segunda-feira, 15 de junho de 2009

LIBERDADE POSSIVEL


Liberdade é um valor universal. Inquestionável. Quem vive sem ela, por ela anseia. Quem a desconhece sabe que esta cometendo um genocídio existencial.

É inerente a todos os seres vivos a necessidade de arbitrar sobre a própria vida. Deliberar sobre seu destino sem que para isto tenha que fazer concessões, nem curvar-se diante de condições alheias à sua vontade.

Todos são livres, mas poucos assim o sentem ou reconhecem que, mais que um direito, a liberdade é um dever. Dever sim, porque a natureza concebeu todos livres. Entretanto, as relações foram se tornando tão complexas que surgiram códigos, normas, leis, que resultaram na Ética, que as disciplinou. Todo este arcabouço de “restrições”, entretanto, não lhes tirou a condição de antinaturais,

A sensação de ser livre tornou-se, com o tempo, muito difícil de ser exercida de forma leve e verdadeiramente isenta de proibições e cerceamentos. Pois ao fazermos o que queremos, muitas vezes, invadimos a liberdade alheia, já que vivemos em comunidade.

O processo civilizatório condicionou o homem a ser livre tendo como restrição a liberdade alheia. Somos gregários e buscamos o desenvolvimento e bem-estar. Esta condição e este privilégio cobram seu preço.

Homens. Animais. Vegetais. Cada um no seu habitat, que deveria ser natural e inviolável. Utopia sim, mas assim a natureza os organizou.

Os animais vivem na terra, no ar e nas águas buscando, unicamente, sobreviverem. Para isto devoram-se, com a pura legitimidade dos seus instintos. Nada tem a ver com os conteúdos de violência, usurpação de direitos ou invasão de limites perpetrados pelo homem.

As plantas também vivem onde podem sobreviver. Tanto na terra como na água, buscam o sol, o oxigênio ou até a sombra, onde a fotossíntese lhes garanta a vida.

Nos humanos, por sermos investidos de raciocínio, invadimos a “cadeia alimentar” necessária à preservação da vida e obrigamos todos os seres a viverem a relatividade do que entendemos o que seja “ser livre”. A inteligência nos deixou como sequela a condição de predadores, portanto suicidas. Uma espécie depende da outra.

Perdoem-me o julgamento severo, mas os fatos estão ai, e não nos absolvem. Sabemos o que fazemos e continuamos a fazê-lo, e com dolo.

Entretanto, existe uma liberdade possível. Liberdade que deveria ser exercida sem questionamentos, já que seria vivida no varejo da existência de cada um - uma causa pessoal – cuja arena é a vida e cujo guerreiro somos nós mesmos e nossas circunstâncias.

Já que nos é impossível ser livres só fazendo o que queremos, pelo menos, reconheçamos o direito de ser livres não fazendo o que não queremos.

Que evitássemos aquilo que nos avilte e fira nossa dignidade. Que nos permita viver em paz sem ignorar os espelhos impostos pela nossa vergonha de fugir da luta, que é nossa. Que nada impeça nosso direito de escolher e banir o que não queremos que povoe nossos dias, nossas horas, nossos momentos, fragmentados em segundos.

Nosso presente e nosso improvável futuro, já que ser feliz depende de muitas outras variáveis, embora, sobre a liberdade repousem todas elas.

Simples assim. Poderíamos, enfim, falar em LIBERDADE sem usar “seu santo nome em vão”.


ALICE ROSSINI

6 comentários:

Fernando Trovador disse...

Alice:

Muito bem colocado! Clareza de espírito e visão crítica afiada!
Nos tempos da cortina de ferro foi criada na Ucrânia uma anedota que, para o gosto dos Latinos, era meio patética. Os Ucranianos diziam que eles nasciam apenas com duas coisas que não pertenciam ao governo, O cordão umbilical e a Liberdade. Ambas eram cortadas a nascença.
Em nossa sociedade, cada um de nós e guardião da sua Liberdade, pelo menos no que tange a escolha diária de se ir pra direita ou esquerda, para cima ou para baixo. A liberade de ir e vir, ou não, e a do pensamento, sao as unicas liberdades intactas que ainda conservamos.
Vamos deixa-lo assim?

Fernando

Anônimo disse...

ISSO LINDA! SER LIVRE É SER FELIZ! MULHERES COMO VOCE, POR MAIS QUE SE ESFORCEM, TÊM A CHAMA DA LIBERDADE NO OLHAR E NAS ATITUDES. VOCE ME PARECE UMA PESSOA ALEGRE, PORTANTO, ACHO QUE LIVRE.

NUNCA ABDIQUE DA LIBERDADE DA ALMA, ACHO QUE É ESTA QUE LHE FAZ ESCREVER COISAS, ALEM DE LINDAS QUE TOCAM A ALMA DE TODOS QUE LHE ADIMIRAM

ADOREI, ASSIM, CADA DIA, CONHEÇO PARTES DE VOCE

Mariana disse...

Amiga! Liberdade, eta palavra complexa e direito dificil de ser exrecido! Quando nos é tirado temos, sim, somos obrigados a tomá-la à força. A unica coisa que jamais podemos abdicar.

Adorei! (novidade...)

Paulo disse...

Voce tem a capacidade de falar tudo que a gente pensa, sente e nao coonsegue dizer. Adoro ler seus textos.

Aliás, seu BLOG tem me feito muito bem:tenho pensado na vida sobre aspéctos nunca antes imaginados.

Continue!

O fato de nao postar comentários, nao significa que nao esteja acompnhando, tá?

Selene Mey disse...

Estou sentindo cheiro de rebeldia...acomodamação, "jamais"!

IZABEL disse...

Alice, mais uma vez brilhante o seu texto. Tema tão difícil de discutir...imagine escrever!!

Segue uma frase de Clarice Lispector - "Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome."

Beijos,
Bel