem uma semana. Ninguém se lembra mais, não é? Ele continuará a ser eleito por mais e mais outros mandatos.

Desculpem, mas não sei, realmente, em que sistema vivemos. Eu já desisti de ter esperanças no Brasil. Ele vai crescer, é certo. Desordenadamente, é bem verdade, porque ele é muito grande. Apesar dos políticos. Apesar de.

Por mim, eu já entreguei os pontos. Eu desisto de lulas, dirceus, genoínos, delúbios, severinos, renans, collors e etc e tais..........

Desculpem, mais é o desabafo de um cidadão que estudou, trabalhou, educou os filhos e já criou muuuuuitos empregos ao longo de seus sessenta anos.

MARCO ROSSINI