segunda-feira, 22 de junho de 2009

OS FILHOS E O SENTIDO DA VIDA

Os seres têm como missão biológica a perpetuação das suas respectivas espécies. O homem, em particular, por questões psicológicas e culturais, dá outras conotações, amplia e empresta novos sentidos a esta missão.

Como a proposta deste Blog é falar de inquietações e sendo extremamente sincera não sonegando a mim, nem aos meus “leitores”, nenhuma emoção, o que me motivou a escrever este texto foi o casamento e a consequente saída de casa do meu filho mais velho e o iminente afastamento do mais novo que, em julho de 2010, forma-se em Medicina e tem planos de residir no interior.

Voltando algumas décadas, percebo hoje, o quanto meus pais sofreram quando também “saímos de casa”. Existem experiências na vida que são indescritíveis e todas são intransferíveis. Às vezes até imperceptíveis, só nos damos conta que existem, quando as vivenciamos. A maternidade, suas dores e suas alegrias, é uma delas.

Nas outras espécies este exercício é feito e, muito bem feito, enquanto a “mãe” ainda não intuiu que a cria já pode viver por si. Quando percebe sua independência segue, cada um, seu caminho. Os humanos, com o raciocínio e a complexidade inerentes aos seus cérebros, tornam tudo mais complicado. A sua socialização, além de necessária é complexa, como complexa é a sua convivência.

Entra aí outro fator que torna irreversível a ligação do homem com sua cria: o amor.

Amor que sofre toda sorte de influências negativas e positivas: através da nossa carga existencial, das circunstâncias socioculturais onde estamos inseridos e do nosso perfil psicológico, que nos levam a definir a nossa forma de perceber que nossos filhos crescem independentes de nós.

Quero salientar que acho brilhantemente cumprida, a missão materna/ paterna, quando eles, os filhos, seguem suas vidas, sós ou acompanhados, sem que nossa ajuda lhes tire a autonomia. Quando nos tornamos “desnecessários”. A negação disso nos faria adentrar numa seara perigosa que é o cerceamento da liberdade e do livre arbítrio, valores que só conseguimos transmiti-los quando os exercemos com nossos filhos, pela nossa obrigação de educá-los.

Até nas culturas onde “sair de casa” logo que possa é normal, mães e pais, as primeiras mais que os segundos, sofrem o que chamam de “síndrome do ninho vazio”. Não adianta negar o fato, pois logo que o ninho esvazia-se correm todos em busca de ocupações, de projetos adiados, da recuperação do homem e da mulher no casal que era somente pai e mãe, de ansiedade pelos netos, e outros mecanismos, legítimos e saudáveis que o raciocínio, aliados à inteligência e à maturidade, tratam de providenciar.

Dadas estas “justificativas” de respeito e entendimento do que seja preparar uma pessoa para o mundo, vou falar de perda, necessária, mas que não deixa de ferir, vou falar de saudade, que nenhum raciocínio lúcido é capaz de minorar, vou falar de vazio, que nenhuma atividade é capaz de preencher.

A verdade é que construir uma pessoa confere a qualquer vida, muitos sentidos. E não ter o que construir faz com que vivamos angustiados em busca deles.

Se imaginarmos que nossa responsabilidade ou irresponsabilidade, nossa omissão ou nossa intervenção, nosso mau ou bom exemplos, nosso equilíbrio ou desequilíbrio, nossas circunstâncias favoráveis ou desfavoráveis, nossa autoridade ou nosso autoritarismo, poderão fazer a diferença entre construir um homem útil ou inútil, um criminoso ou um médico, um ladrão ou um juiz, um pedreiro ou um vagabundo, um mau caráter ou um justo, nos dá a dimensão dos infinitos sentidos que a vida oferece a alguém que se propõe a construir outro alguém.
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Hoje, minha saudade e meus vazios são repletos de sentidos porque, embora tenha sido mãe muito jovem e, muitas vezes, tenha feito escolhas movida pelo mais puro instinto materno e pelos ímpetos juvenis, dela resultaram duas pessoas que já podem fazer um voo solo sem que nada me impeça de continuar amando e preservando o aconchego do meu ninho. Vazio, mas carregado de sentidos.

ALICE ROSSINI

6 comentários:

Vitória Régia disse...

Alice,

Imagino o quanto deva ser difícil ver filhos sairem de casa. Todo mundo acha natural, parece que voce também mas, a saudade é inevitável! Imagino que devam estar lhe dizendo que "filhos são da vida" mas, na hora H, deve doer sim. Meus pais sofreram muito quando minha irmã saiu de casa. Até eu senti falta dela.

Mas, como voce mesmo diz, seu ninho está vazio mas bem cuidado, e sempre disponível pra eles. Tomara que venham netinhos logo. Voce merece!

Mariana disse...

Alice,

Minha mãe leu seu texto e chorou. Mandou lhe dizer que quando chegarem os netinhos vai parecer que viveu toda sua vida para esperá-los. Eu lhe digo que uma mulher com sua inteligência e sua capacidade tem mais é que deixar fluir esta emoção tão normal.

Tenho certeza que a felicidade dos seus filhos, coruja como é, compensará tudo.

Continue escrevendo, seu Blog esta maravilhoso!!!

beijos

Paulo disse...

Estamos viajando para a fazenda. Dei uma olhadinha, pois vi o aviso de nova postagem. Ainda não estamos passando por esta fase.

Sei que deve ser difícil como percebo, pelo seu texto, emocionado mas lúcido, que logo logo tudo ja estrá superado.

Fique em paz e se cuide

Trovador disse...

É isso aí Alice!
Esse é a parte ruim de criar filhos. Algum dia eles se vão e para esse momento eles estão mais preparados que nós. Os pais sempre pensam que em tempo haverá um milagre que fará com que eles permanençam no nosso regaço por longos tempos.
Dói muito vê-los ir sem sabermos para onde e como vão, nem quando voltarão. Mas, se ficássem por pedido nosso, seria egoísmo da nossa parte.
É muito duro mas tambem é gratificante pois permanece a sensação do dever cumprido.

“IDE E MULTIPLICAI-VOS”!

Fernando

Roberto Maia disse...

Alice,

Só hoje li seu texto. Muito bem colocado. É isso mesmo, criamos nossos filhos e devemos deixá-los voarem para que a vida complete nosso trabalho. Infelizmente existem coisas que terão que aprender sozinhos. Ficamos na torcida que tenham apreendido tudo quanto tentamos ensinar-lhe.

Com o mundo que terão que enfrentar os desafios serão maiores. Entendo sua mistura de angustia e felicidade. Meus pais passaram isto por mim e eu so os compreendi quando tive que passar pela mesma experiência.

Voce é uma pessoa vitoriosa e uma mãe amorosa e presente. Não tema, tudo passa. Pessoas como voce vivem a vida com a intensidade e equilibrio necessarios para fazer com que as coisas que ocorrem deixem marcas positivas e engrandecedoras.

Parabens pelo texto. Falou por muita gente...

Izabel disse...

Alice,
Que texto!!! Realmente poderia ser chamado de uma ORAÇÃO!!! Pois reflete tudo o que nós mães sentimos por nossas “crias”.
Ainda estou emocionada, e vc sabe muito bem o porquê!
Bjsss,
Bel