terça-feira, 9 de junho de 2009

EU, HOMEM


Há uma crença, justificada pelos fatos que o desenvolvimento científico não tem limite. O que hoje é impossível, amanhã já é realidade. Da mesma forma, o que hoje é seguro, amanhã já é falho. Atualmente, a obsolescência já é destino de tudo o que hoje é moderno.

O avanço frenético da ciência e os conceitos cada vez mais difusos e confusos, que definem o que é moderno, têm tido uma influência decisiva na vida do ser humano.

Uma das hipóteses, da queda do Air Bus da Air France, pode ter sido a quebra de um dos aparelhos, um sofisticado sensor, que informa a velocidade da aeronave, até agora não claramente explicada. Com toda sofisticação tecnológica, o Air Bus levou 228 seres humanos para o fundo do mar.

Quando o Titanic foi fabricado, todo o avanço científico, disponível na época, foi utilizado a ponto de, quando concluído, a euforia humana vociferar que nem Deus seria capaz de afundá-lo.

O Concorde, a “prima-dona” da aviação francesa, também sofreu uma pane, que o deixou um ano e meio no solo, até que o defeito fosse identificado.

Para trazer mais um exemplo, desta vez mais próximo ao nosso cotidiano, do quanto a máquina falha, quem não já foi ao Banco e demorou em ser atendido, porque “o sistema caiu”?

Até a tecnologia impor à aviação um sistema capaz de dar mais autonomia aos pilotos, até descobrirem sensores capazes de antecipar a proximidade e o tamanho de um iceberg, até que os Bancos relembrem como funcionavam antes dos computadores, até que o Homem dê à máquina sua real dimensão, muitas vidas foram e serão ceifadas e muita paciência levada ao limite.

Já fui, com toda justiça, rotulada de “tecnofóbica” e, eu mesma, me achava anacrônica.

Achava que computador “mordia” e nunca me sentei diante de um deles, até perceber as razões: minha mente não é exata, a máquina é. Um ser humano, como eu, a criou, portanto eu sou o Criador e a máquina a criatura.

Hoje estou aqui, compartilhando com vocês minhas inquietações, minhas alegrias e tristezas, comunicando-me com pessoas que, sem a informática, jamais teria esta oportunidade.

Nunca, nem no tempo em que a máquina amedrontava-me, duvidei da sua utilidade.
Assim, teria que negar a importância da invenção da roda e a influência determinante da Revolução Industrial, na História da humanidade. Não teria visto nenhum sentido do homem pisar na lua, nem se aventurar pelo Cosmos à procura de companhia. Nem valorizaria a contribuição da tecnologia para a ciência e suas conseqüências para o bem- estar do homem e o aumento da sua expectativa de vida.

Porém, mesmo extasiada diante do avanço científico, nunca deixei de extasiar-me diante de mim mesma como Ser Humano. Falível, capaz de rever erros, criar e fazer coisas improváveis. Um ser repleto de infinitas possibilidades.

Descobri que a máquina me entretém, me ocupa, me diverte, conecta-me com o mundo, mas não me preenche.

Nada substitui o cheiro e a textura da pele, o som do sorriso ou da voz, a capacidade de enxugar uma lágrima dos amigos virtuais ou das pessoas que já conheço e estão, por alguma circunstância, distantes. Quando desligo a máquina, em vez de ficar o rastro energético das pessoas com quem me comunico, fica só a visão do botão DESATIVAR e o vazio que isso possa representar.

Quando sento e derramo sobre estes teclados minhas emoções, elas já moravam na minha mente. Meus sentimentos, quando aqui os deposito, já os recolhi nas poeiras do passado. As dores e as alegrias, que isso me impõe, ficam presas no meu rosto. As letras, aqui digitadas, são apenas resquícios que o filtro da eletrônica deixou escapar. Nunca duvidei que a máquina fosse apenas mera coadjuvante da vida e seus desdobramentos.

Máquinas falham. A natureza surpreende. Quando estes dois fatores aliam-se de forma trágica, o ser humano, tão falível quanto a máquina e tão imprevisível quanto a natureza, silencia-se. Ou nas profundezas dos oceanos, ou na dureza da terra ou abrindo sinistros clarões em florestas, ou na solidão dos seus sentimentos, ou na impossibilidade de cumprir tarefas mais simples e prosaicas, como pagar sua conta de luz.

ALICE ROSSINI

4 comentários:

Sérgio Gomes disse...

Parabéns Alice, belo texto!

Anônimo disse...

Alice

Como sempre direta ao alvo e com uma doçura imcomparavel. So não gostei do teu tom de tristeza. Voce não é assim amiga!
E bom saber e aceitar que a maquina ajuda, perfecciona, acelera, constroi, destroi, une, separa, ajuda a limpar e nesse processo tambem suja. De tudo isso a maquina é capaz. So nao faz criar-se a si mesma.
Isso quem faz e o homem. Ele é o unico responsavel da infalibilidade da maquina, e pelos erros e acertos da mesma. O Homem se esquece de olhar para o Homem, e muitas vezes por pura avareza, adia a instalação de artefatos que melhoram a Maquina ou evita que ela saia de control.

Fernando

Alice disse...

Oi Trovador! Nao é tristeza nao - talvez até seja - é uma sensaçao de impotência diante de posturas deslumbradas de pessoas diante da máquina. Sensaçao desagradável de nao ser compreendida. Agora que desabafei, esvazia-se o desconforto e fica a agradável sensaçao de ter percebido e "denunciado".

Obrigada pela cumplicidade e pelas valiosas contribuiçoes! Aproveite a distancia e continue escrevendo!

beijossss

Anônimo disse...

SUA FORMA DE VER AS COISAS ME ENCANTA...