sexta-feira, 19 de junho de 2009

ENQUANTO HÁ DÚVIDA, HÁ INSEGURANÇA !

Eu amo a vida e me desfaleço a cada momento tentando não deixar nenhum segundo em vão. Hoje, embora sabendo que era possível e muito normal, vi um fenômeno que me deixou extasiado. Enquanto o sol brilhava diretamente sobre a minha cabeça, uma chuva torrencial, tocada a vento, caía a não mais que 5 metros de mim. Dava para entrar de lado com os braços abertos na linha da mesma, molhando o braço esquerdo sem molhar o direito. Lindo e ao mesmo tempo melancólico. Não sei porque, mas uma avalanche de maus pensamentos soterrou meu êxtase contemplativo, permanentemente. Deparei-me com imagens de mau agouro já vividas ou imaginadas e que assolam o nosso mundo como se fossem as nuvens negras de onde caía tamanha carga de água. E me lembrei: Mais um louco, armado até aos dentes com armas nucleares, ameaça deflagrar uma hecatombe sobre mundo para salvaguardar suas loucuras megalomaníacas e sua mania de perseguição pelo mundo ocidental. Era só o que nos faltava!
E logo este tal Kim Jong-il que nem teve de trabalhar para conseguir o poder absoluto que abarca com as duas mãos. Herdou-o do seu papi, Sr. Kim il-Sung em 1994. Em 1948 o “papi querido” foi designado, unanimemente, líder supremo e dono de todo poder da Corea do Norte, sem se abster, na subida ao poder, de cortar, pessoalmente, algumas cabeças de quem o havia ajudado a chegar lá, e com a ajuda comunista de Mao, Stalin e etc. Construiu um autêntico culto à personalidade, tendo ele mesmo como a principal figura de adoração. O “gostosão da península!”
Desde cedo, o talento bélico desta família de déspotas, foi dado a conheçer ao mundo quando o pai tentou ocupar toda a Peninsula Coreana sem prestar atenção aos desejos de uns e de outros. Tipo, quem não é por mim, é contra mim. Ao sul da península, se instalou a República da Corea, ou Corea do Sul. Ambas as partes, Sul e Norte, reclamavam seus direitos ao território completo, até que os nortenhos, com a ajuda da China e da extinta União Soviética fizeram a primeira incursão armada em 1950, dando início, assim, a Guerra da Corea. Os americanos, seguindo uma resolução da ONU, adotaram o paralelo 38 como limite de avanço das forças do Norte. Ou seja, ninguém nunca invadiu o Norte. Eles simplesmente foram mantidos a uma distância saudável de Seoul. Finalmente, depois de China e Estados Unidos terem entrado no conflito de forma ativa, este chegou a um fim com o Armisticio de 1953.

Mas, que Pais é este? A seguir a época da Guerra, e com a ajuda da, ainda intacta, extinta União Soviética e da República Popular da China, Kim Il-Sung usou os recursos minerais e energéticos do país como base para um programa ambicioso de industrialização e reabilitação. Kim reteve o poder efetivo do país até a sua morte em 1994.

Na última década do seu regime (ou deveria dizer reinado?), o desenvolvimento econômico foi estorvado e quase impedido, pelo mesmíssimo rígido sistema comunista e a fuga de seus parceiros, acima citados, que acharam melhor afastarem-se do comunismo, abrindo suas economias e sua política, à razão universal e à flexibilidade.

Depois da sua morte, adivinhem quem foi designado como seu substituto? Seu filhinho Jong, atual ditador que,ao contrário de seu pai que era popular e carismático, é mais reclusivo e está longe de ser popular. Tem fama de playboy, usa o cabelo brilhantinado, sapatinhos de plataforma e um gosto anti-revolucionário por bebidas alcoólicas ocidentais. Acredita-se que é o unico responsável pelo programa de desenvolvimento de armas nucleares Norte Coreano.
É óbvio o esforço que o atual governo faz para restabelecer o mesmo culto a personalidade a Jong, similar a do seu falecido pai. A imprensa Coreana o chama de o “Lider Sem Amigos” e “O Grande Sucessor da Causa Revolucionária”. Enfim, outro megalômano de plantão
.
Hoje a Corea do Norte tem um produto interno bruto menor que o da maioria dos países do terceiro Mundo, incluindo os mais pobres da Africa Ocidental. É conhecida sua alta taxa de mortalidade infantil, somente suplantada pela Ásia e por Bangladesh. O país sofre uma grave crise de energia que se vem ampliando depois que os Estados Unidos terminaram seus envios grátis em troca do fim do programa nuclear. Aliás, é do conhecimento geral que o comércio externo da Corea do Norte se limita à venda de armas de forma legal e ilegal.

Um poema de Berthold Brecht dizia; “Que tal se houvesse uma guerra e ninguem aparecesse?” E que tal se uma nação fizesse um teste nuclear e ninguem percebesse?

Apesar das tentativas da comunidade internacional em convencer o Sr. Jong a desistir da corrida armamentista, ele segue ampliando o seu arsenal ou fazendo de conta que é surdo. Num curto espaço de tempo, experimentou um míssil balístico e uma arma nuclear de grande potência. As datas foram friamente calculadas. A primeira no dia da reunião da OTAN e a segunda, no dia dos mortos na guerra da Corea, feriado americano.

Até que ponto podemos concluir que a Corea do Norte está menos peocupada com a aceitação internacional e mais com a sua própria sobrevivência e poder? Será que eles estão inventando uma nova “comodity”; a Paz? Isso me parece coisa da máfia siciliana: eu te protego de todos os males, e tu me sustentas com gordas ajudas humanitarias e etc. Uma mão lava a outra, “capiche?” Lembram de “Os Intocaveis”? Como se sustentam as gangs criminosas juvenis, ou ate a guerrilha colombiana? O negócio e o seguinte: dão-me boa vida de graça e eu prometo não bombardear ninguem.

O Obama e seus amigos já ameaçaram com a intensificação das sanções comerciais e até com o isolamento total, mas o homem segue no seu caminho bélico porque parece ser a única linguagem que compreende. Até a China, de quem a Corea mamou grátis, direto das tetas, o leite e o mel, ja alertou: Cuidadinho! Mama mas não abuse!
À Corea do Norte, não lhe importa se seus testes foram considerados um “desafio descarado” ao Conselho de Segurança da ONU. Se isso fosse importante para eles, simplesmente não os haveriam consumado, uma vez que, haviam outras sanções. Além disso, Jong já disse abertamente que está “temerariamente” desafiando as Nações Unidas e que os testes têm o objetivo de aumentar tensões e solapar a estabilidade da região. Cada vez que testaram outras formas de ataque, mísseis disto e daquilo, sempre conseguiram concessões da Comunidade Internacional e dos próprios Estados Unidos, mesmo no tempo de George “Rambo” Bush.
Por que haveriam de pensar diferente desta vez? “Time que está ganhando não se muda!”
O pior de tudo, é que mais uma vez a Comunidade Internacional está a um passo de perder mais sua já fragilizada reputação. Será que as Nações Unidas e os Estados Unidos não se dão conta que se a Corea do Norte continuar a desafiar, irresponsavelmente, a Comunidade Internacional e esta falhar em sancioná-la de forma incisiva e clara, acontecerão duas coisas: a Corea ganha o desafio e cria um precedente para que outros párias façam o mesmo.

O discurso de Obama que não incluiu em seu conteudo as palavras Estadas Unidos, representou a multilaterização da política americana. Enquanto o secretário chefe do Gabinete Japones declarou que o teste Coreano era totalmente inaceitável e que o Japão adotaria ações duras (?) contra a Corea do Norte, os Estados Unidos se reduziram a uma simples promessa de trabalhar com seus parceiros no Conselho de Segurança da ONU. Será que seria tão dificil para Obama condenar pessoalmente estes testes? Ou foi o medo que isso talvez pudesse colocar demasiada pressão política no assunto em vez de mais diplomacia?

Até Javier Solana, dono da pasta de politica externa da Comunidade Europeia, foi mais incisivo e duro com as palavras ao afirmar que ações dessa natureza eram irresponsáveis e garantiam uma resposta firme da comunidade internacional. Noutras palavras, em termos de resposta, Comunidade Europeia 1 x USA 0

Palavras a parte, em diplomacia elas têm muito peso e muito valor. Não só as que são ditas mas as que o deveriam ser para se estabelecerem principios e posições muito pouco negociaveis.
Enfim, quantas vezes mais eu verei a chuva e o sol brincando de molha-molha com meu corpo? Por que uns vêm colorido e outros preto e branco? Que mundo terão meus netos e todos os outros netos do mundo? Por que este gosto amargo na boca?
Bom, pelo menos com este teste o tal do Jong gastou uma bomba. Mas, quantas lhe sobram?

FERNANDO TROVADOR

6 comentários:

Alice Rossini disse...

Fernando,

Este é um dos fantasmas que juntaram-se a tantos outros, que passou a atormenta-me: que mundo nossos netos vão encontrar? Estou ficando com medo das pessoas ao mesmo tempo em que me aproximo e cuido das que, acho, vão fazer a diferença no futuro. Estes sentimentos de desesperança e medo toldam meus sonhos de paz, tranquilidade e justiça.

Fico feliz que o VERSO&REVERSO seja um instrumento, quando não de mudança mas, de alerta.

Entretanto, ainda acredito que o HOMEM, até pelo atávido instinto de sobrevivência, vai mudar o curso da própria história. Ainda existem "ilhas" de lucidez e generosidade. Isto me conforta.

Marco Rossini disse...

Fernando

Parabéns pelo seu texto. Está de altíssimo nível. Com teor histórico e didático que merece ser lido.
As conclusões estão muito bem fundamentadas.
Valeu Trovador

IZABEL disse...

Fernando, amei o seu texto! Super didático. Uma alerta!

Não posso deixar de salientar o belo e poético início do texto...Uma viagem "arquetípica"! Simplesmente LINDO!

Izabel

Paulo disse...

Puxa! Que texto! Realmente um alerta. O pior é que ele não está enganando ninguem! É assim que repetem-se as grandes tragedias da humanidade...

Muito bom!

Roberto Maia disse...

Fernando,

Texto excelente, com embasamento histórico e contendo um ALERTA contra um fato que o mundo ja deveria ter colocado um basta mais enérgico.

Fico muito inquieto, pois tenho filhos e estou louco para ter netos. Confesso, que temo pelo mundo que enfrentarão. Estamos vivendo a barbarie, onde as instituições estão cada dia mais fracas. Se aparecer um Hitler, um Mussolinni, ou este louco coreano, transforma a Terra em po sem que ninguem perceba.

Ainda temos um Prsidente que apoia regimes totalitários e fraudulentos!!!

Selene Mey disse...

O Trovador é bom! Adorei o título!